Muitos são os turistas que diariamente chegam à ilha da Madeira, atraídos pela sua beleza, pelo seu clima ameno e pela espetacularidade de alguns eventos que oferece, de entre os quais se destacam o “Fim de ano na Madeira”, célebre pela grandiosidade do seu fogo-de-artifício, e o “Carnaval madeirense”, animado por desfiles carnavalescos à boa maneira do Brasil.
Integrada no grupo organizado sob a égide da União das Associações dos Antigos Alunos dos Seminários Portugueses (UASP), no âmbito do projeto “Por Mares Dantes Navegados” e sob um programa que a mim me parecia ambicioso, desembarco, pela primeira vez, no aeroporto do Funchal, com“uma mala cheia de curiosidade e espectativas”, passe a expressão.
Por entre levadas e veredas, atravessando túneis, vias rápidas, estradas estreitas e sinuosas e caminhos ancestrais, percorremos a ilha da Madeira: uma Terra em que dominam as paisagens naturais e verdejantes de uma beleza indiscritível; mas também uma Terra de contrastes. Sentimos isto quando subimos ao Pico do Arieiro, um dos picos mais altos da Madeira.
A subida ao Pico do Arieiro é feita por uma dessas estradas estreitas e sinuosas, de desafiar o abismo, em que uma espreitadela aos desfiladeiros é de cortar a respiração, mas de uma beleza extraordinária!
Uma vez lá, confrontamo-nos com uma paisagem agreste, que se cobre de neve no Inverno, contrastando com o resto da ilha, verdejante e de clima ameno.
Sob um olhar, ainda que muito ligeiro, sobre a história económica do povo madeirense, pude constatar, nos diferentes percursos pela ilha, que, apesar de uma urbanização cada vez maior do território madeirense, onde se destaca o Funchal, ainda são percetíveis os poios,designação dada na Madeira aos socalcos cultivados. Eles testemunham o esforço de muitas gerações de agricultores que, desde o início do povoamento, lutaram por encontrar o seu sustento na encosta da montanha, desafiando a natureza e construindo muros sólidos de pedra para suster, de forma resistente, face à erosão provocada pelas chuvas, as terras para cultivo. Progressivamente abandonados, os poios são o vestígio de uma Madeira rural em que se praticava uma agricultura escassa e de subsistência.
Percorremos uma das muitas levadas que existem na ilha. Soubemos que a sua construção permitiu levar a água aos lugares mais secos e, consequentemente, torná-los mais produtivos.
As condições climáticas e o relevo montanhoso permitem ainda cultivar uma variedade de produtos mediterrânicos e tropicais. E isto pudemo-lo constatar quando entrámos, logo pela manhã, no Mercado dos Lavradores, no centro do Funchal, tendo sido agradavelmente surpreendida por um ambiente onde a beleza e o colorido de frutos exóticos impera.
Visitámos o povo madeirense em muitos dos seus aspetos culturais, nomeadamente através do seu tradicional folclore; e entrámos na sua religiosidade.
Conhecendo a história de cada uma das igrejas que visitávamos e interagindo com as comunidades locais na celebração da eucaristia conhecemos este povo na sua prática religiosa diária.
Da mesma forma, ao visitarmos a igreja de Nossa Senhora do Monte, padroeira da diocese e da cidade do Funchal e venerada desde os primórdios do povoamento da Madeira, tivemos contacto com a sua religiosidade pela devoção manifestada, em festas e romarias, aos seus santos devotos.
Ao visitarmos o mosteiro de São Bernardino, na cidade de Câmara de Lobos, conhecemos a história de um povo peregrino que ali afluía, deslocando-se sobretudo por mar, para, junto do túmulo de frei Pedro da Guarda, agradecer e pedir a sua interceção.
Ao longo das diferentes viagens pelo arquipélago da Madeira, vários foram os locais que visitámos, nomeadamente o Convento de Santa Clara e o Museu de Arte Sacra, para além das várias igrejas e capelas, que nos fizeram aperceber da forma como a arte, ao longo dos séculos, está intimamente ligada à Igreja e às diferentes formas de manifestação da religiosidade de um povo.
A ida à igreja paroquial de Santa Cecília, pela sua construção e pela sua história, sugere-nos alguma reflexão sobre os novos conceitos de arte e a sua influência na dinâmica religiosa de uma comunidade.
Merece uma especial referência a visita ao Bispo do Funchal, D. António Carrilho, pela forma como nos recebeu, generoso e de espírito aberto.
A curiosidade e espectativa com que iniciei a viagem pela ilha da Madeira manteve-se ao visitar a ilha do Porto Santo.
Num paraíso de magníficas praias de areia dourada, sobressaía a história de um povo que, pelo seu isolamento, foi objeto de saques de piratas e corsários; sofredor, mas lutador na procura pela sobrevivência contra a agressividade do clima e a aridez das terras.
Perante tudo isto, tenho de confessar que não me senti uma turista na ilhas da Madeira e do Porto Santo, mas antes uma visitante do seu povo, através do contacto com a sua cultura, a sua história e a sua religiosidade. Isso aconteceu graças ao grupo que integrei, sobre o qual não poderei deixar de destacar:
– os saberes do senhor Gama, sempre atento a cada pormenor da história dos locais que visitávamos;
– a sabedoria de monsenhor Luciano Guerra, sempre oportuno nas suas intervenções (a história do sapato produziu os seus efeitos!);
– a liderança, concertada com a Isabel Oliveira, do padre Armindo Janeiro na condução do grupo;
– o papel do padre Artur, enquanto dinamizador na preparação dos cânticos das celebrações eucarísticas.
Quero expressar um especial reconhecimento pela competência e generosidade dos motoristas e guias que nos acompanharam ao longo de toda a nossa visita ao arquipélago da Madeira.
Sobre todos os participantes tenho a dizer que, na minha terra, antigamente não era usual dizer-se que uma pessoa era simpática; para expressar essa ideia de uma forma mais calorosa, na linguagem popular, dizia-se que essa pessoa era amorável, bem falante ou de boas falas: foi assim este grupo!
A todos os companheiros desta jornada um grande Bem-hajam porque vim de coração cheio, pelo que vi e vivi.
Emília Ramos Pires, irmã de Alexandre Pires, do Seminário Diocesano de Portalegre