OS VALORES PERDIDOS...
O que tenho ouvido e observado no meu dia a dia
faz-me pensar; que raio de sociedade é esta! Com-
portamentos indesejáveis em público, em casa,
nos transportes, irresponsabilidades por todo o
lado e por aí fora …
Quando eu era criança, os valores e costumes que estávamos obrigados a cumprir estavam enraizados nos nossos lares.
Os nossos pais, na sua humildade e respeito, iam-nos ensinando a saudar as pessoas, tirar o chapéu quando entrávamos numa casa estranha, pedir a bênção aos nossos padrinhos e respeitar os mais velhos. Lembram-se!!
Há quem considere uma subserviência, mas o que é certo é que este estado de humildade e respeito não fez mal a ninguém e hoje estranhamos a perda destes procedimentos. Só a pessoas conhecidas falamos e cumprimentamos, dizendo "bom dia" ou um "olá" e nada mais nesta vivência diária.
Quando entrei para a escola, a autoridade do professor fazia-se notar. A sala barulhenta e em plena rebaldaria entrava em silêncio repentino logo que o mestre passava a porta da entrada. E, em saudação "hitleriana", levantava-se o braço direito e em coro dizíamos "bom dia, senhor professor" e só nos sentávamos quando ele mandava.
Não se estranhava.... era o comum de cada dia.
À medida que fomos crescendo e conhecendo outras paragens, estes valores foram-se diluindo no tempo, não se encaixavam, eram muito próprios das nossas aldeias.
Fomos esquecendo certas práticas e estilos de vida na ânsia de evoluirmos para um futuro melhor.
A sociedade foi ficando vazia destes valores, mas foi adoptando outros novos, com estilos de vida fácil, vulgares, frívolos e ilusórios.
É o vale tudo. Hoje prevalece a falta de respeito, de honestidade, integridade, justiça, a falta de unidade familiar e outros, que são considerados de bons costumes!!
A quem interessa o vazio destas práticas? A algum sistema? ou pessoas?
Os meios de comunicação social entram em nossas casas e apresentam-nos, como sendo normais, situações que vão ao encontro de muita coisa negativa. São assim algumas telenovelas, autênticas escolas de safadagem, os filmes bélicos e de terror em que as armas estão sempre presentes na prática de crimes hediondos, causando o repúdio e o franzir de olhos a quem os observa.
No entanto, ainda existe uma parcela da sociedade que consegue pensar e agir de forma racional e repugnar essa carga negativa.
Os nossos filhos e netos que hoje recebem esta sementeira de ensinamentos negativos, que comportamento virão a ter no futuro?
Estamos inseridos numa sociedade responsável em que muitas vezes não assumimos a nossa parte, deixamos andar… e transferimos essa responsabilidade para o Estado.
Esquecemo-nos que é no seio da família, quando ela está devidamente estruturada, que começa a lição das boas práticas.
Se o não fizermos e não formos verdadeiros, perdemo-nos no caminho, ficamos sem norte e caímos na vala da ignorância.
Predomina hoje a ganância e a sensação do ter e ignoram-se os valores essenciais. O que importa para a sociedade é o êxito; riquezas materiais, ambição e poder, profissão de destaque, liderança e o reconhecimento do trabalho.
É tudo correcto, mas este apego desenfreado às coisas deste mundo, desprezando o seu semelhante e afastando-se de Deus, não é aceitável.
Daí resulta uma série de práticas altamente condenáveis que presenciamos todos os dias, que matam, roubam e destroem os sonhos e as vidas das pessoas.
A sociedade terá de alterar estas atitudes e pôr em prática os valores humanos, os princípios que devem nortear as nossas vidas e dos nossos descendentes e quem nos rodeia.
Não tenhamos medo de dizer "não" ao negativismo e façamos a nossa parte, para que haja uma sociedade mais feliz e justa, sem violência e com amor ao próximo.
A educação não é um dever só da escola, a família tem um papel fundamental neste processo, não é procurando desculpabilizar o insucesso escolar dos filhos, mas o assumir da culpa desse fracasso e dos valores transmissíveis.
Esta tarefa exige um empenhamento de todos os que têm responsabilidades na estruturação da educação, formação e valores para uma sociedade que desejamos melhor.
Que mudem os tempos e as vontades.
João Antunes