A brincar com o tempo
10.05.22 | asal
Caro António Henriques
Com o espírito de colaborar no ANIMUS aqui te envio uma segunda poesia leve sobre o tema "TEMPO", que me levou a consultar alguma Literatura Portuguesa.
Tenho sempre presente, como disse Fidelino de Figueiredo, que a Literatura é AMOR, INTRIGA, LIRISMO, SUBJECTIVISMO, CONTEMPLAÇÃO, DEVANEIO e NOSTALGIA.
Assim:
Desde o TEMPO de Pascoais
O poema é jardim aberto ao Mar
Que consola, acalma e faz sonhar.
TEMPO é bem real de cada dia
Estejamos tristes ou com alegria.
Diz o Eclesiastes que todas as coisas têm o seu TEMPO:
Há TEMPO para nascer e TEMPO para morrer,
Há TEMPO para plantar e TEMPO para arrancar,
Há TEMPO para destruir e TEMPO para construir,
Há TEMPO para calar e TEMPO para falar,
Há TEMPO para romper e TEMPO para coser,
Há TEMPO para espalhar e TEMPO para juntar,
É um rol sem nunca acabar
E verbos transitivos e intransitivos para classificar.
Eduardo Coelho disse dos poemas de Sophia
Que o TEMPO é um bem real do presente
E livres habitamos a substância do TEMPO,
Anda com todos nós todo o dia.
Às vezes as palavras dum tempo
Ficam fora do TEMPO.
Há obras literárias onde confluem em duas esferas
A do espaço e do TEMPO.
Era, assim, a obra de Wagner, a Valquíria
Que vai perdurar por muitas eras.
Cortar o TEMPO em fatias
É o ano dividido por dias.
O TEMPO é perseguidor
Que por vezes causa dor.
Com o TEMPO as ofensas se perdoam,
Mas as mágoas não se escoam.
O TEMPO é como o eixo do Mundo
Onde se unem e fracturam destinos
Cantam-se odes e tocam sinos.
Diz-se que o TEMPO está a chegar ao fim,
Mas o TEMPO é acabamento?
E não há mais TEMPO? Há, sim.
A Revolução Francesa disse que o TEMPO
Era de liberdade, igualdade e
Fraternidade.
Com o TEMPO aparecem os antigos desejos de infância
Embora estejam a grande distância
Disse Santo Agostinho:
TEMPO é concretização da ideia da evolução
Sem pôr de parte a ideia da razão,
Tornando possível a realização dos factos.
A origem do TEMPO foi a criação do Mundo
Um pensamento com sentido bem profundo.
TEMPO é o fluir do passado para o presente
E do presente para o futuro
Atravessa a montanha e o mais alto muro.
É fluir como as águas dum rio
Sempre a correr sem desvio.
Não somos o TEMPO, escreveu Tolentino Mendonça,
Pensador, filósofo, magnífico,
Somos, digo eu, um TEMPO específico.
TEMPO é contemporizador
Porque o TEMPO aceita o TEMPO,
Mas é preciso dar TEMPO ao TEMPO.
O TEMPO também se extingue
Como fogo que se apaga.
TEMPO é como a casa que se constrói um dia
Com ferramentas de alegria.
Jesus disse ao TEMPO: cala-te e está quieto.
Então tem boca e pernas em concreto?
Deixo o TEMPO para o TEMPO
Sem contratempo,
E o amanhã para amanhã com TEMPO
Zé Maria Lopes