Há 10 anos
Eu não fui à gaveta, mas fui ao blogue Animus60! E ao pesquisar Novembro 2010, encontrei esta preciosidade. AH
ESCREVER PARA A GAVETA
A propósito de mais um repto lançado para a dinamização deste espaço pelos indefectíveis das visitas diárias e também na sequência das questões levantadas pelo Torres sobre as previsíveis desmotivações, eu, que sou das tais visitas que já uma vez ou outra “deu notícia”, declaro que acusei o toque: é que eu, de tão pouco espontâneo em manifestações públicas de carinho (e parece ter sido essa a minha mais notória herança levemente negativa do Seminário) e apesar de “emotivo, não-activo, primário”, não posso ficar indiferente a repto tão directo (o que eu esperei por isto!) e a tratamento tão afectuoso, como o que me dedica o nosso editor...
Efectivamente, nem para a gaveta tenho escrito. Creio mesmo, que aos professores já não resta tempo para a criatividade e os devaneios literários, salvo algumas raras excepções, como o caso do Tó Manel, meu cúmplice colega de escola, solteirão impenitente e bem-parecido, a cuja barba grisalha ainda a maioria das colegas gostaria de “fazer festas” e que ainda tem fôlego para se desdobrar em múltiplas actividades e nem todas de soco, também muitas de coturno. E é claro que este amontoado de papéis inúteis em que nos atolaram, estes trabalhos duplicados de tornar acessível aos alunos o que já é simples, essas horas intermináveis a discutir o sexo dos anjos e também a provecta idade são convites indeclináveis ao “dolce farniente”.
Claro que ainda nos reserva momentos gratificantes o espaço escolar e a profissão para que, um dia, em Alcains, o querido prefeito, padre Alberto Jorge, me inclinou, com os seus gestos e atitudes de lídimo pedagogo: realiza-me imenso ser saudado nos recreios, mesmo pelos que nunca foram meus alunos, apesar de uma grande parte deles me conhecer de “outros carnavais” bem mais agradáveis que as aulas, já que mantenho um grupo desportivo escolar de futsal infantil, há dezassete anos, nesta escola; é rejuvenescedor e alimenta-me o ego os alunos não quererem acreditar que já passei os sessenta, quando, para eles, ter quarenta é ser “cota”; é gratificante receber um sorriso em troca de outro que se imiscuiu na tristeza solitária de um rosto infantil ou juvenil, num recôndito do recreio.
Essa é uma herança do seminário, de tantos padres sempre atentos aos sinais de abatimento dos seus pupilos. É, reproduzimos, com maior frequência do que imaginamos o que colhemos dos nossos educadores: sempre que digo aos meus alunos que mais importante que os números da avaliação o que conta é o saber, vem-me à memória o saudoso padre Francisco Chaves, que me leccionou História e que chegava a perguntar-me que nota queria antes de ver os testes, a mim que nunca fui “barra” na matéria.
Pois, caro Torres, nem todos têm a genica do nosso editor (que Deus não lhe falte com a sua parte e nós, pelo menos, com o nosso incentivo e compreensão); nem todos têm a coragem de se expor, tantos anos após as inevitáveis espontaneidades, às vezes tão marcantes e inibidoras, como as dos primeiros tempos de seminário; nem todos estão dispostos a sair do seu comodismo e, uma vez saciada a ânsia do reencontro, dar continuidade e manter vivos os laços que nos uniam; nem todos se arriscam ao cotejo com artistas da prosa e da filosofia como o Jana, o Silvério, o Pissarra, o João Oliveira e outros que aqui prosaram, esquecendo-se de que uma prosa correntia, comunicativa e espontânea como a do Colaço, ou íntima como a do Vírgilio, do Ângelo, do Manel Cardoso, para só nomear os que me são mais próximos, nos cativam e nos enquadram ainda mais…
Gil
A caminho das aulas, no Porto: Gil, Álvaro, Pedro e Jana, de barbicha?
Uma das equipas do famoso treinador, padre Álvaro, em Alcains: ( da esquerda para a direita, 1º plano – Catana, Zé Henrique, saudoso Tó Manel, Gil e Zé Ventura; em cima – Abílio, padre Álvaro, Zé Alves, Zé Pedro, João Mendonça, João Henrique e Gavancha
Equipa do Seminário de Valadares -- Em cima: Tó Ribeiro 1º, à esquerda; Mendonça e Bonifácio, os dois últimos à direita. Em baixo: Gil, o último, à direita.
Magusto na Serra de S. Mamede