Querem papar o Papa Francisco
UMA REFLEXÃO PESSOAL
A guerra está ao rubro. De um lado, as tropas ultraconservadoras que querem papar o corajoso renovador Papa Francisco, capitaneadas pelo arcebispo Carlo Maria Viganò, que acusou o chefe da Igreja Católica de encobrir casos de abuso sexual, cometidos no seio da Igreja. Nas suas críticas, chegou mesmo a pedir ao Papa que se retire e abdique de continuar a ser o chefe da igreja católica. Na América do Norte e no Vaticano se concentra o epicentro deste sismo desafiador da doutrina do atual Papa.
Na outra frente de combate encontram-se os admiradores da obra de renovação da Igreja, imprimida por Francisco, ao longo do seu admirável pontificado, de abertura ao mundo dos mais marginalizados, nomeadamente as populações migradas. É este empenhamento papal que os ultraconservadores não toleram. Nomeadamente, ainda a nova visão da sexualidade humana, livre e responsável, bem como a nova relação da Igreja com os homossexuais. Recorde-se ainda a nova pastoral que promove a abertura aos divorciados recasados e a bandeira ecológica. Não deixa de incomodar a posição firme de Francisco face ao capitalismo selvagem que escraviza a humanidade e fecha as suas portas aos descartáveis mais idosos.
O recente pico do afrontamento entre estas duas visões da Igreja Católica rebentou com a última visita de Francisco à tão católica Irlanda, governada por um assumido homossexual.
Neste país, Francisco vestiu os paramentos roxos da penitência, para pedir perdão pelos desmandos inqualificáveis dos pecados de pedofilia, cometidos por numerosos membros do clero, um pouco por todo o mundo. Embora os fiéis tenham sido sensíveis a este ato de contrição, foram avisando o Papa de que não bastavam as lindas palavras, mas exigiam uma ação correspondente. Dentro desta linha, o Vaticano já foi avançando que novas medidas vêm a caminho, para se tentar travar esta mancha criminosa que se instalou na Igreja Católica, sempre santa e pecadora.
Recentemente, o episcopado português já veio a terreiro, colocando-se, assumidamente, ao lado das tropas que defendem o Papa Francisco e o seu admirável pontificado.
Quando as forças conservadoras se espalham por toda a Europa, defendendo, organizadamente, nacionalismos racistas e xenófobos, é altura de nos precavermos contra estas infiltrações antidemocráticas. O perigo espreita os momentos frágeis para estas forças angariarem e catequizarem os seus adeptos, sobretudo pescados entre a juventude, à procura de um ideal.
Esta extrema-direita tem aproveitado a vaga das migrações, para, demagogicamente, incutir o medo nas populações, ganhando a assim algum peso político, numa Europa em crise de valores. Mesmo em Portugal, segundo investigações recentes, este movimento xenófobo e racista encontra-se num processo de reorganização, com ligações internacionais. Com Putin e Trump a apostarem fortemente na divisão da UE, a Igreja que se tem mostrado com Francisco acolhedora dos migrantes, em lugar do medo, tem oferecido o abraço fraterno do acolhimento. Gesto contestado pelas forças da extrema–direita, contrária a todo o processo migratório que, na sua visão, é um perigo para os países de acolhimento.
Se combatemos os crimes hediondos de alguns membros da Igreja e discordamos do discutível celibato obrigatório do clero, também afirmamos a nossa fé numa Igreja Santa e Pecadora, sempre a necessitar de uma conversão e de uma renovação profundas. Que venha um novo concílio para aclarar as controversas questões do mundo católico, também em crise, com as igrejas a ficarem sem fiéis e com o clero a rarear, comprometendo o serviço dos fiéis.
Florentino Beirão