O asno de Buridan
Em lógica chamam-lhe um paradoxo.
Em psicologia, consideram-no um conflito de atracção – atracção.
A situação é simples.
Um burro é colocado à mesma distância de dois montes de palha (feno, noutras versões). O burro está com fome. Fica indeciso para que monte se deve dirigir e comer. Ilustra a situação de desejar ir aos dois em simultâneo. Não consegue decidir em qual dos montes irá matar a sua fome. Como a distância para cada um dos locais da comida é a mesma, ele fica indeciso. Parece-lhe mesmo impossível decidir (racionalmente). O tempo passa e ele continua indeciso, continua a ponderar qual o lado que deve escolher, sem fazer nenhuma opção. Esta indecisão revelar-se-á fatal. Morre entre os dois montes de palha/feno à sua disposição.
O burro que morreu a pensar foi outro.
Tropecei pela primeira vez no burro de Buridan em psicologia, como exemplo de um conflito. Só mais tarde encontrei referências em filosofia. Buridan é um filósofo medieval (1300 – 1358) que se pergunta: «poderá um cão diante de duas refeições igualmente tentadoras racionalmente escolher entre elas?» Estas questões discutiam-se em torno do tema do livre arbítrio e do determinismo moral. A sua posição filosófica é que o ser humano, salvo por impedimento ou ignorância, deve escolher sempre, entre as alternativas, o maior bem. Em caso de não haver razões para considerar uma alternativa melhor que a outra, a escolha devia ser adiada até que se tivesse mais informação sobre o resultado de cada acção possível.
Buridan nunca falou em burro. Foram os seus opositores que, posteriormente, inventaram a história do asno de Buridan. Trata-se pois, de uma sátira à sua teoria. Em situação parecida caiu S. Kierkegaard que morria de amores por Regina Olson e era correspondido. Mas, como nada lhe garantia que no futuro viesse a encontrar uma companheira melhor, a sua indecisão levou a adiar o casamente e ficar solteiro. Para agravar a situação, teve ainda de viver o tormento de assistir à felicidade de outro com a sua amada. De facto, a indecisão pode ser fatal.
Qualquer aldeão rir-se-á destes exemplos da filosofia e da psicologia. Ele bem sabe que nenhum burro ou cão morreria com fome com comer à sua disposição. Já no homem, a questão é um pouco diversa. Há quem morra ao fazer greve da fome…
Todavia, quando encontrei na psicologia e na filosofia esta história do burro de Buridan, pensei cá com os meus botões: «vê-se mesmo que não são da Idanha!». Qualquer criança aprendia a enganar um burro. Colocava-lhe uns óculos em que uma das lentes fosse verde. Acabava-se a indecisão. Escolhia o monte de erva e desinteressava-se da palha.
O ditado popular «todo o burro come palha desde que lha saibam dar» está incompleto. Só come a palha bem deitada se não houver erva.
Mário Pissarra
O Mário Pissarra é genial! Mas aí vão outros comentários, pois a ruralidade está na moda.AH
O meu pai durante longos anos tinha um "macho" que puxava a carroça, tirava água à nora, lavrava.Por vezes mandava-me colocar a palha e a ração na manjedoura, recomendando que colocasse a palha por cima na expectativa de que a comesse primeiro e só depois a mistura das favas, do milho, da aveia e da alfarroba.Da primeira vez achei astuta a recomendação do meu pai e fiquei na expectativa de ver o engano do muar ...
Ops! Assim que colocou o focinho na manjedoura deu uma enorme "assopradela" com as narinas e ficou com a ração à disposição.Chamem-lhes burros !Que se designem de burros, é uma designação como outra qualquer, mas é grave ofensa para eles chamarem-se de "burros" aos humanos, pelos motivos por que o fazemos.