Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

Eleições à porta

08.02.19 | asal
Caro Henriques
Pensei que seria útil, em véspera de eleições, falarmos de política. Segundo o papa, uma forma superior de Caridade. Cada um de nós, a seu modo, certamente terá a sua visão, sobre o futuro da nossa sociedade da UE. Não podemos nem devemos fechar os olhos a estas realidades, cada uma com os seus problemas específicos. São demasiado importantes para não nos envolvermos na reflexão destas duas realidades. Para o bem e para o mal, delas fazemos parte e não há que as ocultar. Aqui deixo o meu testemunho. Pelo vosso aguardo.
Com cordiais saudações, na Amizade que nos une na mesma caminhada solidária, um abraço
Florentino

Florentino2.jpg

 

 

Reabilitemos a política

 

Já anda pelos ares um forte cheiro a eleições. Europeias em maio e, logo a seguir, para a região da Madeira. Logo depois, virão as da Assembleia da República. Com um indisfarçado nervosismo e forte ambição, os maiores partidos já se encontram na estrada e nas televisões. Os recentes – Aliança, Basta e outros – não ficarão para trás. Inundado por uma avalanche de mensageiros, o povo vai ser submerso por altas ondas de confrontos verbais, mensagens empolgantes, recheadas de promessas messiânicas. Porém, definitivo, será a contagem dos votos. Durante este confronto desenfreado, oxalá que as fakenews, mentirosas e populistas, não consigam invadir e perturbar o nosso espaço informativo, como já acontece, infelizmente, em alguns países. O seu propósito  tem sido envenenar o espaço público comunicacional, distorcendo os resultados do escrutínio eleitoral.

Nesta fase do campeonato, pensamos que será útil fazermos uma atempada reflexão em relação à nossa realidade política, a qual, tanto pode ser uma atividade nobre, como nefasta.

Relativamente às promessas eleitorais, muitos cidadãos já se encontram vacinados e fartos de serem desiludidos, em virtude de, após o ato eleitoral, os políticos se encerrarem nas suas torres de marfim, dando prioridade aos seus negócios. Deste modo, vão cortando os laços com aqueles que lhes deram o voto, promovendo o afastamento da política e do dever de votar. Para quê ir às urnas, interrogam-se muitos, se após as eleições, as promessas eleitorais proclamadas, se vão esvaziando? Acontece que os aparelhos partidários, envolvidos no centralismo lisboeta, ao escolherem os seus candidatos, muitas vezes, olham mais para os seus militantes paraquedistas, obedientes e subservientes, do que os políticos conhecedores da sua região. Os casos vêm-se repetido, de eleição para eleição. Fala-se muito da reforma do atual sistema eleitoral que não serve a relação direta entre eleitores e eleitos, porém, até hoje, não se tem ultrapassado este palavreado. Esta constatação leva-nos a pensar que seria uma boa ocasião para, com serenidade, ir-se lançando alguma reflexão no sentido de se tentar uma reabilitação da política. Só deste modo se poderá lutar contra os populismos, a medrarem, cada vez mais. Como sabemos, só se poderá alcançar este desígnio, se os políticos servirem desinteressadamente os cidadãos, pelos quais foram eleitos.

Perante a degradação geral da política e dos políticos, procuremos inspiração nas palavras do papa Francisco, uma voz escutada e respeitada pelos homens de boa vontade, pela sua lucidez, serenidade e profundidade de pensamento, em relação à vida política. Segundo ele “a política deve ser considerada como um elevado grau de caridade”, sendo bem executada, na justiça e na transparência democrática.

Para que o exercício político não continue a ser, como por vezes acontece, “uma vergonha da vida pública”, o papa Francisco propõe a urgência da reabilitação do mesmo, para que deixe de ser um contributo negativo para o enfraquecimento do “ideal duma vida democrática autêntica”. Para tal, há que arrepiar caminho e evitar os vários perigos que contribuem para a degradação da prática política. Entre estes, encontra-se, logo à cabeça, a peste negra da corrupção, praticada nas suas mais diversas formas. Esta apropriação indevida dos bens públicos, por supostos gatunos sem escrúpulos, tem sido uma das causas que mais tem favorecido a pobreza das pessoas no país, tendo de pagar os desfalques sempre o povão, chamado a acudir às crises financeiras da banca. O caso escandaloso da Caixa Geral de Depósitos, com cinco milhares de milhões a voarem dos seus cofres, é um dos exemplos a juntar a outros bancos falidos, onde se fartou a vilanagem. Com este e outros processos, a nossa Justiça, encontra-se hoje atafulhada de gigantes montanhas de papelada, aguardando-se uma justa sentença. Por sua vez, outros casos ou vão prescrevendo ou apodrecendo nas húmidas estantes dos tribunais. Restará agora, como sempre, a todos nós, repormos os montantes das verbas roubadas. Quem ganha são sempre os intocáveis corruptos e os populistas que acenam com alternativas messiânicas. Se entre os eleitos e eleitores, continuar a não existir uma ligação efetiva e a corrupção continuar a medrar, não nos poderemos admirar que o INE nos continue a mostrar que um, em cada dez trabalhadores, é pobre. E um, em cada cinco portugueses, tem rendimentos inferiores a 450 euros. Corrupção e pobreza de mãos dadas. Basta de tantas facadas na democracia. Reabilite-se a política.

florentinobeirao@hotmail.com