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Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

Celebrar Amália Rodrigues (3)

31.08.20 | asal

Uma estranha forma de vidaFlorentino2.jpg

A vida de Amália Rodrigues, como escreveu e cantou no fado “estranha forma de vida”, decorreu de um modo multifacetado e contraditório. Como mulher e como artista, muitas foram as agitadas águas dos seus dias (1920-1999). Pelos fados que cantou, deixou-nos entrever o que sentia quando cantava. Tanto em criança, como na ditadura salazarista e após a Revolução do 25 de Abril de 1974, Amália foi sempre igual a si mesma. Mas vamos por partes, iniciando pelas suas origens familiares, com raízes na Beira Baixa, concelho do Fundão.

Amália Rodrigues, segundo o registo de batismo da igreja do Fundão, nasceu em Lisboa, na freguesia da Pena, em 23 de julho de 1920, às cinco horas, em casa dos avós maternos, no bairro da Mouraria. O seu nascimento na capital deve-se ao facto de os pais terem imigrado para a capital, à procura de trabalho.

 A família, então dividida, deixou no Fundão dois irmãos mais velhos, ao cuidado dos avós paternos. Um ano depois, em 1921, no dia seis de Julho, os pais regressaram ao Fundão, para batizar a sua filha.

Amália era filha de Albertino Rodrigues de Jesus, natural de Castelo Branco, correeiro e seleiro - fazia selas – e tocava clarinete numa banda. Porém, a sua vida profissional era instável e mal dava para a família sobreviver. Na adolescência, a viver no Fundão, enamorou-se de Lucinda da Piedade, cantora no coro da igreja do Fundão e vendedora de peixe, com quem casou na igreja do Fundão. Desta fecunda união nasceram nove filhos.

O pai de Lucinda da Piedade, António Rebordão, era um empreiteiro bem sucedido que vivia no Souto da Casa - Fundão, o qual nunca encarou com bons olhos o casamento dos pais de Amália. A sua fortuna foi sendo esbanjada no jogo e com “amigos”. Vendo que os seus avultados bens iam por água abaixo, a sua esposa, a avó de Amália, tentou afastá-lo da vida que levava, mudando-se para Lisboa.

Quanto à avó materna de Amália, Ana Bento, era de Alcaria, do mesmo concelho e deu à luz 16 filhos. Quando se juntavam os familiares de Amália, cantavam-se típicas cantigas da Beira Baixa, como “quando eu era pequenino”. A mãe de Amália, cantora em família e na paróquia, era conhecida como “o rouxinol da Senhora da Conceição”.

Quando Amália nasceu em 1920, após a 1.ª guerra-mundial, o nosso país sofria com a morte de milhares de militares portugueses em França e com a pneumónica a vitimar também irmãos de Amália. A nível social e político, as greves e os contínuos governos republicanos, semeavam a pobreza, nomeadamente no bairro industrial de Alcântara, onde trabalhava o pai da fadista.

Entretanto, os pais de Amália decidiram regressar ao Fundão. Em Lisboa, só ficou Amália com 14 meses, ao cuidado dos avós maternos. Mais tarde, Amália, referindo-se a estes tempos, confessou que “nunca teria sido acarinhada pela família e que a avó lhe deu uma educação severa”.

Criada na rua até aos cinco anos, a meninice de Amália foi passada entre brincadeiras e cantorias para os vizinhos que lhe retribuíam com guloseimas e moedinhas.

Quando entrou para a escola primária com nove anos, já ouvia a rádio de um tio, cantarolando as melodias que ouvia. Na escola, recorda Amália, “tive uma professora que foi para mim uma boa mãe”. Pelo contrário, os colegas não a tratavam com tão boas maneiras. Nas festas escolares, a sua professora já lhe entregava papéis de solista.

Chegada aos 13 anos, concluída a escola primária, Amália recebeu da avó a prenda de um vestido novo, de chita azul. A professora ainda tentou que continuasse a estudar, mas a avó não aceitou. Trabalhar em vários empregos foi então a alternativa. Começou por aprender a bordar. Depois, fez rebuçados e, por fim, vendedora de fruta.

Entretanto, os pais da fadista decidiram regressar a Lisboa. Porém, a sua filha, com nove anitos, continuou na casa dos avós, até aos 14. Nesta altura, foi viver com os pais e os seus irmãos. Com menos dois anos do que ela, valeu-lhe a sua boa irmã e confidente Celeste que, em contraste com a mãe, era austera como a avó. Incompreendida por tantos, a sua “estranha forma de vida“ fê-la resvalar para um estado de tristeza, mas também com momentos de alegria, sobretudo no meio do povo.

florentinobeirao@hotmail.com

A gripe - uma reflexão

29.08.20 | asal

Trago para reflexão este texto, o princípio de uma conversa difícil. Mas a verdade é que os idosos dos lares sofreram e sofrem demais! AH

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A GRIPE ASIÁTICA ou de HONG KONG de 1968-1970.


No fim de março de 1969, fui contaminado pela gripe de Hong Kong. Fiquei "pele e osso" ao fim de uma semana, mas ultrapassei uma terrÍvel epidemia que fez cerca de um milhão de vitimas em todo o mundo.
Quase não havia informaçãosobre o assunto. Porquê?
Essa epidemia, tal como o COVID, matava essencialmente pessoas idosas.
Considerava-se, nessa altura, que pela ordem natural das coisas as pessoas idosas podiam morrer de uma má gripe.
O que mudou em 50 anos e porquê?
Profunda evolução. Compreendemos e alegramo-nos que a preservação da vida se tenha tornado uma prioridade, mas não podemos deixar de nos inquietar por estar perante uma civilização que coloca questões sanitárias no coração de todas as decisões, ao ponto de permitir uma crise económica tão profunda que vai matar mais que a Covid. É o que André Conte-Sponville chama de "pan-medicalismo: uma ideologia, até uma civilização que faz da saúde o valor supremo (em vez, por exemplo, da justiça, da liberdade e do amor) e que tende desde logo a delegar à medicina a gestão não somente das nossas doenças, mas das nossas sociedades, o que é bastante inquietante! Atenção, não cair na "ordem sanitária" (no sentido em que se fala de ordem moral). Numa democracia é o povo que é soberano e são os seus eleitos que fazem a lei e não os experts".
Obedecendo a tal lógica inaceitável, deixaram-se morrer os idosos na mais profunda solidão e isolamento, sem um familiar querido que os confortasse e lhes pegasse na mão nos últimos instantes.
O que se fez foi de uma crueldade para a qual não existem explicações aceitáveis. A morte é um dos acontecimentos mais importantes da existência da pessoa humana.
Não permitamos que jamais se repita, no futuro, o que nesta matéria se passou, qualquer que seja o pretexto sanitário.
Jamais poderá ser interdita a presença de familiares, ou pelo menos os mais próximos (com precauções), quando chegam os instantes finais de uma existência.
A forma como se trataram as vitimas e os familiares, cruel e intolerável, constitui um paradoxo civilizacional que deverá ser objeto de debate.
Cristóvão Pereira

Aniversário

29.08.20 | asal

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Hoje, 29 de Agosto, celebra o seu 81.º aniversário o Herculano Lourenço, nascido em S. André das Tojeiras, ali perto das Sarzedas e da Sobreira Formosa (a minha terra). Depois dos seminários, licenciou-se em Direito, tratou dos assuntos da Petrogal e agora goza a sua jubilação em Loures, sempre muito dedicado à família e à sua agricultura, continuando ligado às suas terras da Beira.

Habituado aos nossos encontros, gostamos de o ver feliz, como nesta foto... Aqui te deixamos os PARABÉNS DO GRUPO, desejando-te muitos anos com saúde e alegria, junto da tua família e dos teus amigos.

Contacto: tel. 916 789 182

Palavra do Sr. Bispo

28.08.20 | asal

UM JOVEM OPERÁRIO COM HISTÓRIA DE ARREPIAR

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Era congolês, de pele negra. Porque o Papa Francisco também o fez constar no Documento conclusivo do Sínodo sobre os jovens, vou recordá-lo, servindo-me, com a devida vénia, de várias fontes de divulgação. Chamava-se Isidoro Bakanja e terá nascido por volta de 1890, em Bokendela, numa família da tribo Boangi. Essa região, nessa altura, e como consequência da divisão da África entre as potências europeias, era património pessoal do rei Leopoldo II, da Bélgica. Os seus mercenários, porém, exploravam-na com regime de terror sobre os nativos que o escândalo logo ecoou pelo mundo ocidental. A pressão internacional foi tal que o território acabou por passar de património pessoal a colónia belga. Habitada há milhares e milhares de anos, com uma história de lutas e mais lutas, e depois de já ter sido conhecido por vários nomes, este território, dos mais ricos do mundo em biodiversidade e em recursos naturais, dá-se atualmente pelo nome de República Democrática do Congo. Em área, é o segundo maior país de África. Ora vejam lá!... e era uma pequena hortazinha do pobre rei Leopoldo, coitado!...
Sabemos que a caravela de Diogo Cão aí terá chegado por volta de 1483, à foz do rio Zaire. Mais tarde lá terá voltado, trazendo alguns nativos e sendo cá recebidos “mui honrosamente...”. Instruídos na nossa língua e tomando conhecimento da religião cristã, regressaram à sua terra. O rei do Congo recebeu bem os portugueses que os acompanhavam, pediu missionários e desejou o Batismo. Fossem como fossem o progresso e o retrocesso na evangelização, no tempo de Isidoro, neste centro-setentrional do Zaire, o cristianismo ainda dava os primeiros passos. Isidoro foi um dos primeiros cristãos, foi batizado a 6 de maio de 1906. Nesse dia, recebeu como presente um rosário e o escapulário de Nossa Senhora do Carmo. Cristão assumido, a recitação do terço constituía para ele um ponto de honra diário. E de tal forma se tornou devoto do escapulário que a todos contava o porquê e a história do mesmo, ao ponto de ficar conhecido como o "leigo do escapulário".
Porque a pobreza o exigia, cedo saiu da terra em busca de trabalho. Trabalhou como pedreiro e como agricultor, sobretudo num seringal, uma herdade onde também havia árvores-da-borracha. André Van Cauteren Longange, um europeu nascido em Bruxelas, era o administrador da empresa SAB, uma Sociedade Anónima Belga. Tinha a exclusividade na exploração dos recursos agrícolas e minerais naquela zona. Mas este colonizador era fraca rês. Tinha rabugens de tirano e coração de pedra. Descrente e longe de Deus, era cevado por caterva de negros ao seu serviço mas não suportava os cristãos nem os missionários. Um dos seus empregados contou que mais de uma vez o ouvi repetir: “Não quero nenhum sacerdote aqui! Se encontro algum deles, mato-o!” E mais disse a esse empregado: “Se um dia você for ter com o missionário, acabo com a sua vida, corto-lhe a cabeça!”. E como o empregado lhe perguntasse se na Europa não havia sacerdotes, Longange respondeu: “Não, entre nós não existem... É coisa do passado... Na Europa conseguimos fazê-los desaparecer”.
Para ele, os nativos eram fáceis de explorar e dispensar, baratos e submissos, sem liberdade para manifestarem as suas ideias e aspirações. Os missionários, porém, se evangelizavam e ensinavam a rezar, também fomentavam, tanto quanto lhes era possível, o desenvolvimento pessoal, social e cultural da pessoa, o que ele não via com bons olhos.
Apesar de ser um recém convertido, Isidoro nunca escondeu que era cristão e que tinha muita devoção à Virgem. Enquanto trabalhava, rezava, cantava com alegria, gerava empatia. O seu testemunho exercia, naturalmente, grande influência nos companheiros. Por isso, a perseguição intensificou-se. O colonizador, inventando, acusava os africanos convertidos de rezarem demais e perderem muito tempo com isso. Certo dia, Isidoro, que já fora espancado algumas vezes, mas sempre ciente de que mais vale obedecer a Deus que aos homens, quis mesmo deixar de trabalhar no seringal. A retaliação não tardou. Foi proibido de regressar a casa e ordenaram-lhe que deitasse fora o escapulário de Nossa Senhora do Carmo, sinal da sua fé. A recusa de Isidoro valeu-lhe que o próprio belga o agredisse a soco e a pontapé, lhe arrancasse o escapulário e lho atirasse fora, com desprezo. Mas não bastou, logo dá ordens para que fosse flagelado, com um chicote com dois pregos amarrados. O próprio carrasco descreve que o começou a chicotear, ocultando os pregos na mão, mas que o branco percebeu e gritou: “Não é assim! Bata com os pregos!”. Vendo que ele batia levemente, voltou a gritar: “Assim não! Mais forte!”. Com medo de homem tão perverso, o carrasco golpeou-o mais forte. Enquanto Isidoro se contorcia pela dor, o branco pressionava o seu pé sobre o dorso do jovem a fim de ele não se poder mover, e pediu a um dos presentes que lhe segurasse os braços e a outro que lhe imobilizasse as pernas. Depois da flagelação, Isidoro foi levado à prisão. Aí ficou, preso a correntes fechadas a cadeado e ligadas a um peso, sendo alimentado às escondidas por alguém, com medo do belga.
Para justificarem tão grande castigo, inventaram que tinha roubado. A mentira não pegou, logo surgiram testemunhas a negar tal acusação. Inventaram então que se tinha metido com uma das concubinas de Longange. É falso, atestaram outros. E afirmaram que não se acreditasse naqueles que vinham dizer “que Isidoro foi chicoteado por causa disso ou daquilo. Foi chicoteado unicamente porque era cristão e porque usava o escapulário, a veste de Nossa Senhora”.
Longange começou a ficar preocupado com a situação, até porque esperava o inspetor geral da fazenda. Planeou então retirá-lo dali, mandou-o para um povoado na floresta. As forças de Isidoro, porém, não davam para mais. Caminhando na estrada em direção a Yele, acabou por cair por terra, privado de forças, com fome e frio. O belga, sabendo que o desgraçado ainda estava por ali, perto, mandou alguém para o exterminar de vez. Ele próprio também se pôs a caminho para ajudar na tarefa, mas já era tarde. O inspetor esperado, que já se dirigia para a fazenda, ouviu os gemidos de Isidoro. Parou, escutou o jovem, viu e ficou horrorizado: “Eu vi um homem vindo da floresta com as costas rasgadas por feridas profundas e fétidas, cobertas de sujeira, assaltadas por moscas. Ele se apoiou em dois gravetos para se aproximar de mim – ele não andava, ele arrastava-se”. O encontro entre o inspetor e o administrador teve conversa ruidosa e assanhada, e teve consequências. O administrador foi transferido, Isidoro foi resgatado e acolhido. Os próprios vizinhos cuidaram dele com todo o carinho. As feridas é que jamais se curaram, infecionaram, fizeram-no sofrer horrivelmente, causaram-lhe uma agonia muito mais dolorosa que a própria flagelação. A 15 de agosto de 1909, envolto no "hábito de carmelita", com o rosário nas mãos e o escapulário ao pescoço, faleceu no Senhor, fiel aos seus compromissos batismais, à sua fé e devoção. Quando ainda podia falar, perguntaram-lhe porque é que o branco lhe tinha batido. Ele respondeu: “O branco não gostava dos cristãos. Não queria que eu trouxesse o hábito de Maria, o escapulário. Insultava-me quando rezava. (…) Não tem importância que eu morra. Se Deus quer que eu viva, viverei; se Deus quer que eu morra, morrerei. Para mim é igual. (…) Não guardo nenhum rancor contra o branco. Açoitou-me mas isso é um assunto seu. Se morrer, pedirei no Céu muito por ele”.
Este jovem leigo, “mártir do escapulário”, com vinte e poucos anos de idade, foi beatificado por São João Paulo II, em 1994. A sua memória litúrgica celebra-se em 12 de agosto de cada ano. Sentia enorme alegria em ser discípulo de Cristo e tinha grande devoção a Maria sob a invocação de Nossa Senhora do Carmo. Encontrava na oração a força para testemunhar a fé ao seu redor. Perdoou a quem o flagelou até à morte, e morte dolorosa!
É sempre comovente contemplar a extraordinária grandeza dos pequeninos, fracos e humildes perante a pequenez dos que se julgam grandes, fortes e orgulhosamente donos e senhores. A palavra de Cristo permanece atual e atuante: “Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, pois é grande nos céus a vossa recompensa” (Mt 5, 11-12).

Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 28-08-2020.

Do baú do Animus - 2

26.08.20 | asal

Descobri hoje que em 22/08 foi publicada neste blogue a segunda parte de uma história de vida do Zeca -José André. Em dias anteriores (2/08/2014), no Animus tinha sido publicada a primeira parte da mesma história. Hoje voltei ao baú do Animus e arrasto para aqui essas vivências de susto, injustiça e terror do amigo Zeca, com a foto de há seis anos. Obrigado, Zeca amigo, que o povo está contigo! AH

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Olá, Amigos  recalcados no meu subconsciente, atores do filme da minha adolescência, parados no tempo e que agora começaram a andar, a pensar, a contar o que foram e o que são hoje e a saudade me invade.

Estranho fenómemo de nós vermos "soissantards" (compreenderão mais à frente porque empreguei este galicismo) e os poucos com quem travei conversa ter que recorrer às fotos dos anos 60 para de imediato saber com quem estou a falar.

Foi através do facebook que vos cacei. Travei amizade com o Fernando Paulouro e daí fui apanhado na rede pelo Luis Lourenço Nunes. Por sua vez o Carlos Mingacho, amigo de ambos, pede-me amizade e acrescenta-me no vosso Universo e cá estou, tal um neófito a dar notícias minhas.

Frequentei o Gavião, Alcains e dois meses em Portalegre. Saí no 1 de Dezembro de 1969. A minha primeira grande decisão de adolescente! Frequentei o Liceu Nun'Alvares Pereira de Castelo Branco onde concluí o 7.º ano em Julho de 1971. Fiz ainda o exame de aptidão em Coimbra e matriculei-me na Faculdade de Direito em Lisboa.

Sem grandes recursos, vi-me obrigado a trabalhar de dia e estudar à noite. Trabalhei no INE para custear as minhas despesas.

Foi nessa altura que me envolvi à minha maneira contra o fascismo e, sem saber muito porquê, tinha a PIDE atrás de mim. Minto, sabia porquê, só não sabia quem eram os bufos. Bastou eu participar na greve dos estudantes trabalhadores no início de 1972, sob a batuta da Associação Académica, cujo Presidente era o Arnaldo Matos, e a partir daí nunca mais tive sossego. Comecei a pensar seriamente no exílio e valeu-me um encontro muito secreto com o Manuel Dias, sim o de Alcains e que já vi no blog, tinha ele acabado de chegar da Guiné e disse-me: Zeca, a guerra não merece as nossas vidas e como já lhe tinha contado o meu projeto, acrescentou: Se puderes, vai-te embora.

A brutal decisão caiu em Julho de 72 quando fui buscar as notas do 1.º ano e tive zero em todas as matérias, eu que, sem ser um aluno brilhante, tirava sempre os meus 14 valores. Aí, compreendi tudo e as minhas suspeitas bateram certo. Provoquei um incidente no átrio, com os nervos estatelei as vitrinas das notas no chão, com o barulho da vidraça a partir e com o pânico gerado, vi-me cercado pelos gorilas e antevi, tal um relâmpago, que se me apanhassem nunca mais seria um homem livre e a tropa seria a dobrar. Com a pouca experiência que tinha de fugir à GNR, quando ia para a piscina de Alpedrinha de bicicleta, sem carta, nem matrícula e com poucos travões e pneus carecas (imaginem a multa) nas férias grandes, assim me valeu milagrosamente naquele dia conseguir escapar pelo meio da multidão, ainda bem que não havia câmaras de vigilância.

Ocorreu este incidente por volta do 20 de Julho de 72 às 15 h, no dia seguinte, às 4 h da manhã, atravessava clandestinamente a fronteira em Vilar Formoso e fiquei fechado do lado espanhol até às 8 h da manhã, hora em que abria a fronteira, para que o meu passador pudesse passar "legalmente". Vim a saber mais tarde que nesse próprio dia, o meu tutor em Lisboa tinha a PIDE à porta. Não me tinha enganado sobre a razão dos meus zeros da véspera. Estava condenado.

Mas a fuga estava em andamento e nada me podia travar nem demover na minha determinação. Já adivinharam porque é que empreguei aquele galicismo? Adivinharam o país para onde fugi? Fica para o segundo episódio.

Caros amigos, o programa vai ficar interrompido por causa do  sono e da emoção  e seguirá dentro de alguns dias, prometido.

Um abraço a todos. 

Zeca6.jpeg

Zeca

O amigo Colaço ilustra o texto no seu Animus com este pormenor de uma foto do tempo do Seminário. Este era o jovem Zeca. Simpático, não?

 

Aniversário

25.08.20 | asal

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PARABÉNS!

Celebra hoje, dia 25, o seu 70.º aniversário o Luciano Farinha da Silva, da Várzea dos Cavaleiros, concelho da Sertã, esta linda terra em que realizámos o nosso Encontro de Maio/2019.
Era lá que nós contávamos abraçar este conterrâneo! Mas não deu...
De qualquer modo, aqui deixamos os PARABÉNS DO GRUPO DOS ANTIGOS ALUNOS, com votos de boa saúde e longa vida na companhia de muitos familiares e amigos. 
Contacto: tel.  219 163 278
 
Para reflexão:
“O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis” (Fernando Pessoa).
Agradeço a Deus por todos os benefícios que tenho recebido de suas mãos diariamente: pela vida, pelos dons que me concedeu, pela natureza, pelo Universo, pelas pessoas que me permitiu conhecer e amar, pelos ensinamentos nos momentos de adversidade. Faço o exercício de gratidão reconhecendo tudo o que tenho, o que sou, os sonhos realizados e os pequenos milagres que aconteceram durante a minha caminhada, valorizando cada momento, cada bênção e aprendizado.

Tem muito valor para mim

24.08.20 | asal

José Maria Lopes.JPG

Porque o Pires Antunes trouxe para o Facebook duas imagens que completam este belo texto do amigo José Maria Lopes, resolvi publicá-lo de novo, agora embelezado de novas fotos. AH

COROAÇÃO DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA EM 13 DE MAIO DE 1946

 
Este acontecimento que vou contar tem muito valor para mim, mas pode ser que o não tenha para muitos, mas, mesmo assim, vou descrevê-lo com muito orgulho.
Lembrei-me do episódio que descrevo por ter lido na imprensa que este ano se assinalaram, em 13 de Maio passado, 100 anos da primeira imagem de Nossa Senhora de Fátima, aquela Senhora  vestida de branco como relatou a Irmã Lúcia.
Estávamos no ano de 1946 e frequentava o terceiro ano no Seminário do Gavião quando em 13 de Maio a imagem acima referida. foi coroada pelo cardeal Masella, "a latere" do Papa Pio XII a imagem acima referida.
Era (e é) uma coroa em ouro e pedras preciosas oferecida por muitas mulheres portuguesas em agradecimento pelo facto de Portugal não ter entrado na segunda guerra mundial.
Eu fui o único seminarista da nossa Diocese que teve o privilégio de assistir de perto, pertíssimo, a essa histórica cerimónia da coroação. E fui peregrino porque o pároco da minha aldeia, Tinalhas, organizou uma excursão nesse 13 de Maio em camioneta fretada. A minha Mãe, uma das passageiras, solicitou ao nosso pároco que a camioneta passasse pelo Gavião para me levar com o consentimento, naturalmente, do reitor do Seminário, padre Falcão.

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Assim sucedeu, e eu vestido de batina e de sobrepeliz tive lugar nas cerimónias junto ao Cardeal Masella e outros co-celebrantes, tendo ajudado à comunhão por todo o recinto de bandeja na mão.

Assisti, como disse, de perto à coroação, acontecimento gravado, profundamente, na minha memória.
Geralmente, tal como diz o povo "não há bela sem senão". Então o senão foi que as senhoras de Tinalhas, incluindo a minha Mãe, prepararam um farnel do melhor que puderam a contar comigo e o pároco - galo frito, ovos verdes, bolos, etc - e nós, devido à nossa prestação nas cerimónias não nos foi possível confraternizar as refeições porque fomos levados para uma das casas religiosas do Santuário onde comemos e dormimos e só após o ADEUS À VIRGEM, pudemos reunir-nos à nossa comitiva.
José Maria Lopes

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Aniversário

23.08.20 | asal

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Nasceu em 23 de Agosto de 1959 nas Sarzedas o Tomás Luís Pinheiro, que hoje vive na Póvoa de Santa Iria. E dele não temos mais informações. Ou melhor, sabemos que também torce pelo Benfica, como outros muitos.

Mas aqui estamos a dar-lhe os PARABÉNS deste grupo, desejando-lhe muita saúde e longa vida. Gostamos muito que apareça nos nossos encontros. E também pode escrever nas nossas redes sociais...

 

Para reflexão:

“Como filhos da luz e da verdade, evitai a divisão e as doutrinas perversas; para onde vai o pastor, devem segui-lo as ovelhas”

Santo Inácio de Antioquia

Do baú do Animus

22.08.20 | asal
De Agosto 2014, este delicioso texto. Lembras-te, Zeca? Foi só há seis anos... AH
 
ZECA ANDRÉ O SALTO PARA A LIBERDADE EM 1972 - escreve o próprio Zeca André

 

21 de Julho de 1972 - 4 h da manhã
Fuentes de Oñoro

Saí de Alcains por volta da meia noite e envolvi os meus pais nesta tremenda situação, pois queria ir para França, país que em segredo sabíamos que acolhia os refratários, desertores ou simplesmente pessoas que queriam melhorar as suas vidas. Os meus pais tinham emigrado um ano antes para esse país e exposta a minha situação sem recuo possível, temerariamente aceitaram correr o risco apesar do raspanete da ordem ao qual não escapei. Lá se fora o sonho dos meus pais, a minha mãe queria que fosse padre, o meu pai militar de carreira, como o Capitão Ramalho Eanes ícone de Alcains. Mas enfim, aceitou cobrir-me. Na véspera tínhamos combinado com o "passador" para estar na fronteira de Vilar Formoso às 8 h da manhã, hora da abertura da fronteira.

Esse passador, que não o era em boa verdade, foi um herói, quando lhe expus a minha situação e porque vivia na mesma localidade em França que os meus pais de quem eram amicíssimos, de imediato e sem hesitar aceitou levar-me, interrompendo as suas férias. Tinha uma carrinha boca de sapo Citroën DS de 7 lugares e lá apareceu à hora marcada com a sua esposa e filha de três meses. Do nosso lado éramos 5 pois além dos meus pais, ia o meu irmão mais velho que tinha exemplarmente cumprido os seus "deveres" militares e que, homem livre, queria ir trabalhar para França e a minha irmã mais nova, que coitada não compreendia nada do que se passava à sua volta.

Saímos portanto à meia noite, o meu cunhado levou-nos para Vilar Formoso pela estrada esburacada do Sabugal, mais discreta que a da Covilhã e Guarda. Chegamos às duas da manhã e a partir desse momento começa verdadeiramente o drama a tramar-se. Parámos a uns 500 metros da fronteira, o meu pai e o meu irmão foram ver o ambiente e tudo parecia calmo. Resolvemos pôr-nos em ação. Os três fomos à estação da CP e nem vivalma, caminhamos ao longo da linha e atravessámos a fronteira e de imediato fui refugiar-me numa retrete pública onde me tranquei à espera das oito horas.
E aí estou eu sozinho, cheio de medo, cada barulho era suspeito, só tive um pouco de companhia com o ladrar dos cães e o chilrear dos pardais que, como a natureza, acordavam para um dia banal. E as horas pareciam séculos e cenários macabros desfilavam na minha mente e se fosse preso? A PIDE estava do outro lado da fronteira e colhiam-me como um criminoso e o que me esperava era fácil de adivinhar, interrogatórios, tortura, prisão, tropa e...guerra colonial.
Depois afastava essa idéia e outra tão sinistra me aparecia, o que vai ser de mim no exílio, em que área vou trabalhar? Como vai ser a minha vida com os meus pais, confrontados com a situação de que nunca mais poderia regressar a Portugal enquanto o fascismo governasse em Portugal? Para eles o governo era tão forte e o Marcelo Caetano tão bom que nunca mais mudaria a situação em Portugal.
 Enfim estes filmes desfilaram várias vezes e o tempo lá foi passando até que as 9 badaladas tocaram no sino da igreja de Fuentes de Oñoro (8h em Portugal).
O ritmo cardíaco acelerou e os minutos pareciam horas, tinha que me conformar que a 500 metros dali estavam lá a minha gente a cumprir as formalidades da ordem, controlo e carimbo dos passaportes e que, se Deus quisesse, iam aparecer de um momento para o outro. Entretanto à minha volta já havia animação e as pessoas utilizavam os WCs e iam-se embora naturalmente.
Até que o toque combinado bate à porta. Pai?  Sim, Ouf !...
Toca de entrar no carro e por-nos a milhas para nos afastarmos do perigo. Parámos uns 20 kms mais além para travar conhecimento com a generosa família e comer uma bucha porque o nervoso miudinho tinha provocado uma fome de desesperado.
Francisco Louro, de Sangalhos, Mealhada, Globo trotter destemido, ajudou muito a distender o pesado ambiente a bordo, ele que fora ex-comando em Angola, tinha passado por pior. O que interessava era atravessar a Espanha de Franco, pois os carabineiros se me apanhassem, entregavam-me manu militari à polícia do outro lado e sabemos bem qual era. A viagem de 600 kms até ao outro lado de Espanha decorria com a maior normalidade, a minha mãe não  parava de rezar o terço, cada um lá dizia das suas larachas e de vez em quando avistavam-se uns carabineiros a controlar o trânsito e quer queiramos quer não o receio aparecia, mas logo a  seguir a tensão voltava ao normal. Passamos por Salamanca, Valladolid, Tordesillas (aí lembrei aos viajantes que naquela cidade se assinou o tratado de Tordesillas que dividiu o mundo em duas partes, uma para Portugal e outra para a Espanha) nesse tempo não precisávamos da Tróika. Burgos, Vitória e os Pirinéus foram alcançados e chegámos a Irun por volta da meia noite. E agora? Outro bico d'obra. Como vamos fazer para passar a fronteira sem passaporte? Esconder-me no carro, mas eles têm lanternas, ver-me-iam sem dificuldades, enfim a fila de carros foi avançando e nenhuma solução à vista.

O destino encarrega-se de fazer bem as coisas. A Gendarmerie manda-nos parar, pede-nos os passaportes, o Xico Louro entrega os passaportes que recolhera, isto é 7, contam os 7 passaportes sem os abrir, contam as cabeças que viram e  confirmaram 7 e mandam-nos seguir. Mas na realidade éramos oito pessoas, não viram que tínhamos escondido a bébé de 3 mesitos a Teresinha. Mas como esta já tinha passaporte, foi a minha sorte. Passei com um passaporte de bebé  como costumo contar a quem quer ouvir a minha história.

E aí estou em França, país reputado humanista e acolhedor com a certeza de que pelo menos já não corria o risco de ser entregue à polícia portuguesa. Hendaye, a mítica Hendaye para vários milhões de portugueses, sinónimo de liberdade, de esperança e de nova vida.

Esta foto data do 8 de maio de1972, no dia do meu 19º aniversário, dois meses antes de me ter exilado para França.

O 3º episódio fica para mais tarde, assim o suspense continua.

 

Zeca André

Aniversário

22.08.20 | asal

MAIS UM ANIVERSARIANTE!

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Nasceu em 22/08/1952 nos Montes da Senhora, quando eu já estudava latim no 2.º ano; andou no seminário, onde bebeu da mesma água e comeu das sardinhas com feijão-frade como nós...

É o Zé Pedro, ou melhor José António Cardoso Pedro, que frequenta os mesmos espaços que nós, também agradecido pela educação que recebeu. Goza neste momento a sua aposentação e eu estou à espera que ele comece a falar das novidades da sua vida de jubilado. Aqui, vestido de amarelo, esteve a falar muito bem!

Aqui te deixamos as nossas saudações, os nossos PARABÉNS E VOTOS DE LONGA, SAUDÁVEL E FELIZ VIDA...

 Contacto: tel. 965 019 564

Uma surpresa: A filha, Joana Pedro, foi passar um ano como professora voluntária numa missão de Moçambique. As suas impressões eram registadas em blogue, que um dia passou a livro, intitulado "Até Outro Dia". Esse livro foi adquirido por alguns num Magusto do Restelo. Hoje deixo aqui uma página:

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Palavra do Sr. Bispo

22.08.20 | asal

UMA JOVEM HEROÍNA - SANTA INJUSTIÇADA

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Desde que o duque da Normandia, descendente dos vikings, à falta de descendentes diretos ao trono, se apoderou da Inglaterra em 1066, os monarcas ingleses passaram a controlar vastos domínios em território francês. Com o rolar dos tempos, as rivalidades foram-se atiçando. Quando a França quis recuperar esses territórios, choveram mosquitos por cordas. Nem a França nem a Inglaterra morriam de amores uma pela outra, o que levou a uma das mais longas e sangrentas guerras da Idade Média. Durou 116 anos, de 1337 a 1453, ficou conhecida pela Guerra dos Cem Anos. A falta de descendentes reais, o querer ou o não querer unificar as coroas, o facto de ser negada às mulheres a sucessão ao trono, os interesses senhoriais e outros nobres quiproquós deram água pela barba a muita gente. Quando alguém se apresentava como solução, se era um sinal de esperança para muitos, outros muitos ficavam pior que baratas tontas. Se os tratados assinados alegravam uma grande parte, outra parte, não menos grande, sentia-se humilhada e ofendida. Com tais ventanias era difícil fechar as portas à guerra.

E eis que surge Joana d’Arc, qual França renascida das cinzas!, uma garota nascida em Domrémy, região de Borrois, em 6 de janeiro de 1412, a mais nova de cinco irmãos. Foi esta menina, educada numa catequese centrada em Cristo e em Maria, de frequência diária no culto e com prática sacramental, com forte personalidade e determinação, que cortava o cabelo à rapaz e vestia roupas masculinas, que não sabia ler nem escrever, que trabalhava com os seus pais na agricultura, que viu familiares seus serem mortos aquando da destruição da sua aldeia, foi esta menina que se apresentou resolvida a libertar a França. Afirmava que aos 12 anos teve uma revelação divina a dizer-lhe que deveria integrar o exército francês e ajudar o rei na luta contra os ingleses. Esta voz e apelo interior não desapareciam, repetiam-se, voltavam a repetir-se, de novo se repetiam a martelar que "É preciso expulsar os ingleses da França". Nessa revelação, diz ela, viu, ouviu e identificou, no meio de uma grande luz, o arcanjo São Miguel, Santa Catarina de Alexandria e Santa Margarida de Antioquia.
Movida por essa voz e com apenas 16 anos, abalou da sua aldeia para ir falar com o rei Carlos VII, a Chinon, estávamos em 1429. Como, para lá chegar, teria de atravessar um território longo e adverso, foi pedir uma escolta à guarnição instalada numa cidade vizinha da sua, em Vaucouleurs. O comandante não foi fácil de assoar, mas acabou por ficar convencido. Fê-la portadora de uma carta de recomendação, cedeu-lhe um cavalo e mandou que seis homens a acompanhassem ao longo da viagem que durou onze dias. O rei, porém, mesmo assim, quis prová-la, não viesse ela com a intenção de o matar. Então, armadilharam a coisa. Diz-se que o rei Carlos vestiu roupas comuns e misturou-se na sala com os outros nobres, enquanto outra pessoa ficou sentada no seu trono. Joana, sem nunca ter visto o rei, entrou, atravessou o salão e, sem qualquer hesitação, foi ter com o verdadeiro rei, reconhecendo-o disfarçado entre os nobres. Curvou-se diante dele e disse-lhe que estava decidida a comandar os seus exércitos até à vitória: “Em nome de Deus, vós sois o rei! Se fizerdes como eu ordenar, os ingleses serão expulsos e todos vos reconhecerão como rei de França”. O rei, e lá os da sua alta comandita, ainda submeteram Joana a um pormenorizado interrogatório sobre quem é que ela era e ao que vinha. Com tantos a quererem tirar nabos da púcara, da púcara nada saía de inquietante, apenas transparência, honestidade, amor a Deus, à Igreja, vontade de ajudar o rei e a França, boa fé. No entanto, o que realmente se teria passado nesse encontro com o rei, ainda hoje se discute. A própria Joana não quis explicar, apenas disse que o rei teria recebido um sinal para que acreditasse nela.
Com um exército desmoralizado, cansado da guerra, com uma França dividida em dois reinos e ela com a soberania sobre o mais pequeno, constantemente derrotada e humilhada, o rei não olhou para trás. Confiou nesta jovem mulher que lhe pareceu de garra, iluminada, “de pelo na venta”. Se o palco da guerra era para homens de barba rija, neste momento histórico em que só um milagre poderia salvar a França, Joana, porque incorporava essa esperança, obteve o benefício da dúvida. O rei entrega-lhe a espada, tralha de proteção, um estandarte e o comando de um pequeno exército, cerca de cinco mil homens. Ela organizou-o a seu jeito, não para lutar por interesses senhoriais, mas para lutar pela França e pelo seu rei, reforçando a ideia de nação, convencendo os inseguros e desanimados, gerando brio no coração dos franceses. Numa carta que havia ditado para o rei de Inglaterra e seus aliados, ela propunha a paz, mas não teve acolhimento. Então, com o seu exército moralizado, Joana avança para Orleães. Ao chegar, intimou o inimigo a render-se: “Voltai para o vosso país. É Deus que assim o quer! O reino da França não é vosso, é de Carlos! Eu sou uma enviada de Deus, a minha tarefa é expulsar-vos daqui! Deus dar-me-á força necessária para vencer os vossos ataques!”. Com certeza que os soldados ingleses olharam para a cachopa, armada em chefona, como Golias olhou para David! Mas Joana, ciente de que em tempo de guerra não se limpam armas, não esteve com meias medidas, ela tinha uma missão a cumprir. Ao seu exército, que se sentia mais corajoso do que nunca e acatava as suas ordens e liderança como divinas, Joana ordena que atacasse os invasores. O êxito não se fez esperar. Ao fim de três dias, os ingleses deram às de vila-diogo, Orleães ficou livre. O mesmo aconteceu, logo em seguida, com Reims. Eis que se dá o esperado milagre: as palavras de Joana concretizam-se, os ingleses sofrem avultados danos, as vitórias foram evidentes, o rei Carlos VII é reconhecido e coroado como legítimo rei da França, segundo as antigas tradições, na catedral de Reims. E Joana lá estava, presente e feliz. Acompanhada do seu estandarte, assistiu à cerimónia, abraçou o rei recém-coroado e dirigiu-lhe a palavra como rei de França, foi em 17 de julho de 1429.
Próxima dos soldados com testemunho humano e evangelizador, em maio do ano seguinte, Joana tenta libertar a cidade de Compiègne. A coisa, porém, não correu bem. Joana ficou prisioneira dos seus inimigos.
Obscuros interesses de políticos e de religiosos, aliados aos da Universidade de Paris e do Estado, arquitetaram um julgamento político de conveniência, “em matéria de fé”, no tribunal da Inquisição da França inglesa. Ainda apelou ao Papa, tal apelo foi rejeitado pelo tribunal. Sozinha, num julgamento baseado na presunção de culpabilidade, sem advogados de defesa, com testemunhas de acusação à la carte, sem qualquer investigação sobre a sua vida, privada de qualquer apoio humano e espiritual e com claras intenções do tribunal, não havia hipótese de absolvição, era o poder e o orgulho dos grandes perante a humildade dos pequeninos indefesos e da sua missão: «Entrego-me a Deus meu Criador, amo-O com todo o meu coração». Aos juízes ela exprime a sua convicção: “De Jesus Cristo e da Igreja eu penso que são um só, e não há que levantar dificuldades a esse respeito” (cf. CatecismoIC795). Interrogada sobre se tem a certeza de estar na graça de Deus, ela responde: ‘Se não estou, Deus nela me ponha; se estou, Deus nela me guarde” (cf. id. 2005). Aqueles doutores da lei que, com as suas curiosidades mórbidas e farisaicas a torturaram durante meses, apresentaram setenta artigos de acusação, posteriormente reduzidos a doze. Acusaram-na de herege, bruxa, blasfema, mentirosa, prostituta...
Vestida de branco e após ter recebido a Sagrada Comunhão, em 30 de maio de 1431 foi levada à Praça do Mercado Vermelho, em Rouen, ao local da execução, tendo pedido a um dos sacerdotes que conservasse diante da fogueira a cruz processional. Após terem lido a sentença de condenação, foi queimada viva perante a multidão, contemplando Jesus Crucificado e repetindo várias vezes o nome de Jesus em voz alta (cf. id. 435). As cinzas foram lançadas ao rio Sena para que não se tornassem objeto de veneração pública. Tinha 19 anos de idade, “mais ou menos”, como ela dizia, pois há algumas dúvidas quanto ao dia do seu nascimento. Para os franceses, o tom estava dado, a morte de Joana fez aumentar o seu patriotismo, o imaginário popular quase a transformou em lenda. Incentivados pela sua coragem e martírio, continuaram a lutar pela total libertação da pátria. Napoleão Bonaparte declarou-a como símbolo nacional da França.
A condenação de Joana, porém, não foi pacífica. O Papa Calisto III mandou examinar o processo da sua condenação. Cerca de 25 anos depois, foi reconhecida a sua nulidade por vício de forma e de conteúdo. Foram ouvidas cerca de 120 testemunhas que a tinham conhecido. Joana foi reabilitada de todas as acusações, foi proclamada a sua inocência e formalmente declarada como mártir da Pátria e da Fé. Foi reconhecida pelas suas virtudes heroicas, provenientes duma missão divina, tornando-se em heroína da nação francesa. Beatificada por Pio X em 1909, foi canonizada por Bento XV em maio de 1920. É Padroeira e figura popular no país e no mundo, é referida várias vezes no Catecismo da Igreja Católica e pelo Papa Francisco aos jovens, influenciou muita gente, incluindo Santa Teresa do Menino Jesus, é personagem central de muitas expressões culturais, artísticas, literárias, cinematográficas... Foi uma mística comprometida no meio dos dramas da Igreja e do mundo do seu tempo.

Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 21-08-2020.

Aniversário

21.08.20 | asal

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Faz anos o Joaquim Raposo, natural de Monforte da Beira, onde nasceu em 1942. Pertence ao grupo dos entrados  no Gavião em 1954.

Presentemente, vive em Almada, aqui bem perto, à espera de um primeiro encontro.

PARABÉNS, Joaquim! Votos de muita felicidade e com saúde para melhor gozar a vida.

Contacto: tel. 919 625 157

NOTA: Reflexão do dia:

«Podemos acreditar que tudo que a vida nos oferecerá no futuro é repetir o que fizemos ontem e hoje. Mas, se prestarmos atenção, vamos nos dar conta de que nenhum dia é igual a outro. Cada manhã traz uma bênção escondida; uma bênção que só serve para esse dia e que não se pode guardar nem desaproveitar. Se não usamos este milagre hoje, ele vai se perder. Este milagre está nos detalhes do cotidiano; é preciso viver cada minuto porque ali encontramos a saída de nossas confusões, a alegria de nossos bons momentos, a pista correta para a decisão que tomaremos. Nunca podemos deixar que cada dia pareça igual ao anterior porque todos os dias são diferentes, porque estamos em constante processo de mudança.»

Paulo Coelho

Aniversário

20.08.20 | asal

É verdade, faço hoje 81 anos! Por um lado, feliz por a vida ter sido para mim uma bênção e por me Eu em Faro.jpgencontrar ainda com alguma força física e energia espiritual/mental... Tenho muito de que me alegrar, desde a minha família até aos meus amigos e mesmo aos projetos a que meti mãos...

Por outro lado, verifico que a idade que me falta já não é muita. Estamos todos a caminhar para os últimos dias, a andar mais trôpegos, a sentir falta de forças e de "vontade de fazer"! Sobretudo, tenho de me adaptar às minhas deficiências, cada vez maiores, mesmo que as recauchutagens da medicina tentem consertar os tecidos rotos...

Dou graças a Deus e a todos aqueles que me ajudaram e ajudam neste longo caminhar. E vamos vivendo, que a Vida é muito bonita! António Henriques

Contacto: tel. 917831904

NOTA: Para reflexão, trago para aqui o texto de Click to Pray, que eu uso para rezar com o Papa:

“O verdadeiro humilde sempre duvida das próprias virtudes e considera mais seguras as que vê no próximo” (Santa Edith Stein).

A humildade me aproxima a Deus. Que eu saiba executar minhas ações sem me engrandecer pelos meus feitos, e veja tudo o que faço, os meus dons colocados em prática como uma maneira de agradecer ao Senhor por tudo o que Ele me confiou. Reconheço todas as maravilhas que Ele realizou e realiza em minha vida. Alegro-me por sua bondade. Que todas as minhas qualidades não sejam motivos para eu me vangloriar, mas sim para oferecê-las em benefício do próprio Reino.

(In Click to Pray, dia 18/08, tarde)

O dia-a-dia

19.08.20 | asal

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Continuamos a ir até ao Seixal nestas manhãs de pandemia e confinamento, reservando-nos embora aos contactos mínimos. Temos muito espaço para fazermos as nossas caminhadas quase como solitários peões.

Mas vamos olhando o ambiente, que muda a cada dia. Hoje, em maré vazia bem pronunciada, chamou-nos a atenção a quantidade de apanhadores de amêijoa que por lá se espalhavam. Contámos mais de 50...

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E alguns, pelas 11 ou 11,30h, saem de lá com um saco de muitos quilos deste marisco saboroso.

Todos vão fazendo pela vida, as pessoas, as gaivotas, as pombas em frenesim contínuo e os pardais...

Enquanto não chegam outras fotos, vejam estas.  

AH

NOTA: Hoje o dia está assim, nuvens e sol, entre o Seixal e o Barreiro. Perdoem-me os que vivem lá para o Norte, cheio de chuva e frio! AH

Aniversário

18.08.20 | asal

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Celebra hoje o seu 81.º aniversário o Mário Clemente Delgado, colega de muitos anos no Seminário, que quis olhar a luz do dia dois dias antes de mim.

Caro amigo, aqui deixo os PARABÉNS dos teus colegas do seminário, com votos de boa saúde e ainda longa vida no gozo de todas as faculdades. E que sejas feliz! 

Contacto: tel. 936 644 684

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