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Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

Facebook - nova página

05.08.20 | asal

Creio que toda a gente já sabia que desde 9 de Julho tínhamos perdido a Administração da página do Facebook ligada à nossa associação. Eu, António Henriques, entrava lá apena como amigo, como todos os outros, e assim ia anunciando os aniversários dos colegas.

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Desde esse dia tenho andado a fazer o que os meus conhecimentos técnicos permitem para, junto do Facebook, conseguir reaver a administração da nossa página, tendo inclusive enviado para eles um printscreen com o email dos piratas que nos roubaram a nossa página, que aqui reproduzo.

Na semana passada, deixámos de ter acesso à página, pois ela desapareceu. Fiquei contente e à espera que o Facebook me entregasse então a nossa página. Mas isso não aconteceu... Bem, pelo menos ninguém a pode usar... 

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Hoje achei que era tempo de criar nova página a substituir a outra. E aqui está ela! Mas agora todos nós temos de "pedir amizade" novamente à "Animus Semper Antigos Alunos", se é que já não receberam o pedido de amizade feito pela própria página, que foi o que eu fiz hoje com os nomes que eu conhecia. Mas eu não conhecia toda a gente. Já éramos mais de duzentos!

E cá vamos dando conta do pouco que nos acontece nestes tempos esquisitos em que somos obrigados a reservar-nos no nosso cantinho, a olhar para os outros ainda não como inimigos mas pelo menos com desconfiança! Meu Deus, até quando?

Mas a vida e a morte vão continuando a caminhar. E nos últimos dias, bem ficámos amachucados com o desaparecimento de mais dois amigos - o António Valentim e o Leonel. Rezamos pelo seu eterno descanso...

No entanto, se estamos cá, é para alguma coisa... Vamos dizendo aos amigos o que se passa por aí!

Deixo um abraço a todos. AH

O Leonel na minha vida

04.08.20 | asal

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Há dias em que somos apanhados pelo cajado da vida e ficamos atordoados, numa modorra que nos deixa em esmorecimento completo. Hoje, com a notícia da morte do meu colega e amigo Leonel Cardoso Martins, para aqui fiquei sem gosto e sem ânimo.

Mas tenho de virar a cabeça. Tenho de escrever sobre os anos em comum e tenho de olhar para a frente. Se ainda cá estou, embora com a mesma idade do Leonel, é porque talvez cá faça falta a alguém! Dói tanto ver desaparecer os amigos…

Fui pesquisar neste blogue pela palavra “Leonel”. Sinceramente, fiquei agradavelmente impressionado com a pegada que ele lá deixou. Há pessoas assim: semeiam alegria mesmo à distância! O que vai aparecer entre aspas são alusões ao meu amigo copiadas do blogue.

Caro amigo, saíste da Palhota, em S. Pedro do Esteval, para te preparares para a vida numa altura em que só o seminário te podia proporcionar estudos para além da 4.ª classe. E chegaste longe. Fomos colegas quase até ao fim da Teologia. Iniciaste e concluiste estudos clássicos em Coimbra, aonde eu ainda te acompanhei para ires copiar sumários e apontamentos dos colegas, pois eras aluno voluntário na Universidade enquanto ganhavas o pão de cada dia como professor da Telescola em Santo António das Areias. A vida não era fácil!

Estive na tua casa, apreciando a tua vida em comum com a Lurdinhas e vendo crescer os teus filhos. Depois separámo-nos, quando eu vim para Lisboa. Ainda nos encontrámos uma vez na Caparica quando vinhas fazer férias, mas cada um teve de rumar por caminhos diferentes.

E são os encontros dos antigos alunos do Seminário que nos aproximam de novo. Vimo-nos na Buraca. «Neste Encontro, se não estou em erro, foi o Leonel Cardoso Martins que trouxe vinho da sua produção em Portalegre», diz-se no blogue. E que bom era esse vinho!

A tua presença sempre alegre e o teu saber faziam das nossas conversas momentos de cultura e convivência feliz: «Muita saúde e muitos anos de vida para podermos usufruir ainda da tua boa disposição, meu latinista e helenista inveterado», «Ainda não foi desta que pudemos pegar no latim para nos distrairmos...», «Que raio de conversas estas que nos alegram tanto os dias!...», diz-se no blogue.

Bem me lembro do teu porte elegante, das tuas camisas amarelas com as quais ganhaste o cognome de “canário”, nas cores e na voz. Ainda agora cantavas no coro da Igreja em Portalegre. E diz o blogue: «Imaginem, fui encontrar o Leonel C. Martins, de Portalegre, a ler o Evangelho em grego (!!!) e ainda me disse que qualquer dia vai fazer exame de violino. Gente que não para, nos seus 80 anos... Só não vai à Sertã porque as netas o obrigaram a passar uns dias no norte da Europa, a coincidir com aquela data...».

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Um dia, escrevi no blogue e queria enviar-lhe o texto. Fui à Parreirinha almoçar com os amigos e, também diz o blogue, «rimo-nos do dito do Leonel, que diz que aprendeu a escrever na pedra. Mas ele próprio evoluiu, pois, para ler o tal texto, pediu-me para lho enviar pelo WhatsApp. E lá tive eu de aprender a usar o WhatsApp para lhe enviar o texto...»

E para não ficar só com palavras, deixo aqui três fotos: na primeira, o Leonel agradece, em Castelo Branco,  a homenagem feita aos nossos professores, a segunda com o Pequito Cravo (no aniversário deste outro grande amigo) e a terceira Leonel + Américo.jpegcom o P. Américo (no encontro do Seminário de Portalegre), onde, como diz o blogue: «o nosso fotógrafo Zé Ventura apanhou estes dois em flagrante delito: o Leonel, com o seu tão característico riso irónico, e o Américo Agostinho, com uma alegria esfusiante, tão própria da sua personalidade.».

É esta cara de criança feliz, alegre, pacífica, que me ficou de ti. Obrigado pelos bons exemplos que me deste. E não te esqueças de nós, que para aqui andamos tontos com esta pandemia e sem saber o que o futuro nos reserva. Até ao nosso próximo encontro, meu caro, porque “VITA … BREVIS”.

António Henriques

O Leonel também faleceu...

04.08.20 | asal

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Chegou esta manhã a triste notícia. Faleceu o Leonel Cardoso Martins, que vivia em Portalegre. Vai ser sepultado esta tarde no cemitério de Portalegre. Já há muito que lutava contra a doença... Ainda falámos com ele quando se encontrava em recolhimento num lar em Portalegre.

Tantas recordações que me percorrem neste momento, ele que partilhou comigo e mais alguns 11 anos de vida no seminário. Somos da mesma idade... Eu falarei de ti.

Hoje, deixo-vos a sentida notícia e homenagem do seu filho, o Rui Cardoso Martins. Vale a pena parar... E rezar pelo eterno descanso do seu pai. Até um dia, Leonel! AH

 

O meu pai, Leonel Cardoso Martins, morreu há três horas. Tivemos a sorte, eu e as minhas duas irmãs, Isabel e Margarida, de poder estar a seu lado nos últimos momentos. Amanhã mesmo, por extraordinaria coincidência, começam em Lisboa os ensaios da peça de teatro que lhe dedico, no Teatro Nacional Dona Maria II: Última Hora.
O funeral será também amanhã no cemitério de Portalegre, a partir das 15h30-16h00. Aqui vos deixo um texto sobre o meu pai e a minha mãe, escrito há alguns dias. Obrigado a todos os amigos.

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SOMOS TODOS CLÁSSICOS

Muitas vezes penso na pacífica, mas corajosa, decisão do meu pai quando resolveu seguir o seu ideal latino. De dia fazer vinho, à noite ler latim. Há um quarto de século, descobriu uma adega na serra de São Mamede, em Portalegre, colinas a 650 metros de altitude, a vista do pico da serra (1025 m.) como um irmãozinho de Vesúvio extinto. Lá em baixo, à sombra das aveloeiras, passa um ribeirinho, e às vezes ovelhas com chocalho, isto é, para cena bucólica só falta pastor e música de sopro. Já lá fui em tempos tocar flauta, descalço na água fresca, esperando uma pastorinha, mas isso agora não interessa. As vinhas altas de São Mamede, espalhadas por vários terrenos do distrito, são hoje disputadas pelos melhores enólogos (portugueses e não só), mas quando o meu pai e a minha mãe para lá se mudaram, construindo a pequena casa da quinta, apenas conseguimos fazer um vinho novo e volúvel, brilhante de cor rubi, às vezes mosto de sangue escuro de boi, prensado a mãos e braços e despejado a fermentar em grandes talhas antigas onde cabe um homem de pé.
Tenho muito orgulho nos meus pais e no que fizeram profissionalmente. Ela, professora primária, ele professor liceal de português, latim e grego (quando estas “línguas mortas” pareciam condenadas a morrer em Portugal). A minha mãe Maria de Lourdes, ou Lurdinhas, quando há dois anos não resistiu à doença, deixou alunos da primária a chorar. Um disse-me no velório: “A tua mãe foi uma das mulheres da minha vida.” Outro aluno fora em tempos entregar-lhe a tese de doutoramento universitário e disse-lhe que só aconteceu graças a ela.
Um meu amigo, que foi aluno do meu pai Leonel, ainda hoje imita o instante em que o professor entusiasmou uma aula gritando o verso de Pessoa: “Merda, sou lúcido!”. Uma vez, no Sul de França, apanhei o meu pai a falar latim com um alemão cor-de-cenoura, a única linguagem que partilhavam.
O meu pai lamenta às vezes eu nunca ter aprendido latim e grego — no português sabia que faço o que posso — e dantes, lendo em voz alta excertos da Bíblia ou versos de Homero, explicava que é preciso treinar estas línguas todos os dias, são como a alta matemática ou um desporto de competição. Também corria muito de madrugada, depois caminhava quilómetros com o cão e passarinhos. E agora, quase do dia para a noite, neste momento em que vos escrevo, o meu querido pai mal pode andar. Uma forma grave da doença a que os antigos deram o nome e a forma de um caranguejo. Mais difícil de esmagar do que a grande centopeia dourada, do que o fogo de Verão escondido na caruma dos pinheiros, que reacende ao primeiro sopro e é preciso calcar rodopiando a bota.
Quero deixar-vos uma frase do meu pai que vos poderá ser útil:
Nunca digas aquela palavra que está a mais, nem sequer a guardes para usar mais tarde.
Está cheia da sabedoria dos séculos da nossa civilização, creio eu. Outra partilha, se me permitem: do meu pai recebi o amor pela literatura, mas só verdadeiramente acabámos por falar, por assim dizer, “a mesma língua”, no dia em que começámos a ler a meias um certo “Dicionário de Sentenças Latinas e Gregas” que me foi parar às mãos num golpe de mudanças de escritório e que nunca mais larguei. Não era meu mas dou-lhe valor, acho que ficou bem entregue. É um livro extraordinário e sábio de Renzo Tosi, professor de Filologia Clássica da Universidade de Bolonha, hoje com 69 anos, mas que muito cedo na vida académica rebentou as escalas pela sua erudição, profundidade comparativa e simplicidade de escrita. Enorme, com 900 páginas (tenho a edição brasileira, da editora Martins Fontes, São Paulo, 1996, tradução de Ivone Castilho Benedetti), o livro dá-nos uma espantosa experiência: mergulhos rápidos e fáceis nas profundidades da nossa cultura, gosto, ética, estética, técnica, amor, guerra, glórias e misérias da humanidade. É também uma montra de luxo das origens das línguas latinas e um instrumento para percebermos a enorme influência do grego antigo na linguagem universal (por exemplo a palavra do momento, e esperemos que não de todo o nosso futuro, Pandemia: pan — de todos+demos — os povos.)
O Dicionário pode abrir-se ao calhas, como muitas vezes faço, e descobrir uma pérola: Difficile est satiram non scribere/Difícil é não escrever uma sátira. Explica-nos Renzo Tosi, nesta que é uma das mais curtas entradas do dicionário: “Esta expressão, ainda conhecida e usada, indica uma situação muito ridícula. Esse também era o seu significado no texto de onde foi extraída (Juvenal, 1, 30).”
A cada sentença sua cabeça. Lá está Alea jacta est/Os dados estão lançados, de Júlio César quando decide atravessar com as suas tropas o rio Rubicão, entrando em guerra com Roma para conquistar o poder. Num exercício incrível de regressão no tempo, de arqueologia histórica, que por vezes chega a frases criadas ou reiventadas por Oscar Wilde, Dante, Cervantes, Tomás de Aquino, Santo Agostinho, os romanos e os gregos antigos, é um livro que descobre a raiz da forma contemporânea de olharmos para nós mesmos e para os outros. Séneca, Platão, Sócrates, Aristóteles, os poetas Horácio, Ovídio, Virgílio, o escritor de Satyricon, Petrónio (Não pode querer cheirar bem quem da cozinha fez morada), os imperadores Augusto, Adriano, o tribuno e advogado Cícero, o historiador Tucídedes, as grandes comédias e tragédias da literatura, latinizações de Jesus Cristo, São Paulo... todos surgem com rigor e equilíbrio, dialogando uns com os outros. É um prazer caminhar entre as frases-mestras que moldaram os últimos 2500 anos do Ocidente, pelo menos.
Arrisco-me a ser fastidioso, não vou entrar em detalhes. Este dicionário é uma alegria que se pode ler em pedaços, aconselho-o a todos, novos e velhos. Aqui deixo algumas sentenças no original e com a tradução, como esta que é, nem mais nem menos, o fundamento de todo o Direito:
Pacta sunt servanda/Os pactos são para cumprir.
Fiz, no entanto, uma recolha mais de acordo com a matéria desta revista Espiral, o fluir do tempo:
Tempus edax rerum/Tempo devorador das coisas.
Tempora mutantur, nos et mutamur in illis/Os tempos mudam e nós mudamos com eles.
Ruit hora/O tempo passa precipitado.
Nec quae praeteriit hora redit potest/A hora que passou não pode voltar.

Vita ipsa... brevis est/ A vida é breve, que primeiro surge quando Salústio escreve sobre a história da conspiração do senador Catilina, e onde, claro, também surge Cícero quando este inventa a frase que às vezes nos apetece usar contra hipócritas: Por quanto tempo mais abusarás da nossa paciência, Catilina?
Voltando ao tempo humano:
Pulvis es et in pulverem reverteris/ És pó e ao pó voltarás.
Omnes una manet nox/Uma só noite nos espera a todos.
Sic transit gloria mundi/Assim passa a glória do mundo.
Motus in fine velocior/O movimento no fim é mais veloz.
Porque quando nos aproximamos do fim, parece que tudo acelera, que já não resta mais tempo.
E espaço para escrever também não, por isso aqui termino...
Mas primeiro dedico este textinho:
Aos meus pais, Maria de Lourdes e Leonel.

Sit tibit terra levis. Que a terra vos seja leve.

Rui Cardoso Martins

Aniversário

04.08.20 | asal

Carlos Araújo1.jpegPARABÉNS, CARLOS!

Faz hoje 69 primaveras o Carlos Eduardo Araújo, o Sr. Engenheiro, a viver agora no Barreiro, como pensamos saber...

Aqui se registam os PARABÉNS do grupo, com votos de muita saúde e felicidade. Não nos temos visto, mas gostamos que apareças nos encontros dos antigos alunos dos seminários de Portalegre e Castelo Branco. 

Contacto: tel. 968 835 199

Eu li: «Eu gostaria de falar... falar, mas não sei com quem. Sobre o quê? Sobre a maneira como éramos muito felizes! (...) Crescemos pobres e ingénuos, mas não percebíamos isso e não invejávamos ninguém. Íamos à escola com estojos pobres e canetas de quarenta copeques. (...) Éramos alegres! Acreditávamos que amanhã seria melhor do que hoje, e depois de amanhã melhor do que ontem. Tínhamos um futuro. E um passado. Tínhamos tudo! »

In "O fim do homem soviético", pág. 94

Aniversário

03.08.20 | asal

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Não sei se vou errar, mas atrevo-me a dizer que faz anos hoje o João Mendonça, com um anito mais que eu (vem de 1938). Há um mês pediu-me amizade no Facebook e eu lembrei-me daquela cara... Vive ali para Castelo Branco. Acho que é irmão mais velho do P. Ilídio Mendonça.

Foi ele que dirigiu o coro na missa do nosso encontro em Castelo Branco. Não sei mais dele... Apenas que nos encontrámos uma vez no lar do Retaxo, onde nós os dois fomos visitar velhinhos.

PARABÉNS, João. Desejamos-te muitas felicidades. A foto é a única do seu Facebook.

Palavra do Sr. Bispo

01.08.20 | asal

AS FESTAS E A PRESTAÇÃO DE CONTAS

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Todos temos a obrigação de prestar contas nas instâncias próprias. As festas também envolvem verbas. As comissões de festas têm o dever de apresentar contas. E, regra geral, fazem-no, com a consciência de terem prestado um serviço à comunidade que as mandatou para tal e lhes agradece a dedicação. No entanto, aqui e além, vamos ouvindo histórias do arco da velha. De facto, a corrupção tem muitos rostos, jeitos e artimanhas sob a aparência de honradez. Sempre há quem se sinta no direito de tudo cozinhar em nome da sua honestidade e sabores. A sociedade, aliás, é pródiga em tais exemplos. Basta estar atento à comunicação social para logo se ficar enfartado e enjoado de tais iguarias e seus cozinheiros!... Nem uma boa bagaceira ou medronheira conseguem ajudar a tão difícil digestão!... Mas não vamos comentar estes indigestos vitamínicos. Para filósofos, como o amigo leitor se presa de o ser, meia palava basta. Respeitamos as pessoas, condenamos os erros e se lamentamos quem é acusado injustamente, também lamentamos que gente desta ocidental praia lusitana, sem medo de adamastores e por mares ardilosamente contornados, passem além de inimagináveis trapalhadas! E se o Estado as tem, a Igreja não tem polícia nem cadeia. Aposta mais na formação das consciências e no grave dever da restituição. Mais vale fazer as contas de bem com os homens do que de mal com Deus, diz o povo. E que carrasco mais torturador que a própria consciência de quem navega por esses mares enviesados em busca de tais paraísos? No entanto, também sabemos que a consciência de muita gente nunca amadureceu. Permanece muito, mesmo muito, muitíssimo verde, e, por isso, qualquer herbívoro lhe pode chamar um figo, comendo-a!... E se a consciência deixa de existir, tudo se lhes torna permitido!

Nenhuma comissão ou mordomia pode considerar como pertença sua o dinheiro ou saldo das festas religiosas. Nem o pode distribuir por quem quer que seja ou fazer obras à revelia dos responsáveis pelas comunidades, mesmo que as julgue muito necessárias. As obras até poderão vir a fazer-se, mas tem de haver diálogo com os responsáveis e tem de se diligenciar as respetivas licenças para se poderem levar a cabo com a qualidade exigida e de forma legal. Também não é de bom tom que uma comissão prolongue a festa ou tome outras iniciativas macambúzias para acabar com os saldos. Muito menos que, acabando a festa, abra uma conta paralela, sua, julgando-se dona e sem o dever de prestar contas a quem quer que seja. Porque trabalharam muito, mesmo que sazonalmente, para a festa e para conseguir as verbas que conseguiram, não se podem sentir no direito de reivindicar os saldos. Não estou a dizer que não trabalharam, que não tiveram muitas preocupações, canseiras e até alguns dissabores. Tudo isso faz parte da festa e de quem a organiza. Mas este pensar e agir é, logo à partida, pouco delicado para com toda a gente que sempre trabalhou e trabalha na Igreja, anos a fio, com responsabilidades acrescidas, em trabalho que exige formação permanente, mas sem nunca exigir contrapartidas. Antes pelo contrário, para além do seu tempo, ainda dá muito do que é seu e tantas vezes no meio de incompreensões familiares e comunitárias: catequistas, grupos corais, agentes da pastoral e tantos outros. Às comissões de festas cabe-lhes o direito de administrar, e bem, as verbas angariadas, sem dar um passo maior que a perna, e só enquanto dura a sua missão. A dinâmica das comunidades é feita por um exército de voluntários. Poucos são os assalariados e os que o são, são-no a partir e na medida da generosa partilha dos fiéis.
Como princípio, e até tendo em conta as dificuldades económicas gerais, as comissões devem evitar as despesas excessivas, tantas vezes fruto de competições pouco saudáveis, contumazes em maus hábitos que nada têm a ver com o culto a Deus, à Virgem e aos Santos. Se assim não for, dar-se-á um sentido errado às festas cristãs, ofender-se-á a dignidade das pessoas, e, com certeza, a festa será mais um palco para o desfile da vaidade de alguns do que uma verdadeira festa do povo a estimular, na alegria, o crescimento em direção à santidade.
Que pensar, por exemplo, de uma paróquia que gastasse milhares de euros, todos os anos, na festa religiosa da terra, mas não tivesse uma única sala de catequese para as crianças? Uma sala onde os jovens se pudessem reunir, conviver, refletir e fomentar a cultura do grupo e da amizade de uns com os outros e de todos com Cristo? Uma sala ao serviço da formação permanente dos adultos, dos movimentos ou da diversidade dos serviços pastorais? Se apenas tivesse o templo, e, mesmo esse, em péssimo estado de conservação?...
As paróquias evangelizadas vivem preocupadas com tudo aquilo que é preciso para o seu próprio crescimento. Têm um apurado sentido da comunidade e das suas necessidades e sempre vivem preocupadas em colaborar e tirar o máximo proveito de tudo o que organizam, sempre numa linha de entreajuda e corresponsabilidade. A preocupação das suas comissões de festas, por exemplo, não é a de entrar em despique para saber quem faz a festa maior, quem deitou mais foguetes, quem trouxe mais agrupamentos musicais, etc. É tentar ser a comissão que, sem faltar com nada à festa para que a festa seja festa, tem presente as necessidades da comunidade. Procura o maior saldo possível para acudir a necessidades sociais, para investir na formação da comunidade, ou para a construção de mais alguma estrutura que julgue indispensável. Sempre com o maior respeito pelos esforços e os sacrifícios individuais e coletivos que a formação, a solidariedade social ou a criação e manutenção dos seus espaços sempre reclamam à comunidade cristã.
As verbas para as despesas das festas religiosas são fruto das dádivas voluntárias do povo, de possíveis subsídios de instituições particulares ou públicas, ou de iniciativas que as comissões assumem com a finalidade de angariar os fundos necessários para a festa, festa cristã. Outras verbas que nunca deveriam ser usados na festa profana, são os donativos que as pessoas deixam na igreja, por devoção ou promessa. O dinheiro das promessas é, tantas vezes, expressão de muita dor e sangue de quem as fez em horas aflitivas da vida. Salva a intenção manifestada pelos oferentes, essas importâncias destinam-se à promoção do culto com qualidade e beleza, destinam-se à evangelização, à catequese e à prática da caridade de acordo com os responsáveis eclesiais. Nem estes responsáveis o podem gastar de qualquer maneira. Vejam que, por exemplo, para alienar o ouro ofertado em cumprimento de promessas ou os ex-votos que se possam conservar, nem sequer basta a licença do Bispo diocesano, carece de autorização da Santa Sé. E porque estas coisas nem sempre correm bem, surgem desentendimentos no seio de comunidades cristãs que fazem doer: todos sofrem, ninguém fica bem, a ferida aberta fica difícil de sarar, gera-se escândalo entre os fiéis e é-se motivo de mofa para quem aprecia de longe.
É por isso que as comissões de festas religiosas devem ser constituídas por cristãos que conheçam e aceitem as orientações da Igreja. Ou, pelo menos, sejam constituídas por pessoas que, embora não estejam muito dentro, sejam capazes de dialogar e trabalhar em harmonia com as normas da Igreja e os responsáveis eclesiais. É o que vai acontecendo, por exemplo, com as festas religiosas de âmbito mais alargado, festas concelhias e com fama distrital, nacional e até internacional. Estas, sem deixarem de ser festas religiosas e terem o seu epicentro numa capela ou igreja, de paróquia ou confraria, envolvem as próprias autoridades civis locais e têm grande dimensão cultural, recreativa e social. Mesmo que a sua organização, mais complexa, venha a pedir uma comissão ou subcomissão mais voltada para o exterior e outra para a parte religiosa, não se devem dispensar de dar as mãos e de todos se sentirem no mesmo barco.
Ninguém pode autoproclamar-se comissão à revelia dos responsáveis eclesiais. Em princípio, mesmo que seja tacitamente, são eles que, em nome da comunidade, são eles quem aprova e nomeia as comissões, são eles os primeiros responsáveis. Quem se apresenta a constituir uma comissão de festas religiosas, tem de ter a consciência de quem vai representar, em nome de quem é que vai agir e quais as normas estabelecidas para isso. E que dizer daquele costume em que a comissão em exercício é que nomeia, no próprio dia da festa e pela voz do pregador, a comissão para a festa seguinte? Já vi párocos a torcerem-se todos lá na sua cátedra porque nem sequer lhe deram a lista a conhecer previamente, foi à revelia. Como afirmava Santo Inácio de Antioquia, não se pode apresentar como louvável aquilo que se faz separadamente. Só o respeito pelas instituições e por quem as representa, só o respeito pelas normas que as regem será o garante da paz e da salvaguarda da comunhão e da dinâmica eclesial e social, através da cultura do diálogo e do bom senso.
Além disso, nenhuma comissão deve ser nomeada, ou aceitar ser nomeada, sem que a anterior apresente as contas, a respetiva documentação e os saldos, se os houver. Sabemos que as grandes festas religiosas que referi, com fama e de âmbito mais alargado, precisam de um fundo de maneio, pois têm de fazer contratos quase com um ano de antecedência, esperando que a chuva, nos dias da festa, não venha a estragar os planos gizados, tanto na vertente cultural, recreativa ou social. Mas tudo isso se resolve com o diálogo, a boa fé e a confiança mútua que a todos deve animar, pois todos desejam que tudo corra pelo melhor.

Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 31-07-2020.

Aniversários

01.08.20 | asal

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Mais dois colegas a fazer anos!

- O Manuel Carmona Pires Lourenço, nascido em 1950 em Vila Velha de Ródão e a viver na Amadora, que já há algum tempo não aparece...

Contacto: tel. 969 089 384

 

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Depois, 

- O Sérgio Miguel Mendes Filipe, nascido em 1980 na Amieira e a residir em Alverca, onde trabalha. Quando teremos a alegria de ver este jovem? 

Contacto: tel. 966 707 606 

Aos dois amigos apresentamos os PARABÉNS do grupo, com  VOTOS DE MUITA FELICIDADE, na companhia da família e dos amigos.

Eu li: «Na guerra ficamos a saber muitas coisas... Não há fera pior do que o homem. É o homem que mata o homem, não é a bala. Matam-se uns aos outros... minha querida».

In "O fim do homem soviético". pág. 85

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