Encontro Improvável em Timor
Boas tardes!
O MUNDO É PEQUENO
Em 2002 a investigação para a dissertação de um Mestrado em História da Educação fez-me deslocar a Timor para continuar no terreno a pesquisa sobre o trabalho dos Padres Seculares de Cernache do Bonjardim, nos finais do século XIX, naquele antigo território português. Apoiado pela Fundação Oriente, com uma bolsa de curta duração, quis a fortuna que a minha estadia na “terra do crocodilo” coincidisse com a independência daquele território e tive o privilégio de assistir às festas nacionais que assinalavam o acontecimento.
Conheci e privei com várias individualidades da vida militar e política nacional timorense, portuguesa e internacional. Contudo, o encontro que mais fundo ficou registado foi o que passo a descrever.
Depois sair dos Vales na manhã de uma sexta-feira e de três dias em aeroportos (Lisboa, Londres, Singapura, Darwin), chego no domingo seguinte a Dili. Descanso merecido. No dia seguinte, faço os primeiros contactos e um deles marca encontro na esplanada de uma cervejaria relativamente perto da casa onde fiquei hospedado.
À hora combinada, chego ao local “apalpando o terreno” e certamente com aquele ar típico de quem procura alguém, que logo um tipo integrante de grupo de 12/14 pessoas me chama e pergunta:
- “Você é que chegou ontem? Olhe, isto é tudo malta amiga. Aquele ali até é seu conterrâneo. Sente-se e mande vir alguma coisa que as apresentações estão feitas.”
Integração mais simples e menos burocrática era impossível. É óbvio que o “meu conterrâneo” mereceu a minha especial atenção e fui-me sentar ao lado dele que logo me perguntou:
- Então você é de Proença?
- Não. Dou lá aulas mas sou de Cardigos.
-De Cardigos? Andei a estudar nos seminários diocesanos com um tipo de Cardigos mas não me lembro agora do nome dele.
Fui avançando com alguns nomes mas não encaixavam. Até que lhe perguntei:
- Oiça lá, esse indivíduo era mesmo de Cardigos ou de alguma aldeia lá próxima?
- Acho que era de uma aldeia. O pai já tinha uma certa idade e tinha sido emigrante no Brasil. Ele jogava à bola, à baliza”, lá na equipa do seminário.
- No Brasil ou nos EUA?
-Isso, nos EUA.
Problema resolvido. Afinal, o meu “conterrâneo” referia-se à minha pessoa!
Era o DIAMANTINO RIBEIRO, dos Montes da Senhora, Proença-a-Nova. Tinha feito a tropa em Timor como militar português. Tinha constituído família por lá e estabelecera-se como empresário em Timor. Quando a Indonésia invadiu o território, fugiu para a Austrália e estava ali, nas vésperas da independência, como enviado do governo australiano com a missão de formar equipas para colaborar na limpeza e arranjos de espaços públicos para ajudar a dignificar as festas da independência. Um desses espaços era o Estádio Municipal de Dili, que visitei várias vezes e era o palco privilegiado para as jogatanas de um clube local que era filial do meu querido “Belenenses”.
Ora digam lá se o Mundo não é pequeno. Trinta e tal anos sem nos vermos. E, de um momento para o outro… ali, lado a lado, no outro lado do mundo, a mais de 15.000 kms das nossas terras de origem!
Escrevi vários textos sobre a História de Timor, fiz palestras sobre o trabalho dos Padres Seculares de Cernache e sobre o triste fim de Maggiolo Gouveia, comandante da PSP em Dili, aquando da invasão da Indonésia, escrevi relatórios, publiquei textos em jornais… Reuni bastante bibliografia sobre Timor e captei centenas de fotos sobre a minha estadia em Timor.
Deixo aqui “meia dúzia”, todas bastante significativas. Cada uma delas capaz de contar uma história particular. Especialmente a do barco de guerra 515, da Indonésia…
(No mapa vão assinaladas as principais localidades que visitei. E mais treze fotos)
António Manuel M. Silva