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Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

A globalização do medo (1)

03.04.20 | asal
Meu caro Henriques
Achei oportuno revisitar a História longa, para compreendermos melhor a situação que nos é dado vivermos hoje, em prisão preventiva, sem culpa provada. Como sendo o remédio mais eficaz, temos que nos render à ciência. 
Esperamos que, dentro em breve, sabe-se lá quando!...possamos cantar os Aleluias pascais que, desta feita, só podemos gritar em voz sumida. Para todos os nossos amigos do Animus...Semper, a Esperança e a Coragem dos Homens fortes, como o Eanes. Dos fracos não reza a História.
Cordialmente, uma Páscoa, apesar de tudo, muito Feliz. 

Florentino2.jpgFlorentino Beirão

 

Relativizar a pandemia

 

Nestes dias de medo e de incerteza, face ao coronavírus (covid.19), será saudável não perdermos a cabeça, seguindo o conselho do filósofo José Gil que escreveu um lúcido livro, sobre “O medo de existir”. Como “homo sapiens- sapiens” que somos, lá fomos conseguindo sobreviver, ao longo de 40 mil anos, aos inúmeros desafios que a nossa espécie humana teve de enfrentar, perante tantos infortúnios. De tantos medos e perigos, até hoje, sempre conseguimos sair por cima, como vencedores. Por isso, ainda existimos, à face do nosso planeta.

Conhecermos a história de algumas pandemias - pestes já estudadas, a partir da documentação existente, poderá ajudar-nos a relativizar os tempos inquietantes e dolorosos desta obrigatória e enfadonha quarentena, já semeada de mortos e doentes em Portugal, mas também já a atingir a maioria dos países e sem fim à vista. Se compararmos o nosso país com os outros já atingidos, felizmente, o número de doentes e falecidos tem ficado muito aquém.

Mas afinal, o que nos revela a história, relativamente a grandes pestes que ocorreram ao longo dos séculos?

Recuando ao período do Império Romano que se estendia sobretudo, pela bacia mediterrânica, deparamo-nos com uma peste mortífera, no tempo do imperador Antonino (165-180) a qual dizimou cerca de cinco milhões de vítimas. Anos mais tarde, um dos seus sucessores, o imperador Justiniano (527-565) também se deparou com uma peste que vitimou cerca de 40 milhões de pessoas, reduzindo a cidade de Roma, a metade dos seus habitantes.

Há historiadores que chegam mesmo a atribuir a queda do Império Romano, não só às devastadoras invasões dos povos vizinhos, mas às sucessivas pestes mortíferas que foram dizimando a população do vasto Império.

Se analisarmos a Idade- Média, já com mais dados documentais, verifica-se que neste período continuou a haver novas e contínuas pestes as quais foram atacando as populações da Cristandade Ocidental, dotada de níveis de higiene pessoal e pública, muitíssimo deficientes. Uma das mais mortíferas, transmitida sobretudo através dos ratos, foi a já muito estudada “ Peste Negra ou Bubónica” (1343.1353) que durou cerca de dez anos e levou à cova, cerca de 200 milhões de pessoas, incluindo o nosso país, apanhado numa guerra contra a Espanha, lutando pela independência. Como sabemos, foi devido a esta mortífera peste que o bem enraizado regime feudal europeu sofreu uma grande derrocada. A Europa, jamais voltou a ser como era. É que, segundo a grande lição da história, após as graves crises, provocadas por grandes pestes, as relações económicas e sociais das nações, jamais voltam a ser exatamente, como eram.

Passados cerca de 200 anos, em 1520, novamente, a Europa teve que enfrentar uma nova epidemia, a “varíola” que provocou cerca de 56 milhões de mortos. Outras foram sucedendo ao longo do séc. XIX e XX, nomeadamente a tuberculose e a lepra as quais, por serem de difícil tratamento e cura, levaram muitas pessoas à cova, não poupando os mais jovens. E, quem não ouvi já falar aos seus antepassados da “gripe asiática ou espanhola”, após a 1.ª Grande – Guerra Mundial, ocorrida em 1918 e1919, causadora da morte de cerca de 45 milhões de pessoas? Segundo testemunhos orais, em Portugal foram tantos os mortos, vítimas desta peste que as Juntas de Freguesia tiveram de mandar abrir valas comuns nos cemitérios, para depositar os mortos. Recorde-se ainda a “gripe asiática”, com a qual também sofri em 1957, dizimou 1,1 milhões de vidas. Mais perto de nós, todos recordamos o “VIH” que já com cerca de 30 milhões de vítimas, e a Ébola, que entre 2014 e 2016, vitimou 11.300 pessoas.

Hoje, confrontados com a pandemia do Covid-19, as dúvidas dos cientistas e políticos, face aos próximos tempos, são mais que muitas.

Sem poderes de adivinhação, resta-nos, como medida de precaução e bom senso, acatar e obedecer a quem legitimamente nos hoje governa em plena democracia e, se necessário for, colocarmo-nos disponíveis, para ajudar os outros.

Segundo as recentes declarações do nosso primeiro - ministro António Costa, hoje “o dever de cada cidadão é ajudar o próximo, pois estamos todos no mesmo barco, e evitar que, por negligência ou desconhecimento, possamos pôr em risco a saúde dos outros”. Nem medo doentio nem negligência criminosa. Só a Esperança, ativa e lúcida, nos poderá salvar a todos. Cuidemo-nos todos.

florentinobeirao@hotmail.com

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