Poema de verão
Nesta "silly season", pensar leve também diverte. O Pires da Costa, sem plagiar, diverte-se com os plagiadores. Obrigado! AH
OS PLAGIADORES
Sou um ajuntador de letras,
Palavras não sei escrever.
Meus conceitos são piruetas
Que dão para ensandecer.
São consoantes e são vogais
Para expressar os meus ais.
Numa noite quis ser poeta,
Levantei-me p’ra começar,
Logo me senti um pateta,
Sempre disposto a delirar.
Fiz oitavas rimando a esmo,
E fiz nos tercetos o mesmo.
Depois, quis ser prosador,
Mas depressa fiquei aflito:
Não ponho vírgulas a rigor,
Palavras erradas que repito.
Apenas profiro banalidades
Como os rufias das cidades.
Se tento escrita condigna,
Cruzam-se letras em hiato,
Hoje já nada é paradigma,
Só copiamos ao desbarato.
Gente há que quer escrever,
Mesmo antes de saber ler.
Se apelamos à inteligência,
Logo se perdem as ilusões:
Escrever será uma ciência,
Excepto para os aldrabões.
Quem quiser ser escritor,
Terá de jubilar com a dor.
Tantos milénios passaram,
Tantos escritos se fizeram,
Tantos juízos expressaram,
Tantos agora desesperam!
Tantos erros se cometeram,
Tantos ecos adormeceram!
Ideias novas já ninguém tem,
Juízos novos não tem ninguém.
E, os que se julgam escritores,
Vagueiam em grande ilusão:
Não são mais que plagiadores
Dos pensadores que já lá vão…
Pires da Costa