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Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

Palavra do Sr. Bispo

26.02.21 | asal
UM GENERAL FURIBUNDO RENDIDO À EVIDÊNCIA

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Muito antes do tempo dos afonsinhos, há cerca de três mil anos mais segundo menos segundo, Israel sofreu as passas do Algarve com a Síria, ao tempo uma grande potência. Neste tempo da Quaresma em que cada um é convidado a guerrear-se contra as adversas potências interiores, é bom reconhecer a capacidade de resistência e deitar mão das armas que conduzam à vitória. Porque o testemunho, negativo ou positivo, de outros nos pode ajudar nessa tarefa, hoje apresento-lhes um belo exemplar.
Nos tempos referidos, o exército da Assíria era comandado por Naamã, um grande estratega, muito aplaudido e confiante nas suas próprias forças. Um dia, porém, a doença bateu-lhe à porta, ficou fraco e leproso. A lepra, uma das doenças mais antigas da humanidade, era uma doença terrível, não só pelos danos ao corpo, mas também porque era atribuída a libertinagens, pecados, castigos divinos, e sei lá mais o quê!... Sem cura e contagiosa, ela reclamava o afastamento da comunidade, osso duro de roer e ruminar , mas era assim, um grilhão difícil de suportar. E que fazer agora com o ilustre general? O que não fazer? Como sair desta? Eis a questão!... Sim, essa era a questão de Naamã e dos seus. E qual será a nossa questão nestas pelejas da Quaresma?
Quando as tropas da Assíria atacaram Israel, levaram, prisioneira, uma jovenzinha, que ficou ao serviço da esposa de Naamã. Sem ressentimentos por ter sido deportada - apanágio dos simples e humildes! -, esta jovem compadeceu-se do doente e falou à sua patroa, que, em Israel, havia um senhor, o profeta Eliseu, que seria capaz de o curar. Naamã, talvez incrédulo, .contou ao rei da Assíria o que esta menina havia dito à sua esposa. O rei animou Naamã, e, como já nesse tempo as havia, até lhe meteu uma cunha: “Vá. Eu lhe darei uma carta que você entregará ao rei de Israel”. Animado pela sugestão da jovem, feliz pelo empurrão do rei, confiante na possibilidade de recuperar a saúde, o general lá partiu, ele e a sua comitiva. Ao chegar ao destino, logo entrega a carta ao rei de Israel, que dizia: “Quando receber esta carta, verá que lhe mando o meu servo Naamã para que o cure da lepra”. Ora, não se reconhecendo com capacidade de curar fosse quem fosse, o rei de Israel ficou com os azeites, “rasgou as próprias vestes”, diz o texto. Como gato escaldado de água fria tem medo, pensou que aquilo era uma engenhosa cilada do rei da Assíria para o tramar. E foi o cabo dos trabalhos!
Entretanto, Eliseu, o homem de Deus, soube que o seu rei, o rei de Israel, estava em apuros, não sabia o que fazer perante aquela comitiva reforçada pela cunha do rei da Assíria. Então, Eliseu comunicou ao rei de Israel que mandasse o general assírio ter com ele. Ó pernas para que vos quero!... Dito e feito, o rei, em jeito de quem lhe saiu a sorte grande e mais qualquer coisa, logo despachou Naamã e toda a comitiva ao encontro de Eliseu. Eliseu, porém, se queria dizer ao rei de Israel que na sua própria terra existia um profeta, também quis usar de pedagogia para com o importante general assírio. Encheu-se de nove horas, empoleirou-se, fez-se caro, não apareceu para recebeu pessoalmente o famoso militar. E se não o mandou aos ninhos, mandou alguém dizer-lhe que fosse tomar banho, que fosse mergulhar-se no rio e ficaria curado: “Vai, lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne será restaurada, ficarás limpo” (2 Reis 5,10). Naamã, um general de gabarito, de tantos pergaminhos e feitos heroicos, sentiu-se humilhado, não gostou, ficou aborrecido e bravo. Esperava um acolhimento pessoal e delicado da parte do profeta e, com certeza, pensaria que ele fizesse para ali umas mezinhas, o curasse e mandasse embora são e salvo, tal como hoje, infelizmente, até entre cristãos, ainda se procura no ler ou deitar das cartas, no bruxedo, magos, adivinhos e quejandos a solução para os problemas da vida. Não sendo assim, e tendo-o ele mandado mergulhar no rio Jordão, Naamã bateu o pé e prendeu o burrinho, qual criança caprichosa. Como se não bastasse, casquinou para quem quis ouvir que, na sua terra, havia rios muito mais importantes que aquele e com águas muito mais cristalinas que essas. Apressado e a rabujar, pôs os pés a caminho para se ir embora e mandar o profeta à fava. Como afirmava Clemente XIV, “nada mais pequeno do que um grande dominado pelo orgulho”, o que até dá espetáculo digno de se admirar, pela negativa! Podemos imaginar a fita deste senhor, que, cheio de importâncias balofas, superioridades presumidas e preconceitos injustos, até no pedir se manifestava pretensioso e a querer mandar, seguro que estava no seu amor próprio de quem se julga sempre com razão!
Os membros da sua comitiva, embora apreciando a tensão do momento, estavam mais racionais e mais frescos para resistir ao embate. Encaixaram o recado de Eliseu e deitaram água na fervura de Naamã. Porque não era coisa difícil, convenceram Naamã a que, mesmo contrariado, descesse ao rio e se banhasse. Naamã, talvez com vontade bélica de armar ali mais uma guerra e enfiar o profeta e os presentes na barca de Caronte, cedeu à força de persuasão dos seus servos. Mesmo contrariado, lá foi mergulhar sete vezes no Jordão.
Se o profeta foi “malandro” para o fazer descer à terra, aquilo que para Naamã não fazia sentido e seria uma humilhação, foi o que realmente o curou. Só quando saiu dos seus búnqueres e castelos de defesa, só quando desceu das suas importâncias e orgulho pátrio, só quando resolveu deixar-se de preconceitos e aceitar o que lhe era proposto, é que foi curado. Vendo-se recauchutado e novo, ficou sem jeito por ter reagido como reagiu e desfaz-se em salamaleques. Fez um ato de fé no Deus único de Israel, reconheceu Eliseu como aquele que mostra a presença de Deus no meio do povo e quis dar-lhe um valioso presente, com o qual vinha prevenido. Eliseu, mesmo perante a insistência do general, não aceitou. O general promete deixar a idolatria e, doravante, só prestar culto ao Deus de Israel, o único que pode curar e a quem se sentia profundamente grato pelo facto de o ter tornado um homem verdadeiramente novo. E parte, feliz e saudável, reiterando fidelidade ao Senhor Deus de Israel e, agora humildemente, pedindo terra, terra dali, terra que carregasse duas mulas, para, lá, na Assíria, sobre essa terra, levantar um altar ao Deus único.
Deus faz-se encontrado através duma lógica muito diferente da nossa lógica. Ele serve-se das coisas mais díspares e insignificantes para nos dizer que está presente e atento. Quem crê em Deus e acredita que Ele pode restaurar o centro e as periferias da sua vida, não pode ter a pretensão de lhe querer dar ordens, de lhe querer dizer como é que Ele deve fazer, apoiado em egocentrismos que destroem. Nem deve encaprichar só porque Ele não age como se gostaria que agisse. Essa atitude seria sinal de que não estamos dispostos a deixar as nossas razões e importâncias, as nossas rotinas e seguranças, sendo julgadas, por nós e só por nós, como verdadeiro caminho de fidelidade e salvação. Mas será que serão se não estamos dispostos a fazer o que Ele pede, tal como aconteceu com o referido general? Este queria impor-lhe como é que Ele haveria de fazer. Também pode acontecer que permaneçamos ensonados ou fossilizados nessas rotinas egocêntricas, vivendo instalados na idolatria e na indiferença, julgando-nos não só bons, mas os primeiros entre os bons, sentindo-nos até com razões para exigir de Deus o bom e o melhor, e da forma que nós entendemos. Se assim for, não passaremos de cristãos de meia-tigela. Mesmo que difícil e em revolta, o general acabou por fazer caminho e ficar curado, no corpo e no espírito, não como resultado de um ritual mágico nas águas do Jordão, mas como fruto da ação salvífica de Deus que atuou através da palavra do profeta. É interessante reparar que foi aquela jovenzinha, escrava no estrangeiro, que iniciou o processo. Ultrapassou fronteiras, apontou o Deus único capaz de curar e dar a vida. Também foram os humildes servos do general que o ajudaram a seguir a palavra do profeta. Se estamos desafiados à humildade e à conversão, reconheçamos também quanto bem podemos fazer anunciando Aquele que cura e dá a Vida.
A Quaresma não é só para os outros, também é para nós!
Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 26-02-2021.

Das nossas memórias

25.02.21 | asal

Caro amigo António Henriques,

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Hoje envio-te uma das memórias dos nossos Encontros anuais da Buraca.
Refere-se ao ano de 1998, em que o José Dias da Costa, brilhante professor, escritor e músico - era ele quem nessa altura se encarregava do acompanhamento a órgão dos cânticos da Eucaristia, - escreveu um poema e que, a exemplo de outras intervenções em anos anteriores, foi declamado na sessão que se seguia ao almoço.
À medida que vou mexendo em papéis, vou descobrindo aqui e além pedaços daquilo que nos tem unido ao longo da nossa vivência.
Tempos antes da sua morte, estive com o Dias da Costa num café que ele frequentava em Massamá - eu convidava-o para vir à minha paróquia tocar o órgão - e rara era a vez em que ele não me deliciava com a leitura em prosa ou em verso do que havia produzido, entretanto.
Lembro-me de um diálogo entre Nossa Senhora e o Menino Jesus na praia.
Era um fenómeno aquela imaginação. Não sei se acabou de escrever o livro que incluía essa narração.
Um abraço.
M. Pires Antunes 

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Vacinação

25.02.21 | asal

O Seminário de Alcains no canal Ecclesia: lugar de serviço à comunidade como espaço de vacinação contra o Vírus.Alc2.jpg

 Acabo de ver na Ecclesia o nosso querido Seminário de Alcains que a nossa Diocese pôs à disposição da sociedade, oferecendo um espaço devidamente preparado para o efeito. Ouvi a explicação do seu Diretor, o P. António Castanheira e os testemunhos do P. Miguel Coelho e P. Martinho. Todos se saíram muito bem, quer do ponto de vista da linguagem quer da imagem. As nossas felicitações!

  Vi as pessoas entrando pela porta principal da parte primitiva, renovada com uma elegante pérgola, e a sala de “enfermaria” onde a enfermeira Helena Beirão administrou a vacina às pessoas que iam entrando para uma sala bem aconchegada. Vi ainda a Capela com os seus ricos painéis de azulejos.

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A fachada com o pedestal de S. José foi-nos dada em grande plano. Lá está a escadaria solarenga com o seu ar beirão.

 Pode o seminário não ter seminaristas, mas a sua existência justifica-se plenamente, como casa de sacerdotes que exercem o serviço pastoral pelas aldeias vizinhas e centro de apoio às iniciativas diocesanas e sociais. É que, muito contrariado, tenho ouvido vozes que perguntam:   Para que serve um seminário sem seminaristas? Ora, aqui se prova, com esta e outras iniciativas, a necessidade da sua existência e as muitas funções pastorais, culturais e até sanitárias que, repito, o justificam plenamente, como instituição da Igreja ao serviço de todos. Nada que não estivesse nos planos de Deus quando inspirou o casal Pereira Monteiro a investir a sua fortuna naquela linda e harmoniosa construção. O nosso Florentino está a finalizar a sua História, uma odisseia de amor e generosidade, como ele gosta de dizer.Alcb.jpg

Amigos que ali passámos os verdes e conturbados anos da nossa adolescência, a idade das crises e do amadurecimento, como as cerejeiras em flor, vamos todos, mas todos, contribuir, nem que seja só com um eurozinho, para a publicação do nosso Livro. Mas, sobretudo, acompanhemos os sacerdotes do Seminário de S. José com as nossas orações. Em família, se possível.   E, associemo-nos às intenções do Senhor Dom Antonino para esta quaresma e que a Páscoa seja, entretanto, um grito de vitória sobre o Mal. O vosso amigo do coração,

João Lopes

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Sobre a vida

25.02.21 | asal

Sobre o poeta Joan Margarit, falecido há poucos dias em Barcelona(16/02), recorto de "7Margens" um pequeno excerto, que me pareceu muito significativo. Dá para pensar! AH

 

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Numa entrevista concedida ao diário ABC [2], o poeta referiu que há dois tipos de intempéries: a intempérie física, que não é particularmente ameaçadora no mundo ocidental porque a técnica a permite enfrentar, e a intempérie moral. “O que se passa se me abandona a pessoa que amo, se morre alguém querido, se fracassei em algo?”, pergunta Joan Margarit. “A ciência não o resolve, não existe um botão em que se carregue”. A resposta insuficientemente útil impõe outra interrogação: “Que ferramentas tenho para lutar contra a intempérie moral?” Joan Margarit indica-as: “A poesia, a música, a pintura, a filosofia e a religião para alguns. Apenas quatro ou cinco coisas”. E todas elas, acrescenta, têm “uma característica terrível” em comum. É que é necessário tê-las conhecido para que possam ser úteis. É por isso que considera ser imprescindível dar cultura às pessoas. Não entretenimento, mas cultura. A cultura é uma arma contra a intempérie moral. “Para isso serve a poesia. Não é um adorno”.

Joan Margarit, que também era arquitecto (integrou a equipa encarregada de concluir a construção da Sagrada Família, em Barcelona) e professor catedrático jubilado de Cálculo de Estruturas da Escola Superior de Arquitectura de Barcelona, manifesta o seu apreço pelos poemas que contribuem para o fazer melhor pessoa, que o ajudam na procura de um maior equilíbrio interior, que servem para o consolar ou que concorrem para o deixar mais próximo da felicidade, seja o que for que signifique ser feliz.

Misteriosamente feliz é, aliás, o título de um dos seus livros, publicado em Portugal em Novembro passado conjuntamente pela Flâneur e pela Língua Morta [3]. É uma obra excelente. Particularmente memorável é “Poesia”:

“Como para Sísifo, / a vida para mim é esta rocha. / Carrego-a e conduzo-a até ao alto. / Quando cai volto a buscá-la / e, tomando-a entre os braços, / levanto-a outra vez. / É uma forma de esperança. / Penso que teria sido mais triste / se não tivesse podido arrastar uma pedra / sem outro motivo que não fosse o amor. / Levá-la por amor até ao alto.”

As redes sociais e a degradação do espaço público

23.02.21 | asal

Chamo para aqui o texto do José Centeio publicado no 7Margens, pela acutilância com que ele aborda as várias faces das redes sociais (o bom e útil, o perigoso para a democracia e para a liberdade de expressão quando se pensa no controle das mesmas, etc...). O mundo está cada vez mais complicado... AH

In "7Margens" - José Centeio | 13 Fev 21

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Os gigantes da tecnologia, donos das plataformas das redes sociais, têm sido alvo de várias e justas críticas, seja pela fuga aos impostos nos países onde geram valor, seja por comportamentos desviantes face aos normativos e princípios que fundamentam as sociedades democráticas. O facto é que as tecnologias e as comunicações evoluíram de forma muito mais rápida do que a capacidade de adaptação das sociedades à nova realidade. Daí a dificuldade em encontrar normativos jurídicos que enquadrem essas atividades, seja do ponto de vista fiscal e financeiro, seja do controlo do poder que detêm ou ainda no que toca ao controlo dos normativos internos próprios de cada empresa.

É hoje uma evidência que os próprios políticos elegeram as redes sociais como espaço público privilegiado para divulgação da sua mensagem, mas também de comunicação da própria governação ou de quem lhe faz oposição. É uma comunicação direta, sem filtros e não sujeita a contraditório, o que possibilita uma divulgação vertiginosa de meias-verdades, verdades truncadas ou até mentiras (fake news) criando, simultaneamente, uma realidade virtual alternativa.

Apesar de virtual, essa realidade acaba por competir com a realidade quotidiana, tornando-a minoritária ou própria das minorias (elites) mais informadas. A procura da verdade e o questionamento passam a ser secundarizados, cedendo o lugar a uma verdade forjada na repetição da mentira. A verdade é quase sempre menos atraente do que a mentira feita verdade à medida de quem a consome. Esta assenta quase sempre que nem uma luva!

Vivemos em sociedades em que a degradação do espaço público tende a acelerar a corrosão da democracia. Não deixa, infelizmente, de ser curioso que o que se passa nas redes sociais marque, por vezes, a agenda dos próprios media tradicionais. Aliás, são cada vez mais frequentes os programas, nomeadamente televisivos, que recorrem à participação através das redes sociais valorando simples “bitaites” como se de comentários sérios e informados se tratasse, muitas vezes sem verdadeiros critérios de filtragem. Assim, estes programas, sem o perceberem, acabam por promover o lixo que conspurca o espaço público e deturpa a procura da verdade.

Pese embora o muito de bom e útil que podemos encontrar nas redes sociais, é também através dessas redes que se convocam manifestações de movimentos ilegais (o “movimento zero”), que se induzem crimes (decapitação do professor Samuel Paty, em outubro de 2020, nos arredores de Paris), que se planeiam assaltos a instituições democráticas (invasão do Capitólio no início de 2021) e onde também se cultiva o ódio, a intolerância, o insulto gratuito, a falta de respeito pela opinião do outro, as tramas das teorias conspirativas e a imbecilidade como argumento.

Alguns países na Europa (França, em maio 2020, e Alemanha, em janeiro 2018), tentaram, apesar de grandes controvérsias, abordagens legislativas no sentido de um maior controlo sobre os conteúdos das redes sociais. A própria União Europeia, com o projeto de regulação “Digital Services Act” (DAS, apresentado em dezembro de 2020) tenta focar-se na vigilância, em tempo real, dos meios utilizados pelas plataformas digitais, além de introduzir um código de conduta ao qual as plataformas podem voluntariamente aderir.

O DAS propõe ainda uma maior transparência e uma colaboração mais estreita entre as plataformas e as autoridades de cada país que permita uma maior vigilância dos conteúdos ilícitos e a obrigatoriedade de comunicar às autoridades informações sobre utilizadores que possam causar problemas, seja lá o que isso signifique. Por outro lado, as plataformas vêem-se obrigadas a informar os utilizadores sobre as razões da sua decisão e aqueles podem contestar a mesma e até recorrer a uma espécie de tribunal que se pronunciará e terá a palavra final.

O recente encerramento das contas de Donald Trump – a título definitivo no Twitter e temporário no Facebook e You Tube – veio relançar o debate e conferir-lhe maior urgência e pertinência. Sublinhe-se que a situação é diferente na Europa e nos Estados Unidos. Enquanto na Europa existe uma responsabilidade inerente às plataformas, que as obriga a um maior controlo sobre os conteúdos, nos Estados Unidos aquelas desenvolveram-se num regime de total irresponsabilidade e num quadro jurídico (Communications Decency Act, votado em 1996) em que gozam de uma imunidade absoluta. Não podem ser responsabilizadas pelos conteúdos ilegais ou difamatórios, mas podem vedar o acesso a determinados conteúdos sem que daí decorra qualquer responsabilidade. Isto dá-lhes um enorme poder discricionário.

Uma das questões que tem surgido é se uma entidade privada tem o direito de silenciar o Presidente dos Estados Unidos (ou outro)  quando este apela à violência ou ao ódio. O foco não está na exigência do encerramento das contas, mas de quem tomou a decisão. Em sentido mais lato, será sensato deixar nas mãos de empresas privadas a decisão do que é ou não contrário aos princípios democráticos e aos valores próprios de sociedades onde a humanidade é um pilar desses mesmos valores? Podem as plataformas arrogar-se o direito de controlarem o espaço público?

Estas são questões para as quais há que encontrar respostas sem atropelar o que defendemos: a democracia, a tolerância e a liberdade de expressão. Políticos há, como Angela Merkel entre outros, que defendem ter as plataformas uma grande responsabilidade e que devem agir perante conteúdos que apelam ao ódio ou de pendor racista, mas que caberá sempre ao legislador definir o quadro sob o qual a comunicação nas redes terá lugar.

Será que em nome da democracia, do direito à liberdade de expressão ou da tolerância, podemos aceitar valores e ideias (pena de morte, racismo, castração química, ódio, apelo à violência) contrárias aos valores que sustentam as nossas sociedades e sejam difundidos impunemente? Não será essa uma forma de silêncio e conluio, que nos torna cúmplices e coloca em risco o futuro coletivo que, estou certo, todos desejamos?

As sociedades evoluíram na sua relação com a humanidade tendo em conta o contexto histórico de cada época. O Direito, nomeadamente o Direito Penal, acompanhou essa evolução incorporando nos seus códigos crimes que o não eram em épocas anteriores. Não será porventura este um tempo de refletirmos sobre o que alcançamos e o que pretendemos realmente para o futuro enquanto coletivo?

Há certamente caminhos diversos para melhorarmos esta nossa relação com as tecnologias da comunicação, mas penso ser urgente e fundamental que nos currículos escolares se introduzam estas matérias e se aprenda a interpretá-las e a criticá-las tal como se faz com o texto escrito.

Sabemos, e do facto alguns terão consciência, que a questão da regulamentação/controlo das redes sociais não é pacífica e livre de controvérsia. Mas assistir de braços cruzados, à espera de que a tempestade passe, faz de nós cúmplices silenciosos da degradação do espaço público e da corrosão da democracia e das suas instituições. Até ao dia em que poderá ser demasiado tarde.

 

José Centeio é gestor de organizações sociais, membro do Cesis (Centro de Estudos para a Intervenção Social) e da equipa editorial do 7MARGENS

Aniversário

21.02.21 | asal

PARABÉNS, JOAQUIM! 

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Hoje, lembramos o Joaquim Silvério Mateus, que, nos seus 72 anos, cada vez mais começa a querer descansar e olhar para os amigos. E andamos com saudade de o ver, sinceramente. Esperamos que seja em Alcains ainda em data a determinar... Mas o livro sobre o Seminário não vai faltar. Agora estamos a angariar dinheiro para a sua impressão! E ainda só um Joaquim contribuiu...

É pelo blogue ANIMUS SEMPER que estamos a lembrar-te e felicitar-te. 

MUITOS PARABÉNS, amigo! Que sejas muito feliz, com saúde e amigos.

Contacto: tel. 968 928 351

Palavra do Sr. Bispo

19.02.21 | asal
O NOSSO PARLAMENTO E OS APELOS DA QUARESMA

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Vivemos em democracia, é certo e bonito. O debate é sempre possível e salutar, não existe a lei da rolha, pelo menos em teoria. No entanto, o uso deste dom maravilhoso que é a liberdade de pensar e dizer, é muito assaltado pela apetência de ultrapassar linhas vermelhas que interpelam pela negativa.
Acho estranho que, no século XXI, o Estado, em nome do progresso civilizacional, ainda se sinta no direito e dever de fomentar a cultura da morte em vez de garantir o necessário apoio para que cada pessoa se sinta estimada e cuidada até à morte e morte natural. Inclusive com os cuidados paliativos a que tem direito, mas que a maior parte do povo nem sabe que existem, nem o que são, nem para que servem, nem lhe é explicado tanto quanto baste, não convém!
É estranho que, para satisfazer desejos pessoais, por mais respeitáveis que eles sejam, o Estado, não satisfeito com os filhos órfãos de pais vivos, queira ser causador do nascimento de filhos órfãos por inseminação ‘post mortem’, desvalorizando todas as consequências e o direito de todas as crianças a ter um pai e uma mãe, em comunidade familiar de vida e amor. Tendo em atenção o caso que provocou este debate, alguém insinua que uma criança assim concebida, é mais olhada como instrumento e remédio para satisfazer o sofrimento saudosista de alguém, mesmo que compreensível, do que considerada como um valor em si mesma. O dever do Estado é cuidar do bem comum, não de casos pontuais fruto de meros sentimentos de alguém.
Perante tão estranhas questões da nossa polis, constatam-se vários posicionamentos. Uns, os filósofos de serviço, esmeram-se em busca de altíssimas razões, as suas, para provar a justeza e a oportunidade destes temas. Puxam da sua pieguice e dó em favor da dignidade e da humanidade de quem sofre, iludindo os menos precavidos. Outros, fidelizados até ao tutano aos seus mentores ou chefes, mesmo discordando na matéria, engrunham-se na hora de bater o pé, preferindo onerar a sua própria consciência e tornarem-se cúmplices do que vier a acontecer, a morte dos mais frágeis, o matar através do Serviço Nacional de Saúde! Outros, porém, menos pensantes e sem qualquer opinião, voláteis, preferem dar ares de progressista, encostando-se, amorfos, a fazer monte e número, na defesa de tais causas. Outros, ainda, da esquerda à direita, têm os pés bem assentes no chão, buscam o melhor, sabem ouvir quem mais sabe e têm a noção das consequências de tais iniciativas, mas nada conseguem fazer valer perante o desertar da razoabilidade dos seus pares. A vergonha assalta-os, o País parece que manifesta saudades pela pena de morte! Sendo a política uma arte nobre que deve ser exercida com nobreza, é estranho que, os representantes do povo, uma vez eleitos, se tenham logo como omniscientes e omnipotentes, desprezando até a ciência e os mais elementares princípios da Ética e do próprio bom senso ou do senso comum, em jeito de l’état cést moi.
Enquanto que a imprensa, nacional e estrangeira, refere que estamos na cauda da Europa, e do mundo!, em mortes covid, por exemplo, não se desiste de estar na linha da frente em causas fraturantes. É a forma encontrada pelo Estado para se esquecer das verdadeiras mazelas sociais e se devotar à promoção da cultura da morte e dar nas vistas, pelas piores razões. As filas da fome em busca da marmita não incomodam tais arautos, apesar de ser garantida por quem lhes merece o maior repúdio: a Caridade, o Amor! Negando o mais fundamental dos princípios humanos, isto é, o direito à vida e a garantia da sua inviolabilidade, lutam pela eutanásia, isto é, pela morte assistida, ou melhor ainda, defendem o homicídio e o suicídio, aquilo a que, para confundirem o povo e gerarem simpatia, eufemisticamente apelidam de morte medicamente assistida, como se de um ato médico se tratasse. Enchem-se de fogo, e zelo! De forma beata, fingindo muita compaixão por quem sofre, falam ao sentimento e compaixão de outros – não à razão! -, para arrebanhar prosélitos mesmo que estes nem saibam bem do que é que se trata. O que interessa é o ruído, o monte, o número. Se escutam alguém, não ouvem, nem sequer prestam atenção aos pareceres negativos dos especialistas em Ética, do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida, assim como de professores universitários, juristas, Associação de médicos, especialistas em bioética ou de entidades como a Associação Portuguesa de Fertilidade ou o Conselho Superior do Ministério Público, e de tantas outras, e de tantos outros. Inclusive, tapam os ouvidos e os olhos aos abusos e aos interesses imparáveis que já acontecem noutros países onde se abriu essa porta, uma porta a desembocar numa rampa cada vez mais larga e inclinada a convidar a tais abusos e interesses, interesses até de famílias e herdeiros.
Avalia-se o progresso civilizacional, não construído sobre o melhor que se recebe do passado e já confirmado pela História e pela convivência sadia dos povos, mas tentando inovar, sofregamente, se possível de forma rápida e em tempos de distração do povo, sobre matérias como se da descoberta da pólvora se tratasse e fossem até passíveis de prémio Nobel. Quantos erros por se fazer vista grossa às lições da História! Por razões semelhantes, até Jesus Cristo chorou sobre o povo e a cidade de Jerusalém, pois os seus chefes agiam como donos e levianamente, conduzindo a todos, sobretudo o povo, para a tragédia sem igual!
Entre nós, ao quererem levar a água ao seu moinho, quem contrariar tais pretensões, é logo rotulado de direita, de conservador, de tradicionalista, ou, então, se for alguém da Igreja, autoridade ou cristão assumido, é tido como retrogrado e obscurantista, a quererem fazer crer que, o que estes defendem, não passa de uma questão meramente religiosa, desprezível, e não de uma causa verdadeiramente humana e justa, de verdadeiro progresso histórico e humano. É a sua versão da lei da rolha, importa fazer calar!
O ruído em favor da cultura da morte e da orfandade vai continuar. Tal como aconteceu com a morte das crianças, isto é, com o aborto, ao qual, para suavizar e iludir, chamam, eufemisticamente, interrupção voluntária da gravidez, esperam que o mesmo aconteça com a eutanásia e com a introdução da inseminação ‘post mortem’ na lei da procriação medicamente assistida. Resta-nos a certeza de saber que aquilo que é legal, nem sempre é moral e eticamente aconselhável. A verdade e a dignidade humana não dependem de maiorias parlamentares, muito menos quando a maioria obtida é feita de silêncios pusilânimes ou subservientes, e na busca de uma nesga na Constituição para que tais leis possam por lá furar e dizerem: vencemos!, como se de uma vitória se tratasse. Além disso, a objeção de consciência é uma saudável arma na mão daqueles a quem querem impor a aplicação dessas leis, se, de facto, vierem a ser aprovadas.
Ninguém vai pedir aos senhores parlamentares que entrem num processo de metanoia. Até porque, se pararem, refletirem e tiverem como referência a verdade e o bem comum, a sua consciência o fará. Apenas lhes pedimos que não esqueçam os verdadeiros problemas do povo que neles confiou e a quem prometeram servir. Que lhe proporcionem uma vida saudável e feliz e que não fomentem a cultura da morte e outras velharias mais. Legislar e executar a morte, é estimular à morte, não é humano! Pode até o sofrimento físico, à partida, não ser grande, mas porque o sofrimento tem muitas caras e feitios, pode tornar-se “em situação de sofrimento intolerável”, sobretudo quando a pessoa percebe e sente que está a ser um grande incómodo ou um enorme peso para a família ou a sociedade, e entende que lhe estão a apontar a porta para que se suicide ou peça a um homicida que a mate! Como afirmava Miguel Torga, “o mais trágico na velhice doente é vermo-nos morrer antecipadamente no cansaço e no enfado de quem nos rodeia”. Entre quem nos rodeia, estão estes tão misericordiosos e sábios legisladores!...
Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 19-02-2021.

Lista nova de doadores

19.02.21 | asal

Continuam a chegar Contribuições para o Livro sobre o Seminário de Alcains. Até este momento são 46 os que contribuiram, o que já soma a bonita soma de 1.695,00 euros. Ainda falta bastante, mas vamos ter fé. AH

Abílio Cruz Martins

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Abílio Delgado

Agostinho Pissarreira

Alexandre L. Nunes

Alvarino Carmo Barata

Aníbal Henriques      

António Barata Afonso

António Batista Martins

António Cruz Patrocínio

António Dias Henriques      

António Gil M. Dias

António José Pires

António Lopes Luís                                                                                    Alcains 2010

António M.R. Carvalho      

Antonio Manuel L. Alves Martins 

António Martins da Silva

Alcains4.jpgAntónio Pereira Ribeiro

António Rodrigues Lopes

António Santos Lopes Xavier 

Assis Ribeiro Cardoso

Carlos Filipe Marques

Ernesto Jana

Eurico Pires Grilo   

Eusébio Silva

Fernanda Maria Barata

Fernando Cardoso Leitão Miranda                                                    Alcains 2013

Fernando Farinha        

Francisco António Correia

Francisco Luís Moura Simão

Jaime Nunes Gaspar JúniorAlcains5.jpeg

João Oliveira Lopes 

João Luís Portela

Joaquim Mendeiros Pedro

Jorge Lopes Nogueira

José António Cardoso Pedro

José de Jesus André

José Eduardo Alves Jana

José Henrique Silva

José Manuel Barata Centeio

José Maria Lopes

José Maria Martins

José Ribeiro Andrade           

José Ventura Domingos                                                                     Alcains 2013

Manuel Carreiro Pires Antunes

Manuel Lopes Cardoso

Manuel Lopes Mendonça  

 

NOTAS:  

1 - O IBAN para as transferências das quotas (é assim que nomeamos o contributo!) é - PT50 0018 0000 0343 5755 0019 8

2 - Os emails para onde devem dirigir a vossa colaboração são:

 - para comunicar o nome do depositante - António Silva  - antonio.m.silva1947@gmail.com

 - para receberem por correio o livro logo após a impressão: florentinobeirao@hotmail.com 

Aniversários

19.02.21 | asal

Mais dois aniversariantes

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Nascido em 1960, aí está o Saúl Valente, dinâmico congregador da malta de Castelo Branco, profissional devotado do exército e ativo agricultor a produzir um azeite ecológico de que o colesterol tem medo... Amigo, temos de levar a vida a brincar... Corrija as minhas asneiras!

Aqui estamos a dar-lhe um abraço virtual de PARABÉNS e a desejar-lhe muitos anos de vida, com saúde e alegria. Quando nos voltamos a encontrar? Nesta foto, estávamos na Sertã (Saúl à esquerda e bem acompanhado pelo tenente coronel da GNR Carlos Lameiras, outro responsável pelos jantares da malta de Castelo Branco!).

Contacto: tel. 967 500 292

NOTA: Após contacto, soubemos que o Saúl está a passar um mau bocado devido ao Covid. Daqui lhe enviamos as nossas orações e votos de rápidas melhoras. AH

 

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Neste dia 19-02-1971, nasce o Miguel Cordeiro, com formação em Serviço Social no Instituto Superior Miguel Torga.

Pelo seu Facebook, sabemos que vive em Osnabruque e ainda frequentou o Seminário de Coimbra. Não sabemos mais sobre este colega. Pode ser que ele apareça por aqui um dia a contar coisas. Gostávamos muito!

Aqui deixamos os nossos sinceros PARABÉNS E VOTOS DE LONGA VIDA, MUITA SAÚDE E REALIZAÇÃO DOS SEUS SONHOS...

Contacto: tel. 964 130 777

A sociedade e os idosos

18.02.21 | asal
Olá, meu caro António:
Tocado pelo apelo que tens feito, para todos colaborarem no nosso ANIMUS SEMPER, aí envio mais umas letrinhas para meditação dos que nos acompanham habitualmente. O problema da velhice no nosso país penso que irá ser um dos mais urgentes e complexos que vai sobrar para os governos e cidadãos tentarem resolver, com Justiça e humanismo, após esta tão cansativa pandemia. Quem conhece de perto esta realidade, direta ou indiretamente, sabe bem do que estou a falar. Uma realidade a exigir uma grande urgência de tratamento.
Para novos e mais velhos da nossa associação aí deixo uma dicas, para princípio de conversa. Abraço a todos, na Alegria e Amizade que nos une.
 
PS:  O nosso livro do Seminário S. José já foi metido no forno. Temos que ter Esperança em melhores dias....
Florentino Beirão.

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Mortes vivas

Ao longo do último ano, tempo em que já dura a dolorosa pandemia que nos tem retido confinados, embora pelos piores motivos, muito se tem falado dos idosos que vivem nas residências para idosos. Antes do covid.19, pelo que nos é dado agora saber, uma boa parte dos cidadãos e dos políticos, parece que pouco ou nada sabiam do que se passava nestas instituições, quer nas clandestinas quer nas comparticipadas pelo Estado. Esta realidade tão diversificada, geralmente escondida da sociedade, para muitos, seria completamente ignorada. Menos ainda se sabia como eram ali tratados os seus utentes a viver em residências com falta de espaço, de higiene, de cuidados de saúde e até à míngua de alimentação. Os idosos, ali “descartados” pelas suas famílias, lá permaneciam encerrados, muitas vezes entregues à sua imensa solidão, no mais puro desconforto afetivo, até que a morte os viesse chamar e os libertasse do seu sofrimento. O povo, referindo-se a estes idosos, costuma usar a expressão de pessoas que são como “mortas vivas”. Hoje, com as televisões a revelar-nos quase diariamente muitos casos de puro abandono ou de até de maus tratos aos idosos, salta-nos ao espírito a seguinte interrogação: como é possível acontecer no nosso país situações tão desumanas?

Num dos canais de televisão, na passada semana, foi mostrada uma dolorosa situação de profunda desumanidade num dos lares do distrito da Guarda, em que um dos membros do casal se encontrava a residir no mesmo lar, mas em andar diferente. Perante esta situação, o marido queixava-se à jornalista que vivia doente e prostrado na sua enorme tristeza, pelo facto de nem sequer poder ver a sua esposa. Esta realidade, em alguns lares de idosos, chega mesmo a atingir níveis de profunda insensibilidade. Felizmente, esta situação poderá não ser a norma geral.

O que importa agora, passada a pandemia, com melhor conhecimento dos problemas sociais, relativos aos idosos, é prestar redobrada atenção aos lares de idosos, uma vez que hoje já não podemos ignorar as suas gritantes deficiências. São problemas endémicos cujo acompanhamento a Inspeção da Segurança Social não pode olvidar.

As debilidades neste setor, expostas agora com tanta crueza, jamais as poderemos ignorar, como se não existissem. Não podemos ficar indiferentes a tanta incúria, praticada em algumas instituições, cujo fim não pode ser apenas o lucro fácil.

Os idosos que tanto trabalharam para nos criar e para desenvolver o país, merecem mais e melhor. Como os números revelam, esta geração de idosos é muito numerosa e tende a crescer ainda mais. Segundo a Pordata, entre 2000 e 2019, existiam mais de 596.822 residentes em Portugal, com 65 ou mais anos. E, do total de agregados domésticos unipessoais, em 2019, era de 934,1, sendo 513,2 pessoas do mesmo escalão etário. Segundo notícia da revista “dinheiro vivo”, em 2019, existiam 729 lares privados, com capacidade para cerca de 2200 idosos, representando um negócio de 330 milhões de euros.

Pelo que temos sabido ao longo de um ano da covid.19, em muitas residências para idosos, o lucro egoísta tem-se sobreposto ao cuidar das suas necessidades.

Para lidarmos com esta nova realidade, temos que nos preparar para um novo paradigma societal em que os mais velhos vão superar os mais novos. Os problemas daqui decorrentes têm a ver com o futuro da Segurança Social e do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Como é sabido, o modo como uma sociedade trata a sua população mais idosa, revela bem o grau do seu desenvolvimento civilizacional.

Quanto a nós, o ser velho não devia ser igual a estar condenado a esperar pela sua morte, mas ser considerado e tratado como uma pessoa, com direito a viver os seus últimos dias com a maior dignidade possível. Se bem pensarmos, nenhum de nós teria nascido e aprendido a viver, sem os que hoje são chamados os velhos. Os muçulmanos e os chineses, quando, a este respeito, se referem à civilização ocidental, consideram abjeta a forma como nós tratamos os nossos velhos, descartando-os quando podiam ainda permanecer nas suas casas, com o apoio social, devido a cada situação. Rematamos, chamando a atenção para a nossa problemática situação demográfica. Hoje, em Portugal nascem muito poucas crianças e, uma boa parte dos idosos acaba por morrer sozinho nos lares ou em suas casas, considerados como “mortos vivos”. Temos de virar a página.

florentinobirao@hotmail.com

Aniversários

17.02.21 | asal

Hoje, são dois a celebrar mais uma primavera!

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Em 17 de Fevereiro de 1944, nasce o João Mendes Gregório, um sportinguista militante. É de Monfortinho (creio eu) e vive no Barreiro. Mas está a passar os anos no Luxemburgo, como acabo de saber.

 Qualquer dia vai aparecer, ao menos para recordar os tempos de Alcains. Será? Tu é que dirás... Temos aí a campanha de colaborar na impressão do livro sobre o Seminário onde tu andaste. Não queres ajudar?

Contacto: 939068255

Luis Rom. Matos.jpg- Nascido em 17-02-1955, também hoje se apresenta o Luís Romão de Matos, de Oleiros e a viver em Lisboa, contactável pelo tel. 962 913 070. 

Vemo-lo pelo Facebook. Esperamos encontrá-lo um dia destes, pelo menos em Alcains, a poucos quilómetros da sua terra natal, quando a pandemia o permitir. Olha, faço-te a mesma proposta que fiz ao João.

Aos estes dois amigos, MUITOS PARABÉNS e que a vida vos continue a sorrir por muitos anos em saúde, alegria e amizades.

Informação importante

14.02.21 | asal

Acabo de receber esta mensagem do José de Jesus André (Zeca):

Boa noite, Caro Amigo

Zeca1 (3).jpgTodos bem de saúde? Espero bem que sim, por aqui todos bem felizmente.

Em jeito de comunicado eis uma informação da ACPS (Association Culturelle Portugaise Strasbourg)que adia para os dias 18 e 19 de junho de 2022 a tão esperada exposição em Estrasburgo na qual o nosso Amigo António Colaço irá participar. 
É meu e vosso dever informar os colegas que contribuíram com dinheiro para que tal iniciativa pudesse ser viabilizada e perante o meu silêncio seria legítimo que se questionassem sobre o destino que demos àquele dinheiro. 
Com um grande abraço,

José DE JESUS ANDRÉ
Portable + 336 86 84 18 07
Envoyé de mon iPad
 
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Alegro-me por ver de novo calendarizada a exposição do Colaço em Estrasburgo, que o Zeca quer levar a efeito e que a pandemia tem adiado para muito mais tarde.
É um comunicado importante, sobretudo para quem se envolveu neste projeto. Por mim, além de sentir que estamos a lidar com pessoas sérias, sensíveis e colaborantes, é a certeza da força destes associados que continuam a aderir aos nossos projetos.
E este foi, há dois anos atrás, um projeto significativo: 2000.00 € seguiram para Estrasburgo para ajudar o Zeca a transportar (ida e volta) todo o material da exposição para o Pavilhão Josephine, que ficará engalanado de verde e vermelho nos dias 18 e 19 de Junho 2022.
Associação sem projetos pouco ou nada significa. Já estamos noutro projeto: vamos colaborar para conseguirmos dinheiro para a impressão do livro sobre o Seminário de Alcains.
 
Hoje apetece-me dizer: HONRA AO ZECA, QUE AVANÇA PARA ESTRASBURGO, MESMO DEPOIS DE PASSAR POR TÃO DURAS SITUAÇÕES DE SAÚDE!
 
António Henriques

O DESASSOSSEGO DA PANDEMIA

14.02.21 | asal

Caro António,

Desejo que estejas bem, assim como toda a família. Desejo também que todos os nossos companheiros e respetivas famílias se encontrem bem. Sentindo o desafio lançado no blog e reconhecendo o meu afastamento, aí vai um pequeno texto. Desta vez têm direito a uma espécie de poema (prosa versificada!). Apesar da muito diminuta disponibilidade, tentarei ser um pouco mais assíduo enviando um ou outro texto.

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Forte abraço a todos.

José Centeio (Seja Feliz em Seara de Gente)

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Vivemos um período da nossa vida coletiva, com implicações profundas e porventura ainda não totalmente percetíveis na vida de cada um, que jamais em algum momento imaginámos ser possível. E, contudo, houve quem fosse lançando avisos. As catástrofes, as calamidades, as desgraças, a fúria da natureza maltratada, chegavam-nos através dos media, sobretudo da televisão, com o selo de uma lonjura que nos sossegava no conforto e na proteção de uma sociedade tida e entendida como desenvolvida, mesmo se às vezes fossem bem mais próximos do que a nossa indiferença nos permitia ver. Sem darmos por isso, um dia houve em que a desgraça não só nos bateu à porta como entrou de rompante pela porta dentro, invadindo e abalando a nossa intimidade de boa gente acomodada. A morte aproximou-se demasiado. Não é que ela alguma vez deixasse de estar próxima, mas ganhou visibilidade, impôs-nos a sua presença e obrigou-nos a mudar hábitos empurrando-nos para uma solidão para a qual não estávamos preparados. Mesmo se muitos de nós, na tentativa de ludibriar a morte, vivêssemos sofregamente na vã esperança de condensarmos em cada momento todos os outros que receávamos não poder viver. E assim, no meio dessa vertigem, íamos cavando uma solidão que nos impedia de fruir cada momento como único e com o encantamento de nos ter sido dada essa possibilidade.

Como é natural, essa imposição da morte assustou-nos, tornou-nos irracionais, despertou em nós medos há muito adormecidos, tornou-nos mais frágeis e vulneráveis. Mas revelou também o muito de bom que nos habita, mesmo se soltando em determinados momentos, às vezes com violência, o pouco de mau que em nós também coabita. Contradições da nossa própria e mais íntima humanidade com as quais nem sempre convivemos bem. Este período forçou-nos, mesmo se a contragosto, a confrontar-nos com as nossas fragilidades individuais e coletivas e despertou-nos, mesmo que muitos de nós disso não tenhamos consciência, para a evidência que as sociedades que construímos e que julgávamos robustas e seguras, são bem mais frágeis e inseguras do que a omnipresença do progresso tecnológico e a omnisciência presunçosa do homem nos fizeram crer.

Desnudados, indefesos e expostos à violência do que não conseguimos controlar, tornamo-nos seres vulneráveis que facilmente vão atrás de um qualquer sebastianismo gerado pelo mal-estar irracional e acrítico. Vociferamos contra tudo e contra todos afastando de nós o questionamento sobre o caminho percorrido e o que de bom fomos capazes de construir, apesar do muito que desejaríamos e não fomos capazes por inércia, comodismo, confiança demasiada em quem delegamos o poder, pelo não exercício de uma cidadania criticamente construtiva, pelo silêncio cúmplice ou apenas por cumplicidades ideológicas. O medo torna-nos, agora, prisioneiros dos nossos próprios preconceitos e coage-nos a que nos blindemos numa espécie de bunker interior cujo único horizonte de futuro é a morte precoce e lenta provocada pela gangrena individualista e solitária que nos impede de ver o sol que todos os dias se levanta e se põe, condenados de forma irremediável à pequenez de quem se pensa autossuficiente no amor. Para descanso das nossas consciências tentamos encontrar bodes expiatórios, inventamos teorias que nos servem à medida e incorporamos ideias que, sem que nos apercebamos, são contrárias e desmentem o que ainda ontem confessávamos crer e o que dizíamos ser.

Esta pandemia gerou em nós um desassossego que vai levar longo tempo a aquietar-se, a aquietar-nos. Afastado que seja o tempo das trevas e chegado o momento da serenidade e da paz, espera-se que no meio dos destroços, das feridas abertas, do luto adiado, das despedidas que não o foram, do silêncio sofrido, nos reste ainda a força suficiente para nos acompanharmos uns aos outros, sem olhar à cor da pele, ao lugar de onde vem, ao passado que cada um carrega nas costas, mas apenas com a certeza de que, ao cuidarmos uns nos outros, juntos nos salvaremos.

Tentem ser felizes em seara de gente.

 

Hoje ao acordar

Hoje, ao acordar

Apeteceu-me beber a vida

Lentamente, gole a gole

Sorver cada momento

Como único, porque o é

 

Não que noutros dias

Também ao despertar

Não me apeteça beber a vida

Mas hoje, especialmente

Quero bebê-la e saboreá-la

Sem a sofreguidão de outros dias

 

Talvez um dia, ao acordar

Eu acabe com a pressa de vez

E me proíba de beber a vida

De um único trago

 

Talvez um dia, ao acordar

Eu me dê o tempo

De sorver cada momento

E que chegado o último dia

Eu possa dizer, ao acordar:

Finalmente saciado.

 

José Centeio

Aniversário

14.02.21 | asal

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Em 14 de Fevereiro de 1946, nasceu no Tortosendo esta criança, a quem foi dado o nome de António Eduardo Santos Oliveira.

Aposentado do seu trabalho nos hospitais, vive agora em Odivelas, dedicando-se particularmente aos convívios dos Serviços Sociais da Administração Pública, de que é um grande animador na vertente musical. Como ele sofre agora por ficar em casa!

Nos nossos encontros, o Eduardo não canta, mas marca contínua presença com a sua arte em fotografia, registando planos muito realistas, o que lhes dá um realce especial.

PARABÉNS, AMIGO EDUARDO!  Desejamos-te muita saúde e alegria de viver. E continua a unir o grupo, pois só esse propósito vale a pena. 

Contacto: tel.  918 302 410

Palavra do Sr. Bispo

13.02.21 | asal
QUARESMA - “SAÍA D’ELE UMA FORÇA QUE A TODOS CURAVA”

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 Na Igreja, a Quaresma é, por natureza, um tempo catecumenal, um tempo de descoberta e redescoberta da fé cristã como relação vital de absoluta confiança no Senhor Jesus Cristo. Aliás, a Páscoa, celebração da revelação plena de Cristo para onde a Quaresma nos conduz, só ganhará densidade espiritual e existencial se a Quaresma se assumir como caminho e exercício de descoberta e redescoberta da relação com Jesus Cristo. A condição humana, cada um de nós, surpreende-se, comove-se diante de Jesus Cristo. Ele é, ao mesmo tempo, tão nosso e tão de Deus, tão humano e tão divino, tão histórico e tão do Céu e da eternidade. Antes de nos dizermos, já Ele nos conhece. Antes de lhe pedirmos, já Ele se nos disponibilizou. Com a sua palavra e os seus gestos de proximidade, cativa-nos. Com o mistério da sua Pessoa, colhe o nosso afeto, a nossa inteligência, a nossa vontade. Tocados pela sua humanidade, tornamo-nos, por bênção sua, capazes de tocar a sua divindade. Assim, rendidos e livres, estabelecemos com Ele uma relação vital de absoluta confiança, por onde, doravante, passará a vida toda. D’Ele brota uma força que não deixa ninguém indiferente e cura todos os males.

A fé não é, portanto, uma invenção de religiões. Nenhuma imposição a conseguiria legitimar. Nenhuma lei a conseguiria impor. Nenhum moralismo a conseguiria justificar e ser seu alicerce. Nenhuma tradição, por si só, a conseguiria manter. Tudo isso seriam insuficiências, andaimes solitários sem construção a erguer. Dom recebido e resposta dada, a fé cristã vai buscar muitas das suas dinâmicas mais elementares à vida humana. Mas é na surpresa graciosa do encontro com o dom de Deus em Jesus Cristo que ela se radica como atitude e ritmo. É esta fé, vivida como bênção, presença de Cristo sentida ao nosso lado, é esta fé que vai atravessar a nossa vida com as suas graças e desgraças, os seus encantos e desesperos, as suas alegrias e tristezas. É esta fé, vivida como bênção, que purifica a nossa vida com paixão, com graciosidade e com ousadia profética de batizados. É o nosso batismo, que o mesmo é dizer a nossa fé, que está em causa em cada Quaresma. Conversão e penitência, jejum, esmola e oração são exercícios batismais da nossa vida cristã porque são expressão da nossa vital confiança em Jesus Cristo e da nossa reação ao tempo e aos modos da vida.
A pandemia que atravessamos pode ser bem o contexto de humanidade em que a nossa fé é chamada a redescobrir-se e a dar fruto. Exigidas pela situação de crise, há um conjunto de ações que, nos crentes, são autênticos imperativos de consciência da vida cristã: na solidão, saber ser presença construtiva e não escravo da desconfiança; no desespero, saber ser força de esperança; na doença, saber ser cuidador; na dificuldade económica ou social, saber partilhar e promover; na prossecução do bem comum, saber comprometer-se e fazer caminho em comum; nas palavras, saber edificar e promover a verdade; nas atitudes quotidianas, saber eleger e construir a justiça; nas relações pessoais e de cidadania, saber respeitar e acolher. A pandemia, com a doença e a pressão que exerce em toda a sociedade, pode tornar-nos hipersensíveis, facilmente descarriláveis e irascíveis. Pode pressionar-nos e trazer constrangimentos vários à nossa vida. E é aí que é necessário ter sempre Cristo diante dos olhos, ter sempre Cristo no coração e nas mãos. Os cristãos não temos de ser uma maioria social, percentual, para sermos uma maioria virtuosa. Podemos até ser uma minoria, mas, sem nos acanharmos e ganharmos complexo de seita, saberemos ser Igreja à dimensão do mundo e à dimensão do próprio Cristo.
Este ano, e por vontade do Papa Francisco, conjugam-se com a nossa Quaresma o Ano da “Família Amoris Laetitia” e o Ano de S. José. Na sua Carta Apostólica para este ano, o Papa Francisco diz-nos que foi com “coração de pai” que José amou Jesus. Humilde, discreto, trabalhador, sempre pronto a realizar a vontade de Deus, homem do silêncio como escuta, atento aos sinais de Deus e aos sinais dos tempos, corajoso, pedagogo e, sobretudo, justo. Em José confrontamo-nos com um homem que é justo porque se ajustou a Deus. E é por se ajustar a Deus que cedo aprendeu a pensar como Deus, a agir como Deus, a amar como Deus. A sua fé e a alegria do seu amor foram o grande motor da sua vida. É também a alegria do amor que o Papa Francisco nos convida a encontrar na família cristã quando promove o Ano “Família Amoris Laetitia”. Ele insiste na leitura da Exortação Apostólica Amoris Laetitia e deseja levar ao aprofundamento da identidade da família cristã como dom de pessoas e como dom à Igreja e ao mundo. Deseja promover o acompanhamento dos esposos, a educação integral dos filhos, a reflexão sobre as luzes e sombras da vida da família cristã, as crises familiares, a participação das famílias nas estruturas de evangelização e da Igreja. Tempo de redescoberta e revitalização da nossa fé, a Quaresma deste ano faz com que se cruzem a fé e a pandemia, a fé e a família, a fé e a gratidão pelo dom da santidade de S. José.
De Jesus, na sua Palavra, nos seus gestos, na vida da Igreja como Comunidade, brota uma força que não deixa ninguém indiferente. Como discípulos de Jesus sempre em processo de conversão, somos, pois, desafiados a viver mais uma Quaresma, mais um dom que acontece ao longo da nossa existência. Se a mundaneidade convida ao ter, ao parecer e ao poder, a Quaresma pede especial atenção ao ser. É um tempo de penitência e conversão. Um tempo de oração filial que nos ajuda a limpar, arrumar e romper a dureza do coração, convertendo-nos a Deus e aos irmãos. Uma oração que leve ao jejum do pecado, à mudança menos boa de estar, pensar e falar, à privação do que não é essencial, à penitência e austeridade pessoal, ao sacrifício que liberta. Uma oração que converta e leve àquela partilha a que chamamos “renúncia quaresmal” e que tem um destino determinado por cada Bispo diocesano, tornado público no início da Quaresma e, ao longo da Quaresma, entregue em cada paróquia. Não se trata de renunciar para poupar, não se trata de um peditório, não se trata de uma recolha de fundos, não se trata de dar para ficar arrumado e não me incomodarem mais, não se trata de pagar, não se trata tanto de dar uma esmola a quem a pede ou necessita, embora não se deva permanecer indiferente e fazer vista grossa. Trata-se duma caminhada espiritual disciplinada e vivida na alegria da oração, da conversão interior, do pensar em Deus e nos outros, do sentir a importância da gratuidade e da fraternidade. Trata-se da mudança de mentalidade e de coração que também se pode traduzir em renunciar a isto ou àquilo, que, embora se julgue apetecível, não é necessário, e o seu custo se coloca de parte para a causa social anunciada. Para além disso, a conversão pode mesmo implicar o aliviar dos bolsos (Lc 19, 1-10; Lc 18, 18-23). É uma pedagogia familiar de que tantas crianças e tantos jovens nos dão tão belos testemunhos, renunciando a um bolo, a um cigarro, a um café, a um programa televisivo, a ser escravo das redes sociais... ou os leva a estudar mais e melhor, a programar momentos de oração, a visitar o vizinho acamado ou a viver mais comprometido nas causas da fé e do bem comum, a respeitar os apelos ao confinamento e a vivê-lo com esperança, pensando na própria saúde e saúde dos outros... Enfim, trata-se de cada um, pelos caminhos possíveis, viver a Quaresma de tal forma que o conduza à Páscoa, descobrindo e redescobrindo cada vez mais o gesto do amor de Deus para connosco manifestado em Cristo Jesus seu Filho.
A Renúncia Quaresmal de 2020, em toda a Diocese, e devido ao ambiente de confinamento rigoroso, foi mesmo mesmo residual (1.769,34€). Tinha como destino ajudar à construção de um Centro de Acolhimento e Saúde na Arquidiocese de Kananga, República Democrática do Congo, donde temos dois sacerdotes a trabalhar nesta nossa Diocese. Este ano de 2021, destinamos 60% para o mesmo fim e 40% para o Fundo Social Diocesano, gerido pela Cáritas. De um Arciprestado, chegou à Cúria Diocesana uma verba de renúncia quaresmal atrasada, a qual será enviada para o destino anunciado nessa altura.
Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 12-02-2021.

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