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Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

As Missas Novas nos anos 60

04.08.18 | asal

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Memória das festas em pleno Verão

 

Este ano, tive a alegria de participar na Missa Nova do neo-sacerdote ribatejano P. Miguel Coelho, na matriz de Alcains. Para mim, foi uma ocasião privilegiada, para recuar uns já longos anos e tentar reviver as Festas da Missa Nova, celebradas nos anos sessenta, do passado século. Parece que foi ontem! Nessa altura, esta marcante cerimónia que envolvia uma grande parte dos seminaristas de Portalegre, revestia-se de características tanto populares como religiosas.

Ainda guardo, bem gravados na memória, os contornos destas celebrações festivas. Chegados os meses de Julho-Agosto, cada neo-sacerdote marcava, antecipadamente, o dia da sua Missa Nova que seria celebrada na sua aldeia. Foi deste modo que tive o privilégio de ir conhecendo alguns dos recantos da nossa enorme e diversificada diocese e de, assim, desvendar uma boa parte das suas gentes, tanto a nível da sua religiosidade, como dos seus usos e costumes.

De repente, lembro-me de algumas Missas Novas em que participei nessa década: os padres Manuel Duarte Luís da Lardosa, do Eusébio do Vale da Torre, do José Varão das Sarzedas, do Agostinho do Juncal, do Agostinho Beato dos Escalos de Baixo e do Álvaro, Francisco Ruivo e João Lopes de Alcains e ainda tantos outros que a memória vai varrendo.

Todas as celebrações, nessa altura, obedeciam ao seguinte ritual. Na véspera da Missa Nova, geralmente, num sábado, havia já uma jantarada festiva. Após esta refeição, procedia-se à distribuição das casas, onde se ia pernoitar, das confortáveis aos autênticos palheiros. Ao longo da noite, sempre breve, havia parlatório e novas experiências, como saborear ou cuspir o primeiro cigarrito. Os seminaristas mais adiantados, alguns já diáconos e com coroa, tentavam aligeirar a reza do seu obrigatório breviário, à luz de um candeeiro ou de uma trémula e amortecida vela de cera. Libertos dos nossos prefeitos do seminário, esses momentos eram uma autêntica respiração libertadora, após um ano rigoroso em que éramos vigiados desde as cartas que escrevíamos às que recebíamos, bem como às saídas à cidade de Portalegre, sempre acompanhados, dois a dois.

Recordo ainda desses velhos tempos a gastronomia de cada aldeia, com um pequeno-almoço saboroso e farto, ovos com chouriço, acompanhado de um saboroso vinho caseiro.

A cerimónia da Missa Nova decorria em ambiente bem festivo. Todos embebidos em suor - o verão era tórrido! - vestidos com batina e cabeção, lá íamos resistindo, pois em plena juventude nada nos metia medo. O ambiente de uma Festa Popular e Religiosa era saboreado por todos os que nos envolvíamos nesta cerimónia que nunca dispensava um bom orador. Recordo, com sentida saudade os substanciais sermões do dr. Baltasar Marcelino, prefeito dos teólogos, do Cónego Sousa, diretor espiritual, repassado da sabedoria de Deus e do sacerdote e ainda do P. Adelino Lourenço, exímio liturgista.

A Missa terminava com o beija-mão ao novo sacerdote e, por volta do início da tarde, era servido um opíparo almoço, servido com vários pratos. Do cabrito ao frango, do arroz de miúdos ao de galinha caseira ou peru, da salada de fruta aos doces locais – que boa era a tigelada e o arroz doce – nada faltava.

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Certamente, que muitos de vós também tereis tido as vossas marcantes recordações desta andanças juvenis…Venham elas.

 

Florentino Beirão

 

NOTA: Que pena não termos umas fotos desse tempo! Na sua falta, descobrimos estas duas relativas à Missa Nova do P. Nuno Miguel Lopes da Silva, celebrada em Bemposta em 2011.

 

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