Oração na mesquita
Ao publicar ontem a notícia das duas muçulmanas que em França estão a criar um movimento que vai perturbar o costume dos muçulmanos de homens e mulheres rezarem separados, lembrei-me da minha experiência entre os árabes, onde já pude visitar algumas mesquitas.
Inquestionável até agora é a separação de géneros. A sala principal do rés-do-chão é para os homens, que entram no espaço religioso depois de fazerem as suas abluções e se vão encostar aos que já lá se encontram, ficando normalmente sentados sobre os calcanhares. Não se vêem pessoas afastadas umas das outras como acontece nas nossas igrejas, em que parece que nem irmãos somos! Num filme que pude ver, as crianças são aconselhadas a entrar na mesquita e encostarem-se umas às outras «para não deixarem entrar o demónio no meio delas»!
As mulheres que vão à mesquita rezam noutro espaço, normalmente no primeiro andar. Tive essa experiência na mesquita do Barein, onde as visitas são recebidas cordialmente e logo em conversas que procuram conquistar novos fiéis. Pudemos subir mesmo ao primeiro andar (estava quase na hora da oração!), onde na foto ao longe, do lado direito, uma senhora já rezava encostada à coluna.
Curiosamente, as mesquitas estão revestidas de bonitos tapetes, uns mais ricos que outros. De Omã para o Dubai há uma grande diferença. Numa, o próprio tapete marca o espaço de cada crente, o que permite
uma distribuição geométrica dos orantes. Vi esta configuração noutras mesquitas. Mas no Dubai a tapeçaria que se desdobra sobre o chão é de uma riqueza extraordinária, que nos deixa espantados. E não é só a tapeçaria, são as paredes com mármores de várias cores, é toda a iluminação que nos surpreende. Não sei se é porque para Alá tem de se oferecer o melhor (nas nossas igrejas também acontece!) ou se é o modo mais simples de o chefe perpetuar a memória do seu nome ao longo das gerações...
Acontece também, como entre nós (!), que há muitos fiéis que são chamados à oração durante o dia, são obrigados mesmo a fechar o espaço do trabalho (loja, supermercado...), mas por ali se ficam a fumar o seu cigarro... No entanto, também vi no Barein outros locais em que a mesquita se enche e os fiéis se ajoelham uns ao lado dos outros nos passeios à volta, num exemplo de vivência de fé que impressiona.
Não falo de temas mais profundos que a reportagem de ontem sugeria. Mas todos sabemos como o "aggiornamento" das igrejas é um imperativo constante e a vivência da fé "em coletivo" é também o melhor apoio para crescermos na visão espiritual e religiosa da vida.
Ant. Henriques