NATAL, NATAL
Já fica distante o Natal da minha infância, não tem comparação com os tempos de hoje. Sabemos bem como era esta época natalícia, mais calma e sem este frenesim de comprar tudo o que brilha.
Acho que era mais real, do pouco fazia-se muito e havia felicidade.
Os costumes locais, ainda hoje enraizados nas populações, lá continuam a praticar-se com o rigor da tradição, dando incentivo às gerações futuras.
Não se dispensava o madeiro, um grande tronco de sobreiro, azinheira ou carvalho, cuja árvore era sacrificada e transportada em carros de bois para o largo da aldeia ou adro da Igreja. Esta tarefa era desempenhada pelos rapazes que nesse ano iam a sortes.
E, chegando o dia de atear o fogo que tomava conta do grande madeiro, o povo celebrava entoando lindos cânticos de Natal, como este: "Ó meu menino Jesus, Ó meu menino tão belo, logo vieste nascer, na noite do caramelo".
Os cânticos alternavam com uns copitos de aguardente e a genica ganhava força. Vinham as filhós, tão desejadas em noite fria, que compunham os estômagos mais vazios dos rapazes que alegravam a afluência ao madeiro.
E na noite feliz, a Missa do Galo ganhava mais presenças, todos queriam participar, ver o presépio e beijar o Deus Menino. Depois, confortados e alegres, entravam pela noite da consoada até de madrugada.
Vivia-se intensamente o Natal e de tal forma nos marcou que ainda o vivemos na nossa memória.
À medida que as pessoas foram saindo das suas aldeias para as cidades, a tradição natalícia foi perdendo paixão. O Natal na cidade é diferente, não tem aquele cariz singular; embora as famílias se juntem e vivam a consoada juntos, falta a originalidade. Gastamos horas em compras e até parece que é uma obrigação oferecer prendas. Esquecemos o essencial, a celebração do Natal, o nascimento do Deus Menino. Hoje podemos considerar que é mais um regabofe em família, um Natal de presentinhos, beijinhos e indigestões.
O mercado apresenta-nos um sem número de coisas para celebrarmos esta quadra natalícia. Aparece-nos nesta altura o idoso barrigudo com barbas brancas e fato vermelho, todo simpático a fazer carícias às crianças. Esta criação nórdica, que chegou a nossas casas, invade montras e lojas como se fosse a referência do Natal, o que não deixa de ser.
É apresentado de muitas formas, no trenó voador com nove renas, de saco às costas transportando as prendas e agora como salteador pendurado nas janelas e varandas. Acho que tirou trabalho ao Menino Jesus, que trazia prendas às crianças durante a noite e entrava pela chaminé para as deixar no sapatinho!...
A árvore de Natal, simbolizando a fertilidade da natureza, não deixa de ser outra importação nórdica. Havia o costume entre os povos pagãos da Alemanha de enfeitarem os pinheiros acreditando que que eram árvores santificadas.
Muito lentamente, esta Árvore de Natal foi ganhando aceitação nos países católicos, onde a única tradição era os presépios, e só em meados do séc. XX começou a ser aceite nas cidades, porque antes, e em especial no mundo rural, era quase ignorada.
Esta tradição do Pai Natal desvia-nos certamente das origens religiosas e do propósito verdadeiro do Natal. E estas mentiras elaboradas, a confundir-se com a nossa fé e ensinadas aos nossos filhos, perturbam bem a tradição e roubam-nos antigos e perenes valores.
É uma intrusão nas nossas tradições nacionais e um símbolo da comercialização do Natal.
Até sempre e um feliz Natal.
João P. Antunes
NOTA: Ah! Como eu fico consolado com estas brilhantes colaborações dos meus amigos, que chegam de "livre e espontânea vontade". E espero mais... AH