Pensamentos soltos
Fragmentos
Estava eu encantado com o romance de Jack Kerouac Pela Estrada Fora, que nos leva de New Jersey a Los Angeles, de Leste a Oeste deste imenso país de perto de 9 milhões e 400 mil km (mas sobre isto gostaria tanto que o P. Eusébio nos falasse aqui neste blogue, ele que lá viveu muitos anos!) quando me lembrei que podia transmitir alguns pensamentos do Cardeal Martini, expressos no seu livro Colóquios em Jerusalém sobre o risco de acreditar.
À pergunta do P. Georg, um jesuíta austríaco que se dedica à pastoral social,- Também existem momentos em que discute com Deus? Responde o cardeal emérito: Nas coisas quotidianas tive poucas dificuldades, mas tive-as numa questão importante. Primeiro não conseguia perceber porque Deus deixou sofrer o seu Filho na cruz. Mesmo como Bispo, por vezes, não conseguia olhar para o crucifixo, porque esta questão me atormentava. Sobre isto discuti com Deus. A morte continua a existir, os homens têm que morrer. ( …) nesta minha luta, ajudou-me um pensamento teológico: sem a morte não estaríamos em condições de nos entregar totalmente a Deus. (…) Espero na minha morte dizer o meu SIM a Deus.
Um teólogo e Bispo não tem também problemas de Fé? - Dificuldades são os medos, a pouca confiança em Deus. Quando Ele me deu tarefas que pensei não ser capaz de realizar, tal como ser Bispo, (…) falar com terroristas, manter unida a Igreja europeia ou responder a questões do Papa. (…) Naturalmente, é preciso muita confiança em Deus, mas isso começa muitas vezes com perguntas, com dúvidas. (…) Gostaria de perguntar a Deus se Ele me ama, apesar de eu ser tão fraco e de ter cometido tantos erros. (…)
E sobre a origem do mal no mundo: “ Quando olho para o mal no mundo, prende-se-me a respiração. Compreendo as pessoas que chegam à conclusão de que Deus não existe. (..) Ao mal pertencem as circunstâncias que levam a que existam crianças da rua, pessoas sem abrigo, ou pessoas com necessidade de asilo, que parece não terem lugar no mundo. (…) mas o mal desperta muitas forças boas. Os jovens acordam e dizem: aqui quero ajudar. O mal pode provocar o melhor das pessoas. ( …) A questão sobre a origem do mal não pode ser respondida por ninguém… Deus concedeu a liberdade ao homem. Ele não deseja robôs nem escravos, mas parceiros.” Segundo ele, vários são os passos a dar para fazer caminho com Deus: exercitar o espírito através da meditação, orações, retiros, conversas, empenho social. E sobretudo aprender a conhecer Cristo, na leitura frequente e informada da Bíblia, lida como um todo, em que os textos tecem relações internas entre si. Captar isso, é aproximarmo-nos da Revelação do coração do Pai. “A base da educação cristã é para mim a Bíblia. (…) Se não pensarmos com mentalidade bíblica, ficamos limitados e adquirimos antolhos em vez de ter os horizontes alargados de Deus. Quem lê a Bíblia e escuta Jesus, descobre como Jesus se admira com a fé dos pagãos. Não apresenta o sacerdote como exemplo, mas o herege, o samaritano. (…) Toda a Bíblia mostra que Deus ama os estrangeiros, auxilia os fracos. Quer que ajudemos e sirvamos todos os homens. (…) Deus ensina-nos a olhar para os pobres, os oprimidos, os doentes, … Enfim, ajuda-nos a pensar com largueza.”
( João Lopes)