Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

A gripe - uma reflexão

29.08.20 | asal

Trago para reflexão este texto, o princípio de uma conversa difícil. Mas a verdade é que os idosos dos lares sofreram e sofrem demais! AH

Cristóvão Pereira.jpg

 

A GRIPE ASIÁTICA ou de HONG KONG de 1968-1970.


No fim de março de 1969, fui contaminado pela gripe de Hong Kong. Fiquei "pele e osso" ao fim de uma semana, mas ultrapassei uma terrÍvel epidemia que fez cerca de um milhão de vitimas em todo o mundo.
Quase não havia informaçãosobre o assunto. Porquê?
Essa epidemia, tal como o COVID, matava essencialmente pessoas idosas.
Considerava-se, nessa altura, que pela ordem natural das coisas as pessoas idosas podiam morrer de uma má gripe.
O que mudou em 50 anos e porquê?
Profunda evolução. Compreendemos e alegramo-nos que a preservação da vida se tenha tornado uma prioridade, mas não podemos deixar de nos inquietar por estar perante uma civilização que coloca questões sanitárias no coração de todas as decisões, ao ponto de permitir uma crise económica tão profunda que vai matar mais que a Covid. É o que André Conte-Sponville chama de "pan-medicalismo: uma ideologia, até uma civilização que faz da saúde o valor supremo (em vez, por exemplo, da justiça, da liberdade e do amor) e que tende desde logo a delegar à medicina a gestão não somente das nossas doenças, mas das nossas sociedades, o que é bastante inquietante! Atenção, não cair na "ordem sanitária" (no sentido em que se fala de ordem moral). Numa democracia é o povo que é soberano e são os seus eleitos que fazem a lei e não os experts".
Obedecendo a tal lógica inaceitável, deixaram-se morrer os idosos na mais profunda solidão e isolamento, sem um familiar querido que os confortasse e lhes pegasse na mão nos últimos instantes.
O que se fez foi de uma crueldade para a qual não existem explicações aceitáveis. A morte é um dos acontecimentos mais importantes da existência da pessoa humana.
Não permitamos que jamais se repita, no futuro, o que nesta matéria se passou, qualquer que seja o pretexto sanitário.
Jamais poderá ser interdita a presença de familiares, ou pelo menos os mais próximos (com precauções), quando chegam os instantes finais de uma existência.
A forma como se trataram as vitimas e os familiares, cruel e intolerável, constitui um paradoxo civilizacional que deverá ser objeto de debate.
Cristóvão Pereira

3 comentários

Comentar post