Restaurar PORTUGAL
Meu Caro António
Tão carecidos andamos de uma restauração prodigiosa, que hoje me atrevo a evocar a memória do mui ilustre Padre António Vieira, que, no passado século XVII, a sua vida e sangue deu para nos libertar de quem o sangue nos sugava. A Pátria, deprimida sob uma carga insuportável de impostos filipinos, precisava de alguém que por nós desse o grito da libertação.
Na gloriosa manhã de 1640, mataram os conjurados o odiado e odioso Miguel de Vasconcelos, o tal traidor que nos desgovernava com mão de ferro. Gritou, esbracejou e praguejou a duquesa de Mântua, vice-rainha de Portugal desde 1634.” Ó ingratos e assassinos portugueses, que tirais a vida a um tão prestimoso Secretário e meu Valido, pois sabei que me encontro viúva desde 1612. “
Mandaram-na à fava os corajosos e ilustres rebeldes que o futuro do Reino, até ali enterrado na noite da repressão, voltaria de novo a brilhar no palco do mundo. E lá estava o Farol para indicar o rumo aos navegantes, perdidos com o Encoberto em revoltos mares e tenebrosa tempestade. E Vieira, o Padre, zarpa das praias do Brasil.
Em 1642, levanta a voz na Capela Real para o ânimo de D. João, duque de Bragança, temeroso e abatido, alevantar. Sem receio, teria de tomar da governação as rédeas e aos inimigos fazer frente com coragem e denodo. Sim, Vieira, o Imperador da Língua Portuguesa, o que nunca acreditou na morte do Encoberto, proclama agora, com a trombeta belicosa da sua pregação, que “Ora, sus portugueses, Ele ressuscitou e está aqui bem vivo entre nós. Estavam cumpridas as profecias… Logo que chegou a ocasião, Deus disse: Eu o levantarei Eu o levantarei e sustentarei nos meus braços. Porque então era chegado o Tempo! Dizendo aos Portugueses o que diz S. Gregório que disse Cristo à Madalena: Reconhecei a quem vos reconhece: reconhecei por Rei a quem vos reconhece por vassalo. Eis o princípio da nossa Redenção. (Sermão dos Bons Anos pregado por Vieira no dia do Ano Bom de 1642.) D. João, comovido de tanta Fé, agradeceu e fez-se à estrada com os seus fiéis cavaleiros, enquanto Vieira, vestido à civil, vai, pelas cortes da Europa, defender a nossa Causa, cortando as mais variadas Línguas em conselhos e embaixadas, e até o renitente Papa de Roma convenceu. Iluminado pelo Santo Espírito de Deus, que este pequeno grande Povo nunca abandonou, pese embora a descrença dos que a Esperança deixaram morrer, soterrados que estão na dialética retorcida do Finis Patriae ou nas gargalhadas pífias da indiferença, alheamento ou acédia – isso, sim, a chave mortífera do nosso Futuro. “HISTÓRIA DO FUTURO” publicado em 1718, do Padre António Vieira é o livro que nos faltava. Ele anuncia a madrugada irreal do Quinto Império, que não se cobre de nuvens nem de nevoeiro, mas de coragem, força e determinação, com que esta pandemia, por demais escalpelizada, venceremos, bem como outros males de que ainda padecemos. ( Uma sugestão, desajustada, mas uma sugestão: Leiam no caderno da Economia do Expresso o artigo CHINA: A cidade-fantasma da Evergrande”
Outro assunto: Não temos encontros em corpo e alma, mas de alma e ânimos bem animados estamos. Sei que algumas esposas nossas e maridos, colegas e amigos, passam um mau bocado no que respeita à saúde. Infelizmente, o sofrimento atingiu-os os em cheio. É a gota do cálice que faltava!
Proponho rezarmos todos esta bela oração de S. João Crisóstomo (séc. V)
Assim fala o SENHOR:
“ Eu sou pai, mãe, irmão. Sou a casa, alimento e vestuário, raiz e fundamento. Sou tudo o que desejas: assim não precisas de coisa alguma.
Eu serei também teu servo, porque vim para servir e não para ser servido.
Eu sou tudo para ti, e tu não sejas senão meu amigo.
Tu és tudo para mim:
Irmão, herdeiro, amigo, parte de mim. Que mais podes desejar?
João Lopes traçou estas linhas, neste Dia da Nossa Restauração.