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Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

5.º Centenário de Leonardo Da Vinci

10.08.19 | asal
Meu reabilitado Henriques
Gostei de saber que a tua salvação se encontra já ao virar da esquina. Oxalá que tudo vá correndo de feição.
Envio mais uma colaboração. Desta vez tentei abordar um dos maiores génios da Humanidade - Leonardo da Vinci. Uma ousadia de caloiro, mas conto com a benevolência de todos os nossos amigos do ANIMUS. Seria um pecado da minha parte passar ao lado deste génio do Renascimento e não lhe prestar a minha reverência. Depois de o contemplar no Louvre várias vezes, a minha rendição foi total a este monstro do Renascimento.
Caro Henriques, recompõe-te lá dessas maleitas porque ainda temos muito caminho para palmilhar de mãos dadas. Num abraço apertado
Florentino Beirão

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Uma geração de génios

 

Ocorre este ano o 5.º centenário da morte do genial e multifacetado renascentista Leonardo Da Vinci, nascido em 15.04.1452 na região da Toscana em Itália, perto da florescente cidade-estado de Florença, governado pela opulenta família Médici que apoiou, como mecenas, a sua vida artística. Este artista viria a falecer na sua terra natal em 02.05.1519, com 67 anos de idade.

Fruto de um conturbado nascimento, era filho ilegítimo de um tabelião e de uma camponesa. Apesar desta condição, foi educado pelo pai e pela madrasta. Como muito cedo manifestasse forte inclinação para o desenho, o pai matriculou-o num estúdio em 1460, sendo seu mestre Andrea del Verrochio. Chegado aos vinte anos, em 1476, já dotado de consolidados conhecimentos de pintura, decidiu apostar na criação do seu próprio ateliê.

Nesta altura (séc. XV-XVI), desenvolvia-se então em Itália, a partir de Florença, um movimento artístico, denominado “ Renascimento”. Com ele, pretendia-se fazer renascer a cultura clássica greco-romana, embora renovada. Nomeadamente a nível da pintura, da técnica da perspetiva, o “sfumato”, a inovação da pintura a óleo e a introdução de elementos naturais.

Para compreendermos melhor o génio de Leonardo, é forçoso inseri-lo na sua época, em grandes mudanças, com um adeus à predominante civilização cristã que marcou o fecundo período da civilização da cristandade medieval. A partir do Renascimento, a inspiração artística começou a centrar-se então na descoberta e na valorização do Homem (humanismo), tornando-se este o centro - antropocentrismo.

Recordemos ainda que foi durante a vida de Da Vinci que ocorreram os descobrimentos portugueses e espanhóis, dando novos mundos ao mundo. Foi ainda inventada e difundida a imprensa de Gutenberg, com tipos móveis, a qual muito contribuiu para promover a reforma protestante no séc. XVI. Um outro feito importante foi a conquita da cidade de Constantinopla (Istambul) em 1453, pelos exércitos otomanos – muçulmanos. O resultado foi colocar-se um ponto final no império bizantino e na idade-média. Da então Bizâncio, fugiriam muitos artistas e sábios para Itália, para onde trouxeram preciosos conhecimentos que possuíam da cultura clássica.

Regressando à importância dos descobrimentos, como se sabe, inaugurou-se a primeira ligação, por via marítima, entre o Ocidente e o Oriente - permitindo assim a chegada à Europa de novos saberes e abundantes riquezas materiais. Esta façanha é considerada a primeira globalização do planeta, poi aproximou diversos povos, com antigas e opulentas civilizações.

A geração deste período histórico (séc. XV-XVI), quanto a nós, foi muito semelhante à que hoje nos é dado viver. Já então, o poeta renascentista Sá de Miranda (1481-1558) cantava num dos seus conhecidos poemas que “tudo é composto de mudança”.

Leonardo da Vinci, praticando multifacetados saberes, como a anatomia, a hidráulica e a engenharia, foi deixando nos seus escritos preciosas sementes para futuros avanços científicos e tecnológicos. A partir da sua obra, foi possível a revolução científica e industrial, alicerces da nossa vida moderna. Além de um pintor genial, esboçou ainda engenhosos planos de máquinas, alguns dos quais originaram futuras invenções.

Sempre insatisfeito com o seu saber, foi constante a sua inclinação pela experimentação de novas técnicas. Se a pintura da misteriosa Gioconda do Louvre (1503) pintado a óleo, é das obras mais fascinante do mundo, pelo seu enigmático, tímido e sedutor sorriso e olhar, não é menos famoso o seu quadro de pintura mural da “Última Ceia” (1495), pintado ao longo de três anos, para o refeitório dos franciscanos de Milão. Ao longo dos 67 anos da sua vida, foi também percorrendo a Europa culta, trabalhando para generosos mecenas de várias nações. Do papado aos mosteiros, dos príncipes aos reis.

Recorde-se ainda que Leonardo viveu acompanhado por grandes génios da sua época. Entre outros, pelo controverso Nicolau Maquiavel (1469-1527) autor do livro “O Príncipe” (1513) e Miguel Ângelo (1475-1564) pintor da obra -prima da capela Sistina do Vaticano (1508-13), pintada a fresco.

Nascido como filho ilegítimo, Da Vinci não teve descendência. A sua inclinação por homens, provavelmente, o teria marginalizado socialmente. Mas seria a sua genial obra que acabou por o imortalizar, juntamente como o elenco de grandes artistas da sua geração. A modernidade da Europa de hoje, certamente, só foi possível, graças aos inestimáveis contributos de uma geração de génios do seu tempo, da qual ele foi um dos maiores.

florentinobeirao@hotmail.com