Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

Palavra do Sr. Bispo

11.08.18 | asal

1.jpg

RIBATEJO VENCEU PARIS E SCHOENSTATT

 

Há semanas, aqui, falei de um importante e muito querido Movimento familiar nascido em Schoenstatt: o Movimento de Schoenstatt. Mais para cá, falei de um outro nascido em Paris, também muito conhecido e muito frequentado: o Movimento das Equipas de Nossa Senhora. Esta semana, porém, quem venceu este espaço, aqui, no meu facebook, foi um outro Movimento não menos interessante. Nasceu no Ribatejo e pede para ser mais conhecido e amado: é o Movimento dos Casais de Santa Maria. 
Tudo o que é nacional é bom, costumam publicitar os patriotas que sentem o dever de dar o peito às balas. Mesmo que haja exceções, aquilo que é bom só o será, digo eu, se não se estragar, se não o banalizarmos, se for útil e aproveitado para construir algo de novo e de bem-estar social. É o caso do Movimento familiar «Casais de Santa Maria», fundado em 1957, na região do Ribatejo, e que tanto bem tem feito a tantas famílias. Foi seu fundador o Cónego José Mendes Serrazina, sacerdote do Patriarcado de Lisboa, muito dedicado à pastoral familiar e falecido em maio de 2010. O Movimento teve, ao início, ligação com a Ação Católica, sobretudo nos meios rurais e no meio operário e independente. No entanto, manteve-se sempre como Movimento autónomo. As primeiras bases do Movimento foram aprovadas pelo Episcopado Português em 1963. É um Movimento de Igreja, constitui-se em grupos de casais amigos que, apoiados pelo Assistente Eclesiástico, procuram a entreajuda em ordem à espiritualidade conjugal, ao apostolado de família a família, à consciencialização e ajuda na missão educativa, à promoção de iniciativas de preparação para o matrimónio, e ainda com particular atenção aos problemas sociais. “Através da espiritualidade mariana e a vida em casal, o movimento visa fortalecer os laços matrimoniais, sobretudo através da entreajuda, com vista à educação dos filhos segundo a vontade de Deus e com vista à difusão dos valores cristãos junto de outros casais e famílias”.
Independente em cada diocese, o Movimento depende apenas do Bispo diocesano que aprova os Estatutos. A nível Nacional, o Movimento é uma Federação e é coordenado e apoiado por uma Equipa Interdiocesana com Estatutos próprios. Em Portugal, está presente em nove Dioceses: Aveiro, Beja, Coimbra, Évora, Lisboa, Portalegre-Castelo Branco, Porto, Setúbal e Viana do Castelo, envolvendo 62 grupos, cerca de 400 casais. Por ocasião dos 60 anos deste Movimento dos Casais de Santa Maria, em 2017, o Papa Francisco enviou-lhe a sua Bênção Apostólica. 
Regra geral, os grupos dos Casais de Santa Maria são constituídos por seis casais e um assistente. “Alguns grupos terão sete ou oito casais, outros cinco, mas a norma são os seis casais e um assistente, que preferencialmente será o pároco, mas pode ser um outro sacerdote, um diácono, um religioso ou uma religiosa. Mas cada grupo de casais terá que ter um assistente”.
O esquema da reunião mensal é comum a todos os grupos. O encontro “começa com a leitura do Evangelho do Domingo seguinte à reunião. É uma reflexão sobre o que aquela Palavra nos diz nos dias de hoje. E aqui, cada um, cada casal, conforme achar bem, com a espontaneidade que entender, vai pondo as suas dúvidas, as suas questões. No final deste pequeno diálogo, o papel do assistente é crucial para centrar na mensagem do Evangelho. Referem os responsáveis: “Para nós, casais cristãos, a presença assídua do assistente nas nossas reuniões, a sua orientação espiritual, o seu testemunho como homens, como padres, como pastores da Igreja, são estímulo para a nossa caminhada com eles e em Igreja”. Segue-se um tema de trabalho, preparado antecipadamente a partir de um caderno comum de temas para todas as reuniões do ano. Cada casal prepara, reflete entre si o tema e depois partilha na reunião o que entendeu sobre o referido tema. Há ainda um espaço para os casais, um espaço a que se vai chamando o espaço de entreajuda, de partilha de situações mais pessoais. A reunião termina com a oração final, de petição e ação de graças.
O Movimento tem uma raiz muito paroquial. Os grupos são constituídos preferencialmente por casais da mesma paróquia e quem participa também testemunha: “A nossa vida cristã seria completamente diferente se não fosse o grupo de casais. E a nossa vida como cidadãos, como pessoas, como casal, também era muito diferente, porque efetivamente, cria-se um grupo de amigos que está connosco em todos os momentos, nas alegrias e nas tristezas, nas dificuldades e nas coisas boas. E isso é imprescindível, criando-se ali quase que uma segunda família”.
Alguns grupos têm na sua constituição casais que não celebraram o sacramento do matrimónio. O facto de receber e poderem partilhar, com naturalidade, todas as alegrias e dificuldades da vida à luz do Evangelho, muitas vezes permite-lhes fazer uma caminhada cristã no sentido de, percebendo a verdadeira riqueza do matrimónio cristão, virem a desejar celebrar o sacramento do matrimónio. É uma característica do Movimento estar aberto a casais em situação conjugal diferente da do matrimónio cristão. Sendo cristãos, pretendam fazer uma caminhada, com outros casais, no crescimento da fé e na partilha da vida a dois.
Os responsáveis nacionais, apelando aos responsáveis diocesanos, afirmam que “o movimento precisa de crescer”. Precisa de “partilhar com mais famílias a graça que é fazer a caminhada cristã desta forma, em casal, em família”. Mas estou ciente de que o Movimento só crescerá quando houver casais que o procurem conhecer e, como protagonistas da evangelização, abracem a sua implementação com empatia e convicção contagiante. Sendo nacional, podem crer, é bom!
Fundada no sacramento do Matrimónio, a família é atuação particular da Igreja, comunidade salvada e salvadora, evangelizada e evangelizadora. É chamada a acolher, irradiar e manifestar no mundo o amor e a presença de Cristo, como afirmava Bento XVI

Antonino Dias
Monção, 10-08-2018