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Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

SEMINÁRIO MENOR DE GAVIÃO

19.09.19 | asal

O PASSADO FECHADO A SETE CHAVES

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Os operários da construção do Ninho de Empresas/Centro de Negócios, da Câmara Municipal de Gavião, não esconderam o ar de incomodados, no fim de mais um dia de extenuante trabalho, ao verem-me estacionar o DS5 e perguntando se poderia entrar, só por um bocadinho.

Tinha-me antecipado, adivinhando-lhes o mau jeito que dava este pedido tardio feito à vereadora da Cultura para que me autorizassem a entrar no que resta do iconográfico Seminário Menor de Gavião.

- É o senhor que vem buscar a máquina que deixou dentro do Seminário?! Vá lá então que a gente espera para fechar o portão.

De facto, aquando da minha última e clandestina visita ao interior das antigas instalações com o objectivo de filmar o que restava, com vista animar o nosso encontro de Maio de 2011, deixei algures uma das lanternas de iluminação guardadas perto da antiga capela. Acho que trouxe uma, mas perdi-lhe o rasto. Tentei, ontem, depois da reunião na Biblioteca, voltar ao lugar do crime! Aguçado o apetite, agora, para integrar na Exposição CINQUENTA ANOS A FAZER P.ARTE, a realizar em Gavião, a partir do dia 11 de Outubro, alguns objectos que quero perdurem na memória dos dias.

Volto a outro flash, acho que a Câmara, desconhecendo eu, de todo, o projecto que para ali está pensado, devia lançar mão dessa tarefa fazendo guardar algumas peças que atestassem a passagem de centenas de jovens estudantes por aquela casa. Desde mobiliário, tipo, carteiras, até coisas mais comesinhas como utensílios da cozinha, terrinas, sei lá.
Qualquer iniciativa só acrescentará importância a Gavião. Por detrás das ruínas bate sempre um coração. Mil corações, tantas as gerações.

Dirigi-me, passo apressado, apesar de coxo, disparei umas fotos mal amanhadas ao estado das obras e a custo lá entrei no que resta da capela. Lanternas, nada. Subir à famosa guarita nem pensar. Os operários já deviam estar a rezar-me pela pele.
Foi então que vi no chão, como que chamando por mim, aquela que terá sido uma das fechaduras da porta da capela. O tempo urgia. Não consentia mais demoras. Lá consegui sair, daquilo que mais pareciam os destroços de uma Bagdad arrasada por banalizados bombardeamentos, com a minha preciosa relíquia.

O que irá sair dali?
Algo que perpetue a memória de dois anos em que putos imberbes julgavam estar, privilegiadamente, a caminho, como eleitos, para abrir na terra, as portas de um céu ainda distante.
Com este despretensioso gesto há-de saber-se que, pelo menos, um de nós se recusou a ver o seu passado fechado a sete chaves.
Ao olharem para a fechadura da porta que abria a Capela do Seminário Menor de Gavião, saberão que o Céu continua e há-de continuar sempre ao alcance de todos já aqui na terra.

António Colaço