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Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

Mais um poema de poeta novo

30.06.21 | asal

Quando me chegam textos de um colega de muitos anos no Seminário, com quem vivemos tempos de juventude, o coração reage, parece que salta de emoção, voltamos a ser jovens, eu sei lá o que é isto... Desta vez a surpresa vem do Zé Caldeira, que ainda hoje comentava o João Lopes em "Mais sobre Dante". AH 

Caro António, abraço e votos de boa saúde. Será que me permites um momento lírico para o Blog ? Aí vai para tua apreciação. José Alves Caldeira

José Caldeira (4).JPG

 

FIM DE TARDE NA PRAIA DA TORRE
 
Vagueando pela praia
entram meus olhos no mar
e deslizam sobre a quietude prateada das águas vindas do Tejo
espraiando-se até ao Cabo Espichel
(Pena não ter tinta nem pincel
p`ra pintar paisagem tão bela)
E assim, em banco de jardim sentado
-qual varanda ou janela-
aqui fico ouvindo o marulhar das ondas mansas
e olho as gaivotas pousadas na praia,
branqueando a húmida areia
e bebendo os últimos raios de sol.
 
Entretanto a fresca música de Bach
embala-me na sua Ária para Cordas.
Vem pelos fiozinhos do meu émepêtrês,
em vibrantes cordas de guitarra clássica.
 
E ... envolto na doce Música de João Sebastião
o Sonho suspende-se sobre a morna languidez do momento,
inefável,
intemporal,
feliz !
 
José Alves Caldeira

Aniversários

30.06.21 | asal

São dois os aniversariantes de hoje:

Rui Lourenço1.jpg

Primeiro é o Rui Lourenço, da Sertã, a celebrar mais um aniversário. É da sua página do Facebook que retiro informação, pois ainda nada constava nas nossas listas... Nascido em 1978, é um jovem Técnico superior de Desporto na Câmara da Sertã, onde vive. 

Caro amigo, PARABÉNS deste grupo dos antigos alunos dos seminários de Portalegre e Castelo Branco, e votos de longa vida com saúde, sucesso e felicidade.

Contacto: tel. 965 873 669

Alexandre Pires.jpg

Vem depois o caro amigo Alexandre Ramos Rodrigues Pires. Natural de Penha Garcia, vive em Carnaxide a sua aposentação do ensino público e é assíduo frequentador dos nossos encontros.

Aqui se registam os PARABÉNS DO GRUPO, com votos de uma vida longa e feliz. E aqui está ele todo sorridente, com a esposa.

Contacto: tel. 969 019 316

Mais sobre Dante

29.06.21 | asal

Meu Bom António

 Aí vai mais um texto sobre Dante. No próximo. farei alguma análise textual ao Inferno. Depois, se Deus nos der vida e saúde, sobre o Purgatório e a festa jubilosa do Paraíso. Achas que estarei a chatear o pessoal?  Eu só quero ajudar um pouquinho para situar o meu querido leitor, caso oiçam falar do poeta florentino, neste ano  que lhe é consagrado.  No Museu dos Coches, está a exposição "Dante Plus 700" até 31 de de dezembro. Lá irei se a peste o permitir. Um rija cotovelada de agradecimento do João. Buona giornata. Buon pranzo Oiço aos domingos o Papa Francisco. 
 
Resposta: João Lopes, o teu esforço é um lenitivo para nós, que estamos a aprender! AH

João Lopes d.jpg

 

     A Vida Política de Dante Alighieri( 1265- 1321)

    Em 1294-95, Dante mergulhou na vida política de Florença, quer por vocação, quer por necessidade, dados os encargos que assumiu, como chefe de família.  Currículo não lhe faltava. À vasta cultura humanista juntava os conhecimentos jurídicos que a frequência da Biblioteca de Brunetto Latini, famoso Notário, lhe facultara.

  Várias vezes, fora convidado a participar, como orador, no Conselho dos Cem, parlamento da Comuna, onde tinham assento os representantes da oligarquia florentina, que respondia apenas perante os seis priores, a mais alta magistratura da cidade - esclarece o erudito A. Mega Ferreira. (2017: 44) O seu desejo era entrar lá como membro efetivo.  Mas, para concorrer à eleição, não lhe bastava o prestígio de poeta e de enciclopedista que todos lhe reconheciam, sendo um dos “ sapientes” ou conselheiros a que os políticos e homens do povo, com frequência, recorriam, para resolver qualquer questão mais intrincada das suas vidas. Sempre muito cautelosos, os florentinos, para afastar suspeitas de corrupção, exigiam ao candidato um rendimento base de 600 florins em ouro.  Muito acima das possibilidades de um letrado sem emprego fixo. Vieram então em seu auxílio os Alighieri e os Donati, o pai de Gemma, sobretudo, para avalizarem um empréstimo nesse montante.  E Dante correu a inscrever-se na corporação dos médicos e boticários para se tornar elegível.  Daí a ser eleito para o colégio dos priores, cargo curto, mas muito bem pago, seria um passo de habilidade, coragem e diplomacia, dotes, que, não obstante alguma ingenuidade no lidar com a astúcia e sem-vergonhice alheia, lhe sobravam.

   Em 1295, a efervescência da vida política está ao rubro. O Papa não se cansava de fazer exigências, reclamando tropas e dinheiro, o que exasperava os guelfos Brancos, partido em que Dante militava. Os guelfos negros, esses, tudo aceitavam, já que a eles incumbia o encargo da cobrança dos impostos papais em toda a Toscana, arrecadando a percentagem devida. Situação potencialmente conflituosa que tantas vezes em escaramuças e guerras de rua  explodia, obrigando o poeta a usar a espada de cavaleiro, manejada com destreza, em muitas ocasiões já provada.

 Na verdade, neste final do século XIII, o cesarismo papal não tinha limites, sonhando com a criação de um Estado teocrático universal no Ocidente, ideia que os historiadores da Igreja consideram anacrónica e fora do contexto da nova realidade.

  No Natal de 1299, para criar uma aparência de paz, institui, por decreto, o Ano Santo ou Jubileu para o ano de 1300, recuperando uma solenidade judaica, de elevada repercussão moral, conforme o Levítico, 25, 8-22. “Santificareis o quinquagésimo ano, proclamando a liberdade de todos os que a habitam” Como?  Com o perdão das dívidas, libertando os escravos e restituindo às famílias o seu primitivo património, que, por necessidade, tiveram de alienar. A palavra alatinada vem do hebraico yobel, chifre de carneiro que servia de trombeta para anunciar tão memorável evento de júbilo e liberdade, marca distintiva do humanismo que demarcava Israel das nações vizinhas.

 Acorreram 200 mil peregrinos a Roma, cidade santa, procurando açodadamente visitar as igrejas de Pedro e Paulo, onde lhes seria concedida a indulgência ou perdão dos pecados, a troco de uma esmola em grossas moedas de ouro. Entre a multidão, encontrava-se Dante, peregrino, que esperava beneficiar da indulgência plenária para os seus pecados. Chegara o momento da sua real conversão a Deus, de reencontrar a via direita da virtude que Beatriz, a mulher que sempre ocupara o seu coração, agora lá do céu, tanto lhe solicitava. ( Morreu em 1290, com 24 anos)

 Dante não nos deixou um testemunho direto de uma experiência, espiritualmente fecunda, embora um pouco traumatizante pelo espetáculo da multidão, correndo por ruas intransitáveis, acotovelando-se aqui e ali para cumprirem o voto nas igrejas.  A cidade, de 80 mil residentes, não tinha condições para alojar, com um mínimo de recato e higiene, tanta gente. Dante observava e ouvia as mais horripilantes histórias de vidas de pecado e miséria física e moral. E aquela fé absoluta no óbolo redentor, sem outras consequências, fê-lo refletir sobre a condição humana e cristã do homem. Há quem diga que ali mesmo nasceu a ideia da Divina Comédia. A imaginação fervia-lhe de imagens, símbolos, personagens e histórias em que a humanidade se revelava em carne viva, na abjeção do mal e redenção do bem.

   Com efeito, foi naquela semana de Quinta-Feira Santa a Quarta-Feira de Páscoa de finais de Março de 1300, em pleno Jubileu, que o autor situa imaginariamente a sua viagem, enquanto ser vivo, ao mundo dos mortos. Naquele momento agónico, atormentado, e agonístico, isto é, de agitado combate interior, desabrocha da noite da alma  um  monumento de trevas e luz, de riso e de lágrimas, a Comédia da humanidade, cuja composição escrita arranca mais tarde em 1305-06, já em terras amargas de um exílio, congeminado por um papa indigno, ocupante de um trono, “onde Cristo se trafica” ( là dove Cristo tutto dí si merca” Par. XVII, V.51) e um povo ensandecido.

  De facto, ao regressar a Florença, é eleito Prior, com outros cinco, atingindo a mais alta magistratura que ocupará durante os dois meses da praxe. Dois longos meses atormentados pela aproximação de um exército francês, comandado por Carlos de Valois (1270-1325), que, em troca do apoio dado pelo pontífice à sua pretensão à coroa do Imperador Latino de Constantinopla, prometera entregar-lhe Florença, para daí o papa se lançar na conquista das cidades do norte da Itália.  Temendo a invasão, os guelfos Brancos, ainda senhores da comuna, enviam uma delegação, com Dante à cabeça, em outubro de 1301, com o objetivo de demover sua santidade de tão funesto intento. Em vão!  Em novembro, Carlos, irmão de Filipe, o Belo ( 1285-1314),  entra em Florença, como enviado do Papa. Ocupa a cidade, espalha o terror, faz um massacre sobre a população e assalta os bancos. E Corso Donati, guelfo Negro, homem de mão de Bonifácio, desfere um golpe de Estado, invertendo a situação ao sabor da vontade do seu patrono.

   Desencadeia-se a perseguição aos guelfos Brancos. Dante é acusado de corrupção, traição à pátria, condenado a uma coima; a casa é arrasada, os bens confiscados, e o desterro perpétuo decretado.  Caso voltasse, seria queimado na fogueira, na praça de Santa Cruz. E falta a acusação mais grave:  o poeta-filósofo cometera a heresia de não reconhecer o Poder Espiritual e temporal do Papa. O que só podia ser um mal-entendido! Fosse o Papa como Gregório, o Magno I ( 590-604), que, sem ser rei nem soberano, pusera os bens da Igreja ao serviço dos pobres…   Chegaram-lhe estas acusações aos ouvidos, em janeiro de 1302, quando regressava da sua missão gorada em Roma. Claro que de Siena não passou! E Dante amaldiçoou o seu priorado, fonte de todos os males.

  Um homem, na estrada, sozinho, entregue a si próprio e à caridade alheia, um vagabundo, um mendigo, um navio sem rumo e sem vela, arrastado pelos ventos áridos da cruel pobreza - eis como se descreve, em 1304, no Convívio, obra de reflexão filosófica a que se abriga, como último reduto de Consolação, como já o fora para o seu admirado Boécio ( 480-524) poeta latino, autor  da Consolação da Filosofia que Dante leu em 1290.

    Melhor sorte não teve o seu arqui-inimigo. Bonifácio, em 1301, já era senhor de toda a Toscana. Travou-se de razões com Filipe - o Belo, excomungado por não ter aceitado a famigerada doutrina das duas espadas, ou duplo império universal, aberrante e torcida interpretação de Lucas, (22,38), levada a cabo pelos teólogos de serviço. O Rei de França declara-o deposto e manda invadir, em 1303, o seu palácio residencial em Anagni, no sudeste do Lácio. Maltratado, é conduzido a Roma onde morre de velhice e vergonha, deixando o papado em bolandas, nas mãos caprichosas dos reis de França. Exílio de Avinhão!  Na sua enorme generosidade, Dante condena no Purgatório este ato de violência contra o vigário de Cristo: “ O mal feito e a fazer menos avivo/ vendo em Anagni entrar a flor de-lis/e   Cristo em seu vigário ser cativo” XX,85-87( e nel vicario suo Cristo esser catto)  Procedem assim os grandes homens: o perdão é sempre maior que a ofensa!

  Dia da Festa de S. Pedro e S. Paulo. Rezemos pelo Santo Padre. E pelo nosso Bispo!

  João Lopes

Aniversários

29.06.21 | asal

Mais dois aniversariantes!

Nuno S. Silva.jpg

- É o Nuno Santos Silva, de Cardigos, com quem tivemos o prazer de conviver no Encontro da Sertã. Nasceu em 1956  e é do mesmo ano do Carlos Tavares...  Trabalha como professor numa das escolas de Santarém, onde se esforça por alargar os gostos dos gaiatos, atirando-lhes remos para as mãos e não só!

Caro amigo, com muita alegria te abraçamos, te damos PARABÉNS e te desejamos uma vida cheia de saúde e felicidade. 

Contacto: tel. 912133262

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- Também hoje faz anos o Pedro Machado, de quem temos poucas informações. É de Alcaravela, ainda andou em Portalegre, formou-se em Engenharia Civil e o resto não sabemos. Com o tempo, vamo-nos conhecendo melhor. 

PARABÉNS, amigo, e votos de muita felicidade.

Não dispomos de contacto telefónico.

Rainha Dona Maria II (1819-1853)

27.06.21 | asal
Meu caro Henriques
Aí te envio a minha humilde, mas esforçada colaboração. Espero que ela sirva para descobrimos uma Rainha muito desconhecida dos portugueses. Como vi uma exposição sobre Sua Alteza na Ajuda e fiquei a admirar mais ainda esta mãe de tantos príncipes, partilho com os nossos amigos leitores estas breves notas. Se puderem descubram mais de D. Maria II e do seu tão grandioso reinado. Continuam a chegar-me algumas mensagens abonatórias do nosso livro, sobre o seminário de Alcains. Um Bem-haja a todos. Juntos, deixamos aos vindouros uma obra que não nos envergonha....apesar de algumas das suas imperfeições... Certo?
Florentino Beirão

Florentino_beirao.jpg

 

Uma vida fecunda e breve

De passagem pela capital que, lentamente, começa a abrir as suas portas à cultura com várias exposições, optei pela que se encontra no neoclássico-barroco Palácio Nacional Nossa Senhora da Ajuda, não longe do Mosteiro manuelino dos Jerónimos. Tendo conhecimento de que neste espaço se encontrava uma exposição, relativa à vida e obra da Princesa brasileira e Rainha de Portugal D. Maria II, decidi fazer-lhe uma visita, curioso que estava por saber mais sobre esta tão desconhecida quão multifacetada monarca que governou Portugal, num período tão conturbado quão empolgante do séc. XIX, entre 1819-1853. As suas marcas ficaram registadas, nomeadamente, na aprovação da primeira Constituição Liberal, no arranque da construção do caminho-de-ferro que passou a ligar uma boa parte do país, nos selos dos correios, em nova legislação, em várias obras públicas e num substancial apoio às artes e à cultura, sobretudo com o Rei artista e consorte Fernando II, segundo marido de D. Maria II.

Logo à entrada do Palácio, deparei com os novos arranjos que ultimamente foram executados, tentando completar uma das partes inacabadas, devido à falta de verbas e à complexa situação gerada pela fuga da Corte para o Brasil, fugindo às tropas invasoras napoleónicas. Trata-se de uma obra moderna, bem inserida no primitivo conjunto arquitetónico, construído a partir de 1795, após o terramoto de Lisboa de 1755.

Quanto à exposição, “D. Maria II, de Princesa brasileira a Rainha de Portugal”, que abre com a maravilhosa coroa e com o cetro real, permanecerá aberta ao público ainda alguns meses. Toda ela se reporta à vida e obra desta monarca cuja vida, embora breve, foi muito fecunda, repleta de grandes reformas estruturais, como iremos referir, as quais abriram o caminho à modernidade do nosso país, deixando para trás o nosso longo período medieval.

D. Maria II, Maria da Glória Joana, o seu nome de batismo, é filha de D. Pedro I do Brasil e de Maria Leopoldina da Áustria e nasceu no Rio de Janeiro, em 04.04.de 1819.

Apenas com sete anos, o seu pai abdicou da coroa de Portugal e entregou-a à sua filha, na condição de ela vir a casar com o seu tio, o Infante D. Miguel. Como ele se encontrava em Viena de Áustria, D. Maria embarcou do Rio de Janeiro em 05.07.1828, para ir viver para esta cidade imperial. Depois de se ter malogrado o prometido casamento com D. Miguel que, entretanto se proclamara Rei absoluto de Portugal, casou com Augusto de Leuchrtenberg em 1835, o qual faleceu pouco tempo depois de chegar a Portugal. De seguida, a Rainha contraiu segundas núpcias em 1836, com o príncipe Fernando de Saxe-Gota. Entretanto D. Maria decidiu deixar Viena e rumou à Inglaterra, França e Holanda. Aqui foi tomando contacto com os grandes avanços industriais e culturais destes países. Reinando durante poucos anos, a sua vida desenrolou-se num período de grandes convulsões socio -políticas, económicas e culturais do país. Herdando um sistema medieval arcaico, soube sempre rodear-se de vários ministros de grande craveira, com ideias modernas, bebidas nos países europeus, os quais foram contribuindo para o desenvolvimento dos diversos sectores da governação, sempre na defesa da Constituição Liberal.

A fortíssima personalidade de D. Maria II, mulher muito viajada pela Europa, sabia bem o que queria para o desenvolvimento de Portugal. Assim, permitiu que as ideias modernas que tinha, bem consolidadas no seu pensamento, fossem concretizadas, apesar dos escolhos que foi encontrando pelo caminho, aos quais sempre foi resistindo e ultrapassando, ao longo do seu curto reinado. Recordemos apenas o dramático e sangrento cerco do Porto, a Revolução de Setembro, a Belenzada, as Revolta dos Marechais e da Maria da Fonte e ainda a Patuleia, que tanto agitou o norte do país, devido à questão dos cemitérios transferidos para fora das igrejas.

Do seu casamento com D. Fernando II, D. Maria II teve 11 filhos, mas nem todos sobreviveram. Do último parto, apesar dos meios ao seu dispor, acabou por falecer, juntamente com o seu filho. Nesta altura, em 1853, a Rainha tinha apenas 34 anos de idade. A sua última morada encontra-se no Panteão Real da dinastia dos Braganças, no Mosteiro de S. Vicente de Fora, em Lisboa. Como herança, deixou um país mais moderno e desenvolvido, pacificado politicamente. Uma vida, apesar de breve e agitada, muito fecunda, ao serviço do Reino.

florentinobeirao@hotmail.com

Aniversário

27.06.21 | asal

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Nascido em 27-06-68, faz anos o P. José António da Cruz Afonso, que em 2013 foi nomeado Pároco de Álvaro, Madeirã, Pedrógão Pequeno, Sobral e Carvalhal, Arciprestado da Sertã. Com a chegada do malvado Covid-19, o nosso amigo tornou-se presente diariamente nas nossas casas com as celebrações pela Internet a partir das suas paróquias. Uma nova forma de evangelizar...

Aqui deixamos os PARABÉNS do grupo a este amigo, desejando-lhe muito sucesso no seu trabalho, muita saúde e alegria no serviço.

Contacto: tel. 967 092 726

Testemunho

26.06.21 | asal

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“Lembro-me que estou vivo e que a vida é bela.” Um mês com covid-19, entre a vida e a morte

Rui Araújo | 25 Jun 21 - In "7Margens"

 

É uma fatia de pizza, fria, oferecida por uma enfermeira, que lhe devolve a consciência de que está vivo. Antes, a dado momento da sua hospitalização com covid, dará consigo a reflectir: “O sofrimento, aqui, é real, mas o pior é a solidão.” Durante um mês, Rui Araújo, repórter da TVI, esteve entre a vida e a morte. Um testemunho na primeira pessoa.

Acordo sem amanhecer porque neste lugar a noite não existe. O enorme relógio de parede parou no tempo. O dia aqui é uma luz branca e fria.

Tenho os pulsos e os tornozelos atados à maca com fitas de seda. É a gota d’água. Perco definitivamente as estribeiras. Tento libertar-me com pontapés, mas não tenho força nas pernas. Uma dor lancinante percorre o meu corpo hirto. Estou preso. Há quanto tempo? Não faço a menor ideia. Também não sei onde estou e, sobretudo, não sei o que faço aqui. Dou gritos aflitivos. A minha voz não se ouve. Os poetas dizem que os homens preferem o efémero e não conseguem lidar com a eternidade. Os poetas têm sempre razão. Rebento. Estou farto de uma liberdade que tem os limites do meu próprio corpo. Ou seja: imobilizado.

– Olá! – dispara um vulto desfigurado atrás da cortina opaca que me rodeia. – Sabe onde está?

Não lhe digo que estou desanimado por estar aqui amarrado e não compreender nada. Não lhe digo nada. A minha situação é absurda, mas a esperança é a última coisa que se perde…

– Senhor Rui. Sabe onde está?

É difícil responder-lhe com a máscara de oxigénio posta. Sou um verdadeiro sonâmbulo. Estou bastante confuso depois de sonhar com muitos mundos paralelos e com ilusões acidentais incoerentes. A sólida realidade que criei na minha mente é um verdadeiro disparate. Preciso de pessoas à minha volta para tentar escapar à morte ou para ser capaz de discernir a transcendência de que necessito.

Estou dentro de uma carruagem parada na estação de uma aldeia morta. Está muito calor. Uma passageira dá-me dois euros para que eu possa comprar uma garrafa de água. Estou literalmente a morrer de sede. Sinto uma grande desilusão: a loja está fechada. Durante duas intermináveis semanas, não me deram nada para comer ou beber.

Os pesadelos sucedem-se. Depois do comboio, acontece outra história num hotel em Djerba ou Trujillo. A lata de refresco que abro é, no fim de contas, uma encorajadora perspectiva de esperança, mas não tenho sequer tempo de matar a sede…

Aniversário

26.06.21 | asal

Mais um aniversariante bem conhecido!15-03-2019.JPG

É o teu dia, José Ventura Fernandes Domingos!  Com 72 anitos, tens muita vida para viver.

Assim, damos-te os PARABÉNS por mais uma primavera e alegramo-nos com a tua alegria e por seres um de nós, não te cansando de estares a enriquecer o grupo com o teu trabalho, ora fotografando as nossas caras, ora convivendo com a malta nas mesas de repasto que se armam à nossa frente, ora ainda dedilhando as teclas do órgão quando é necessário.

Aqui estás tu nesta foto com tantos amigos que há muitos meses não frequentam a Parreirinha. Pode ser que não demore o encontro...

Contacto: tel. 962 311 894

Palavra do Sr. Bispo

25.06.21 | asal
OS RECURSOS HUMANOS E A NOVA EVANGELIZAÇÃO
 

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Na passada semana, abordei quanto bem poderia acontecer nas nossas paróquias se as famílias cristãs se organizassem. Isto é, se não se fechassem em si mesmas e dessem as mãos para levar mais vida a outras famílias e às comunidades que tanto precisam de dinâmicas que as façam viver com alegria e esperança. Se todos reconhecemos a importância das famílias neste processo, hoje quero referir-me - com muita estima, aliás! -, a tanta gente que, se também desse uma mãozinha a essa causa, tudo seria bem diferente. Embora haja quem o poderia e possa fazer, - e muitos o fazem! -, hoje venho desafiar ou apelar a todos aqueles e aquelas que acrescentam aos seus estudos, preparação e saber, o testemunho da sua fé e a capacidade de intervir e gerar empatia, quer pelo seu humanismo e coerência de vida quer pela alegria com que vivem e ajudam a viver. Refiro-me a professores, gente do setor terciário e profissionais livres, gente com influência positiva nas comunidades. Atentos ao meio, serão os primeiros a reconhecer que as comunidades carecem de recursos humanos habilitados para lhes transmitir convenientemente a mensagem cristã. Também constatarão que, se há falta de formação cristã, também há quem gostaria de saber mais e de aceitar novos desafios. As próprias comunidades reconhecem e apontam a necessidade urgente de formação. No entanto, se se constata a falta de formação e as iniciativas de formação acontecem, as pessoas não correspondem, são poucas as que aparecem, e, se aparecem, são quase sempre as mesmas. Desta falta de formação ou de cultura da fé, surgem algumas atitudes. Por um lado, temos aqueles que, mesmo muito bem formados noutras áreas, adaptam a Igreja ao seu modo de pensar e estar na vida, afastam-se do culto, dizem-se não praticantes mas católicos. A Igreja torna-se, para eles, qualquer coisa que não faz parte deles, está fora deles. A ela recorrem como se recorre a uma repartição pública em busca de serviços vários, como festas, batizados, casamentos e funerais. Por outro lado, temos aqueles que querem culto, muito culto, é verdade, sobretudo culto e religiosidade popular. Sendo um valor a preservar e a purificar, se lhe falta a formação, pode degenerar em sentimentalismo estéril. E se há muita gente que aposta na formação pessoal, tem consciência de pertença à Igreja, vive integrado e cumpre em caminhada de conversão constante, outros poderá haver, que, embora muito cumpridores, se lhes falta a formação também podem meter os pés pelas mãos: de manhã são capazes de frequentar a igreja e o culto, de tarde, se lhes der na gana, procuram adivinhos, quiromantes, magos, bruxos, necromantes, como se tudo fosse igual a tudo. Se se pergunta a razão disto acontecer, facilmente se distribuem culpas, as causas, porém, são várias e complexas, afirmamo-lo sem querer julgar ninguém. Mas entre essas causas também está a falta de quem faça essa formação de maneira inteligente e atrativa, com método e capacidade de bem expor. Se as pessoas a quem hoje me dirijo, aposentadas ou não, tivessem o gosto desse voluntariado junto dos adultos das suas comunidades, como esse serviço marcaria a diferença! Até porque, se essas iniciativas de formação não surgirem dos leigos, torna-se difícil a sua implementação. E mesmo que, porventura, alguém reconhecesse que não tem formação aprofundada em conteúdos e pedagogia apropriada, tem experiência e traquejo verbal, tem capacidade de preparar os temas, tem a arte de bem os expor e transmitir, tem facilidade de gerar empatia e de aguçar o apetite dos participantes para mais saber. É certo que, sendo indispensável, nem sempre basta ter a capacidade de se preparar e ser bom comunicador. É importante perceber que, quando alguém fala ou ensina em nome de Cristo, é Cristo que fala ou ensina, e é Cristo que é falado ou ensinado. Não é momento para transmitir ideias pessoais, para inventar e ocupar o tempo de qualquer forma, ou para ideologizar os presentes, mas, tal como Cristo o fez, é tempo de os servir com humildade, amor e verdade: “Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós” (Jo 20, 21).
Sabemos como tanta gente animou e continua a animar a criação de Universidades Seniores, e bem, são um valor a fazer com que todos permaneçam em processo de formação permanente, com regularidade e tempos combinados. E por que não formar grupos semelhantes para a formação cristã de adultos? Inventem-se nomes para tais grupos, clubes ou academias que atraiam e não afastem. Muitíssima gente ficaria eternamente grata por essas iniciativas e serviço. Quem, para além da sua azáfama familiar e profissional, tivesse este gesto de bem fazer às suas comunidades e promovesse tais iniciativas, até descansaria nisso, sentir-se-ia bem consigo próprio, entraria naquele processo de igreja em saída a que o Papa Francisco tanto apela, ajudaria à nova evangelização com o seu saber, a sua paciência e dedicação. Há tanta coisa que os leigos podem e devem sugerir e fazer sem a presença de quem preside às comunidades, embora sempre em comunhão com eles. Que as comunidades cristãs, sem qualquer espécie de preconceito, estejam atentas a quem, de dentro delas mesmas, as possa fazer crescer em sabedoria e graça. Que essas pessoas oiçam os apelos, mesmo que silenciosos das comunidades, reconheçam quanto bem podem fazer aos outros e, por tabela, a si próprias, colaborando, sentindo-se mais úteis, pondo a render os seus talentos, conhecimento e saber. Que sintam o acolhimento, o apoio e o estímulo dos responsáveis e de toda a comunidade, distribuindo tarefas, confiando, ganhando confiança uns nos outros. Que ninguém esqueça: “em cada pegada de amor nascerá sempre uma flor de gratidão”. E é sempre um aliciante desafio ajudar a fazer de cada paróquia um verdadeiro jardim do qual todos se orgulhem, dele cuidem e usufruam, na certeza de que até um copo de água dado por amor não ficará sem recompensa (Mt 10, 42). Por isso, “se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis o vosso coração” (Sl94/95). As comunidades cristãs merecem, precisam da vossa colaboração, e “quão formosos são os pés daqueles que anunciam o Evangelho” (Rom 10,15).
Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 25-06-2021.

O nosso livro - comentários

25.06.21 | asal

Estão a ver aqui um comentário ao livro? Mesmo um doente consegue fazer uma apreciação. E os que têm saúde porque não escrevem umas linhas? Podem enviar textos para asal.mail@sapo.pt ou para adiashenriques@gmail.com .AH

Meus amigos:

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Espero que estejam bem.

Gostei muito do livro. Tem um aspeto magnífico.

A capa está perfeita. Ainda li pouco do conteúdo, mas pelo que já li, entendo que está bem estruturado: gostei da separação entre linhas, as letras estão perfeitas, enfim é de muito fácil leitura. Tenho estado adoentado e, por isso não tenho tido muita disposição para ler, até porque tenho um problema com uma vista: fui operado há 1 ano a uma catarata. A operação correu mal e vejo com dificuldade; terei que ser operado outra vez; aguardo marcação pelo oftalmologista.

Quando conseguir ler corretamente farei um comentário ao livro, como ele merece.

Até lá, aqui vai um abraço para vós. Saúde e alegria,

Joaquim Nogueira 

Aniversário

23.06.21 | asal

Manuel Roque Lourenço.jpg

Celebra hoje o seu aniversário o Manuel Roque Lourenço, nascido em 23-06-1950 e a viver hoje em Lisboa. Está reformado das tarefas bancárias e dedica o tempo à família.

PARABÉNS e que seja muito feliz. Nunca mais nos encontramos, caramba!

Contacto: tel. 964 159 924

O Papa Francisco e Dante

22.06.21 | asal

Meu Bom Amigo

 O nosso Ânimus tem estado na vanguarda das ideias, das palavras, das grandes causas e agora de Dante Alighieri, celebrado em toda a Itália. O nosso Cardeal Tolentino. nome de uma cidade italiana, bom augúrio, prepara um livro sobre o poeta de Florença para quem a vida foi madrasta, por ironia do destino, pois tinha todas as qualidades para ser feliz. 
 Hoje, faço uma leve introdução.  No próximo, lá me vou meter com Bonifácio VIII que o levou ao exílio  em 1302, e Dante por vendetta o enfiou no Inferno. Analisarei o canto. Espero ainda falar da vida errada e errante do poeta pelos vários mundos do mundo. Quem quer viajar comigo, na companhia de Beatriz, Virgílio, Estácio e S. Bernardo? E, claro, com Dante. Afianço-vos que nada será como dante(s). Quartel, quartel em Abrantes, mas vem daí uma bruta conversão! Um grande abraço amigo, com o meu Bem-Hajas beirão por me acolheres no  teu Blogue, que voga a todo o vapor! João 
 

O Papa Francisco e Dante Alighieri  ( Florença, 1265-  Ravena,1321)

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  Nos 700 anos da morte de Dante, o Papa Francisco publicou a Carta Apostólica” Condor Lucis Aeterna” para enaltecer a memória do autor da Divina Comédia, como o profeta da esperança e o poeta da misericórdia, sublime testemunho da sede de Infinito, que trespassa o coração do ser humano, qualquer que seja o seu estatuto ou condição.

  Como profeta, soube, com a mestria das suas rimas, sondar o mistério de Deus e do Amor, na multiplicidade das suas manifestações no tempo humano e divino, no lado de e de da existência de cada um. Não o fez, como mero contemplativo ou visionário utópico, mas como homem comprometido, engagé no curso da história e na vida da cidade, atrevendo-se a denunciar a corrupção de certos sectores da Igreja, bem como os males e injustiças, a hipocrisia e a corrupção do poder das elites dominantes, com graves e destruidoras consequências para a paz e a vida dos povos.

  Da Comédia, como poema de paz, dá-nos uma síntese maravilhosa: lúgubre canto de paz perdida para sempre : Inferno; suave canto de paz esperada: Purgatório; hino triunfal de alegria e paz eterna: Paraíso.

  Não foi, porém, o único Papa a exaltar a personalidade e obra do poeta florentino, conhecido por defender, com enorme coragem e lucidez, uma profunda reforma da Igreja e da sociedade, em conformidade com as exigências mais puras do Evangelho, na linha do poverello de Assis.   Refiro-me a São Paulo VI que, em 1965, se dignou comemorar o aniversário do nascimento de Dante, oferecendo uma cruz dourada para o túmulo do poeta, localizado ao lado da igreja de S. Francisco, no centro de Ravena. Já no fim dos trabalhos, ofereceu a cada um dos padres conciliares uma edição da Divina Comédia, como se a obra de Dante, na intemporalidade da sua mensagem, pudesse servir de farol e guia de um projeto ou horizonte de reforma moral, em plena modernidade do século XX.

  Voltando a Francisco e à sua 1ª Encíclica” Lumen Fidei” de 2013: “ Dante, na Divina Comédia, depois de ter confessado diante de S. Pedro a sua fé, descreve-a como uma “ centelha/ que se expande em viva chama/ e, como estrela no céu, em mim cintila. “ Paraíso, canto XXIV, vv. 145-146, na edição de Vasco Graça Moura (1995, ed.bilingue) ou terceto 49, na edição do Círculo de Leitores, (1981) tradução e notas de Armindo Rodrigues.

  Seria agora o momento de preencher o bilhete de identidade de Dante Alighieri: Quem, o quê, onde e quando. Vamos, pois, à história da sua vida, indissociável da  obra literária e ação política, começando por anotar o contexto geral da Itália do séc. XI ao séc. XIV.

  Movimento comunal: as cidades, não muito afastadas da costa marítima, impelidas por uma burguesia incipiente, em tempo oportuno, desenvolvem o comércio, a indústria têxtil, (mais patente em  Florença)  e o sistema bancário. A monetarização das relações públicas, baseada no florim, moeda inventada em 1253, na cidade donde toma o nome, circulando livremente em toda a península, contribui não pouco para a ascensão económica e financeira da comuna do Arno.   Enfim, nestas urbes, voltadas para o mar, a burguesia capitalista floresce e uma nova cultura laica nasce com alguma pujança.

   Assim, com a autonomia que a produção de riqueza garante, apresentam-se, no palco da história, com a força suficiente para sacudir o jugo do feudalismo das duas potências envolventes: o Papado e o Império Romano-Germânico, cujo poder tentacular tentam suster, para salvaguardar a liberdade possível. E aqui é que bate o ponto, ou dito de forma vulgar, a porca torce o rabo. Em cada cidade-estado, em vez de toda a comunidade convergir para um só lado, o bem-estar da “república”, infelizmente tal não aconteceu! As forças vivas, cedendo ao peso da história, em duas fações se dividiram, conforme a sua posição em relação às potências vigentes, que, em bom rigor, nunca abdicaram do seu “ direito” de ingerência nos negócios das comunas. Que mais não fosse para lhes exigir, sob pena de invasão, o tributo ou o empréstimo forçado do manancial de florins, adquiridos com trabalho, método e astúcia, claro!  Por isso, Dante clamava na praça pública:  “Maladetto fiore! Perché vali tanto?”

 Os famigerados partidos que se digladiavam para alcançar o “Poder” dentro da cidade, eram os gibelinos, favoráveis à política do Imperador, e os guelfos, apoiantes do Papa. Do jogo de influências junto de um ou outro, dependia às vezes a vitória de um deles, sempre regada com o sangue ou o desterro dos chefes da fação vencida. Para agravar a situação, um ano depois do nascimento de Dante, os guelfos subdividiram-se em dois grupos rivais, de orientações contrárias: os Negros, paladinos da nobreza, mais próximos do Papa, e os Brancos, de pendor democrático, ciosos da autonomia da república. E chega de contexto, não?

   Dante Alighieri nasceu no seio de uma família da antiga nobreza guelfa, na primavera de 1265. Orfão de mãe, aos cinco anos, o pai e a madrasta cedo perceberam as qualidades excecionais do menino. Havia por ali um magister puerorum que lhe ministrou as primeiras letras, e que, nas palavras de Dante: “ele me ensinou latim que depois me permitiu chegar mais longe.” O rapaz frequentou, com assiduidade, a Escola dos Franciscanos, perto da igreja de Santa Cruz, bem como a Escola dos Dominicanos da Santa Maria Novella, no outro extremo da cidade amuralhada, de 50 mil almas, na altura.

  Em Florença, não havia Universidade. Em contrapartida, abundavam escolas de artes e ofícios, nas oficinas que davam para a rua. Os artesãos, fossem carpinteiros, tecelões ou ourives, eram conhecidos pela sua habilidade e capacidade de organização em corporações e guildas, com representação política no Conselho dos Cem. O comércio, a banca e a marinha eram uma alternativa honrosa para um jovem que quisesse triunfar na vida. E a cultura das amoreiras para o bicho da seda! Compravam  púrpura aos fenícios, tintas nos sítios mais remotos,  e Florença vestia reis e papas com a preciosidade  lustrosa e macia dos seus tecidos.  No Banco, a conta subia, subia… A usura imperava com juros a 25% ou mais! Tudo isto se lê na Comédia, antes de Boccaccio a adjetivar de Divina em 1373, numa ocasião em que a comentava, com fulgor, na Badia Fiorentina dos Beneditinos.

  Pois bem, o nosso Dante detestava trabalhos mecânicos ou manuais. Preferia a Escola dos Frades onde se tornou perito nas Artes Liberais (trivium e quatrivium) gramática, dialética, retórica… astronomia, já que, em Filosofia e Teologia, era um robusto autodidata, valendo-lhe a academia do Mestre Brunetto Latini, enciclopedista que aloja no Inferno (Canto XV) não por ser escritor, mas por pertencer ao grupo dos sodomitas. E, assim, entre tertúlias, salões das casas nobres, saraus de poesia da sua própria lavra, assistência aos debates, nas igrejas, entre pregadores, em dois púlpitos assanhados, passeios na rua em contato fecundo com o povo, artesãos e burgueses, o seu prestígio estendia-se por toda a Toscana e não só. O porte alto, nobre e sério, o perfil aquilino, com a toga pregueada e a emblemática touca de um florentino, a declamação de poemas e novas rimas no dolce stil nuovo, inventado por um poeta de Bolonha, (citado no Purgatório) garantiam o sucesso junto das belle donne.  Que mais lhe faltava?  Casar, sim, com uma donna ricca de uma família de estirpe, João Lopes d.jpgde preferência guelfa. Coube à jovem, muito jovem, Gemma Donati a sorte. O enlace ocorreu em 1295 ou por aí (os historiadores não se entendem) quando Dante completara 30 anos de idade. Porém, (há sempre um porém!) o nosso fidalgo, culto e bem-falante, não tinha emprego remunerado. O que o haveria de sujeitar a ele e à família a não poucas humilhações!  (continua)

Valete, fratres. João Lopes 

As lágrimas de Pedro

22.06.21 | asal

Frei Bento Domingues O.P. in "Público" 

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1.
Há gestos, atitudes, acontecimentos que abrem um futuro de esperança, sem enterrar os crimes do passado e a responsabilidade actual de toda a Igreja. Não me vou referir às iniciativas e decisões corajosas e radicais do Papa Francisco, sobre a protecção de menores e pessoas vulneráveis na Igreja Católica, nem às resistências que têm encontrado na sua aplicação. Já existe muita
informação disponível acerca dessa questão vergonhosa. 

Vou limitar-me a três cartas exemplares: a justificação do pedido de renúncia do cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique e Freising; o Papa, em vez de aceitar a renúncia, agradece a atitude do cardeal, confirma-o na sua missão e envolve toda a Igreja no pedido da graça da vergonha; o cardeal não resistiu à carta do Papa, que o comoveu. 

Não vale a pena comentar essas cartas sem as conhecer. Como não podem ser apresentadas na íntegra, o melhor é dar a palavra aos intervenientes, no que julgo que têm de essencial. Todas elas ajudam, não apenas a uma nova visão da Igreja, mas ao seu exercício em actos, em tomadas de posição, em compromissos efectivos. 

Comecemos pela carta do cardeal: “Na minha opinião, para assumir a responsabilidade, não basta reagir apenas quando os erros e omissões podem ser comprovados a partir dos autos dos processos. Em vez disso, como bispos, temos de deixar claro que nós também representamos a instituição da Igreja como um todo.
“Também não é aceitável relegar simplesmente essas denúncias ao passado e às autoridades eclesiásticas da época, “enterrando-as” dessa forma. Eu sinto a minha culpa e responsabilidade pessoais também pelo silêncio, pelas omissões e pelo foco excessivo na reputação da Igreja como
instituição. “Foi somente a partir de 2002, e cada vez mais a partir de 2010, que as vítimas de abuso
sexual foram trazidas para o centro da questão de forma mais consistente, mas essa mudança de perspectiva ainda não foi completada. Negligenciar e desconsiderar as vítimas foram certamente a nossa maior falta do passado.
“Fizemos o mea culpa perante tantos erros históricos no passado, embora não tenhamos participado pessoalmente dessas situações. É essa atitude que, hoje, nos é pedida. Pede-se uma reforma que, neste caso, não consiste em palavras, mas em atitudes que tenham a coragem de se colocarem em crise e de assumir a realidade seja qual for a consequência. Qualquer reforma começa por nós mesmos. A reforma da Igreja foi feita por homens e mulheres que não tiveram medo de entrar em crise e se deixar reformar pelo Senhor. É o único caminho, caso contrário, não seremos mais do que ‘ideólogos reformistas’ que não colocam a própria carne em jogo.
“As pesquisas e o poder das instituições não nos salvarão. O prestígio da nossa Igreja, que tende a esconder os seus pecados, não nos salvará; nem o poder do dinheiro nem a opinião dos media (muitas vezes dependemos muito deles). Salvar-nos-á abrir a porta para o Único que o pode fazer e
confessar a nossa nudez: ‘Eu pequei’, ‘nós pecamos’ ... e chorar, e gaguejar quanto pudermos, ‘afasta-te de mim que Eu sou um pecador’. É esta a herança que o primeiro Papa deixou aos Papas e aos bispos da Igreja. Então, sentiremos aquela vergonha curadora que abre as portas para a compaixão e a ternura do Senhor que está sempre perto de nós. Como Igreja, devemos pedir a graça da vergonha e que o Senhor nos salve de sermos a desavergonhada prostituta de Ezequiel 16.
“É esta é a minha resposta, querido irmão. Continua como propões, mas enquanto arcebispo de Munique e Freising. Se te sentires tentado a pensar que, ao confirmar a tua missão e não aceitar a tua renúncia, este Bispo de Roma (teu irmão que te ama) não te entende, pensa no que Pedro sentiu
diante do Senhor quando, à sua maneira, lhe apresentou a resignação: afasta-te de mim, sou um pecador, e ouve a resposta: apascenta as minhas ovelhas.
3. A terceira não é uma carta, é uma declaração: “A carta do Papa Francisco surpreendeu-me. Não esperava que ele reagisse tão rapidamente e também não esperava a sua decisão de me pedir para
continuar como arcebispo de Munique e Freising.
“Fico comovido com os detalhes e o tom muito fraterno da sua carta e sinto como ele compreendeu e acolheu as minhas preocupações. Em obediência, aceito a sua decisão, como lhe havia prometido.”
O que há de mais comovente, em todo este cenário, é a evocação das lágrimas do primeiro Papa, as lágrimas de Pedro depois da sua traição, referidas em todos os Evangelhos [2]. Não são precisos comentários.
[1]. MHG (investigação interdisciplinar sobre abuso sexual de menores por padres, diáconos e membros masculinos de ordens religiosas católicas na Alemanha, no Outono de 2018
[2]. Mt 26, 69ss; Mc 14, 66-72; Lc 22, 55-62; Jo 18, 17.25-27 / Jo 21, 15-19

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Há gestos, atitudes, acontecimentos que abrem um futuro de esperança, sem enterrar os crimes do passado e a responsabilidade actual de toda a Igreja

“Depois do estudo MHG [1], sobre o abuso sexual de menores, encomendado pela Conferência dos Bispos da Alemanha, eu afirmei na catedral de Munique que nós havíamos fracassado. Mas quem é esse “nós”? Eu também lhe pertenço. E significa que eu também tenho de tirar consequências pessoais, o que está a ficar cada vez mais claro para mim. “Acredito que uma forma para expressar essa minha disposição de assumir a responsabilidade é a minha renúncia. Desta maneira, talvez possa enviar um sinal pessoal para um novo início, para um novo despertar da Igreja, não só na Alemanha. Quero mostrar que o foco não é o ministério, mas a missão do Evangelho. Isso também faz parte da pastoral. Portanto, peço-lhe com veemência que aceite a minha renúncia.” Não era uma renúncia à colaboração com o Papa, como, aliás, manifesta na conclusão: “Continuo feliz por ser padre e bispo desta Igreja e continuarei a envolver-me nas questões pastorais, sempre que o senhor considerar útil e bom.” 2. O Papa Francisco, em vez de aceitar a renúncia, agradece a coragem do seu testemunho e confirma-o como arcebispo de Munique e Freising. O melhor é dar-lhe a palavra: “Diz-me que está a passar por um momento de crise. Não é apenas o seu caso, mas também a Igreja na Alemanha. “É toda a Igreja que está em crise por causa do problema dos abusos. Hoje, a Igreja não pode dar um passo em frente sem assumir esta crise. A política de avestruzes não leva a nada. A crise deve ser assumida a partir da nossa fé pascal. Sociologismos, psicologismos são inúteis. Assumir a crise, pessoal e comunitariamente, é o único caminho fecundo, porque uma crise não surge sozinha, mas na comunidade. Devemos ter presente que, de uma crise, saímos melhor ou pior, mas nunca de forma igual. “Nem todos querem aceitar essa realidade, mas é o único caminho, porque tomar ‘resoluções’ de mudança de vida sem ‘colocar a carne na grelha’ não leva a lado nenhum. As realidades pessoais, sociais e históricas são concretas e não devem ser assumidas com ideias; porque as ideias são discutidas (e é bom que o sejam), mas a realidade deve ser sempre assumida e discernida. É verdade que as situações históricas devem ser interpretadas com a hermenêutica da época em que aconteceram, mas isso não nos exime de as considerar e assumir como história do ‘pecado que nos assedia’. Portanto, na minha opinião, cada bispo da Igreja deve assumir e perguntar: o que devo fazer diante desta catástrofe?

Aniversário

22.06.21 | asal

Mais um jovem a fazer anos hoje... Bruno Cordeiro.jpgTrata-se do Bruno Cordeiro, de 40 anos, casado, a viver em Coimbra e a trabalhar e estudar arduamente no Doutoramento em Gestão de Empresas, ele que trabalha no Instituto Miguel Torga. 

Nascido em 22 de Junho de 1981, aqui lhe deixamos os PARABÉNS do grupo e desejamos muito sucesso na realização dos seus propósitos, o que inclui boa saúde, muita alegria e amizade.

Contacto: tel. 965 879 664

Aniversários

21.06.21 | asal

São dois os aniversariantes de hoje.

Está hoje de festa o meu colega Carlos Diogo, um Sr. Professor a viver em Mação e que não falta aos nossos Encontros. Aqui está ele com a esposa a saborear o rico almoço do encontro da Sertã.Carlos Diogo.jpg

Fazes agora 81 anos, sempre a alcançar-me na meta, mas dentro de pouco tempo eu volto a ultrapassar-te.

Acho que posso dizer que tens sido um sortudo, com saúde e muita felicidade. E cá estamos nós a dar-te os PARABÉNS pela vida e a desejar-te ainda muita saúde e alegria por longos anos. Sê feliz...

Contacto: tel. 965357497

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Também hoje faz anos o Tiago Xavier, um jovem de 36 anos, de Castelo Branco e a viver em Ponta Delgada, Açores.

Engenheiro mecânico de profissão, aqui está esta cara linda, que pertence com gosto ao nosso grupo.

Meu caro, PARABÉNS neste teu aniversário. Deixamos um abraço e votos de muita felicidade e saúde. Um dia temos de te encontrar...

Contacto: tel. 926 048 181

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