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Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

In memoriam Joaquim Nogueira

27.02.22 | asal
IN MEMORIAM DR. JOAQUIM DIAS NOGUEIRA

Joaquim N (2).jpg

 
Habituei-me desde há muitos anos a ouvir falar, sempre elogiosamente e com respeito, do Dr. NOGUEIRA pela boca de muitos valenses que tiveram vidas profissionais no antigo Congo Belga, depois Zaire e agora República Democrática do Congo. Mal sabia eu que, muitos anos mais tarde, o viria a encontrar e com ele fazer amizade. Afinal, havia também frequentado os seminários diocesanos de Portalegre - Castelo Branco, muitos anos antes de mim, e havia-se tornado numa figura incontornável dos encontros anuais que costumamos organizar. Tão incontornável, como havia sido ao serviço das empresas do Sr. Amaro Sampedro, no antigo Zaire…
Havia nascido em 1933 na Várzea dos Cavaleiros (Sertã).Faleceu ontem, dia 26/02/2022. O velório será amanhã (28/02) na Igreja de S. Tomás de Aquino (junto à Loja do Cidadão da Estrada das Laranjeiras) a partir das 18,00 h. E o funeral será na terça-feira, com missa (9,30h ???) e saída às 10,30h para o Cemitério dos Olivais.
Em 2014 e 2019 havia escrito as suas memórias.
À família enlutada apresento os meus sentimentos. Que a sua alma descanse em Paz!
(Partilho algumas imagens dos últimos encontros antes da pandemia COVID, na Sertã e em Alfragide, em 2019.)
António Manuel Silva                                             Seguem sete fotos em galeria
 
 
Joaquim, lá partiste sem que nos voltássemos a encontrar.
Tu, um dos históricos organizadores dos nossos ENCONTROS DOS ANTIGOS ALUNOS dos Seminários Diocesanos de Portalegre e Castelo Branco.
Vamos ter saudades tuas e das saborosas histórias que connosco partilhaste. 

Joaquim N7.jpgVoltarei mais tarde, apanhado que fui nesta soalheira tarde de um Domingo de Carnaval, em que andamos triplamente mascarados, seja pela pandemia, seja pela Putinandemia ou pela ainda tímida e carnavalesca folia.

Um abraço solidário a toda a tua família.
António Colaço
 
Foto do Facebook - Página de Joaquim Joaquim Dias Nogueira.
 
*************
José Alberto Martins :

Sentidas condolências à família enlutada. Que a sua alma tenha o merecido descanso eterno nos braços do Senhor rico em misericórdia para com todos.

Falecimento

27.02.22 | asal

Joaquim Nogueira1.jpg

São sempre inesperadas estas notícias, mesmo que a idade nos diga que estamos próximos de dizer adeus para sempre e entrarmos na morada do Pai.

Faleceu ontem à noite o nosso amigo Joaquim Dias Nogueira, que durante dezenas de anos acompanhou e dinamizou a Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da diocese de Portalegre-Castelo Branco. A ele devemos o muito entusiasmo com que nos acompanhou até ser capaz. Só há dois anos deixou a responsabilidade pelas contas dos nossos Encontros.

A filha, Isabel Nogueira, acaba de me telefonar, comunicando que o velório será amanhã (28/02) na Igreja de S. Tomás de Aquino (junto à Loja do Cidadão da Estrada das Laranjeiras) a partir das 18,00 h. E o funeral será na terça-feira, com missa (9,30h ???) e saída às 10,30h para o Cemitério dos Olivais.

Se puderem, não deixem de estar presentes num preito de homenagem e admiração pelo amigo que nos facilitou o encontro, a amizade, o gosto de viver associados, mesmo com algum sacrifício.

Paz à tua alma! Que o Senhor te receba com alegria! Até um dia! E olha por nós... AH

Palavra do Sr. Bispo

25.02.22 | asal
QUARESMA 2022 - A HORA DA FERIDA É A HORA DA GRAÇA

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Pai, nas vossas mãos entrego o Meu Espírito, é uma das mais fortes palavras de Cristo na cruz. Todos os anos nos é oferecido um tempo para que, com o coração em construção, melhor nos preparemos para a Páscoa. É a Quaresma, tempo favorável porque tem ritmo batismal. Tempo de graça porque é dom do Espírito. Tempo de purificação porque ocasião de reconstrução e fortalecimento da nossa relação com Deus, com os outros, com a vida, connosco próprios.
A Páscoa, mistério da morte e ressurreição de Cristo, não se resume ao final feliz de uma história dramática. E se é verdade que existem feridas que dão origem a vidas completamente novas, insuspeitadamente novas e não apenas cicatrizadas, então a Páscoa é a evidência subversiva da graça de Deus que se entranha na humanidade.
No meio de uma humanidade dilacerada por solidões, incompreensões, invejas, divisões e discórdias, feridas diversas, reconhecem-se os sinais da graça e da misericórdia de Deus quando a dureza do coração humano se dobra e se prepara para a reconciliação e para a alegria. Reconhecem-se os sinais da graça quando, movidos os corações por ação do Espírito Santo, os inimigos procuram entender-se, os adversários se dão as mãos, os povos se encontram na paz e na concórdia. Reconhece-se a evidência subversiva da graça quando o desejo da paz põe fim à guerra, o amor vence o ódio e a vingança dá lugar ao perdão (Cf. Oração Eucarística da Reconciliação II).
Não há Páscoa sem Cristo e não é imaginável pensar Cristo sem o mistério pascal. É a vida de Cristo agarrada à Cruz e superando-a, que é a grande escola da humanidade subvertida por uma ferida de amor. Em Cristo, a hora da ferida e a hora da graça coincidem. É a desproporção do amor paciente, bondoso e partilhado, sem arrogância e sem soberba, sem irritação e sem ressentimento ou rancor. É o amor justo que se regozija com a verdade, que tudo desculpa e tudo crê, que tudo espera e tudo suporta (cf. 1Cor 13, 4 s). A ferida não é para ficar a chorar, é para abrir o coração e reaprender a confiar. E, assim, fazem-se novas todas as coisas. A Páscoa não é apenas uma experiência fugaz, um momento. É dom de Deus. E tão forte que se acolhe como vocação; tão profundo que se erige como identidade; tão inteiro que unifica toda a vida. Páscoa é um modo de ser. O de Cristo. O dos cristãos.
A Quaresma surge precisamente porque, em Igreja e seguindo Cristo, é necessário aprender o seu modo pascal de ser e de viver. Como poderíamos saborear e viver em pleno a sua Páscoa se não nos exercitássemos no seu modo de amar e de se dar!?
Vivemos, por muitas razões e vicissitudes históricas, num mundo ferido. A Igreja, a nível local e universal, defronta-se com imensos desafios, questionamentos e fraquezas. O Sínodo é um desafio, como o são as Jornadas Mundiais da Juventude, mas a Igreja confronta-se também com a sua história e a sua credibilidade pastoral e evangélica. A pandemia feriu o tecido social e afetou pessoas e instituições. A mesma pandemia alterou o acesso aos cuidados de saúde de tantos pacientes, desvaneceu projetos económicos familiares, empobreceu agregados familiares, deixou muitos no desemprego, levou à rutura de imensas possibilidades. A insegurança e a incerteza, aliadas ao receio, alteraram os estilos de vida. As desigualdades sociais e continentais aumentaram. A dimensão relacional das nossas comunidades ressentiu-se. Os ritmos da socialização e até do luto foram alterados. Enfim, e sem ser exaustivo, o mundo, próximo e longínquo, desorganizou-se. Além da dor da ferida, pessoas e comunidades cederam à tentação da comiseração e da lamentação que fez emergir outras dores e abrir outras feridas. São feridas de todos nós.
Na Cruz de Cristo, a hora da maior dor foi também a hora do maior amor: “A minha vida sou Eu que a dou” (Jo 10, 18). O aparente abandono de Deus naquele momento revelou-se, sim, o abandono de Jesus nas mãos de Deus. Cristo faz da sua morte um ato de confiança e de abandono absolutos nas mãos de um Deus em quem se pode confiar: “Tudo vem de Ti e não oferecemos senão o que temos recebido da tua mão” (1 Cro 29,14).
É assim que a confiança se inscreve na história dos homens: “Pai, em Tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23, 46). Na palavra de Cristo que Se entrega totalmente nas mãos do Pai podemos perceber o dinamismo de vida e de amor que está inscrito como confiança no mais íntimo da autêntica existência humana. É o amor mais radical porque diz que não nos bastamos a nós próprios e nos coloca em despojamento. Então, a ferida tornou-se o lugar insuspeitado da revelação de Deus e do seu amor. A ferida deu lugar à leitura retrospetiva da vida. E purificou o projeto seguinte. A ferida tornou-se a lente que permitiu ver a vida com maior verdade. A ferida revelou a sua autêntica dimensão e dispensou vaidades. A ferida, mais do que apenas uma cicatrização indolor e estética, esperou e ansiou a cura. E isso é caminho.
Caminho é também a Quaresma que, preparando a Páscoa, pode ser bem a experiência de abrirmos e expormos as nossas feridas a Deus e, assim, nos aproximarmos das feridas dos outros e do mundo. É legítimo imaginar um mundo sem feridas, mas é também uma ilusão pressupor uma vida e uma história sem feridas. Se percebermos melhor as nossas feridas estaremos mais preparados para valer aos outros nas suas. Olhando para as feridas existentes à nossa volta, a Renúncia Quaresmal deste ano voltará a ser partilhada com a Arquidiocese de Kananga, República Democrática do Congo, nos derradeiros esforços para a conclusão da construção do Centro de Acolhimento e Saúde, já conhecido da nossa Diocese.
Pela oração, pela partilha e misericórdia, pelo jejum, das nossas feridas pode brotar uma vida nova para nós e para os que vivem ao nosso lado. Todos podemos comprometer-nos mais na consecução do bem comum, na dignificação da pessoa humana. Todos podemos partilhar o que temos e o que nos falta. Todos podemos libertar-nos de dependências e de vaidades. Todos podemos superar-nos no acesso à verdade. Todos podemos empreender caminhos em conjunto, escutando-nos, falando do que nos vai na alma. Todos podemos exercitar e viver o abandono e a confiança nas mãos de Deus. A hora da ferida é a hora da graça. É a Páscoa!
Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 25-02-2022.

Guerra triste

25.02.22 | asal

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Não sou capaz de ficar em silêncio nestes dias em que a guerra voltou à Europa. Este blogue não versa questões políticas, mas todos nós estamos, sem querer, absorvidos por esta onda de terror que nos queima o gosto de viver e nos atira para um pessimismo degradante. Por isso, aqui escrevo:

Pensava eu que os povos e as nações já tinham crescido o suficiente em educação e consciência de fraternidade, com capacidade de diálogo para dirimir todas as questões sem recurso a meios degradantes(guerra, fome, fogo...), condescendendo a aceitar tribunais  internacionais para resolver todas as questões... Mas fiquei desiludido...

Parece que basta alguém sentir um pouco mais de força para ser capaz de olhar os fracos como inferiores, sem direitos nenhuns. Coitados dos ucranianos que vêem a sua alegria e esperança no futuro ser espesinhadas pelos chefes da Rússia que dominam todo o leste europeu! E coitados dos russos que ainda não conseguiram elites bem formadas para viverem num regime democrático, pacífico e tolerante. Há mais de 100 anos, só tiranos conduzem aquela gente...

Não sabemos o que vai ser o futuro de todos nós. Já todos começamos a sofrer. Para já, só nos resta o apelo do Papa - rezar à Rainha da Paz que nos ajude. 

Lembro-me do meu professor P. Manuel Heitor a dizer "vocês não passaram pela guerra e por isso vivem com ilusões a mais...". Ele pedia mais humildade, consciência das realidades brutais que facilmente caem sobre nós... 

É este o nosso mundo, afinal! Que Deus nos ajude a ganhar ânimo!

António Henriques

NOTA:Para alegrar esta página, trago um poema e fotos de uma amiga:

 

Abriu hoje mesmo, azul, roxo e amarelo! 

Captura de ecrã 2022-02-25 210423.jpg

Conhecido pelo lirio da paixão
humilde, lindo e belo...
nem assim se vestiu Salomão,
como mencionam as escrituras...
Com as cores da Ucrânia
apelando a todas as "partituras"...
Haja PAZ, venha a PAZ
para Todas as criaturas!
Que se escrevam e cantem
entre nós os melhores hinos
e possam confiar na humanidade
Todas, Todos... meninas e meninos!!! ❤
 
Isaura Feiteira

Saudades da terra - 2

25.02.22 | asal

Caro António, na sequência do poema do Gedeão, ocorreu-me este breve texto, para possível publicação, com votos de boa saúde para toda a nossa FRÁTRIA. José Caldeira

FREI GASPAR FRUTUOSO

Gaspar Frutuoso.JPG

"As palavras são como as cerejas...". Este poema do Gedeão fez vir à minha memória idêntico título "Saudades da Terra", o qual designa a vasta obra de Frei Gaspar Frutuoso, ilustre historiador micaelense. Este grande vulto do humanismo renascentista, ilustre eclesiástico nos Açores, deixou-nos uma valiosa obra em 6 livros, multifacetada, carregada de simbolismo mas também cheia de informações preciosas para a conhecimento da sua época - descobrimentos portugueses - e especificamente Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde.. Foi contemporâneo de Bernardim Ribeiro, autor da novela "Menina e Moça",  e, tal como este, "jogou" com o simbólico. Atentemos no estilo de Frei Gaspar, no início da sua obra :

-"Enjeitada nasci no Mundo, triste, sem ventura, e logo de pequena comecei a ser desestimada por esta tacha. Seis horas,  me dizem alguns, e outros uma só, que tive riqueza e alegria, quando meu Pai era inocente, rico e ledo."

Em paralelo, a introdução da "Menina e Moça":

José Caldeira.jpg

-"Menina e moça, me levaram de casa de meu pai para longes terras. Qual fôsse então a causa daquela minha levada, em pequena, não na soube (...)".

Por ora fico-me por aqui.

Abraço amigo do J. Caldeira

********************

Amigo José Caldeira, levantaste a lebre e eu recolhi do blogue "As Ilhas Encantadas" esta prosa e foto sobre o ilustre açoreano que tu ressuscitaste:

«Frequentou a Universidade de Salamanca, onde concluiu os bacharelatos em Artes e Teologia, em 1558. Salamanca era, ao tempo, um meio cultural importante, onde não faltavam intelectuais de alto nível. Mesmo assim, o jovem Gaspar Frutuoso não deixou de sobressair, com distinção, nos seus estudos universitários, sendo mesmo apelidado de EI grande sabio de las Islas de Portugal.
Frutuoso, ao que tudo indica, veio à ilha de S. Miguel tomar ordens de sacerdote, provavelmente nas férias de 1554, regressando depois à Universidade de Salamanca.
Acabados os estudos em Salamanca, vemo-lo servindo, entre Outubro de 1558 até Março de 1560, na Igreja Matriz da Lagoa, em S. Miguel. Só depois deve ter partido para o Continente, tendo-se fixado na Dioceses de Bragança (onde se manteve durante o governo do bispo D. Julião de Alva, que lhe concedeu benefícios com rendimento superior a mil cruzados), leccionando no Colégio dos Jesuítas, ali fundado em 1561.
Ter-se-á também doutorado, por esta altura, provavelmente, em Évora.
Em 1564, Frutuoso renunciou a todos os seus benefícios e abandonou Bragança, para regressar a S. Miguel, aceitando os cargos de vigário e pregador da Matriz de Nossa Senhora da Estrela da vila da Ribeira Grande, de que tomou posse a 15 de Agosto de 1565.
É, portanto, aos 43 anos que Gaspar Frutuoso, munido de grande ilustração e experiência, abandona uma vida animada por viagens e convívio com gente culta e distinta, para se tornar no humilde pároco da Ribeira Grande.
É na Ribeira Grande que fica até ao fim da vida e onde, para além do trabalho paroquial e da prática da caridade, constrói o importante legado histórico que deixou. A investigação e a recolha das tradições das ilhas, cujo povoamento se verificara há pouco mais de cem anos, dão origem à sua grande obra, Saudades da Terra, a principal e quase única fonte do início dos tempos históricos das ilhas dos Açores.
Gaspar Frutuoso morreu a 24 de Agosto de 1591, tendo dito missa na sua igreja ainda nesse dia e, segundo o respectivo termo de óbito, sem ter feito testamento, por Nosso Senhor o chamar de pressa e não ter tempo
AH

Saudades da Terra

23.02.22 | asal

Caro António, Boa Saúde para ti e todos os teus. Descobri há pouco este belo poema de A. Gedeão, que me sensibilizou, e se julgares oportuno publicá-lo, aí vai. com um grande abraço do J. Caldeira

A. Gedeão.jpg

Uns olhos que me olharam com demora,

não sei se por amor se caridade,

fizeram-me pensar na morte, e na saudade

que eu sentiria se morresse agora.

E pensei que da vida não teria

nem saudade nem pena de a perder,

mas que em meus olhos mortos guardaria

certas imagens do que pude ver.

Gostei muito da luz. Gostei de vê-la

de todas as maneiras,

da luz do pirilampo à fria luz da estrela,

do fogo dos incêndios à chama das fogueiras.

Gostei muito de a ver quando cintila

na face de um cristal,

quando trespassa, em lâmina tranquila,

a poeirenta névoa de um pinhal,

quando salta, nas águas, em contorções de cobra,

desfeita em pedrarias de lapidado ceptro,

quando incide num prisma e se desdobra

nas sete cores do espectro.

Também gostei do mar. Gostei de vê-lo em fúria

quando galga lambendo o dorso dos navios,

quando afaga em blandícias de cândida luxúria

a pele morna da areia toda eriçada de calafrios.

E também gostei muito do Jardim da Estrela

com os velhos sentados nos bancos ao sol

e a mãe da pequenita a aconchegá-la no carrinho

e a adormecê-la

e as meninas a correrem atrás das pombas

e os meninos a jogarem ao futebol.

A porta do Jardim, no inverno, ao entardecer,

à hora em que as árvores começam a tomar formas estranhas,

gostei muito de ver

erguer-se a névoa azul do fumo das castanhas.

Também gostei de ver, na rua, os pares de namorados

que se julgam sozinhos no meio de toda a gente,

e se amam com os dedos aflitos, entre cruzados,

de olhos postos nos olhos, angustiadamente.

E gostei de ver as laranjas em montes, nos mercados,

e as mulheres a depenarem galinhas e a proferirem palavras

grosseiras,

e os homens a aguentarem e a travarem os grandes camiões pesados,

e os gatos a miarem e a roçarem-se nas pernas das peixeiras.

Mas ... saudade, saudade propriamente,

essa tenaz que aperta o coração

e deixa na garganta um travo adstringente, essa, não.

Saudade, se a tivesse, só de Aquela

que nas flores se anunciou,

se uma saudade alguém pudesse tê-la

do que não se passou.

De Aquela que morreu antes de eu ter nascido,

ou estará por nascer - quem sabe? - ou talvez ande

nalgum atalho deste mundo grande

para lá dos confins do horizonte perdido.

Triste de quem não tem,

na hora que se esfuma,

saudades de ninguém

nem de coisa nenhuma

ANTÓNIO GEDEÃO (24.11.1906-19.2.1997)

“Máquina de Fogo”, 1961

Paradoxo do conhecimento

22.02.22 | asal
Para alimentar o blogue, roubei mais este texto do Mário Pissarra. AH

Pissarra.jpg

 
Até há bem pouco tempo a forma habitual de pensar era: quanto mais sabemos mais a nossa ignorância diminui.
Parece uma questão lógica: quanto mais o conhecimento avança, mais a ignorância recua.
Que o conhecimento avança não restam dúvidas. A uma velocidade incrível. Tome-se como exemplo a rapidez da descoberta das vacinas na atual pandemia. Este avanço faz-se em extensão e em profundidade, isto é, compreendemos e explicamos cada vez mais coisas e as explicações são cada vez melhores.
A questão da diminuição da ignorância é mais problemática. Como se costuma dizer: «aqui é que a porca torce o rabo» ou «aqui é que está o busílis». Estas expressões são a tradução do latim «hoc opus hic labor est.» prefiro uma tradução livre: é aqui neste ponto da obra é que está o trabalho.
Os trabalhos da difícil compreensão de um paradoxo. Partimos de uma base perfeitamente racional e lógica: o aumento do conhecimento implica a diminuição da ignorância.
Será mesmo assim?
Acontece que à medida que aumentamos os nossos conhecimentos vamos tomando consciência do muito que ainda nos falsa saber. Dito de outro modo, quanto mais avançamos nos nossos conhecimentos mais aumenta também a nossa ignorância consciente. Quem não tem consciência da sua ignorância não sabe que ignora nem necessidade de saber. Só a consciência da ignorância a sente crescer à medida que o seu saber cresce.

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Paradoxal. Como o que diminui aumenta? Como é que do lógico chegamos à contradição? Pelo menos parece…
Versão infantil sob a forma de adivinha: «qual é coisa qual é ela que quanto mais diminui mais aumenta?»

Aniversário

21.02.22 | asal

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PARABÉNS, JOAQUIM! 

Hoje, lembramos o Joaquim Silvério Mateus, que, nos seus 73 anos, cada vez mais começa a querer descansar e olhar para os amigos. E andamos com saudade de o ver. Esperamos que seja em Alcains no mês de Maio... 

É pelo blogue ANIMUS SEMPER que estamos a lembrar-te e felicitar-te. 

MUITOS PARABÉNS, amigo! Que sejas muito feliz, com saúde e amigos.

O Serviço Nacional de Saúde

19.02.22 | asal
Meu Caro Henriques, partilho contigo e com os nossos amigos uma breve reflexão sobre o estado da Saúde muito doente no nosso país, como todos sabemos. Oxalá o próximo governo, que tarda a tomar nas suas mãos os destinos do nosso urgente país, dê a prioridade das prioridades a este setor nacional. Paz, alegria e Saúde para todos os que nos acompanam neste Animus que sempre nos anima. Com um forte abraço de amizade.
Florentino Beirão

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Uma emergência nacional

Nos múltiplos debates ocorridos ao longo da última campanha eleitoral, duas foram as temáticas que mais se fizeram ouvir. O tema da futura governação do país e o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Outras temáticas também importantes foram relegadas para o esquecimento ou secundarizadas pelos partidos concorrentes, entre outros a Justiça, as Mudanças Climáticas, a Educação e a União Europeia.

O futuro do SNS, como se verificou, entrou na disputa partidária com alguma força. Há alguns partidos que o querem salvar, ficando o Estado com a maior responsabilidade em relação ao sector privado. Porém, outras linhas políticas acentuam mais a sua entrega aos particulares, ficando estes com uma boa parte destes serviços. Entre estas duas propostas, aparecem ainda outras que querem que a maior fatia fique no Estado, ficando supletivamente os privados para colmatar as deficiências do SNS. Deste modo, democraticamente há opiniões diversas quanto à política da Saúde no nosso país.

O que é certo é que a realidade confirmou ao longo da pandemia da covid-19 o elevado valor social do SNS e a sua estabilidade enquanto dispositivo universal solidário de proteção de toda a população. Simultaneamente, também colocou em evidência as suas grandes debilidades para dar resposta a todas as situações que se foram revelando ao longo destes dois anos.

Será para estas debilidades que a maioria do PS terá de encontrar resposta rápida, consensual e eficaz se quiser responder aos problemas com que hoje se debate o SNS. Segundo os estudiosos desta problemática, duas são as linhas principais que as novas políticas de Saúde terão que ter em conta para melhorar os serviços da Saúde à população do país.

Segundo eles, a superação das fragilidades deste tão importante sector da vida nacional requer urgentemente que se regenere a conceção e a gestão dos serviços da Saúde. Não basta despejar verbas e mais verbas para cima dos problemas, embora sejam necessárias, mas deve-se colocar o acento tónico na boa gestão dos serviços prestados aos utentes. Com os mesmos meios, podem-se sempre obter resultados mais positivos, como a experiência já demonstrou em alguns hospitais do país.

Relativamente ao acesso dos utentes a partir da Lei já publicada, aprovada pala Assembleia da República em 24.08.2007, é bem clara quando se refere na “Carta dos Direitos de Acesso aos Cuidados de Saúde pelos utentes do Serviço Nacional de Saúde” que tem o direito e o dever de fomentar a participação das pessoas com ou sem doença e seus representantes, nas decisões que afetam a saúde de todos os portugueses. Refere ainda a mesma legislação que o Estado deve ter em conta a prestação dos serviços de saúde às localidades mais isoladas do país, sobretudo do interior, oferecendo aos seus utentes maior atenção, com medidas especiais para estes territórios pobres e envelhecidos.

Para que estas medidas possam ser efetivamente promovidas no terreno, o Governo não deverá deixar de olhar urgentemente para as questões salariais de todos os que trabalham no SNS, em debandada para outros países, por falta de tratamento digno da sua profissão no território nacional. Médicos e Enfermeiros todos os anos engrossam o contingente dos emigrantes que procuram melhor sorte noutras latitudes. Para aqueles que apesar de tudo preferem ficar no seu país, urge desenvolver uma cultura de qualidade de serviço e de satisfação profissional, proporcionando condições de trabalho e organizacionais que os levem a optar pelo serviço público de saúde.

Por tudo isto, importa que o governo de maioria absoluta do PS que tem pela frente quatro anos e alguns meses para governar o nosso país, implemente uma estratégia, um discurso e ações de mudança, que reacendam a esperança no futuro do Serviço Nacional de Saúde do qual todos os portugueses necessitam mais cedo ou mais tarde.

O reforço e as transformações necessárias, como é do conhecimento e da experiência, exige o contributo e ação de todos os utentes, naquilo que deles dependa. Tanto Governo como a oposição, a partir de agora, durante os próximos quatro anos de maioria absoluta, devem ter como prioritário esse sector da governação. A estes se devem juntar todos os profissionais da saúde, os cientistas e os cidadãos em geral.

florentinoberao@hotmail.com

Aniversários - 3

19.02.22 | asal

Mais três aniversariantes

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Pela primeira vez, tenho o gosto de anunciar o aniversário do nosso amigo  João de Deus Tavares, que hoje atinge a bonita idade de 87 anos. Radicado em S. António das Areias, foi professor, presidente da Santa Casa da Misericórdia de Marvão e por ali ficou a gozar a sua jubilação. Esteve no Encontro de Marvão e, depois disso, só pelo telefone temos falado.

Pois, caro amigo, PARABÉNS e alegria pela vida. E que continues a viver com saúde e muita felicidade. Abraço de nós todos.

 

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- Nascido em 1960, aí está o Saúl Valente, dinâmico congregador da malta de Castelo Branco, profissional devotado do exército e ativo agricultor a produzir um azeite biológico de que o colesterol tem medo... 

Aqui estamos a dar-lhe um abraço virtual de PARABÉNS e a desejar-lhe muitos anos de vida, com saúde e alegria. Quando nos voltamos a encontrar? Nesta foto, estávamos na Sertã (Saúl à esquerda e bem acompanhado pelo tenente coronel da GNR Carlos Lameiras, outro responsável pelos jantares da malta de Castelo Branco!). E que esteja já recuperado do maldito Covid!

 

Miguel Cordeiro.jpeg

- Também neste dia, em 1971, nasce o Miguel Cordeiro, com formação em Serviço Social no Instituto Superior Miguel Torga.

Pelo seu Facebook, sabemos que vive em Osnabruque e ainda frequentou o Seminário de Coimbra. Não sabemos mais sobre este colega. Pode ser que ele apareça por aqui um dia a contar coisas. Gostávamos muito!

Aqui deixamos os nossos sinceros PARABÉNS E VOTOS DE LONGA VIDA, MUITA SAÚDE E REALIZAÇÃO DOS SEUS SONHOS...

Palavra do Sr. Bispo

18.02.22 | asal
JOVENS, HÁ LÁ TRÊS DEDOS A FALAR POR VÓS!....

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Desde as lonjuras do tempo que o desconforto de quem menos se pensa faz tocar os sinos a rebate perante as labaredas do fogo juvenil. Sentados à escrivaninha com os pés na escalfeta e manta pelas costas, os craques de certas escavações sociológicas, sofistas a seu jeito, esgotam-se na cata de argumentos para se lamuriarem e zurzirem na juventude. Esta espécie de ursos de turma não está em risco de extinção, antes pelo contrário, ahahahahah... William Shakespeare dizia que “os velhos desconfiam da juventude porque foram jovens”. Com este pensar, é de crer que alguns jovens de hoje, quando tiverem a experiência duma vida longa e dura, quando já se tiveram esquecido que também foram jovens e cederem à tentação da inveja ou de ciúmes de quem nessa altura o for, vão puxar pela mesma cartilha para classificarem, de igual modo, ou pior, os jovens que ao tempo hão de viver e conviver com eles. Hoje, até o que parece ser um rasgado elogio à juventude dos jovens arrasta consigo uma forte dúvida sobre se, de facto, o será! Há uma reiterada usurpação do vigor e da beleza juvenil. Não só, mas mesmo aqueles que desdenham os jovens anseiam ardentemente a sua juventude. Por mais que olhem e saltitem para a adquirir, não chegam lá, satisfazem-se em dizer que os jovens ainda estão muitíssimo verdes. É a fábula da raposa e das uvas no seu melhor. Dá-se aso à imaginação por não se querer aceitar as próprias limitações, por não se querer aceitar o desgaste pelo privilégio de se ter vivido e pela graça de se continuar a viver. Não estou a defender o desleixo, nem a falta de autoestima, nem a falta de brio na apresentação pessoal. Estou a dizer que se repudia a velhice mas pretende-se uma longevidade jovem, sem as marcas do tempo, mesmo que seja preciso meter o colchão no toucado como satirizava Nicolau Tolentino no século XVIII. É a ditadura da moda que oprime e explora, que leva as pessoas a recusarem os seus limites, preferindo cinzelarem-se com produtos e serviços que a publicidade, servindo-se de jovens, promove e vende na miragem da perfeita recauchutagem de quem compra. Culturas há em que as marcas da velhice são tidas como uma bênção, pois o idoso é considerado como realizado, mais próximo dos seus que já partiram e do divino. Desde a antiguidade que o padrão de beleza se vai alterando. Hoje, por cá, os guardas fatos, os roupeiros, as balanças e os espelhos não são capazes de dar um ar da sua graça aos mais exigentes. Sempre lhes fazem crer que estão a anos-luz do padrão de beleza em vigor. De facto, isto de querer morrer com saúda, idoso e jovem, dá muito, muito trabalho! Consta que vários milionários já dispuseram de cerca de três biliões de dólares para estudar a biologia do envelhecimento, não para se envelhecer jovem, isso já é pouco para eles. Trata-se de quererem derrotar a própria morte com uma “tecnologia da imortalidade”. Tenhamos esperança, ainda vamos chegar ao tempo em que as galinhas terão dentes e as cobras andarão de pé! Estar ‘in’, faz sofrer muita gente, arrasta muita canseira e sacrifício, faz com que muitos estejam nas lonas e vivam de aparências, mas tudo isso, como vemos, acaba por ser bom, faz acontecer, aguça a imaginação, o engenho e a arte. Quem corre por gosto não se cansa nem fraqueja. E o mais importante de tudo isso é que ninguém tem nada com isso, apenas desejamos que todos, no uso da sua liberdade, sejam felizes, muito felizes, e o progresso aconteça!
É verdade que a maneira de ser e de estar de muitos jovens nem sempre lhes será o mais útil para alicerçar a sua vida sobre a rocha e não sobre a areia movediça. De facto, o deixa correr, o qualquer coisa serve, a opção pelo mais fácil e certas filosofias de vida nem sempre são o melhor, o que convém. Todos estamos conscientes disso, os jovens também, mesmo que o não pareça. A Igreja, ainda que no seu seio também tenha dessas aves de mal agoiro, diz-nos que a clarividência de quem educa ou lida com os jovens deve ter a capacidade de não apagar a chama que ainda fumega nem quebrar a cana rachada que ainda não partiu. Acreditar na transformação da realidade e na conversão dos corações é o caminho a perseguir. É preciso ter a capacidade de, com esperança, individualizar percursos onde outros só veem muros, saber reconhecer possibilidades onde outros só veem perigos, ter a capacidade de valorizar e alimentar as sementes de bem semeadas no coração de cada um, um coração que deve ser considerado ‘terra santa’ e diante da qual nos devemos ‘descalçar’ para nos podermos aproximar (cf. CV67).
Mas voltemos à vaca das cordas, como se diz lá para o norte quando se perde o fio à meada e se tenta retomar. Quando se apontam os jovens com o dedo em riste, há três dedos da mão que ficam voltados para trás, para quem aponta, são mais notados que gato escondido com rabo de fora. Experimente lá, se faz favor, aprecie e magique sobre o sentido dessa sinalética!... E que tal?... Que lhe parece?!... Não sei quem seria o primeiro a chamar a atenção para esse ‘epifenómeno’, mas que é importante e de saudáveis consequências lá isso é. Ele coloca a nu uma outra lista que os jovens, de forma bem mais certeira, apresentam aos adultos muito senhores das suas análises e dos seus juízos sobre as patologias juvenis, coisa com que alguns muito se deleitam. E sirvo-me do Documento conclusivo do Sínodo dos jovens para referir algumas parcelas, não todas, dessa fatura que os jovens nos apresentam. É por causa dos adultos que «muitos jovens vivem em contextos de guerra e padecem a violência numa variedade incontável de formas: raptos, extorsões, criminalidade organizada, tráfico de seres humanos, escravidão e exploração sexual, estupros de guerra... Outros jovens, por causa da sua fé, têm dificuldade em encontrar um lugar nas suas sociedades e sofrem vários tipos de perseguição, que vai até à morte. Numerosos são os jovens que, por constrangimento ou falta de alternativas, vivem perpetrando crimes e violências: crianças-soldado, gangues armados e criminosos, tráfico de droga, terrorismo... Esta violência destroça muitas vidas jovens. Abusos e dependências, bem como violência e extravio contam-se entre as razões que levam os jovens à prisão, com incidência particular nalguns grupos étnicos e sociais. Muitos jovens são ideologizados, instrumentalizados e utilizados como carne de canhão ou como força de choque para destruir, intimidar ou ridicularizar outros. E o pior é que muitos se transformam em sujeitos individualistas, inimigos e desconfiados para com todos, tornando-se assim presa fácil de propostas desumanizadoras e dos planos destrutivos elaborados por grupos políticos ou poderes económicos. Ainda mais numerosos no mundo são os jovens que padecem formas de marginalização e exclusão social, por razões religiosas, étnicas ou económicas. Lembramos a difícil situação de adolescentes e jovens que ficam grávidas e a praga do aborto, bem como a propagação do SIDA/HIV, as várias formas de dependência (drogas, jogos de azar, pornografia, etc.) e a situação dos meninos e adolescentes de rua, que carecem de casa, família e recursos económicos». E quando se trata de mulheres, estas situações de marginalização tornam-se duplamente dolorosas e difíceis. Por vezes, o sofrimento dalguns jovens é lacerante, um sofrimento que não se pode expressar com palavras, um sofrimento que nos fere como um soco. E se é verdade que países mais ricos e poderosos e alguns organismos internacionais prestam alguma ajuda, muitas vezes fazem-no por um alto preço. Como refere o documento citado, em muitos países pobres, esta ajuda costuma estar vinculada à aceitação de certas exigências, verdadeira colonização ideológica a prejudicar de forma especial os jovens. Muitos jovens, também trazem gravados na alma «as feridas das derrotas da sua própria história, dos desejos frustrados, das discriminações e injustiças sofridas, de não se ter sentido amado ou reconhecido», além das «feridas morais, o peso dos próprios erros, o sentido de culpa por ter errado». E isto sem citar o fenómeno migratório, as suas causas, os seus sonhos e consequências, etc. (cf. CV72-85).
Caro jovem, apesar de tudo, a Igreja, pela voz do Papa Francisco, apela-te a que “não deixes que te roubem a esperança e a alegria, que te narcotizem para te usar como escravo dos seus interesses. Ousa ser mais, porque o teu ser é mais importante do que qualquer outra coisa; não precisas de ter nem de parecer. Podes chegar a ser aquilo que Deus, teu Criador, sabe que tu és, se reconheceres o muito a que estás chamado. Invoca o Espírito Santo e caminha, confiante, para a grande meta: a santidade. Assim, não serás uma fotocópia; serás plenamente tu mesmo” (cf. CV107).
Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 18-02-2022.

O valor do eu

17.02.22 | asal

Meu Caro António

Cheguei há pouco de Lisboa e, esta manhã, aconteceu  o que acabo de relatar. Como não me fio  facilmente no que  os meios de comunicação nos dizem, já fui ao DR confirmar. E não se fala de outra coisa.  Isto que parece um ritualismo de antanho, ou uma discussão escolástica entre pregadores, que, em última instância, resolviam questões bicudas com a dialética muscular, , afinal, parece ter alguma pertinência. 
 Com um forte abraço, e os meus agradecimentos, João
 

 BATISMOS INVÁLIDOS

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  Ia eu, esta manhã, com a minha filha, a levar a netinha à Escola de Santa Catarina, perto do Jamor, quando a condutora larga uma gargalhada bem sonante.

   Acabávamos de ouvir na Radio Comercial, na voz inconfundível do Vasco Palmeirim, a história do Padre que celebrou, durante o largo período de 20 anos, baptismos nulos.  A princípio, pareceu-me uma anedota ou uma história inventada por algum apanhado da bola! Em tempos de Covid, tudo amalucou, e pareceu-me tão insólita esta combinação entre Gramática e Teologia que exclamei:  Eh, Tété, nunca um pronome pessoal na 1ª pessoa do singular valeu tanto!  É claramente um pronome teológico!  Rimo-nos a bom rir e até a bebé deu sinal de contentamento.  E tudo à custa do Padre Andrés Arango ( ou Aranha!) da diocese de Phoenix, Arizona, EUA, o inocente que violou o ritual, enganando-se na  Gramática!

   Afinal, que aconteceu? Uma coisa aparentemente inócua, irrelevante, e que se veio a provar que encerra todo um Tratado ou Um Calhamaço de Teologia Sacramental.

 O pobre homem andou 20 anos, 20, ouviram? a batizar com a fórmula errada e ninguém reparou ou teve coragem de lhe chamar a atenção.   Um Guinness da distração!  Não sei se com a mania do plural majestático ou não, o sacerdote, com a melhor das intenções, quando deitava uma concha de água sobre os baptizandos, dizia: “nós te batizamos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.”   Ao invés, deveria dizer: EU te batizo em nome do Pai…” Erro tabeliónico?  De maneira nenhuma.  Uma tremenda falta que causou a nulidade do ato e sequelas de longo prazo, inclusive de crismas e ordenações sacerdotais sem efeito. Assim, dizendo o nós em vez do eu, pura e simplesmente, não havia ato sacramental.

  Gostava de ter aqui o meu S. Tomás para me esclarecer sobre esta dúvida de gramática e pragmática linguística em que o ato de fala, sem o EU, perde toda a eficácia performativa, força ilocutória, que lhe confere a autoridade de CRISTO, identificado com o EU do Sacerdote. Uma única enunciação, declarativa, em que o EU de Cristo se identifica com o Eu da pessoa que batiza.

     O ato de fala performativo, de facto e de jure, instaura uma nova realidade, uma nova condição existencial, só pelo facto de, em condições institucionais, poder ser dito.  

    DIZER nestas condições, uso do pronome EU, 1º pessoa no singular e presente do indicativo, é realizar uma verdadeira ação de transformação de estado e não um simples dizer. É FAZER o que se diz, dizendo, e não simplesmente dizer o que se faz. “Quand dire, c´est faire… Assim começa a explicação sobre os actos performativos.

 Desculpem, mas vou recorrer ao Francês: “  Dans son livre de 1962, How  to do things with words,  Austin commence à s´intéresser à des verbes comme jures et baptiser , qu´il appelle verbes performatifs.   Ces verbes présentent  la singularité d´accomplir ce qu ´íls disent, d´instaurer une réalité nouvelle par le seul fait de leur énonciation. Ainsi  dire” je te baptise “ c´est baptiser…( D. Maingueneau, Pragmatique pour le  Discours  Littéraire, Bordas, Paris, 1990, p.5

  Enuncio agora os requisitos, regras ou condições para que este tipo de acto de fala, performativo, declarativo, se realize e constitua, e seja bem sucedido e eficaz: 

1ª Que o enunciado seja feito na 1ª pessoa do singular, no presente do indicativo: o sujeito que fala diz um EU que é sacramentalmente assumido por Cristo, o seu verdadeiro agente;

2ª Que sejam utilizadas as coisas materiais, investidas do simbolismo teológico, que a Instituição, Igreja, lhes atribui: água e não qualquer líquido), sal e óleo sagrado, e demais palavras e questões estabelecidas no ritual.

  Só seguindo as prescrições da celebração com todo o rigor, se cumpre o ato de fala com valor elocutório, e efeito assegurado e previsto pela Igreja sobre o batizando.

 Quanto ao lugar, não existe condição obrigatoriamente estabelecida. (Podem consultar:  Paul RICOEUR:  Discurso de Ação e Teoria da Interpretação - Edições 70; Dicionário das Ciências da Linguagem, “Linguagem e Ação” pp.397-403) Ou qualquer linguista ou gramático.

    Do ponto de vista linguístico, o Senhor Bispo da Diocese de Phoenix e a Igreja tem razão.

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   Não discuto a questão teológica porque nunca percebi bem a noção de carácter ou marca sacramental com valor ontológico. Se é questão de fé, acredito, mas eu não sei explicar. Sinto que, na realidade, deve ser assim, sob pena de inutilizarmos a vida litúrgica e sacramental, essa torrente de Vida Divina, transmitida através de “sinais”, mas eu não sei explicar. É uma limitação? Paciência e que Deus me valha.

  Coimbra.  João Lopes

Aniversário

17.02.22 | asal

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Hoje, só um celebra mais uma primavera!

Em 17 de Fevereiro de 1944, nasce o João Mendes Gregório, um sportinguista militante. É de Monfortinho (creio eu) e vive no Barreiro, com janela para o campo do Luso!  Qualquer dia vai aparecer, ao menos para recordar os tempos de Alcains. Será? Tu é que dirás... Maio está próximo!

Muitos Parabéns, João! Saúde e felicidade...

Idosos na Dinamarca

14.02.22 | asal

 Vale a pena seguir.

Refletir.

Impressionante e chocante.

Vale a pena ver este testemunho.

Na Dinamarca! Um dos 5 países com maior rendimento per capita e o 2º mais "feliz" da Europa... mas dos mais infelizes para quem não é produtivo!

Aniversário

14.02.22 | asal

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Em 14 de Fevereiro de 1946, nasceu no Tortosendo esta criança, a quem foi dado o nome de António Eduardo Santos Oliveira.

Aposentado do seu trabalho nos hospitais, vive agora em Odivelas, dedicando-se particularmente aos convívios dos Serviços Sociais da Administração Pública, de que é um grande animador na vertente musical. Como ele sofre agora por ficar em casa! Bem, nem sempre fica. Também sai para ajudar o José Maria em Informática!

Nos nossos encontros, o Eduardo não canta, mas marca contínua presença com a sua arte em fotografia, registando planos muito realistas, o que lhes dá um realce especial.

PARABÉNS, AMIGO EDUARDO!  Desejamos-te muita saúde e alegria de viver. E continua a unir o grupo, pois só esse propósito vale a pena. 

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