Poesia no último dia...
Terminamos o ano com este poema do Pires da Costa, um grito contra a hipocrisia e o cinismo e um apelo à vida com sentimentos verdadeiros. AH
MEDITAÇÃO
Aqui banquetes, além a fome;
Aqui palácios, além barracas.
E o mundo, tranquilo, dorme,
Indiferente a estas marcas!
Aqui peles e sedas, além nudez,
Há dosséis e camas de cartão,
E o Mundo, em cega pacatez,
Avança inerte e sem reação.
Simula atitudes com hipocrisia,
Em solidariedade ocasional.
Vive-se no patamar da apostasia,
Dando sopas quentes p’lo Natal.
Pios gestos, cinismo profundo,
Simulacro ignóbil da caridade.
Envergonhemo-nos deste mundo
De injustiças, egoísmo e vaidade.
Esforcemo-nos, sejamos capazes.
Ao alto, se erga e agite a chama
Da vida que, em horas fugazes,
Em nós vibra, crepita e clama.
Em preclaro renascer reluzente
Da tua consciência adormecida,
Humanidade, ergue-te, sê gente,
Inflete tua caminhada suicida!…
Pires da Costa