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Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

Lembranças de Alcains

20.06.21 | asal

António, Sesimbra, dizem, anda cheia de COVID-19 e eu, apesar de vacinado, fiquei em casa, neste fim de semana. Aproveitei para escrever um texto sobre o Jamboree de 1964, ilustrado com fotos, que te envio para publicação no Blogue.

Cura, ut valeas. 

Teixoso 1.jpgJoaquim Mendeiros

 

O JAMBOREE DO TEIXOSO - 1964

Em 24 de maio último, o nosso blogue “ANIMUS SEMPER” publicou um texto do Mário Pissarra onde, a propósito do livro “ Seminário de Alcains – História e Memórias” da autoria do Florentino Beirão (com os testemunhos de muitos de nós), ele dizia ter verificado que ninguém tinha escrito sobre um episódio marcante na vida do escutismo no seminário referindo-se ao Acampamento Internacional do Teixoso, onde as estrelas tinham sido as polacas, exiladas em Inglaterra como os seus colegas masculinos, também presentes no Acampamento.

O Mário relata alguns episódios interessantes, e eu lembrei-me de reavivar as minhas lembranças desse Acampamento colorindo-o com algumas fotografias.

É curioso como o passado que mantemos em arquivo nas pastas da nossa memória reaparece tão reduzido e tão fragmentado quando dele precisamos…

Talvez um “Diário” nos ajudasse a refazer um pouco desse tempo, mas se nem sequer usávamos agendas para simples anotações dos factos mais relevantes, como iríamos escrever um “Diário” sujeito à curiosidade alheia e ao risco de cair em mãos indesejáveis?

Por isso, estes nossos relatos poderão servir para, em conjunto, podermos partilhar peças do puzze da nossa vivência juvenil que cada um à sua maneira ajudará a montar, libertos, agora, dos condicionalismos próprios desses tempos.

 Por muito que eu tente “puxar pela cabeça”, pouco mais consigo reviver desse famoso Jamboree do Teixoso de 1964, do que aqueles preciosos momentos em que nos deleitávamos a ouvir as canções do grupo de escuteiros polacos, com natural realce para as meninas e para a graça que tinham, a dançar.

É claro que a ciência explicará como é que isto funciona, mas não é agora a altura própria para cogitações dessa natureza. Talvez a circunstância do escutismo, para mim, se ter circunscrito a Alcains, sem continuidade em Portalegre, no sétimo ano, tenha contribuído para deixar a atividade do nosso Grupo do Jamboree, no “arquivo morto”. Talvez…

Ou, então, as polacas, sobrepondo-se a tudo… mas deixemos isso para os psicólogos e neuro-cientistas.

Na página 270 do livro “Seminário de Alcains-História e Memórias” está uma fotografia da minha patrulha, nesse Acampamento, onde me acompanham o Lúcio Lobato, o João Mendonça, o Boaventura, o João Delgado (falecido), o Bonifácio e o Constantino (falecido), mas, de facto, não me recordo de nenhum pormenor da nossa atividade de escuteiros, digno de relevo, e que vos possa contar. É como se nada tivéssemos feito…nem sequer a boa ação diária…

Já com as polacas, a coisa muda de figura.

Aí estará a explicação para eu não ter a ousadia de incluir no meu “Testemunho” do livro sobre o Seminário de Alcains, qualquer referência ao Jamboree do Teixoso, deixando estas lembranças a bom recato e que agora vos trago, por nenhuma razão especial, diga-se de passagem, só para desanuviar um pouco o espírito daqueles que subiram até ao Teixoso.

É verdade que as polacas eram as verdadeiras estrelas da companhia e que elas nos “enfeitiçavam” com os seus cânticos, os seus vestidos tradicionais e os seus encantos naturais, louras, na sua maioria, mas também morenas, algumas. De vez em quando, ainda dou por mim a cantarolar uma canção que me ficou no ouvido, do folclore polaco, cuja música eu acompanho com um “lá, lá, lá” apropriado, que fica sempre bem quando desconhecemos a letra.

E, nessa onda, muitos de nós, estudantes de francês e inglês, estávamos, naturalmente, ávidos de praticar estas línguas com as escuteiras (ou escuteiros) que tivessem os mesmos gostos, o que incluía a correspondência, por carta, naturalmente.

Nada de outros propósitos, entenda-se.

Pela minha parte, travei conhecimento com uma morena – Irma, de seu nome – com quem troquei morada e me correspondi nas férias desse Verão, por duas ou três vezes. Combinámos escrever em francês que eu dominava melhor do que o inglês (no meu tempo, tínhamos 5 anos de francês e um de inglês), e ela concordou porque queria praticar francês, já que o inglês lhe era familiar. É claro que nem ela estava interessada no português nem eu no polaco…

Já não sei o que dizíamos nas cartas, se debatíamos o escutismo ou o acampamento, se falávamos de Portugal, da Polónia ou de Inglaterra e, assim, não me é possível satisfazer a vossa curiosidade. O que vos posso dizer é que, com pena minha, tive que dar por terminado o nosso relacionamento epistolar, no fim do Verão de 1964, porque Portalegre esperava-me para as obrigações estudantis eclesiásticas e nenhum dos nossos professores poderia sequer suspeitar do método que eu tinha seguido para praticar francês… e o seguro morreu de velho.

No princípio do sétimo ano entrávamos, logo, em “Retiro”, onde se fazia a primeira seleção para o novo ciclo que eu consegui ultrapassar com sucesso, mas tive o cuidado de deixar na Comenda as fotografias que guardei religiosamente, não fosse dar-se o caso de deitar a perder o esforço de as guardar, para memória futura e cá estão elas. Ainda as tenho. Quanto às cartas, essas subiram aos céus em labaredas de lareira…

Vamos então às fotos.

A primeira (ao alto à direita) é a entrada triunfal do Acampamento, como facilmente se percebe. A segunda é um grupo de companheiros, de Alcains, à entrada do nosso Campo, onde eu estou, ao centro, de joelhos, com óculos escuros, junto a um escuteiro de chapéu (polaco, talvez). A terceira, um grupo de polacas, com trajes tradicionais, onde identifico a Irma, sentada, à direita, de pernas cruzadas.

Apresentação1.jpg

 

Teixoso 4.jpg

A quarta, a chefe das polacas, lourinha, sentada, risonha, ao contrário do que lhe era habitual pois era muito rígida e sempre de olho nas suas meninas, com olhos protetores e prontos para fulminarem os rapazes que delas se aproximavam. Vestiam uma espécie de guarda-pó e usavam uma faca de mato à cintura.

 

Teixoso 5.jpg

A quinta, as polacas numa dança celestial, onde pontifica a minha correspondente Irma, morena, num passo de dança soberbo. Notem o movimento das pernas num sincronismo perfeito com os braços horizontalmente estendidos, enquanto nós, lá atrás, nos embasbacávamos com tanta graciosidade, com os olhos nelas, sim, mas com o espírito no ALTO, ao mesmo tempo…

 

Muito lindo!

Joaquim Mendeiros Pedro.jpg

 

 

Zambujal, Sesimbra, 20 de junho de 2021

Joaquim Mendeiros

 

NOTA: 

Meu Bom António
Peço para avisares os nossos associados deste esplêndido artigo de Frei Bento, no Público de hoje(20/06). É, simplesmente, formidável e revela, em toda a sua profundidade, o pensamento reformista de Dante Alighieri em ação. Dentro de pouco, começa a publicar uns textos sobre o poeta da Idade Média, como nos pediu Francisco. Em Itália, este é, de facto, o ano de Dante!
Um abraço
João Lopes

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