Uma visita rápida
Ao Cabo Espichel
Agora é um pouco cansativo... Além do trânsito sempre atulhado, vamos encontrar uns quilómetros de estrada com o piso esventrado, meia estrada em velho asfalto e outra meia macdamizada, à espera do tão desejado betume negro que lhe alise o dorso.
Mas é assim, nestas condições, que podemos mostrar aquele recanto aos nossos amigos estrangeiros. É engraçado ouvir da sua boca que "Portugal está na moda" e todos querem ver o que de especial tem Portugal. E realmente tem...
Não são apenas as belezas das nossas cidades, aqueles monumentos que circulam nos roteiros turísticos. Os nossos campos estão cheios de beleza variada que muita gente já descobriu. E hoje fomos até ao Cabo Espichel olhar mais uma vez para o conjunto paisagístico e arquitectónico da Senhora do Cabo.
Eu entretive-me a observar promenores. Vejam só as duas encostas tão diferentes geologicamente que lá se encontram: a norte, uma vertente modelada em diagonal agreste caindo sobre o mar; a sul, aquele piso liso sobre o qual apetece escorregar afundando-nos no mar imenso... No meio daquele promontório, a igreja e outras dependências quase esquecidas, mas que entre os séc.s XV e XIX fervilhavam de gente em peregrinação à Senhora do Cabo.
Avançando mais um pouco para o coração do conjunto, vemos a Igreja, recheada de altares laterais, ali colocados por obra dos círios, uma palavra quase em desuso. Círio é uma vela grossa e entra aqui na história porque a devoção à Senhora do Cabo ou da Pedra de Mua fez criar grandes deslocações de fervorosos peregrinos àquele local, numa manifestação colectiva de fé. Eram mais de 30 as freguesias, especialmente as da região saloia, a norte do Tejo, que anualmente se organizavam para, numa procissão de dias, ir oferecer à Senhora o seu círio.
Os reis, logo desde D. João I, apoiaram estas manifestações religiosas, mesmo com a sua presença, o que fazia que até uma Casa da Ópera aparecesse no local para formação e entretenimento cultural dos peregrinos.
A aparência arquitectónica do conjunto apela bem para uma ambiência de multidão, com todos aqueles espaços-dormitórios a gozar por dias. Esperemos que os projectos de valorização do local a cargo da Câmara de Sesimbra sirvam para um melhor aproveitamento turístico.
Só mais uma referência às pegadas de dinossauro que se podem admirar lá no fundo da encosta, que de início foram tomadas como as pegadas da muar que transportava a imagem da Senhora pela encosta acima.
Por mim, deixo-vos com mais estas duas imagens que me impressionaram.
AH