Em Portugal morre-se de abandono.
CRISTINA PERES - JORNALISTA DE "Expresso - Interacional"
Em Portugal morre-se de abandono.
Morre-se de falta de desenvolvimento
Quem tivesse acabado de desembarcar em Portugal depois de umas várias semanas passadas num “país em desenvolvimento” bem poderia perguntar-se onde desembarcava, afinal, assim que lesse as notícias deste domingo e segunda-feira. Num Estado-membro da União Europeia, duas crianças e três adultos foram encontrados mortos num casebre indigente em Sabrosa, Trás-os-Montes, por inalação de monóxido de carbono para não morrerem de frio. As cinco vítimas foram a enterrar ontem e durante a celebração da missa, o bispo de Vila Real lembrou que era o Dia Internacional dos Direitos das Crianças. Estavam 500 pessoas na igreja e fora dela, uma pequena multidão. No domingo tinha sido o dia dos pobres, disse D. Amândio Tomás: “É um mundo de injustiças”.
Nesse mesmo país, há anos que se previa um aluimento da estrada de Borba, aquela que arrastou consigo carros e pessoas para o fundo das pedreiras que a ladeavam. Todos os dias por lá passava um autocarro escolar com 50 crianças. Aconteceu no mesmo país do turismo florescente, que paga milhões pela garantia de ter a sua capital como sede da Web Summit por dez anos.
Ontem à noite já tinha sido recuperado o corpo de um dos dois trabalhadores que foram arrastados para o fundo da pedreira de Borba, reportava o JN. Um comentário no Facebook demonstrava perplexidade perante o desaparecimento da via de paralelepípedos: “Isto é o Portugal dos Portugueses, esse idílico destino de férias, cheio de prémios e essas m…as! Estrada de Borba, 19 de Novembro de 2018”.