Mais um poema
OÁSIS DO MEU SEGREDO
Por campos planos e agrestes,
Os caminhos da vida trilhei.
Saciei-me de frutos silvestres,
Tantas as dores que suportei!
Por querer-te muito me perdi,
Depois de atribulada procura.
Desesperado, só agora entendi
O tamanho da minha loucura.
Memória confusa, viver triste.
Cego, vejo apenas o que ouço;
Sinto o barulho que não existe;
Meu penar parece um balouço.
Fixo o horizonte, olhar toldado,
Ao alto, o sol brilhante a sorrir.
Drama de amar sem ser amado
Queima-nos a alma, quero fugir.
Quão feliz seria se, num deserto
Extenso, te pudesse vislumbrar.
Mesmo longe, seria de ti perto,
Logo correria para te abraçar.
Enlaçados, falaríamos do amor,
Balbuciando frases de ternura,
Juntos, rezaríamos com fervor,
Gratos por toda a nossa ventura.
Ficção? Realidade? Que importa?
Vive-se enquanto a chama durar.
Ventura e dor não batem à porta,
Entram ambas de par em par.
Fraco, sou prisioneiro da utopia,
Submerso em infinito degredo.
Tua imagem, minha fiel fantasia,
Diluída no oásis do meu segredo.
António Naio
NOTA: Mudaste de nome neste carnaval, mas eu conheço-te, meu caro Pires da Costa. Retenho da última estrofe «sou prisioneiro da utopia», pois isso dá-me gosto de viver, mesmo no deserto! AH