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Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

Migrações na Europa (3)

08.08.18 | asal

Meu Caro, envio-te mais uma reflexão na procura das nossas ancestrais raízes. Donde vimos e onde nos encontramos, por vezes as diferenças não são de monta. Excepto as tecnologias. A substância permanece. Pelo menos nas zonas do interior, menos expostas às mudanças. De Celtas ainda há por aqui muitas memórias. Há que descobri-las e valorizá-las. Quando achares oportuno, coloca lá, no nosso indispensável Animus Semper, esta minha despretenciosa reflexão. Bem hajas.
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f. beirão 

 

Os nossos avós Celtas

 

Após a longa caminhada dos humanos, do paleolítico ao neolítico, em terras da velha Europa, este vasto território foi sendo povoado por migrantes de um povo pertencente à família linguística indo-europeia, portador de uma avançada civilização, os Celtas. A sua provável origem situa-se entre 1.900 e 1.500 a. C., fruto da fusão de povos descendentes de agricultores neolíticos danubianos – junto ao rio Danúbio - e de povos de pastores, oriundos das estepes, grandes formações de vegetais, com poucas árvores.

A movimentação destas populações dirigiu-se primeiro para a Europa, e, só depois, para a Península Ibérica, por volta do ano 1.000 a. C., pressionadas por uma situação de esgotamento de recursos agrícolas nas suas regiões de origem ou por alterações climáticas. A movimentação destas tribos, portadoras de traços culturais peculiares, como cremar os mortos e oferecer sacrifícios humanos, deu-se sem significativos confrontos com as populações autóctones.

Segundo os historiadores, este povo era já portador da técnica de lidar com o cobre e com o bronze, uma liga de cobre e estanho. Com a lenta ocupação da Península Ibérica por estes migrantes - pastores e agricultores - acabaram por se misturar com parte da população já aqui existente - os Iberos –, os quais anteriormente, tinham migrado de África. Deste contacto, nasceria o povo celtibero. A testar este encontro de culturas, permaneceu um importante estrato linguístico indo-europeu, reconhecido na hidronímia, na teonímia, na toponímia e na onomástica. Assim se foi potenciando o multiculturalismo europeu.

 Uma forte ligação peninsular com a bacia mediterrânica, nomeadamente com a opulenta cidade fenícia de Cartago, foi reforçada neste período. Desta relação, resultou que começaram a chegar influências orientalizantes, como os artefactos, transportados pelos mercadores gregos e fenícios que, além da preciosa cerâmica, trouxeram consigo o cultivo da oliveira e da vinha. As suas colónias na Península Ibérica promoveram ligações terrestres e marítimas, provocando uma enriquecedora troca comercial. Deste modo, promoveram o desenvolvimento dos povos autóctones, um aglomerado de tribos independentes celtas que, por vezes, se guerreavam.

Vivendo em aldeamentos fortificados - castros e citânias – as tribos celtas dos Lusitanos construíam as suas habitações, geralmente circulares, de tipo mediterrânico, no cume dos montes. A criação de cavalos de raça, preparados para a guerra, terá sido uma das suas vantagens guerreiras, juntamente com os soldados munidos de punhais e escudos redondos.

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Por sua vez, os migrantes Celtas, dotados de uma cultura desenvolvida, trouxeram consigo para a Europa e para a Península Ibérica, uma sociedade fortemente hierarquizada, à base de clãs, compostos de famílias parentais que partilhavam um conjunto de terras agrícolas, com posse particular do gado. Esta sociedade encontrava-se ainda dividida em governantes, nobres, sacerdotes (druidas) artesãos e escravos. A mulher celta ocupava um lugar de relevo. Quanto à religião, praticada em frondosas florestas, era animista e politeísta, com vários deuses, a quem prestavam culto, ao ar livre. Sublinhe-se que alguns deuses pré- celtas, continuavam a ser cultuados na Lusitânia, como Arentio e Trebopala.

Quanto aos Lusitanos, um povo guerreiro, teve de fazer frente aos indomáveis exércitos romanos, durante várias décadas, chefiados por Viriato - assassinado à traição, em 139. Com língua e escrita própria, a partir de 41.C., após a sua derrota pelos romanos, ficariam sujeitos a uma longa e progressiva romanização, tornando-se o latim a língua oficial.

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Do povo Lusitano também fazia parte a tribo dos Igeditanus, com a sua capital na região de Idanha-a- Velha. Note-se que, em algumas regiões do país, permanecem ainda hoje resquícios da cultura celta e pré-celta, nomeadamente, alguns nomes de povoações, tradições e costumes, folclore (caretes transmontanos), arte (os berrões) e música. Deste período, bronze final, conhecem-se ainda numerosos conjuntos de gravuras rupestres insculpidas em penedos ao ar livre, com variados motivos: símbolos solares, representações de cervídeos de estilo subnaturalista, de obscuro significado. Ainda destes tempos, existe um monólito de simbologia fálica, uma estela-menir, encontrado no Monte de S. Martinho, perto de Castelo Branco, junto à capela do santo do mesmo nome. Este documento histórico apresenta uma figura humana caçando com arco e flexa, e um cervídeo, em ambiente silvestre. Uma bela recordação deixada pelos nossos avós celtas.

florentinobeirao@hotmail.com