LEMBRANDO COLEGAS
Dias da Costa, na palavra de Manuel Pereira
(Apresentamos hoje o segundo testemunho acerca do Dias da Costa, colega do Doutor Freire.
E esperamos mais. Quem se segue?)
Convivi com o Dias da Costa em várias ocasiões. Logo no Gavião, era eu caloiro e ele já teólogo. Apesar do fosso a separar-nos em idade e em sabedoria, havia coisas que davam nas vistas, mesmo aos mais descuidados. Uma delas era a maneira como ele tocava o órgão da capela. Convém esclarecer que se tratava de um frágil órgão, suportado por quatro barras de madeira que vibravam por todos os lados. As suas mãos trémulas dedilhavam as teclas com tamanha energia que eu dizia, cá para os meus botões: este tipo qualquer dia deixa o órgão perneta. Este exemplo serve apenas para explicar a energia que dele emanava.
Também recordo a maneira brincalhona como ele abordava os mais novos, deixando-nos assim mais próximos e confiantes com a sua atitude protectora.
Ele sobressaía em várias facetas: era músico, filósofo, poeta dotado de uma cultura geral extraordinária, como também disse o Pires Antunes… Para mim, que me situava numa décalage muito inferior, ele era quase eléctrico, duma exuberância que dava nas vistas. Às vezes exagerava mesmo numa explosão descontrolada, como naquela vez que, em Castelo Branco, tira o chapéu da cabeça e atira-o ao chão com veemência.
Sei que vivia lá para Carnaxide e foi vizinho do João Heitor durante muitos anos. Terminou o curso, mas não se ordenou vá lá saber porquê! Cada um tem as suas razões de viver e as suas opções em consciência, naturalmente respeitáveis.
Manuel Pereira