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Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

O HOMEM

16.11.18 | asal

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Reflexões de um pensador!

(De como, em depoimento simples e despretensioso, e baseado no prosaico conhecimento empírico dum percurso de vida em comunidade, um qualquer indivíduo pode também dissertar acerca de si próprio e dos seus semelhantes, sem causar dano aos credenciados que, através de profundos e louváveis estudos, tentam decifrar quem é o complexo ser da natureza habitualmente designado por Homem. Tolerância para os primeiros e louvor para os segundos).

 

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Na tentativa de coordenar ideias que me possam conduzir ao agrupamento de umas palavras que resultem  num pensamento pretensamente original sobre o ser humano, sinto-me surpreendido com esta constatação: como é possível que, conhecendo tantos homens há tanto tempo ( uns com H, outros com h) e sendo eu mesmo homem – aqui com h pequeno por uma questão de honestidade e discrição -, depois de tanto ler compêndios, uns mais fastidiosos outros mais interessantes, de autores de vários matizes, me encontre, neste momento, tão embaraçado para alinhavar umas simples linhas acerca do ser da natureza a que vulgarmente chamamos Homem, isto é, do Ser Humano.  O pensamento embargado não sei por que misteriosa influência, as mãos como que presas impedindo a movimentação dos dedos que hão-de materializar a tarefa da escrita, o cérebro como que paralisado, sinto-me à beira de me entregar a perros que me levem ao desespero e à inacção, desprezando a tarefa que me propunha realizar, ainda que de forma primária, aliás, a única ao meu alcance.

        Como que agarrado a um arbusto à beira duma ravina, resta-me recorrer à evocação de alguma ideia alheia que me ajude a encarreirar algumas considerações sobre o assunto. Vou, pois, pegar numas palavras atribuídas ao José Almada, o Negreiros,  um dos vultos da nossa cultura do século passado. Terá dito um dia: - Vim tarde ao mundo, pois quando cheguei  já outros tinham inventado todas as palavras necessárias para salvar a humanidade. Neste momento, já só falta uma coisa: salvar a humanidade. E disso eu não sou capaz.

        Sem que propriamente me sinta a plagiar - que seria feio!– vou situar-me na atitude de simples imitador. Também eu sinto que já vim tarde ao mundo – e ainda bem! – pois quando cheguei já se tinham inventado todas as palavras para definir e caracterizar o Homem. Já só falta uma coisa: compreender o que verdadeiramente é o homem. E eu, isso, não sou capaz de o fazer. Contudo, pesquisar acerca de tudo o que a nossa capacidade de raciocínio ainda não atingiu um grau que nos satisfaça, constitui tarefa consuetudinariamente aceite e louvada. Refugiado neste princípio, com o alívio que daí resultou, eis-me mais à vontade para alinhavar umas frases onde, sem responsabilidades  de maior, poderei dissertar um pouco  acerca desta unidade complexa que é o ser humano. No entanto, e ainda antes de me embrenhar nalguma teia de difícil saída, não resisto a mencionar um episódio simples que refere que um dia alguém propôs a um conhecido filósofo ( cujo nome agora não me ocorre)  que definisse homem e mulher. A resposta dele foi uma pergunta: - Qual homem? Qual mulher?

        Já aqui, através desta reflexão do filósofo, nós percebemos que  não só o homem não é igual à mulher, como qualquer homem nunca é igual a outro homem, nem uma mulher a outra mulher. Cada ser humano é uma identidade, tem a sua própria identidade. Faça-se o clone e, indubitavelmente, haverá sempre diferenças. Porém não se confunda igualdade com identidade. Coisas diferentes mas que andam a gerar em certos locais confusões delirantes, com ventos a soprar dos lados de S. Bento.

     Perante este molho de verdades por demais reconhecidas, fácil é concluir quão difícil é manusear dados, elementos, conceitos, conjecturas que possam gerar uma confluência de opiniões coincidentes, conhecendo-se  apenas uma certeza: o ser humano é mais complexo do que a capacidade que tem para se conhecer a si próprio.

         Qual o homem que não põe, muitas vezes, perguntas a si próprio para melhor se ir compreendendo acerca de quem é? Quantos de nós não questionamos os nossos procedimentos, chegando a pensar que não nos estamos a reconhecer em face do que julgamos ser? Porque receamos muitas vezes o nosso comportamento, não confiando nas capacidades de que julgávamos estar possuídos? Quando dizemos com ênfase, para que os outros nos acreditem, "eu sou este, eu sou aquele, eu sou isto, eu sou aquilo", teremos de facto a certeza do que estamos a dizer e intimamente estaremos convictos das nossas afirmações? Como pode qualquer homem ou mulher garantir tudo isso aos outros se nem a si próprio se consegue convencer? Se todas estas interrogações não fazem sentido ou não são verdades, então eu não sou um homem. Poderei parecê-lo, mas não o sou.

    Dentro do reino animal, qual a posição do ser humano? A si próprio intitula-se como superior, porque dotado de capacidades mentais e intelectuais que só ele possui. Ou julga possuir. E só isso bastará para que se possa alcandorar a uma posição de superioridade? Ou a relatividade de tudo o que existe no planeta o aconselham a ser mais moderado no seu triunfalismo?

       Tudo isto em relação ao que o homem é ou não é. E se recuarmos à procura das suas origens? Se nos alhearmos das formas simplistas normalmente dadas pelas religiões, o imbróglio é ainda maior. Muitos conhecimentos se foram revelando ao longo dos tempos,  sempre na perspectiva de encontrar uma explicação natural e científica, mas inúmeras dúvidas permanecem mesmo nesta época do conhecimento.

       A explicação um tanto prosaica da Bíblia perdurou por muitos milhares de anos e era tomada por grande maioria como a fonte de toda a verdade. Porém, apesar dos conhecimentos adquiridos ao longo da história acerca da evolução do ser humano, embora quebrando muitos tabus, as dúvidas persistem e continuarão por muitos e muitos anos.

        Acabou por salvar um pouco a situação o inglês Charles Darwin que , em pleno século XIX, após muitos e profundos estudos, publicou a obra “ A origem das espécies” onde teoriza a evolução das espécies ao longo do tempo. Porém, até hoje, ainda falta convencer muita gente das teorias que divulgou. Em que ponto estamos? Não direi no zero, mas, sem dúvida, muito longe de conclusões definitivas. De toda a verdade. Será ela revelada um dia? Mistério, o refúgio de tudo o que não se compreende. Como acontece com o etc. que, para além de ser o descanso dos sábios é também o refúgio dos ignorantes.

        O Homem é paradoxal, é complexo e tem uma espécie de computador programado na sua cabeça, de tal forma que nenhum perito informático jamais conseguirá lidar com ele sem repetidos enganos e colheita de dados errados. Parece que vem aí a propagandeada inteligência artificial. Receio que seja o fim do homem. Ninguém sabe onde isto irá parar. A humanidade desumanizada  é inimaginável.

    A sua complexidade idiossincrásica transformam-no numa espécie de amálgama de sentimentos e comportamentos contraditórios, que geram  conceitos díspares que alimentam  permanentemente as dúvidas a seu respeito. A título de curiosidade, apontemos um exemplo :- O Homem é bom ou mau? Logo se põem as questões teóricas a funcionar : - O que é o bem e o que é o mal? No meio de todos esta trapalhada cá nos vamos safando…

      Para mim, que às vezes sem qualquer resultado prático, também penso nestas coisas, o principal problema do homem é que é um ser individual e quase é obrigado a viver em sociedade. E um dos males mais pertinentes da existência principiam exactamente aí. E o grande drama do homem é que lhe é difícil sobreviver sem ser em sociedade. Se evocarmos Aleixo, o algarvio, poeta e puro de sentimentos sábios, disse ele num dos seus maravilhosos poemas: Não sou bem nem mal educado, sou apenas o produto do meio em que fui criado. Resumindo: ninguém é totalmente bom nem totalmente mau. Há quem diga que Hitler nutria muita ternura pelas criancinhas… Atrevo-me, porém, a recomendar que não censuremos com exagero  quando entendemos que alguém se portou mal. Será preferível que aceitemos que está apenas equivocado.   Vai longa a crónica e, para mal dos meus pecados, ou nem isso, tenho perfeita consciência de que nada escrevi que possa  aproveitar-se para definir e melhor compreender o Homem. Mas não me pesa esse facto, porque sei que todo o saber humano tem limites, ainda que tais limites sejam diferenciados. Para compor melhor o ramo, atentemos no dito popular: cada um é como é ou, como dizia um meu vizinho lá da aldeia, cada um é como a mãe o p..., digo, gerou.

       Dir-se-ia que esta abordagem de assunto tão delicado pode considerar-se ousada ou, no mínimo, arriscada, já que é elaborada em simultâneo com a ocorrência da  célebre Web Summit, em Lisboa, onde se apresentam todas as novidades surgidas nos diversos campos do saber, com especial incidência sobre a Informática. Por razões óbvias e por óbvias razões, não fiz a minha visita ao dito evento. Li que a coisa vai repetir-se por mais dez anos na nossa capital, com enormes lucros para o país. Qual país? O Portugal do interior, rural, pobre, carente dos afectos de Lisboa? Duvido. É que sempre que se gritam fortes pregões na capital, raramente ecoam  ou se reflectem naquelas paragens, e o que soa suscita quase sempre muitas incredulidades.                                                                                                  Não sei se no referido evento já apareceu o tão apregoado homem com inteligência artificial. Quando o cavalheiro ( será mesmo? )  aparecer teremos um caso bem bicudo. Mas isso ficará a cargo de gente com outra responsabilidade, que não a minha. Contudo, permita-se-me que acrescente um diálogo, havido entre dois interlocutores de inteligência natural que li já não sei onde: -  Sabes que metade da humanidade ainda não tem acesso à internet?  Respondeu o segundo: - Sei, mas isso  não o tomo como um mal. O verdadeiro mal é que já metade da população mundial tem acesso à internet…

      Resumindo, o mal não está na criatividade do homem nos vários campos do saber, na capacidade imaginativa, na descoberta de tecnologias que vão alterando o comportamento das sociedades ao longo do tempo. O mal está no desequilíbrio dessas sociedades que, por paradoxal que pareça, faz muitas vezes girar a roda da sorte ao contrário.

      Homens, sede homens! Homens, sede bons! Pode ser que este grito lançado pelo Papa  Paulo VI, agora a caminho da santidade, aquando da sua visita a Fátima, no ano do cinquentenário das aparições,  opere muitos e muitos milagres.  Que Deus ajude e os homens colaborem.  

   A. Pires da Costa

Atenção ao mapa

16.11.18 | asal

Caminho para a Igreja no Restelo

Têm surgido dúvidas acerca do itinerário para o local do nosso encontro de amanhã. Quem olha para o Google Maps e procura pela Igreja de S. Francisco Xavier encontra lá uma igreja com esse nome na Rua João Dias, que é longe da nova Igreja de S. Francisco Xavier. Como somos enganados!

Então, para não nos enganarmos, temos de escrever "Fábrica da Igreja de S. Francisco Xavier", que no mapa está assinalada junto da grande rotunda aonde vem dar a Av. Ilha da Madeira, que começa lá em baixo junto do Estádio de Os Belenenses. Quem vem do Norte (A5), pela Av. das Descobertas, junto do desvio para o Hospital de S.Francisco Xavier contorna a avenida para a esquerda pela Rua Antão Gonçalves e encontra logo a tal grande rotunda, onde, à direita, está a Igreja. É altura de desejar a todos: «BOA VIAGEM»!

Olhem o MAPA: 

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Anunciamos com gosto

16.11.18 | asal

Olá, caro António.

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Como falámos, é um gosto confirmar-te a forte possibilidade de estar convosco em parte do convívio de amanhã.
Aproveito para divulgar o convite para o lançamento do livro da Joana, também na tarde de amanhã. Este, em tom mais informal (com dois destaques meus, a amarelo). 
Num outro mail, de seguida, um convite mais formal e enquadrado.
Abraços,
José Pedro
 

MENSAGEM DA JOANA

Alguns de vocês ainda se lembrarão do blog que fui alimentando quando estive a trabalhar como voluntária em Itoculo. 

A Solsef resolveu transformar este blog em livro.  O pai e o mano trataram do português, o namorado da aparência, e eis que o blog virou livro! 

O lançamento será no dia 17 de Novembro (sábado) às 16h no Largo Residências (19, Largo do Intendente, 1100-158, Portugal).  Adoraria contar com quem andar por Lisboa nestes dias.   

Depois do lançamento vou marcar jantar no Barcabela (2 mn a pé do largo residências). Se quiseres vir, avisa para eu marcar a contar contigo.

 O livro custa 5€ e pode ser encomendado através de info@solsef.org  ou contactando a Solsef no facebook (https://www.facebook.com/SolSemFronteiras/). A totalidade dos lucros reverte para para o projecto Aprendizagem Inclusiva.

 Até outro dia,

Joana Pedro

"Até outro dia - Mpakha Nihiku Nikina" é um livro de Joana Pedro que retrata as vivências da autora durante o seu projeto de voluntariado de longa duração em Itoculo (Moçambique). Durante o ano de 2008, a Joana viveu com esta comunidade, conheceu a rotina, os costumes e criou memórias que ia partilhando num blogue. Passados 10 anos, viajamos por essas experiências nas páginas do livro que será lançado no dia 17 de novembro, pelas 16:00 horas. 

O valor angariado com a aquisição do livro reverte a favor do projeto "Aprendizagem Inclusiva", em Contuboel (Guiné-Bissau), cofinanciado pelo Instituto Camões I.P.

Sobre a Inteligência artificial

16.11.18 | asal

Os homens de monóculo são perigosos

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Nos debates desta semana no Festival de Filosofia, estiveram sempre presentes três atitudes bem distintas:

Tecnofobia: o medo da técnica e das suas inovações. Diria que olham apenas com um olho e, por isso, só vêem perigos. Ora quem só vê perigos, naturalmente, tem medo. E se o medo atinge uma determinada dimensão, então o futuro só nos pode reservar a catástrofe. O cinema de ficção científica há muito que explora este filão das visões catastrofistas.

Tecnofilia: o amor à técnica e às promessas e inovações que ela nos irá proporcionar. Estes olham apenas com o outro olho. Tudo o que aí vêm é extraordinário e os perigos ou não existem ou são despiciendos. A ciência e a técnica são a única esperança e a salvação da humanidade. As pequenas areias que surgem no percurso não passam de pequenos acidentes que, mais tarde ou mais cedo, serão eliminadas.

Realismo: não se podem negar os benefícios da tecnociência, mas também não se podem esquecer os muitos problemas que a sua evolução tem trazido. Como humanos, somos convidados a olhar com os dois olhos. Só esse uso garante uma visão mais equilibrada e perfeita. Só ela permite em simultâneo, usufruir dos inúmeros benefícios que a ciência e a técnica proporcionam, mas, ao mesmo tempo, exige atenção e vigilância em relação às ameaças e perigos que aí vêm e que já estão aí. A vida, no aqui e agora, é este misto de esperanças, alegrias e conquistas com ameaças, perigos e medos. Da estrutura de qualquer humano fazem parte as suas crenças e as suas esperanças.

O que há aqui de novo?

Nada. Sempre que há grandes alterações civilizacionais ou alterações significativas na vida de um ser humano, uns tendem a agarrar-se à segurança do passado, outros tendem a avançar pelo futuro sem precauções enfeitiçados pelo riso do futuro no horizonte. A maioria busca um equilíbrio, aproveitando a riqueza do passando, fazendo do futuro o motor do seu empenhamento e construindo e melhorando o presente.

Pessoalmente não sou dos que acham que no presente tudo está mal, como não aceito que tudo está bem. Nunca vivi num dos oásis que ouvi proclamar a vários políticos portugueses, mas também nunca vivi no vale de lágrimas bíblico. Felizmente! Não simpatizo com os que pensam que a História caminha do bem para o mal. Prefiro crer que avançamos do mal para o bem. Melhor, do menos bom para o melhor.

A vida humana é sempre esta mescla de bom e de mal ou menos bom. A minha idade ensina-me: o positivo (bem) e o negativo (mal) coabitam sempre, mas o saldo vai sendo sempre o avanço para melhor. Todos os indicadores o afirmam.

As grandes alterações prometidas pela Inteligência Artificial, as suas repercussões no Trabalho e as inquietações suscitadas pelo Transumanismo já não poderei ser testemunho ou utilizador, mas espero que os jovens filósofos abrantinos, quando chegarem à minha idade, possam confirmar a minha tese e esperança no poder humano para construir um futuro melhor. Como nunca, a terra será a casa de todos pela qual cada um é responsável e as inovações tecnológicas permitirão tornar os humanos verdadeiramente cidadãos do mundo.

Mário Pissarra