Meu caro João, admiro a tua capacidade de participação neste blogue, espaço de encontro pelo menos para umas boas dezenas de amigos. Desta vez, acho que não conseguiste entender a mensagem do vídeo. Eu vou adiantar algumas ideias, mais a falar do que vejo e vivo, mas sempre na sequência do vídeo.
Os exercícios que sugeres aplicam-se a quem ainda domina e toma conta da sua vida. As universidades seniores, por exemplo, correspondem a essa necessidade de conhecer mais, de conviver, de ser alguém quando nos metemos em casa e não temos obrigação pessoal de ocupar o tempo, estar com os outros, etc...
Mas começa a chegar um tempo em que entregamos toda a nossa vida aos filhos, pouco a pouco deixamos de decidir, fechamo-nos na concha e começamos a gostar dela. Alguém nos quer motivar e nós resistimos às motivações. A cabeça deixa de funcionar, até deixamos de falar, só olhamos para os outros por olhar... Nos últimos tempos (meses e meses!), andámos a "fazer o velório" a uma familiar que vivia no lar, mas não falava, só ouvia, alimentava-se por um tubo, às vezes eram 45 minutos em que os olhos nem se abriam...
É para este estado de vivência humana que o vídeo pede para olharmos. E realmente as estruturas sociais não existem, nem para quem ainda é bem autosuficiente - basta lembrar a dificuldade em encontrar as residências que nos acolham, quer a nível financeiro quer a nível de acolhimento humano condizente com a nossa humanidade. Eu preocupo-me, talvez por estar com os meus 82 anos...
António Henriques