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Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

A MINHA IDA PARA A TROPA

12.01.17 | asal

Também são destas memórias que todos vivemos e que o blogue publica com gosto. Vivam os grandes escritores que temos! AH

 

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A MINHA IDA PARA A TROPA – 1955 – SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO

 

Penso que uma grande parte das pessoas que visualizam o blogue não tem um conhecimento completo do modo como funcionava o SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO ( SMO ) até ao dia 19 de Novembro 2004, altura em que o serviço militar deixou de ser obrigatório e passou a ser  constituído por voluntários contratados. É por isso que julgo ter interesse descrever, embora resumidamente, como se passavam as coisas. Vou aproveitar a minha experiência pessoal, julgando que, dessa forma, acabarei por escrever o que me proponho, também em termos gerais.

Antes de me abalançar na descrição dessas minhas MEMÓRIAS – que a memória não me atraiçoe! – permito-me escrever duas linhas sobre o trabalho FORÇADO ou OBRIGATÓRIO. E isto em virtude do SMO, porquanto, na Convenção nº 29 da ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO ( O.I.T. ) - 14ªsessão - , realizada em Genebra, em 28-06-1930, determinou-se, no seu artº 1º,  a supressão  do trabalho forçado ou obrigatório. Portugal ratificou essa Convenção, que entrou em vigor, na Ordem Internacional, em 01-05-1932.

Perguntar-se-á: se o trabalho forçado ou obrigatório foi suprimido, como é que, depois disso, se pode falar em Serviço Militar Obrigatório? Porque, no artº 2º dessa Convenção, se excecionou “todo o trabalho ou serviço exigido em virtude de leis sobre o SMO e afeto a trabalhos de caracter puramente militar”. Dessa forma, em Portugal e, pode dizer-se que, em todos os países da Europa, esteve em vigor a obrigatoriedade do serviço militar.

Com o evoluir do país e das populações, entendeu-se suprimi-lo e assim, em 2004, em Portugal, o serviço militar passou a ser constituído por voluntários contratados, profissionais remunerados.

É polémica a solução adotada, a tal ponto que se começa a falar em voltar “à antiga”, ou seja ao SMO.

Diz-se, por exemplo e eu também o digo, que o SMO faz adquirir competências, e também, designadamente, espírito de corpo, solidariedade e camaradagem. Principalmente na minha época  – 1955 / 1957 –, em que fui incorporado e fiz o SMO, uma vez que  uma  parte da população rural era, então, analfabeta ou iletrada e era na tropa que se abria para a sociedade e para o mundo. Não me refiro às guerras do Ultramar, porque isso é outro assunto. Refiro-me ao desenvolvimento pessoal e profissional que o SMO provocava na sociedade e nos cidadãos.

Nesta altura começa a discutir-se da viabilidade do regresso do SMO, sendo até certo que, por exemplo, a Bélgica já o restabeleceu para ter início em 2018, ou seja para os belgas nascidos  depois de 1999.

Feito este introito, vou passar a descrever as várias fases do SMO. Assim,

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A INSPEÇÃO MILITAR – PREPARAÇÃO PRÉVIA

No ano anterior a perfazer 20 anos, todo o cidadão, do sexo masculino, se inscrevia nos serviços competentes da Câmara Municipal do concelho da sua residência habitual, a fim de proceder ao chamado ALISTAMENTO. Esta inscrição ocorria, normalmente, no mês de Julho de cada ano.

No mês de Julho do ano seguinte, em que cada cidadão completava 20 anos – 1953, no meu caso – os rapazes – creio que 28 – da freguesia da Várzea dos Cavaleiros, reuniram-se na sede da freguesia, pela manhã, para se dirigirem, a pé, para a sede do concelho da SERTÃ, para, aí, serem inspecionados.

Foi um dia especial, pois era a primeira vez que convivíamos em grupo. Contratámos um concertinista –o cego da Póvoa, nosso amigo e ex-colega de escola – e lá fomos! Grande alegria, grande algazarra. Até então, foi o dia mais memorável da nossa vida. Cantámos, rimos, e “pintámos a macaca”, como se costuma dizer. Fizemos 3  pausas  em 3 tabernas que havia no trajeto, de 10  kilómetros.

Chegados à Sertã, almoçámos num restaurante de que não me recordo o nome, mas sei que tinha as características dos da época, ou seja, era num primeiro andar, género tasca, mas que nos serviu uma opípara caldeirada de cabrito, encomendada na véspera. Cantámos e rimos, sempre bem  dispostos, pois, como já disse, considerávamos, então, esse o mais importante dia das nossas vidas.

Acabado o almoço, sempre bem dispostos – é conhecida a alegria dos grupos de jovens, especialmente, como era o caso, quando se considerava que esse era um dia que poderia modificar a vida rural que, normalmente, se levava, nessa época, - repito, dirigimo-nos ao edifício da Câmara Municipal, onde íamos ser inspecionados.

 

A INSPEÇÃO PROPRIAMENTE  DITA

A inspeção era um ato importante, na medida em que se ia decidir da aptidão ou não para o SMO. Os jovens foram colocados numa sala com a ordem de se despirem e ficarem em pelo. Depois, um a um, fomos examinados por um júri de três oficiais do exército, um dos quais médico. No fim, examinados os 28, foi publicada uma lista com os resultados da inspeção. A maior parte, creio que 20, foi considerada APTA  ( APURADA ), uns 5 – talvez com “cunhas”- ficaram ISENTOS e um outro pequeno grupo ficou APURADO para os serviços territoriais, isto é, podiam ser chamados, se fosse necessário.

A maior alegria foi do grupo de apurados, entre os quais eu, pois era considerado verdadeiro HOMEM quem ia para a tropa. Alguns compraram foguetes e, de novo a pé, voltámos para a sede de freguesia, cantando ao som da concertina. Éramos saudados nas povoações do trajeto pelos populares, que ficavam contentes por verem que a Pátria tinha homens para a defender (?!).

Na sede da freguesia, num estabelecimento comercial, continuámos a brincadeira, medindo forças, em cima de um monte de “bandas” de sola, que ali existia. O dono era um homem muito alegre e tinha um filho que foi à inspeção no ano seguinte e que se associou a nós, antigos colegas de escola e amigos.

Enfim, chegou ao fim este dia, em que enumerei os atos descritos – uns bons, outros menos - sendo certo que, finalmente, estávamos prontos para a tropa, o que considerávamos uma honra. Na verdade, todos ou quase todos os jovens ambicionavam ir à tropa. Até porque esse facto abria portas para certos empregos, quer na função pública e, principalmente, nas Forças Armadas.trop.jpg

 

A INCORPORAÇÃO

 

No ano seguinte, fomos incorporados – no meu caso, em 1955 - em diversos quartéis ou escolas práticas, conforme as especialidades escolhidas ou impostas.

Da minha parte - e é de mim que passo a escrever -, uma vez que já estava na Faculdade - fui colocado no curso de oficiais milicianos, na ESCOLA PRÁTICA DE ARTILHARIA, em Vendas Novas.

O curso tinha duas  fases : Primeira - a  RECRUTA, até ao JURAMENTO DE BANDEIRA. Durava um mês e meio, com aprendizagem de marcha, ginástica rigorosa e outros exercícios que aprendíamos para, mais tarde, dar instrução aos recrutas. Segunda- curso de oficiais  propriamente dito, com aulas teóricas e práticas, designadamente tiro, armamento, observação militar e outras matérias. Curso muito rigoroso, que se levava a sério. Quem chumbasse, ou ia para cabo miliciano ou mesmo para soldado. No meu curso, um instruendo chumbou e foi para soldado.

O curso durava 6 meses e, passado esse período, fui promovido a ASPIRANTE A OFICIAL MILICIANO e colocado no R.A.P. 3 ( Regimento de Artilharia Pesada 3 ) na Figueira da Foz, em Fevereiro de 1956.

Como o texto já vai longo e me propus, apenas, descrever a minha ida para a tropa, vou terminar. Voltarei, eventualmente, ao assunto para descrever como foi o meu serviço militar obrigatório, a partir da minha colocação no RAP 3, onde dei instrução e fui comandante de um pelotão de 32 recrutas, tendo passado à DISPONIBILIDADE em Fevereiro de 1957. Na instrução dos referidos recrutas fui auxiliado por 2 cabos milicianos, que tinham estudado e frequentado o Curso de Sargentos Milicianos, também na Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas. Lisboa.

10 -01-2017.             J.NOGUEIRA

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