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Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

Palavra do Sr. Bispo

25.08.18 | asal

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FAMÍLIA SAUDÁVEL SOCIEDADE FELIZ

 

De 21 a 26 deste mês de agosto, está a decorrer, em Dublin, o IX Encontro Mundial das Famílias com a presença do Papa Francisco. O tema geral reitera que o Evangelho da família é alegria para o mundo. Como preparação para este Encontro Mundial foi proposto um itinerário de sete catequeses à luz da Exortação Apostólica “A Alegria do Amor”. Este percurso catequético vai descodificando a passagem do Evangelho de São Lucas que narra a perda e o encontro de Jesus no Templo (Lc 2, 41-52). Partindo de um olhar concreto sobre a família de hoje, as catequeses acentuam a importância da Palavra de Deus para iluminar o quotidiano familiar e alcançar o grande sonho que Deus tem para cada família apesar das fraquezas humanas e dificuldades do percurso. Realçam a família como promotora da cultura da vida, da esperança e da alegria e como escola de vida tanto para os esposos como para os filhos e a comunidade. Por isso, o Papa não deixa de apelar: “avancemos, famílias; continuemos a caminhar! Aquilo que se nos promete é sempre mais. Não percamos a esperança por causa dos nossos limites, mas também não renunciemos a procurar a plenitude de amor e comunhão que nos foi prometida” (AL325). O Congresso pastoral, que precede o grande Encontro com a presença do Papa no fim de semana, está a ser participado por 37 mil participantes oriundos de 116 países: conferências, mesas redondas, painéis, testemunhos, convíviio e momentos de oração comuns fazem pare da programação do Congresso. 
Sempre com os olhos postos na meta, os esposos cristãos sabem que a Palavra de Deus é uma verdadeira companheira de viagem. Não há situação crítica, conjugal ou familiar, a que ela não possa manifestar a sua proximidade e eficácia e iluminar os verdadeiros objetivos da vida humana. E não se trata de uma mera transmissão de verdades religiosas ou de uma catequese ou de um ensinamento de normas morais para pôr em prática. Trata-se da Palavra, da Palavra de Deus, da relação viva e profunda com Deus, que se torna história na vida de cada família (cf. AL 16). Por isso, como afirma Francisco, a Palavra de Deus “não se apresenta como uma sequência de teses abstratas, mas como uma companheira de viagem, mesmo para as famílias que estão em crise, ou imersas nalguma tribulação” (AL22). Ela conduz os esposos, a família, à certeza de que nunca se devem sentir sozinhos, contando apenas com as suas próprias forças. Apoiados na Palavra, os desafios que a vida lhes vai apresentando serão encarados com outro espírito. Sentirão de uma forma mais forte e encorajadora “a graça do sacramento que decorre do mistério da Encarnação e da Páscoa, em que Deus exprimiu todo o seu amor pela humanidade e se uniu com ela”. Com alegria e confiança, e dentro deste entendimento e sabedoria, melhor entenderão como “responder ao dom de Deus com o seu esforço, a sua criatividade, a sua perseverança e a sua luta diária”, podendo sempre “invocar o Espírito Santo que consagrou a sua união, para que a graça recebida se manifeste sempre em cada nova situação (AL74). 
Dentro daquela “combinação necessária de alegrias e fadigas, de tensões e repouso, de sofrimentos e libertações, de satisfações e buscas, de aborrecimentos e prazeres” (AL126), o matrimónio é “um processo dinâmico que avança gradualmente com a progressiva integração dos dons de Deus” (AL122). Não é “uma convenção social, um rito vazio, ou o mero sinal externo de um compromisso”. É um dom para a santificação e a salvação dos esposos, porque a sua pertença recíproca é a representação real, através do sinal sacramental, da mesma relação de Cristo com a Igreja” (AL72). Esta graça sacramental “não é uma coisa nem uma força, mas o próprio Cristo”. É Ele que “vem ao encontro dos esposos cristãos com o sacramento do matrimónio. Fica com eles, dá-lhes a coragem de O seguirem tomando sobre si a sua cruz, de se levantarem depois das quedas, de se perdoarem mutuamente, de levaram o fardo um do outro” (AL73). Com amor!
É verdade que hoje, conforme afirmava Bento XVI, existe um “vasto campo semântico da palavra ‘amor’: fala-se de amor da pátria, amor à profissão amor entre amigos, amor ao trabalho, amor entre pais e filhos, entre irmãos e familiares, amor ao próximo e amor a Deus. Em toda esta gama de significados, porém, o amor entre homem e mulher, no qual concorrem indivisivelmente corpo e alma e se abre ao ser humano uma promessa de felicidade que parece irresistível, sobressai como arquétipo de amor por excelência, de tal modo que, comparados com ele, à primeira vista todos os demais tipos de amor se ofuscam” (Deus Caritas est,2). 
Como sempre, um dos grandes desafios dum casal é a educação dos filhos. Mais do que dominar espaços, a missão educativa tem de gerar processos. Sim, a grande questão não é saber onde está fisicamente o filho, que lugares frequenta, com quem está neste momento. O mais importante é saber onde se encontra o seu sentido existencial, onde é que ele está posicionado do ponto de vista das suas convicções, dos seus objetivos, dos seus desejos, dos seus projetos de vida (cf. AL261). A formação ética e afetiva, a educação da vontade, o desenvolvimento de bons hábitos, a formação moral e o amadurecimento da liberdade pessoal, são sempre um verdadeiro desafio. E, de facto, não é fácil já que a verdadeira educação implica promover autonomia, liberdades responsáveis que, nas encruzilhadas e necessárias opções da vida, cada um saiba optar com sensatez e inteligência pelo mais útil e melhor bem, não só para si, também para o bem comum, respeitando-se a si e aos outros (cf. AL262).
Que este Congresso e Encontro Mundial das Famílias seja mais uma oportunidade para, de novo, centralizar o valor da família e dela se falar com alegria e esperança. Como afirma o Papa Francisco no seu twitter, "A família é o berço da vida e a escola de acolhimento e de amor; é uma janela aberta sobre o mistério de Deus ".

Antonino Dias
Afife, 24-08-2018.