A LUZ em poema
22.06.22 | asal
Meu Caro, António Henriques
Tenho por opinião de que tudo na vida tem coisas positivas e negativas, mas nada é totalmente negativo, como nada é totalmente positivo. Como exemplo, poder-se-ia dizer que a morte é totalmente negativa, mas não é porque quando o sofrimento é insuportável, a morte leva a alegria com quem parte.
Vem isto a propósito para te dizer que com o isolamento da pandemia (negativo) houve tempo para ler e reler livros que foram ficando para trás (positivo).
É, então, na leitura, que encontro o mote para, bem ou mal, ir alinhavando as minhas poesias.
Hoje, aqui te mando esta, como que um hino meu à LUZ, e tenho alguns esboços para a próxima que terá como título "FAMÍLIA".
Um abraço para ti e para todos os nossos amigos que tiverem a pachorra de perder um pouco do seu precioso tempo.
L U Z
Deus disse: faça-se a LUZ
E a LUZ era boa,
E separou a LUZ das trevas
Sem quaisquer reservas.
Deus de Deus, LUZ da LUZ
Diz o Credo da Igreja de Jesus.
Crianças, pequenos seres de vida,
São poderes da LUZ em corrida.
Na LUZ não lhe tocamos
Nas suas vazias claridades
Repousa tudo o que vemos e tocamos.
Quando a LUZ se extingue atrás da montanha
Abate-se nos vales a cinza da tristeza,
Sombras suaves com subtileza.
Lisboa tem muita LUZ,
Não é aí que ela mora
Vai-se com as águas do Tejo por aí fora.
As Artes, como a Música, são LUZ
A LUZ do sol que está sobre nós
É amor que nos aquece
Grande dádiva que não esquece.
Escreveu Stephen Zweig:
A esperança, este pequeno ponto de LUZ,
Brilha sobre os homens oprimidos,
Sejam lembrados ou esquecidos.
A LUZ é lúdica e ingénua
Quando as crianças brincam com focos de LUZ
No Universo um buraco sem LUZ não pode esperar
Engole tudo sem parar.
A LUZ das cidades não deixa ver as estrelas
Ficamos tristes por não vermos coisas tão belas.
A LUZ convida-nos a dar nomes a tudo o que se vê,
E a soma de todos os nomes é a canção da LUZ.
As estrelas de brilho intenso levam vida frenética
Como que saídas da caixa de Pandora, hermética.
Com sombras traçamos o Mundo
Ouvimos palpitar a LUZ do outro lado,
Do lado moribundo.
As estrelas morrem porque a sua LUZ ficou aprisionada no tempo,
Provoca, assim, um contratempo.
A penumbra da noite é partícula de LUZ
Que a LUZ deixa passar
Sempre, sempre, sem acabar.
A imagem de Cristo crucificado contém a LUZ
Que nos faz contemplar,
Tristes, sem parar,
As trevas de Caravagio
São um jogo cénico de LUZ
Sem usura nem plágio.
Parafraseando Rubens,
Mil LUZES se acendem no céu com ou sem nuvens.
Na pintura de Greco
A LUZ torna-se como que uma metáfora de Deus
Dando ao homem uma presença imaterial
Sem perda de LUZ original.
A LUZ, tal como a cor,
São elementos essenciais do pintor.
A Luz do sol elimina a tristeza,
O stress e a morbideza.
Paradoxalmente, uma LUZ apaga
O que uma outra LUZ dá a ver,
Não dá para contradizer.
Fechamos os olhos, vemos na LUZ o sorriso
Das nossas Mães, tão terno, tão alegre, tão preciso.
Sonha-se com uma faixa de LUZ vazia
Perguntamos onde está e ninguém sabia.
LUZ nascente de noite escura
Mostra suaves arvoredos e bruma,
de vento e de espuma,
Um túnel sem LUZ ao fundo é desespero completo
Deixa-nos prisioneiro
O túnel torna-se carniceiro.
Diz o poema de Jorge de Sena:
Uma pequenina LUZ
Bruxelante e muda
Como a exactidão
Como a firmeza
Como a justiça
Apenas como elas
Mas brilha. Não na distância. Aqui
No meio de nós,
Brilha.
A Luz tira a neblina das nossas vidas
E ...
o fim do tempo é o fim da LUZ.
Zé Maria Lopes