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Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

Pátria

05.05.21 | asal

Meu Caro Amigo, peço-te o favor de publicares este texto, tamanhinho, no teu grande e magnífico Blogue.  Eu não queria abusar, mas as palavras e o amor de certas temáticas podem mais do que eu. Com um grande abraço, João Lopes

- Insiste, João, que o Pissarra fica todo contente (e eu também...)!!! AH

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 Hoje, dia 5, é o dia da Língua Portuguesa. Assisti a vários debates sobe a grácil e robusta estrutura desta nossa querida Língua. Amanhã, continuaremos a ouvir “ Ele interviu”, Têm  intervido” Começam a haver assaltos por aqui, e outros dislates. Ó que saudades eu tenho da velha Gramática do Prof. Figueiredo. Simples, clara, essencial! Quem aprendesse a conjugação verbal estava protegido para a vida inteira.  Veio depois o Acordo de 1990 eliminar o critério etimológico em proveito exclusivo do factor fonético. Uma trapalhada! Nunca hei-de escrever “conceção” receção ou fato…Seria contorcer-me todo! É que, com a Língua não se brinca. É-nos intrínseca, modela-nos o pensamento, o coração, a boca que não serve só para comer ou beijar, mas também para dizermos flor, amor, ideia, Deus, com a linguagem falada e escrita, dois códigos diferentes e complementares.

       Leio os artigos do jornalista Nuno Pacheco, da Clara F. Alves e do meu grande professor Aguiar e Silva.  Não, não vou pelas gramáticas que me falam do complemento oblíquo, da classe de quantificadores…  E confundem a cabeça dos jovens com as modalidades epistémica, deôntica… Por isso, eles fogem da Gramática e do Português e da nossa Bela Literatura, como o diabo da cruz!  Dêem-me antes a minha antiga Gramática do Liceu dos anos 50 e 60 e não estes livros de bruxaria, iniciática e hermética. Eu entendo-os porque ensinei, com prazer, a sua matéria no Ensino Superior, mas no Secundário e Básico! Que pecado cometeram os rapazes e raparigas para beberem esta medonha triaga?   

 Ah, que linda e bela é a nossa Língua em todas as suas variantes, meridianos e latitudes, solta e livre pelo mundo, uma concertina de sotaques, a cantar as nossas virtudes e a escalpelizar os vícios que muitos são!

  Vénus tinha por nós um fraquinho porque, na língua, revê, com leve alteração, a Latina! Ela é a flor do Lácio, inculta e bela… que tem o trom e o silvo da procela, e o arrolo da saudade e da ternura. Bonito, Olavo Bilac.  “Gosto de ouvir o português do Brasil / Onde as palavras recuperam sua substância total / Gosto de ouvir a palavra com suas sílabas todas / Sem perder sequer um quinto de vogal.      Quando Helena Lanari dizia o “ coqueiro” / O coqueiro ficava mais vegetal Só Sophia podia escrever esta sábia ode ao falar brasileiro.  Eu dizia Pernambuco com o “e” quase mudo. Eles ensinaram-me a abrir PÉRNAMBUCO como o nosso Perna! Assim se falava no nosso séc. XVI!

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    “ Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo o dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade.” João Guimarães Rosa,  Grande Sertão :Veredas.  Clarice Lispector dizia nunca ter visto coisa assim. Eu parece-me que já: no ensino da Literatura Brasileira e em certos senhores da nossa Zona do Pinhal, como o Pai do nosso Querido Amigo Assis! ( Ele que me perdoe! Estou a vê-lo: Alto, bem posto, de uma elegância clássica, a recitar Cecília Meireles. Ele, o grande Mestre David Mourão-Ferreira:  Ai palavras, ai palavras,/ que estranha potência, a vossa! / Ai, palavras, ai palavras, / sois do vento, ides no vento/ no vento que não retorna,/ e, em tão rápida existência, / tudo se forma e transforma!

 No princípio, era o VERBO…. 

 Coimbra, João Lopes   

 

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