Início de novo ano
Percurso
Acabados os rituais de morte do velho e as bacanais celebrativas do novo, é tempo de retomar as rotinas que tecem o nosso dia-a-dia,
O ditado popular «ano novo, vida nova», como todos sabemos, não passa de um auto-engano com que os humanos se deliciam.
Os votos de um bom ano expressam desejos e votos, mas não passam disso. Sinceros ou hipócritas, por educação, delicadeza ou por outras razões quaisquer, não alteram a decurso da realidade.
Mas confortam e afagam o nosso ego. Cumprem uma função importante nas nossas existências.
Começamos mais uma etapa do nosso percurso. Somos peregrinos (homo viator) e a vida é a nossa viagem. O facto de uns chegarem antes dos outros e o tempo da partida não ser também o mesmo, serve para nos recordar que a vida é, na realidade, uma viagem, não um destino. Os caminhos do percurso não dependem só de nós e a nossa viagem não é uma viagem solitária, mas somos nós que temos de o fazer.
Fazê-lo com boas companhias, com alegria e felicidade é tarefa nossa – Ortega y Gasset diria que é uma faena pessoal -, o nosso contributo é essencial para a nossa viagem como para a viagem dos outros.
Haverá percalços e dificuldades. Certamente! Montanhas a trepar e planuras a perder de vista, descidas aceleradas e mudanças de ritmo do andamento, etc. Mas que importa tudo isso se pudermos apreciar o usufruto e o prazer do caminho? As agruras ultrapassadas dão um sabor especial ao saboreio do caminhar ...
Mário Pissarra