AS NOSSAS VIAGENS
ESTE POST COMEÇA COM A MENSAGEM QUE O ACOMPANHA, POIS TODA ELA É IMPORTANTE.
OBRIGADO, FLORENTINO!
«Meu caro Henriques
Aí te envio a terceira e última peça sobre a minha visita a Marrocos. Não quero aborrecer demasiado os nossos amigos, com este tema infindável. Fica apenas o aguçar do apetite.
Na verdade, Henriques, uma boa parte da nossa História Pátria cruzou-se muito com este norte de África. Para o bem e para o mal. De D. Fernando, a D. Sebastião, a "vã cobiça", nos perdeu. Razão mais que suficiente para nos derramarmos por Marrocos, hoje terra de paz e de grande tolerância religiosa. Para mim, foi uma experiência fecunda.
Agradeço a tua paciência e entrega a este projecto "Animus" que nos liga todos os dias, estabelecendo estreitos laços de amizade. Bem hajas.
As melhoras para a Antonieta. A sua veia artística, agora, terá que esperar por melhores dias...É a vida.
Um forte abraço
f. beirão»
Marrocos aqui tão perto (3)
Outra importante cidade visitada em Marrocos, foi a mais antiga cidade imperial de Fez.
Fundada em 808, rapidamente se expandiu graças a tornar-se um poderoso centro de atividade comercial. Após uns 300 anos da sua fundação, esta monumental cidade conheceria um elevado prestígio cultural, intelectual e artístico, o qual se difundiu pela Europa, nomeadamente, as obras dos filósofos e sábios greco - latinos. Por esta razão, pela sua importância religiosa e intelectual, Fez era então considerada a Meca do Ocidente e a Atenas de África.
Ainda hoje, o visitante pode admirar vários monumentos medievais, de estilo hispano-mourisco, muito bem conservados, que nos dão uma imagem poderosa da beleza medieval desta bela cidade. Para aqui se deslocaram muito emigrantes andaluzes, a partir do séc. IX, quando os muçulmanos eram senhores da maior parte da Península Ibérica. Na procura das suas riquezas, muito terão contribuído para o desenvolvimento desta cidade imperial. A este numeroso contingente de emigrantes peninsulares se juntavam judeus, negros africanos, turcos e cristãos numa convivência tolerante e multicultural.
Pudemos ainda admirar o casario medieval de Fez, uma tela pintada com uma brancura doce e repousante. As suas altivas e poderosas muralhas, bem conservadas, lembram-nos tempos de guerras e mortes. As magníficas e esplendorosas portas do castelo, mostram-nos a riqueza e a arte deste povo. As numerosas e belas mesquitas – chegando a acolher 20 000 fiéis - com os seus altaneiros minaretes a convidar os fiéis à oração, cinco vezes ao dia, através dos seus ruidosos altifalantes, ligam a terra ao céu, continuamente. Recordo ainda os engenhosos teares artesanais e as tinturarias medievais onde são tingidas as peles, com todas as cores.
Os franceses que colonizaram esta cidade, entre 1911 e 1954, também deixaram impressa a sua dedada, sobretudo a nível urbanístico e arquitetónico, na parte mais moderna. Também não conseguimos esquecer a vista - geral da cidade, observada de um estratégico miradouro. Deslumbrante!
Mas Fez não só interessa aos portugueses, por tudo o que referimos, mas, pelo muito que nos recorda acerca da memória do martírio do beato D. Fernando - (1402,1443), o 8.º filho de D. João I que aqui morreu martirizado, devido aos tratamentos desumanos a que foi sujeito, segundo o seu cronista.
Recordo que o príncipe D. Fernando, aspirando a tornar-se um bom cruzado medieval, queria, como os seus irmãos mais velhos, fazer guerra aos infiéis mouros, após a bem sucedida conquista de Ceuta, em 1415. Neste propósito, formou-se uma nova armada em 1437, agora com destino a Tânger, comandada pelo seu irmão D. Henrique. Só que tal objetivo não conseguiria ser atingido, devido à derrota da armada portuguesa.
Perdida a batalha com os reis mouros, como estes tinham perdido Ceuta para os portugueses, desafiaram o Infante D. Henrique a devolver esta cidade em troca da libertação de D. Fernando. Discutido o assunto na corte, entre prós e contras, decidiu-se pela não entrega de Ceuta, com D. Henrique à cabeça desta opção. Por este motivo, D. Fernando acabaria por continuar preso em Fez, entregando aqui a sua alma ao criador, após uma vida dolorosa, de maus tratos. Os seus restos mortais encontram-se hoje no mosteiro da Batalha, junto aos seus pais e irmãos.
Em 1470, pelos maus tratos sofridos às mãos dos infiéis, foi declarado Beato pela Igreja.
Florentino Beirão