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Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

Centenário das aparições (5)

25.05.17 | asal

Aprovação e expansão de Fátima

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A muitos poderá surpreender a rapidez com que o fenómeno das aparições/visões – como opina o bispo Carlos de Azevedo - se propagou, de um modo tão veloz e consistente. Este alastrar, certamente, muito se ficou a dever ao empenho do carismático bispo de Leiria que, ao longo das décadas de vinte/trinta, tudo fez para aprovar e consolidar esta manifestação de religiosidade popular, nomeadamente, adquirindo e organizando o espaço da Cova da Iria, dotando-o das mínimas infraestruturas para acolher os peregrinos. Se a nível material, todo este projeto ia correndo veloz, o encomendado relatório das aparições a uma comissão de sete sacerdotes, tardava em ficar concluído. Foi necessário esperar por 14.04.1930, para que o padre Nunes Formigão entregasse este documento ao bispo de Leiria. Recorde-se que entretanto, já em 13.10.1922, tinha sido lançado o jornal “A Voz de Fátima”, por este sacerdote, como boletim oficial das aparições, o qual, até hoje, tem alimentando esta causa. Só entre 1922 e 1930, este jornal publicou cerca de 200 casos de curas, tidas como milagrosas. Fruto desta campanha, promovida juntamente com outros jornais católicos diocesanos, como o “Mensageiro de Leiria”, e “A Guarda”, em 13.05.1923, já se deslocava à Cova da Iria, cerca de 80.000 fiéis. Nesta altura, começava-se a desenhar, embora de um modo desordenado, ruas e habitações, para alojar peregrinos. Quanto às esmolas, eram recolhidas e enviadas para a diocese de Leiria, para as construções diocesanas já iniciadas.

Chegados a 1924, Lúcia que se mantinha recolhida num colégio em Vilar-Porto, das Irmãs Doroteias, com correspondência vigiada, só agora conseguiria obter licença para se encontrar pela primeira vez, com a sua mãe Maria Rosa, em Braga. Neste encontro, foi-lhe concedida a licença da mãe para ser freira, após receber o sacramento do Crisma, em agosto. Após esta cerimónia, seguiu para terras de Espanha (Tui / Pontevedra) no dia 25 deste mês, onde se integrou num convento da mesma ordem religiosa. Aqui passaria a mortífera guerra - civil (1936-1939), com escassez de alimentos. Valeu-lhe a família.

A partir da década de vinte, coube ao bispo de Leiria assumir a pastoral da Mensagem de Fátima e as obras da Cova da Iria. Para tal, em 1924, mandou construir um muro para cercar o recinto das aparições, com arcadas e portões de ferro, incluindo duas lojas, destinadas à venda de artigos religiosos. No mesmo ano, edificaria a capela alpendrada das missas. Esta seria demolida em 1946. Em 1925, decidiu ainda construir uma casa no local para um capelão permanente, a fim de fiscalizar e coordenar o culto. Juntou-se a estas obras um Sanatório (Albergue N. S. do Rosário) que levou cinco anos a erguer, para recolher e tratar os doentes que afluíam à Cova da Iria. Foi ainda erguida uma capela para confissões, em 1928. Neste ano, já havia no local quatro hotéis com telefone. Para possibilitar a construção dos novos edifícios e instalar megafones, tornou-se necessário erguer no local uma central elétrica. Esta carência seria colmatada em 13.05.1929. À inauguração, presidiu o presidente da República, general Óscar Carmona e Oliveira Salazar, a quem se juntou o bispo de Leiria José Alves Correia da Silva. Na década de trinta, foi lançada a primeira pedra da Basílica de N.ª. Sr.ª do Rosário, um projeto do holandês Gerard Van Krieken. Coube ao arcebispo de Évora presidir a esta cerimónia. Este templo principal, neobarroco, iniciado em 1938 - acordado entre o Cardeal Cerejeira e Salazar - com cerca de 60 metros de altura, viria a receber o título de Basílica, dado por Pio XII em 11.11.1954 (breve “Luce Superna”).

Entretanto, Lúcia, a partir de 1925 do seu convento, continuou a dizer-se bafejada com novas visões sobrenaturais da “Senhora”, pedindo-lhe nomeadamente em 17.12.1927, que fosse propagada a devoção ao Imaculado Coração de Maria e se espalhasse a devoção dos primeiros cinco sábados. Esta devoção seria aprovada em 13.09.1931.

Entretanto, o referido relatório diocesano, encabeçado pelo padre Formigão, sobre as aparições, foi entregue ao bispo de Leiria apenas em 13.04.1930. Meses depois, em 13.10.1930, numa carta pastoral, “A Divina Providência” o bispo de Leiria declarou finalmente, “dignas de crédito as visões das crianças”. As décadas de vinte e trinta foram assim decisivas, mesmo se diferentes, do que viria a ser a configuração deste fenómeno até hoje. Lentamente, o majestoso recinto da Cova da Iria, de um espaço severo e agreste, foi-se tornando um lugar acolhedor, ao serviço do projeto do bispo de Leiria, possivelmente com os olhos postos no modelo de Lourdes.

 

florentinobeirao@hotmail.com