Há dias assim
Hoje, o dia tem sido rico demais, a ponto de não ser capaz de me fechar em concha e nada dizer. Assim se faz associação, penso eu.
De manhã, telefono para a Margarida, viúva do João Heitor, falecido há um ano em plena pandemia. E encontro uma senhora conciliada com a vida, à espera de uma bisneta que devia ter nascido há cinco dias, «mas está lá tão bem que não quer vir cá para fora». É a vida que continua e nós temos de aceitá-la... Olhar para a frente em vez de viver para trás...
Depois, estava eu a mastigar uma feijoada de dieta (não era do restaurante, era da Antonieta!) muito saborosa, quando me telefona o Gil a querer desfazer uma dúvida bem séria. Acabara de ouvir de um vizinho da Palhota (S. Pedro do Esteval) que tinha morrido há uns 10 dias o P. Américo Agostinho. Caramba, não acreditei... Ninguém me tinha dito nada, quando já é normal haver um amigo que transmite estas notícias. De tarde vou investigar...
Mas isto continua. Ontem não consegui dar os parabéns ao P. Marcelino pelo seu aniversário e hoje tentei novamente. Fui encontrar um amigo cheio de alegria, contente com a minha surpresa e a dizer que está sempre disponível para receber os antigos alunos dos nossos seminários. Até me conta uma anedota:
«Mãe e filha dormem na rua... Sabe que horas são no campanário da sua igreja?
- Eu sei lá! Nem o campanário vejo...
- Muito simples: falta um quarto para as duas!»
Entretanto, falo-lhe dum amigo com quem gostava de falar e não tenho n.º de telefone, o João de Deus Tavares, de S.to António das Areias. E não é que, de repente, ele me dita o número?! Milagre...
Vem a seguir uma longa conversa com este amigo de outros tempos, de que não sabia nada desde o Encontro de Marvão. Já tinha pedido o n.º dele nas redes sociais, o Patrocínio deu-me um que já não estava atribuído a ninguém e agora felizmente é um falar sem horas marcadas. Lembrámos vários amigos, cada um a envelhecer para o seu canto sem nada saber dos outros, mas ainda pude saber do Bugalho, disse de outros amigos o que sabia (até discordámos do nome do Fernando Leitão, eu a acrescentar Miranda e ele a dizer que não!), pu-lo a falar com o Manuel Pereira e fiquei com os dados do João para anunciar o seu aniversário em 19/02, curiosamente o dia de anos de um dos meus filhos.
E diz-me o João de Deus: a tua voz faz-te presente, como se estivesses aqui. Olha. eu quero o livro, manda-mo à cobrança, por favor...
E todos ficamos inchados, como se revivêssemos os momentos vividos em Portalegre, em Marvão, na Portagem ou na estação da CP na Beirã, onde um dia me foram buscar vindo de Madrid!
Olha, Gil, foi o João de Deus que me disse que o P. Américo Agostinho está vivo, mas com graves complicações no hospital de Portalegre, onde ainda tentam uma operação ao pâncreas.
Assim vão os dias: alegrias misturadas com dor e sofrimento e mais intenções para incluir nas nossas preces. E diz-me o Gil: - olha que isso tudo também te ajuda a viver...
Sim, é bem verdade!
António Henriques
NOTA: Junto fotos de Marvão com o João de Deus no meio da malta, uma com Cón. Lúcio e outra com ele a conversar com o Alexandre Pires.