Integrar ou excluir?
O racismo estende os braços
A temperatura racista tem vindo a medrar ao longo deste tórrido verão. Tanto no nosso país, como por esse mundo fora. Quem julgava que este problema tinha os seus dias contados, enganou-se redondamente.
Iniciemos pelo boçal presidente da USA D. Trump, racista e xenófobo, o qual tem tratado o estrangeiro e o emigrante como inimigos do país. Na sua política racista, se incluem as vexantes medidas que tem implementado na fronteira com o México, as quais mereceram condenação geral, incluindo a do Papa Francisco. Ultimamente, decidiu eleger quatro congressistas do Partido Democrático na Câmara dos Representantes, por terem tido a ousadia de aprovar uma moção de censura contra os “comentários racistas do seu Presidente, dirigidos a membros do Congresso”. Recorde-se que o voto das democratas tinha sido uma resposta às declarações racistas emitidas por Trump, por haver opinado no sentido de que as congressistas emigrantes, da ala mais à esquerda do Partido Democrata, deviam “voltar para donde vieram”. Paradoxalmente, esqueceu-se de que a USA foi construída com sucessivas levas de emigrantes. Para este negociante vaidoso, pelos vistos, a história e o humanismo não passam de letra morta.
Só que, infelizmente, esta paranoia racista contra os emigrantes tem também produzido discípulos em alguns países da UE. Se a Polónia, a Hungria e a Inglaterra com o seu Brexit já faziam parte deste lote racista, agora juntou-se também M. Salvini, ministro do Interior de Itália, que decidiu aderir à mesma cruzada racista, contra os emigrantes. Se ele já lhes tinha fechado as portas, para entrarem na Europa pelos portos italianos, em barcos sem condições, agora este ministro acaba de ordenar um relatório, a ser concluído em duas semanas, sobre a população cigana (sinti e roma), Através dele, pretende verificar a presença de campos ilegais desta etnia, para posteriormente elaborar um plano para os expulsar de Itália.
É dentro deste contexto de comportamentos racistas que podemos enquadrar um recente e muito polémico artigo da historiadora Maria de Fátima Bonifácio, no jornal “Público”, onde considera que “nem ciganos nem africanos fazem parte de uma entidade civilizacional e cultural milenária que dá pelo nome de Cristandade”. Na sua crónica, avança ainda com algumas conclusões definitivas, nomeadamente, afirmar que os ciganos são “inassimiláveis e recusam terminantemente a integração”. Estas afirmações têm enfrentado uma grande resma de críticas, incluindo uma queixa-crime, apresentada pela Associação SOS Racismo.
Esta questão, como sabemos, é antiga e complexa. Por isso, criticar por criticar, pouco acrescentará a este tema. Se quisermos ser objetivos e sérios, temos de concordar que os sentimentos racistas se encontram disseminados no nosso quotidiano, fazendo mesmo parte da cultura ocidental. Embora não se afirmando de um modo categórico e em público, não deixa de existir, se bem que de um modo velado e larvar. Alguns sentimentos racistas, temos de o reconhecer, existem nas nossas mentalidades e atitudes. Será possivelmente, um racismo em contexto português, a impor-se de um modo sub-reptício na nossa mentalidade cultural.
Lançando um brevíssimo olhar pela nossa longa e gloriosa história, esta reprovável atitude quase sempre esteve patente no comportamento dos nossos antepassados. Desde o “cão” muçulmano, ao “ pérfido” judeu, ao excluído cigano, todos foram sendo perseguidos, expulsos e, por vezes, até queimados pela inquisição. Não esquecendo ainda os quatro milhões de africanos escravos, levados para as américas. Acresce ainda o nosso imperialismo colonial, explorador da mão - de - obra negra. Por todos estes pecados, temos de confessar que, em determinados contextos históricos, também praticámos um criminoso racismo.
Se toda esta realidade nos envergonha, também não olvidamos os grandes avanços que se foram dando no evoluir da nossa história. Nomeadamente, a abolição da pena de morte, o acolhimento de tantos retornados das colónias que foram recebidos e integrados no nosso país, incluindo ainda os miseráveis que procuram a Europa para viverem.
Se hoje existem resquícios de racismo, de um modo geral, o multiculturalismo, felizmente, vai fazendo parte do nosso modo de estar no mundo, como atestam os gestos e as boas relações entre as religiões ou as políticas positivas de integração de ciganos e negros nos programas e práticas de algumas autarquias.
Continuarmos estes caminhos será um dever de todos nós cidadãos se a nossa opção de vida for no sentido da integração e não da exclusão de cada ser humano.
florentinobeirao@hotmail.com