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Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

Os grilos do Gavião

06.12.19 | asal
Caro António Henriques: como no magusto contaste aquela estória do perú do Cardeal, que viveste, eu tinha-te dito que também passara por alguns episódios e que te iria enviar um deles para analisares se tem algum interesse. Um abraço do
José Maria Lopes

José Maria Lopes1.JPG

NOTA: meu caro, isto é uma maravilha! Eu espero mais... AH

 

Como bem se lembram os meus estimados condiscípulos, no Seminário do Gavião não tínhamos aulas nas Quintas-feiras nem nos Domingos.

Nesses dias, de tarde, quando o tempo propiciava, saíamos bem aperaltados - de batina ou fato preto - para um passeio a pé, alternadamente, aos mesmos sítios: à Quinta da Margalha ou à Quinta do Alamal ou às margens do Tejo ou a um lugar perto do Gavião, na estrada para Abrantes, que se denominava Eira.
Num dia soalheiro de Maio, coube-nos ir à Eira fazer uma partidinha de futebol.
Para mim, o dia estava mais convidativo a admirar a Natureza do que ficar ali, na Eira, às caneladas a uns e a outros.
Eu, mais dois colegas, o Zé Dinis de Niza e o Zé Martins de Alcains fomos até um vale um pouco mais abaixo da Eira, vendo aquela paleta de cores daquele mês: o branco das camomilas; o roxo das soagens; o amarelo dos trevos e, a base, o verde da relva viçosa. Maravilha!!!
Começámos a perceber, pelo ruído, que havia ali alguns grilos e, munidos duma palhinha, passámos a fazê-los sair das suas casinhas.
Não tínhamos qualquer recipiente para acomodar os bichos e como eu vestia batina e esta compunha-se de um acessório, a romeira para cobrir os ombros, abriu-se um pequeno orifício na costura entre o forro e o pano, e fomos pondo ali os grilos.
Quando já tínhamos, talvez, uma dúzia ou mais de grilos perguntámo-nos: e agora o que vamos fazer aos grilos?
Como no recinto do recreio, ao fundo, ainda havia alguma relva, resolvemos levá-los e soltá-los naquele sítio.
Quando regressámos do passeio íamos direitos às camaratas para mudarmos de indumentária e, sinceramente, esqueci-me dos grilos dentro da romeira.
Quando me lembrei, não me preocupei e pensei que teria oportunidade para ir, então, soltar os grilos na tal relva, mas, quando quis fazer esse trabalho, os grilos tinham-se escapado pela tal abertura da romeira e espalharam-se pela camarata, não antevendo qualquer consequência desse facto.
Como se lembram, logo que entrávamos nas camaratas era obrigatório o silêncio absoluto e fechadas as luzes.
Poucos minutos após as luzes se fecharem, os grilos, espalhados por tudo o que era esconderijo, começaram a cantar.
Grande alvoroço; todos a rir e a falar, até que veio o nosso monitor, por curiosidade, o António Marcelino, e tivemos de vestir as calças ( as calças eram despidas e vestidas dentro da roupa da cama) e todos de rabo para o ar à procura dos cantores.

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Terminada a tarefa, depois daquele espectáculo, lá nos acomodámos, mas um dos grilos tinha-se escapado e ainda cantou um pouco mais tarde o que quer dizer que foi uma noite de regabofe, mas que ia trazendo consequências desagradáveis com a possibilidade de, quando se apurasse o autor da gracinha, poder ser expulso do Seminário. 
No dia seguinte, as culpas foram-me, exclusivamente, atribuídas e não fui expulso por diligência do Padre  Braz Jorge, meu conterrâneo, que convenceu o Reitor, Padre Falcão, a não me expulsarem, tendo-me sido atribuído um castigo de dez dias de joelhos nas horas de estudo e dos recreios e ainda hoje tenho um pouco os joelhos deformados(!!!).
José Maria

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