Irei medrar nos campos em flor
FLOR CAMPESTRE
Não serei árvore nem arbusto,
Hei-de viver ignaro em pinhais,
Sei o que quero, a todo o custo:
Quero morar pelos matagais.
Quero deixar de ser quem sou,
Nada, ninguém me irá deter.
Hei-de estar onde não estou,
Serei planta rasteira a crescer.
Preso, terei a minha liberdade,
Alheio ao frio, à chuva, ao calor,
Hei-de rir dos tontos da cidade,
Irei medrar nos campos em flor.
Lá ao fundo, um riacho a correr,
Meu deleite por ouvi-lo cantar.
Dele, água cristalina irei beber,
Se alguma vez a chuva faltar.
Ali perto, estreita, uma vereda,
Por lá passará gente distraída.
Em mim, um sentir de alma leda,
Livre, sem dores, descontraída.
Num contentamento incontido,
Minha alma exultará a vibrar
Quando, entre ervas escondido,
Te vir perto de mim a passar!
A. Pires da Costa