Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

Estados Desunidos da América

29.11.20 | asal
Amigo Henriques, não podia fugir ao tema que, nos últimos tempos, tem feito correr tanta tinta.
Depois dos tempos do troglodita Trump, rejubilo com os novos tempos que aí vêm. Parece-me, pela amostra, que será gente mais séria e que irá tentar reverter tantas asneiras cometidas, por uma cabeça desmiolada que só via dinheiro à sua frente. Sabendo que não há políticos perfeitos, acredito e rejubilo com esta mudança na Casa Branca. Oxalá, o mundo conheça melhores dias.
Será que em maio nos iremos já encontrar em Alcains? Ao fundo do túnel, parece que já nos ilumina uma bruxuleante Esperança!!!!
Um forte abraço e votos de saúde

Florentino4.jpg

Florentino Beirão
 

 

Eleições não afastam pesadelo

Terminada que está a contagem dos votos das últimas eleições nos Estados Unidos da América, o democrata e católico Joe Biden foi o claro vencedor. Só que, pasme-se, o republicano vencido, o presidente Donald Trump, na sua empedernida casmurrice, não se deu por vencido, acusando os democratas de lhe terem roubado votos. Persistindo nesta falsidade, vai continuando a incendiar os seus fanatizados fãs, sustentando a sua suposta vitória. Com esta falta de sentido democrático, tem procurado arrastar a sua declaração de candidato vencedor. Esta situação acontece porque, quanto a nós, a democracia dos Estados Unidos, o país mais rico e poderoso do mundo, se encontrar doente com o seu corpo fraturado. Negando os resultados das eleições, o candidato republicano - impreparado, boçal, autocrático e fanfarrão, ao longo da sua administração foi espalhando a sua ideologia por alguns países do globo que o têm vindo a imitar. Contradizendo-se continuamente, inventando falsas notícias, encerrado no seu nacionalismo fechado e tacanho, não acreditando na ciência face à atual mortífera pandemia, tem-se vindo a arrastar penosamente, numa confrangedora farsa política. Por incrível que pareça, ainda conseguiu 67 milhões de votos, deixando o seu país num pesadelo e em penosa convalescença. É neste contexto, com os Estados Unidos divididos que o vencedor das eleições, o experiente e pacificador J. Biden, terá que lidar nos próximos anos, como o primeiro responsável da maior potência mundial.

Esta tarefa não lhe será fácil de desempenhar, dado que o seu país contém no seu seio vastas camadas de trabalhadores rurais desfavorecidas e muitos a viver nos subúrbios das cidades, em estado de pobreza, sem fácil acesso aos serviços de saúde. Um vasto campo de pessoas onde os populismos medram facilmente, a tolerância política e social se dilui e a democracia vegeta. Sabe-se ainda que na América existe 1% de grandes capitalistas a controlar 40% de toda a riqueza nacional. Numa sociedade tão desigual, será uma difícil e complexa tarefa para Biden, se quiser alterar esta explosiva situação e tentar resolver com determinação e muita sabedoria política, o mais rápido possível, os graves e concretos problemas com que hoje se debate uma grande parte da população do seu país.

Por outro lado, é bem possível que o derrotado Trump possa ainda querer continuar a andar por aí, ativo politicamente e na televisão, com o seu populismo demagógico, a atiçar os seus devotos, numa onda contínua de elevada emoção popular, junto dos mais pobres e iletrados americanos. Por isso, os seus tiques antidemocráticos, só poderão ser derrotados se a nova Administração da USA, conseguir responder aos principais e concretos problemas dos cidadãos, explicando-lhes, de modo transparente, as razões da sua estratégia que deve nortear-se pelo bem-comum.

 Seria louvável que a atual crise da ferida democracia americana também possa servir de lição para outras democracias, ameaçadas nos últimos tempos, por uma vaga de partidos populistas e xenófobos, a alastrar em vários países.

Espera-se agora que o vitorioso J. Biden, para onde muitos olhares se viram, com a tomada de posse marcada para 20.01.2021, seja uma luz forte, para o nosso ensombrado mundo.

Mas quem é J. Biden, acabado de ser eleito? Foi Vice-Presidente na administração Obama, e politicamente, é considerado uma personalidade moderada. Teimoso nas suas convicções, muito sofrido familiarmente, prometeu unir os americanos e retomar as anteriores grandes linhas políticas e sociais, combatidas ou destruídas no último mandato, tanto na política interna como na externa.

Escolhendo para sua vice-presidente Kamala Harris, uma negra elegante e muito jovem, filha de emigrantes, já deu um claro sinal de que vai tentar virar a página da xenofobia e do racismo, na qual a América vive mergulhada.

A nível internacional, a principal tarefa da nova Administração de Biden deve consistir em encontrar um equilíbrio entre o excessivo intervencionismo e a abdicação dos assuntos mundiais, ajudando a recriar uma nova ordem internacional, dialogando com o maior número de Estados, a começar pelas grandes potências.

O facto de Biden já ter avançado que, com ele, os Estados Unidos iriam regressar ao Acordo de Paris sobre as alterações climáticas e reatar os laços com a Organização Mundial de Saúde, para fazer guerra à Covid.19 e ainda restabelecer relações com a ONU e a NATO, é encorajador. É todo um novo programa que se anuncia, embora o anterior pesadelo não esteja afastado totalmente.

florentinobeirao@hotmail.com