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Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

Chorar

31.01.21 | asal
Obrigado, amigo, pelo teu testemunho sentido. AH
 
Faz tempo que não via ninguém chorar.

José Raposo Nunes.jpeg

Nem tinha pensado nisso, todos nós andamos demasiado distraídos, não fosse a circunstância e coincidência, de hoje, num só dia, ter estado com duas pessoas em lágrimas.
Eu sei que a gente não tem que assistir ao choro de ninguém, cada um de nós chora sozinho, às escondidas, numa espécie de encontro secreto conosco mesmos, com as nossas entranhas. E chorar não é só estar triste, angustiado, infeliz. É isso e mais que isso. É ficar lavado em lágrimas, a escorrer e em abundância pela cara abaixo, a inundar os olhos como se fossem ondas do nosso mar salgado, que ocupa quase a totalidade do nosso ser.
E foi assim que encontrei um amigo que perdeu sua mãe por estes dias. Velhinha, de 98 anos, foi na sua hora, todos o esperavam. Mas era sua mãe, mãe que o gerou, o amparou, o amou. Por isso ele chorou para mim e eu entendi. Também chorei. O choro, como o riso, são contagiantes.
Mais tarde e num outro encontro fugaz, um amigo rejubilava com um sucesso do seu próprio filho. Estava feliz, com um brilho nos olhos e o caso não era para menos. Mas, como em tudo na vida, havia por trás uma história de luta, de sofrimento, de resiliência. E ele contou, descreveu os detalhes, as quedas, os avanços, os recuos e por fim o êxito. E chorou.
Choramos por várias razões. Chorar nunca é um ato forçado, é a expressão mais pura do ser humano. E chorar não é vergonha nenhuma. Esta pandemia também nos está a tornar mais "lamechas".
E tu, há quanto tempo não choras?...
Somos frágeis.
José Raposo Nunes