NA ROTA DOS FÓSSEIS
Mais um convite a passear...
Escreve João Antunes.
A rota dos fósseis é um percurso pedestre à semelhança de muitos outros, que se situa em Penha Garcia, Idanha-a-Nova, tendo-se tornado num local de visitas constantes e estudo para cientistas de todo o mundo. Aqui, a história recua a 500 milhões de anos, talvez aos primórdios da vida !!! Este percurso não tem mais que três quilómetros, mas o trajecto, repleto de novidades, é um tesouro escondido no Geoparque “Naturtejo”.
Para quem o visita pela primeira vez é aconselhável entrar na povoação de Penha Garcia pelo lado poente até ao Largo Chão da Igreja, onde poderá estacionar o seu veículo e onde a povoação se apresenta ao visitante. Ficará surpreendido pelo tanque de combate ali imobilizado, que evoca a memória dos combatentes da povoação caídos na Guerra de África e tendo por companhia uma exposição em arame trabalhado pela escultora Ana Mena. Mais adiante e no mesmo largo, encontra o busto em homenagem à Ti "Catrina Xitas", mulher de voz incomparável e tocadora de adufes.
As setas de madeira identificam os trilhos e a direcção a tomar para a rota dos fósseis. As ruas da povoação são ruas estreitas e de subidas muito acentuadas. Caminha-se subindo, olhando as casas antigas de construção robusta e forte, garantia das pedras quartzíticas utilizadas. Entramos na Porta da Vila, nome herdado dos tempos em que a povoação era fortificada e defendida pelos Templários. À nossa frente, lá no alto, o Castelo como símbolo de vigia e de defesa e do lado esquerdo, o chafariz e o forno comunitário, cada um com a sua missão. Pão e água, não falta nesta terra.
Seguimos a seta indicativa e começamos a subir novamente, até ao Pelourinho, que data do reinado de D. Sebastião, e paramos junto à Igreja Matriz. O adro é desafogado e de lá deslumbramos uma paisagem nunca vista, o nosso olhar espraia-se em todas as direcções dos pontos cardeais e vemos a profundeza do desfiladeiro. Daqui ficamos a conhecer a panorâmica do percurso que envolve todo este vale. Vê-se a barragem de Penha Garcia, as formações geológicas onde se encontram os afamados fósseis e os antigos moinhos de rodízios, património rico desta região.
Reconfortados por uns momentos, iniciamos a descida na direcção do trilho definido para a rota dos fósseis. Fomos na direcção sul do Rio por um caminho estreito, em calçada, que em tempos idos eram "quelhas", ladeado por muros altos que suportam as terras da encosta.
Aqui os cactos ou piteiras prosperam por todo o lado, chegando a formar uma autêntica selva. Já perto da margem direita do rio Ponsul, ao fundo da rua estreita por onde viemos, entroncamos na confluência do caminho que vem da parte baixa da povoação. Agora, uma vereda, preparada para estes trilhos, terá de ser percorrida, mas sempre a subir. Seguimos a margem direita do rio, onde já se observam os moinhos de rodízio e as residências de apoio. O leito do rio, que outrora impressionava com o barulho causado pelas suas águas a contornar os pedregulhos, surge agora quase seco e escondido pelo manto verde das imensas ervas que ali prosperam. Chegamos ao Pego, uma charca grande encaixada nas rochas, onde outrora a miudagem tomava os seus banhos em pelota, porque calções .... não havia. Presentemente e por iniciativa da autarquia, este local está preparado e transformado em piscina natural, onde com bastante segurança as pessoas podem tomar banhos e passar um dia agradável.
Olhamos em redor e vemos aquelas imensas fragas que nos ladeiam e, lá no alto, no píncaro da fraga, o castelo, vigilante e protector da nossa caminhada. Passamos à margem esquerda do rio e prosseguimos nos trilhos definidos, que nos levarão ao complexo dos moinhos de rodízio. Logo no sopé da rocha, vislumbramos a sinalização das cobras pintadas, fossilizadas e bem conservadas. Lançando o olhar sobre as rochas é possível detectar outros fósseis, como aves, ramos de árvores e outros .... menos identificáveis. Dirigi-me aos moinhos de rodízios, muito bem conservados e
prontos a funcionar se fosse necessário. Uma levada de água passa ao lado e esta água quando dirigida para o engenho, fazia mover as pás que, ligadas a um veio, faziam movimentar as mós colocadas no piso superior e que moíam os grãos dos cereais para obtenção da farinha. Observado todo este maquinismo, entramos na casa do moleiro, apetrechada com todo o seu mobiliário, loiças e alfaias. Ao lado, os cabanos dos animais de carga, a pocilga do reco ou bardo dos caprinos que davam o leite para a família. Preparada para o efeito, uma casa serve de museu. Aqui podemos apreciar uma exposição de muitos fragmentos quartzíticos de fósseis. Interessantes de ver ....
Subimos pelo trilho que nos leva ao paredão da barragem e passamos para a outra margem do rio. A fraga em frente é imponente, aqui treinam os escaladores, que com persistência chegam ao cimo. Mas o nosso destino é o castelo. A encosta é grande e o trilho, em ziguezague, torna-se mais suave, mas mesmo assim é preciso energia e esforço físico. Prosseguimos e a meio da subida, somos brindados com uma vista soberba sobre todo o vale onde permanece este santuário de fósseis. Mais adiante, paramos na Gruta da Lapa para vermos mais fósseis de seres que povoaram esta região, que já foi um leito marinho. Por exemplo, as trilobites, organismos invertebrados que habitavam mares pouco profundos. É incrível, não é?
Contornamos as rochas e subimos ao Castelo. O que se observa lá de cima vale pelo passeio. A nossa vista espraia-se em todas as direcções até onde alcança. A charneca está à nossa frente, atrás as serranias circundantes e ao longe as terras espanholas. Em baixo, a povoação exibe o seu tecto avermelhado dos telhados e lá adiante, no fundo, a estrada que nos liga ao mundo exterior. Naturalmente que este ponto alto era estratégico, foi muito útil à história do país e com certeza ao Império Romano, cujas pontes se situam nesta região, uma a norte e outra a poente, itinerário principal desta civilização.
Regressamos ao adro da Igreja, confortados com o que vimos e observámos, enriquecidos com mais este grandioso património. Não deixem de visitar...
João Antunes