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Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

Tudo como antes...

28.03.20 | asal

Tó Manel.jpg

“TUDO COMO ANTES, QUARTEL-GENERAL EM ABRANTES” será a melhor forma de reportar “o estado do sítio” nesta sexta-feira, dia 27/03, dada a ausência que novidades relativamente ao dia de ontem.

De onde vem aquela expressão bastante conhecida e muito citada? Não existe uma garantia da sua origem.
O comum das pessoas e a maior parte dos estudiosos locais remete-a para o tempo da primeira invasão francesa (Novembro de 1807) quando Junot, a mando de Napoleão, invadiu Portugal, chegou a Abrantes e esperou um pouco pela reunificação do exército invasor cujas divisões tinham seguido dois percursos diferentes (um pela serra das Talhadas, Sobreira, Proença, Cardigos e outro mais a sul pelo Perdigão, Envendos e Mação) antes de avançar para Lisboa. Como os mensageiros reais que chegavam a Lisboa estivessem sempre a repetir que em Abrantes o Junot estava parado a aguardar e que ainda não tinha marchado para Lisboa, daí: “Tudo como antes, quartel-general em Abrantes…”
Apresento outra hipótese que me parece mais razoável. Um pouco antes, em 1762, estava em Portugal o Conde de Lippe, a mando do Marquês de Pombal, a reorganizar o nosso exército, quando aconteceu uma invasão franco-espanhola que chegou a ter a sua frente de combate na região da Serra das Talhadas que havia sido fortificada com uma linha defensiva. Trata-se de um prolongamento da famosa Guerra dos Sete Anos que, em Portugal, recebeu o nome de “Guerra Fantástica” porque teve pouca razão de ser e porque os contentores, no fundo, nunca chegaram a combater verdadeiramente em qualquer batalha parecendo mais interessados em marcar presença mostrando-se que propriamente se confrontarem. A verdade é que estando o exército invasor nas Sarzedas, a frente das forças anglo-portuguesas fixava-se nas Talhadas, perto da Sobreira Formosa, do Alvito e de Proença-a-Nova. O Conde de Lippe, comandante das forças nacionais, havia fixado o seu Quartel-General em Abrantes, chegando a deslocá-lo para Mação, e todos os dias enviava mensageiros à frente para conhecimento de novidades. Como a Guerra era mesmo “Fantástica”, as notícias eram sempre as mesmas, dia após dia, e em Abrantes começou a circular o dito: “Quartel-General em Abrantes, tudo com antes.”

Guerra Fantástica.jpg

Inclino-me para a razoabilidade desta segunda hipótese pela razão simples de que a permanência de Junot em Abrantes (1807) se limitou a dois dias antes de avançar para Lisboa. Dois dias dariam para criar a habituação do “Tudo como antes”? Pelo contrário, a permanência das tropas beligerantes na região das Talhadas durante vários dias talvez tivesse permitido criar alguma rotina nas informações que depois passou a ser ridicularizada…

Digo eu…
(NOTA: Para saber mais sobre as TALHADAS e o CONDE de LIPPE, clicar em: http://www.altotejo.org/acafa/acafa_n5.html )

Vales, aos 27 dias do mês de Março de 2020