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Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

MAIS PARABÉNS!

31.12.16 | asal

Final do Ano, mas a vida continua!

Neste dia 31-12-1970, nascia o António Jorge Mendes Dias, a quem saudamos com alegria e muitos parabéns,

desejando-lhe longa vida com saúde e felicidade. Contactável pelo n.º 967 085 168.

A FAMÍLIA NO SONHO DE DEUS

30.12.16 | asal

NA FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA

D. Antonino.jpg

Mais uma vez trazemos para aqui a palavra do nosso Bispo. Na sua actualidade, estamos perante um texto apelativo, brilhante mesmo na graciosidade com que fala da FAMÍLIA, na forma simplificada como trata valores tão profundos. Sempre de leitura fácil, vale a pena gastar uns minutos com esta reflexão. Bem-haja, Sr. D. Antonino...

 

SONHAR A FAMÍLIA NO SONHO DE DEUS

Celebramos a Festa da Sagrada Família de Nazaré. Faz-nos bem olhar para as pessoas que a constituem. São pessoas amorosas, simpáticas e ternas. Faz-nos bem olhar o perfil humano de cada uma, a força da sua fé, a missão que tinham, o género de vida que levavam, a forma como se relacionavam entre si e com os outros, a maneira como enfrentavam as dificuldades e os sofrimentos do dia-a-dia e as próprias traquinices do Filho que, embora fosse crescendo em estatura, sabedoria e graça, não deixaria, com certeza, “de atirar com o pau ao gato”, presumo eu, não sei. O que sei é que Deus entrou no mundo nesta família que tinha um coração grande e aberto ao amor. E apresentou-se como o «Emanuel» (cf. Mt 1, 23), o Deus connosco. Aliás, como afirma Francisco, este foi, “desde o princípio, o seu sonho, o seu propósito, a sua luta incansável para nos dizer: «Eu sou o Deus convosco, o Deus para vós».

É o Deus que, desde os primórdios da criação, afirmou: «Não é conveniente que o homem esteja só» (Gn 2, 18). E nós podemos continuar dizendo: não é conveniente que a mulher esteja só, não é conveniente que a criança, o idoso, o jovem estejam sós; não é conveniente. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe, unir-se-á à sua mulher e os dois serão uma só carne (cf. Gn 2, 24). Os dois serão uma só morada, uma família” (Filadélfia, 26/9/2015). Mas Deus não Se limita a sonhar. Ele “procura fazer tudo «connosco». O sonho de Deus continua a realizar-se nos sonhos de muitos casais que têm a coragem de fazer da sua vida uma família”. Uma família que continua a ser “o símbolo vivo do projeto de amor que um dia o Pai sonhou”. Ser família ou querer formar uma família “é ter a coragem de fazer parte do sonho de Deus, a coragem de sonhar com Ele, a coragem de construir com Ele, a coragem de unir-se a Ele nesta história, de construir um mundo onde ninguém se sinta só, onde ninguém se sinta supérfluo ou sem lugar” (cf. AL321). Sim, “o sonho de Deus continua irrevogável, continua intacto e convida-nos a trabalhar, a comprometer-nos a favor duma sociedade pro família”.


Deus sonha e quer! E quando Deus quer e o homem sonha, a obra nasce, afirmava Fernando Pessoa, que também dizia que o homem é do tamanho do seu sonho. Sim, o sonho comanda a vida, e sempre que um homem sonha, o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos duma criança, escrevia António Gedeão.
O segredo deste êxito, o segredo da concretização deste sonho está em não desistir de promover a cultura do amor. E São Paulo aponta os caminhos a percorrer em direção a essa meta: «O amor é paciente, o amor é prestável; não é invejoso, não é arrogante nem orgulhoso, nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, nem guarda ressentimento, não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta» (1Cor 13, 4-7).
Lemos na Amoris Laetitia que “A maturidade chega a uma família quando a vida emotiva dos seus membros se transforma numa sensibilidade que não domina nem obscurece as grandes opções e valores, mas segue a sua liberdade, brota dela, enriquece-a, embeleza-a e torna-a mais harmoniosa para bem de todos” (AL146).
Por entre as alegrias e as tristezas com que a vida mimoseia a todos, as famílias cristãs encontram na Família de Nazaré um estímulo para serem também uma comunidade de vida e de amor, de união e de paz. Encontram nela, não só um estímulo, também uma fonte de proteção e de auxílio divino.

Vamos torcer para que 2017 dê azo à concretização do sonho de Deus no seio de cada família que não deve desistir de sonhar. Que os jovens sejam capazes de sonhar e construir uma família em conformidade com o sonho de Deus. Não existe amor verdadeiro a prazo. Ou apenas e só até que o estrugido se queime ou ele ou ela descubra que ela ou ele não sabe cozinhar a siricaia ou as tortas de Azeitão. Esse é o amor assente sobre a areia e não sobre a rocha, faz parte da cultura do provisório, do usa e deita fora. Há uma pedagogia do amor que não se pode descurar: “o amor é artesanal”, uma tarefa nunca acabada (AL221) a exigir tempo e gratuidade, um exercício de jardinagem que, se cuidado, dá belíssimas e variadas flores. Apesar dessa tarefa nem sempre ser fácil, é pelo sonho que vamos. E sonhando, é importante partir com esperança, caminhar sem desânimo e sentir que somos amados por Deus mesmo que os tropeções sejam muitos e não consigamos chegar ao ponto mais alto que gostaríamos de alcançar. Mas é pelo sonho que vamos. E foi assim que escreveu Sebastião da Gama:

“Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.

Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.

Chegamos? Não chegamos?
– Partimos. Vamos. Somos.”

Antonino Dias
30/12/2016.

ANIVERSÁRIO

30.12.16 | asal

Que alegria dar parabéns!

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Hoje, dia 30/12, celebra o seu 64.º aniversário o nosso amigo Víctor Manuel Fernandes Diogo.

Aqui deixamos os melhores parabéns ao Victor e que possa viver por muitos anos com saúde e alegria.

Para contacto, ligar para 962 351 533.

A F E T O S

29.12.16 | asal

Duas notas: 1 - respeitando o seu autor, não escrevo AFECTOS, mas vontade não me falta!

                   2 - Gosto muito da produção literária do Joaquim Nogueira, até pela novidade e frescura dos seus textos. AH

              

A F E T O S – E M O Ç Õ E S

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No meu velhinho dicionário do Torrinha ( ainda dos tempos de liceu ), define-se afeto como “ amor; afeição; paixão”. Considero que, nesta definição, se engloba tudo o que é ou possa

ser afeto. Emoção define-se, naquele dicionário, como abalo moral (tout court).

Para AFETO prefiro a definição do dicionário online de português –“sentimento de carinho que se tem por alguém, ou por algum animal; amizade; o beijo é uma demonstração de afeto”. Julgo que esta definição é mais objetiva, uma vez que acaba por dar a definição dos termos empregados no dicionário de F. Torrinha, antes referidos.

Objetivamente, uma pessoa pode expressar, em abstrato, quais os seus afetos, como por exemplo, dizer "gosto de mulheres, gosto da minha família, gosto de animais, etc.", ou expressar o contrário de afeto, como, por exemplo, "desprezo pessoas com cabelo comprido, não gosto de gatos, etc". A repulsa é, também, um sentimento contrário ao afeto, como por exemplo, "repugnam-me homens com barba desalinhada"; o desprezo também é contrário ao afeto, por exemplo, "desprezo quem é corrupto".

Expressar carinho por alguma pessoa ou por algum animal ou coisa é uma demonstração de afeto e influencia diretamente a forma como pensamos sobre alguma coisa, animal ou pessoa.

É a partir do afeto que se demonstram emoções ou sentimentos.

Entrando no capítulo das emoções – como demonstração de afetos – há quatro emoções básicas: o medo, a raiva, a alegria e a tristeza. Em algum momento da nossa vida, todos tivemos medo, todos sentimos raiva, todos nos alegrámos e todos nos entristecemos.

O MEDO tem como função advertir-nos sobre a presença de um perigo, ou prevenir-nos de algo que nos possa causar dano.

A ALEGRIA cumpre a função de nos ajudar a criar amizades, a manifestar o nosso contentamento pelas vitórias e êxitos que alcançamos no dia a dia e, também, pelos factos que nos animam e fazem sentir melhor, como, por exemplo, o bom tempo.

A TRISTEZA evoca sempre algo que ocorreu no passado, sendo a sua função ajudar-nos a estar conscientes de uma coisa, situação ou pessoa que perdemos ou de quem sentimos falta.

A RAIVA tem como função zangar-nos com o que nos contraria ou nos está fazendo mal. Ajuda-nos à realização do que queremos ou assegura a necessidade de ameaça.

A raiva nem sempre é negativa, pois pode ajudar-nos a cumprir o que queremos. Na verdade, pode haver ocasiões em que ficamos com raiva de nós próprios e levar-nos a fazer esforços para obter o que pretendemos: um mau resultado numa prova, pode tornar-nos raivosos connosco próprios e levar a mais estudo e a obter melhores resultados.

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Vou fazer uma pequena reflexão sobre um dos afetos que nos causa mais emoção: O BEIJO. Este consiste no ato de encostar os lábios em alguém ou em algum animal ou coisa.

Sendo, como é, uma demonstração de afeto, existem vários tipos de beijos. Assim:

BEIJO NA MÃO – é uma prova de respeito e usa-se como cumprimento a uma autoridade religiosa ou a uma senhora mais idosa, sendo certo que, atualmente, é mais comum o beijo em cada uma das faces das senhoras ou pessoas jovens;

BEIJO NA ORELHA – significa desejo;

BEIJO NA TESTA – demonstra respeito e afeto por outra pessoa, por exemplo, entre pais e filhos, amigos, familiares, etc.

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BEIJO NO NARIZ – beijo dos esquimós e é uma demonstração de carinho;

BEIJO NO OLHO – significa afeto, carinho e ternura;

BEIJO NO OMBRO – significa admiração, uma espécie de piropo;

BEIJO NO ROSTO – significa AMIZADE e demonstra carinho, sendo uma das mais antigas formas de beijo.

Era isto que me propunha expressar, pois, ao terminar 2016 e começar 2017, julgo ser oportuno que todos nós façamos um esforço para conviver com AFETOS que nos conduzam a EMOÇÕES, sempre saudáveis. 

Desejo a todos

FELIZ ANO DE 2017:  SAÚDE, PAZ, ALEGRIA DE VIVER E ESPERANÇA NO FUTURO.

Lisboa, 29-12-2016

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J.NOGUEIRA.

 

NOTA FINAL - Neste final de ano, aqui ficam os afectos sinceros de quem todos os dias vela por animar este espaço, afectos dirigidos sobretudo aos que nos visitam:

Ontem:
90 Visitas
146 Visualizações
 
Neste mês:
1.713 - Visitas
60 - Média diária de visitas
2.564 - Visualizações
89 - Média diária de Visualizações
FELIZ ANO NOVO PARA TODOS!
 
 

OS VALORES PERDIDOS...

28.12.16 | asal

 

João P. Antunes.jpg

O que tenho ouvido e observado no meu dia a dia

faz-me pensar; que raio de sociedade é esta! Com-

portamentos indesejáveis em público, em casa,

nos transportes, irresponsabilidades por todo o

 lado e por aí fora …

 

Quando eu era criança, os valores e costumes que estávamos obrigados a cumprir estavam enraizados nos nossos lares.

Os nossos pais, na sua humildade e respeito, iam-nos ensinando a saudar as pessoas, tirar o chapéu quando entrávamos numa casa estranha, pedir a bênção aos nossos padrinhos e respeitar os mais velhos.  Lembram-se!!

Há quem consideMP.jpgre uma subserviência, mas o que é certo é que este estado de humildade e respeito não fez mal a ninguém e hoje estranhamos a perda destes procedimentos. Só a pessoas conhecidas falamos e cumprimentamos, dizendo "bom dia" ou um "olá" e nada mais nesta vivência diária.

Quando entrei para a escola, a autoridade do professor fazia-se notar. A sala barulhenta e em plena rebaldaria entrava em silêncio repentino logo que o mestre passava a porta da entrada. E, em saudação "hitleriana", levantava-se o braço direito e em coro dizíamos "bom dia, senhor professor" e só nos sentávamos quando ele mandava.

Não se estranhava.... era o comum de cada dia.

À medida que fomos crescendo e conhecendo outras paragens, estes valores foram-se diluindo no tempo, não se encaixavam, eram muito próprios das nossas aldeias.

Fomos esquecendo certas práticas e estilos de vida na ânsia de evoluirmos para um futuro melhor.

A sociedade foi ficando vazia destes valores, mas foi adoptando outros novos, com estilos de vida fácil, vulgares, frívolos e ilusórios.

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É o vale tudo. Hoje prevalece a falta de respeito, de honestidade, integridade, justiça, a falta de unidade familiar e outros, que são considerados de bons costumes!!

A quem interessa o vazio destas práticas? A algum sistema? ou pessoas?

Os meios de comunicação social entram em nossas casas e apresentam-nos, como sendo normais, situações que vão ao encontro de muita coisa negativa. São assim algumas telenovelas, autênticas escolas de safadagem, os filmes bélicos e de terror em que as armas estão sempre presentes na prática de crimes hediondos, causando o repúdio e o franzir de olhos a quem os observa.

No entanto, ainda existe uma parcela da sociedade que consegue pensar e agir de forma racional e repugnar essa carga negativa.

Os nossos filhos e netos que hoje recebem esta sementeira de ensinamentos negativos, que comportamento virão a ter no futuro?

Estamos inseridos numa sociedade responsável em que muitas vezes não assumimos a nossa parte, deixamos andar… e transferimos essa responsabilidade para o Estado.

Esquecemo-nos que é no seio da família, quando ela está devidamente estruturada, que começa a lição das boas práticas.

Se o não fizermos e não formos verdadeiros, perdemo-nos no caminho, ficamos sem norte e caímos na vala da ignorância.

Predomina hoje a ganância e a sensação do ter e ignoram-se os valores essenciais. O que importa para a sociedade é o êxito; riquezas materiais, ambição e poder, profissão de destaque, liderança e o reconhecimento do trabalho.

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É tudo correcto, mas este apego desenfreado às coisas deste mundo, desprezando o seu semelhante e afastando-se de Deus, não é aceitável.

Daí resulta uma série de práticas altamente condenáveis que presenciamos todos os dias, que matam, roubam e destroem os sonhos e as vidas das pessoas.

A sociedade terá de alterar estas atitudes e pôr em prática os valores humanos, os princípios que devem nortear as nossas vidas e dos nossos descendentes e quem nos rodeia.

Não tenhamos medo de dizer "não" ao negativismo e façamos a nossa parte, para que haja uma sociedade mais feliz e justa, sem violência e com amor ao próximo.

A educação não é um dever só da escola, a família tem um papel fundamental neste processo, não é procurando desculpabilizar o insucesso escolar dos filhos, mas o assumir da culpa desse fracasso e dos valores transmissíveis.

Esta tarefa exige um empenhamento de todos os que têm responsabilidades na estruturação da educação, formação e valores para uma sociedade que desejamos melhor.

Que mudem os tempos e as vontades.

 

João Antunes

 

PARABÉNS!

28.12.16 | asal

Hoje, saudamos o João Vaz

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Nascido em 28-12-1978, vive a vida por esse mundo fora e tornou-se nosso amigo pelo Facebook desde o Outono.

Não sabemos mais deste amigo e esperamos que um dia nos diga mais coisas para publicarmos no blogue.

Por agora, aqui ficam os parabéns da malta e votos de muita saúde e longa vida.

O contacto que temos parece que é de Inglaterra. Atrevam-se!  272419651

O meu adeus ao Padre Libânio

27.12.16 | asal

MAIS UM TESTEMUNHO VIVIDO

Florentino.jpg

 

 

Felizmente, o nosso blogue começa a ficar recheado de textos especiais, que dão vida a quem nos deixou. Desta vez, é o Florentino que aqui deixa as boas recordações que tem do P. Libânio. AH

 

“Felizes os mortos que morrem no Senhor; desde agora eles repousam das suas fadigas porque as suas obras os acompanham” (Ap. 14.13).

 

Estas as palavras que me ocorreram quando soube do falecimento do nosso bom e velho amigo padre Libânio Domingos Martins, nascido em 14.11.1936, na Ermida- Sertã.

A minha relação mais próxima com o padre Libânio aconteceu na paróquia da Sé de Castelo Branco, em finais dos conturbados anos sessenta. Nesta equipa fantástica e inesquecível, encontravam-se ainda o Monsenhor Magalhães, os cónegos Cabral e Tarcísio, o P. Nuno Semedo.

Durante os anos que privei com ele, tive a felicidade de descobrir a riqueza da sua personalidade humana bem como a sua profunda fé, de uma grande consistência. Quando se encontrava mais desanimado no seu trabalho pastoral, como professor de Religião e Moral na Escola Comercial e Industrial de Castelo Branco, comungando eu das mesmas preocupações, muitas vezes me confidenciava “se não tivesse fé, não aguentava tamanho esforço”. Recordemos que nos finais dos anos sessenta – com as mudanças de mentalidade dos jovens - com as aulas de Moral obrigatórias e sem avaliação, difícil era manter os alunos interessados nas aulas. No Liceu, eu sentia as mesmas dificuldades – agravadas por um Reitor fascizante -.

Durante estes anos, nas férias do Verão, no seu Austin, lá nos juntávamos para visitarmos a Europa – um deslumbramento para nós que vivíamos sufocados pela ditadura.

Por vezes, ainda tivemos tempo de ocuparmos a capela da Senhora da Rocha no Algarve onde nos descomprimíamos e aprofundámos as nossas relações de profunda amizade.

Depois que ele se desligou da equipa sacerdotal de Castelo Branco, pouco mais tive a felicidade de privar com ele, visitando-o apenas em Cernache do Bonjardim e na lareira afetuosa de Marvão, onde me deu a conhecer a grande figura da oposição a Salazar, o então mais moderno arquiteto do país Nuno Teotónio Pereira. Ainda visitei o P. Libânio no Rossio ao sul do Tejo, onde vivia de um modo tão frugal que me lembrou a biografia do Santo Cura d´Àrs, mil vezes lida e relida no seminário de Portalegre, enquanto metíamos umas garfadas na boca.

Nos últimos anos, tive ainda o prazer de reviver os bons momentos passados com P. Libânio uma vez que se encontrava a residir no seminário de Alcains, com mais alguns colegas. Já bastante agastado na sua saúde, ainda ganhou forças para paroquiar Escalos de Baixo e Mata e, finalmente, integrado na equipa sacerdotal de Alcains.

Nesta fase da sua vida, senti que a sua saúde ia esmorecendo dia após dia, embora não regateasse esforços, quase sobre-humanos, para prestar o serviço pastoral que lhe era destinado.

E foi assim que não me surpreendeu a dolorosa notícia do seu falecimento no dia 19 de Dezembro, após as muitas limitações dos últimos meses da sua vida.

A última vez que conversámos mais demoradamente, foi após o nosso último encontro dos Antigos Alunos dos nossos seminários, em Castelo Branco. Como recordam os que nele participaram, o nosso amigo Joaquim Mendeiros, num livrinho por ele coordenado, dedicou-lhe uma bela “versalhada” onde descrevia a sua faceta de professor de Ciências da Natureza.

Pausadamente, lá consegui ler ao P. Libânio esses belíssimos versos, uma vez que a dificuldade de ele os ler já era notória.

Uma luz brilhante, cheia de inteligente ironia e risada fácil, de palavras lentas e muito saboreadas, lá se apagou neste Natal a sua estrela na terra, para ressuscitar nos corações dos que tiveram o privilégio de com ele lidar, ao longo da sua longa e fecunda vida.

Obrigado, padre Libânio, pelas vezes que tecemos e partilhámos a nossa história nos bons e maus momentos. Teu sempre amigo:

Florentino Beirão

BOAS FESTAS

26.12.16 | asal

NA AUSÊNCIA DE UNS, PUBLICAM OUTROS. neste caso o Joaquim Mendeiros, através do Facebook do ANIMUS SEMPER. AH

«Caros Amigos,
A Comissão Administrativa deseja a todos os associados, e antigos alunos, em geral, um santo Natal, junto dos vossos familiares e amigos e um ano de 2017 cheio de venturas. A festa do Natal é a festa da família, por excelência, e é na convivência dos familiares que ganha maior expressão o gosto pela vida em comum. Paralelamente, a festa dos amigos tem , entre nós, o sabor desta vivência familiar alargada nos Encontros que ciclicamente realizamos. Em janeiro, sábado, dia 28, encontrar-nos-emos em Linda-a-Pastora e em 20 de maio lá estaremos em Marvão.
Festas felizes.
A Comissão: João Heitor, Joaquim Nogueira, António Henriques, Eusébio Silva, Manuel Pires Antunes, João Lopes, Florentino Beirão e Joaquim Mendeiros.»

24/12/2016

PARABÉNS!

24.12.16 | asal

ANIVERSÁRIOmulher.jpg

 Ontem, uma. Hoje, outra aniversariante e homónima! Maria Emília Fernandes, esposa do José Ventura, um amigo, colaborador-mor,  fotógrafo encartado e companheiro de muitos repastos.

 Pouco faltou para a Emília sorrir à Vida ao mesmo tempo que o Menino Jesus...

O marido envia-me esta foto especial à direita, que, diz ele, « reflete a dupla comemoração: Natal, com um presépio das escolas de Proença, no ano passado, e o nascimento da minha cara-metade, em reflexo !»

Pois bem, pPortalegre 19-05-2012 219.jpgorque não aceitaria esta foto? De ti, só vêm coisas boas...

Mas, já agora, para que das sombras nasça a luz, aqui vai outra foto que descobri nos meus baús e que apresenta o fotógrafo a ser fotografado ao lado da sua esposa.

 

Assim, parabéns, Maria Emília, e que continue a sorrir para a vida por muitos anos e com muita saúde!

Contacto: tel. 962 311 894 

A FAMÍLIA

23.12.16 | asal

A FAMÍLIA - NOÇÕES GERAIS

Joaquim Nogueira.jpeg

 

Antes de mais, aproveito para saudar todos os amigos, todos os antigos alunos, desejando FELIZ NATAL, com saúde, paz e alegria. Que o Pai Natal nos traga tudo o que de melhor há.

 

Na aproximação do Natal, considero oportuno escrever algumas NOÇÕES GERAIS sobre a FAMÍLIA.

 

A ORIGEM DA PALAVRA, DESCRIÇÃO E ESTRUTURA DA FAMÍLIA

A palavra família tem origem no termo "famulus", que significa criado ou servidor. Primitivamente, designava o conjunto de empregados de um patrão. Posteriormente, passou a determinar um grupo de pessoas unidas por laços sanguíneos, que viviam na mesma casa e eram submetidas à autoridade de um chefe. É neste sentido que se entende a natureza possessiva das relações familiares entre os povos primitivos: a mulher devia obedecer ao marido, como seu amo e senhor, os filhos eram pertença dos pais, a quem deviam a vida.

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Já, nessa altura, se entendia que a família – como a definia Aristóteles – “era uma comunidade com a incumbência de atender as necessidades primárias e permanentes do lar.” Assim, podemos dizer que a família é formada por pessoas, ligadas pela descendência de um ancestral comum – família consanguínea; formada a partir do casamento – união de duas pessoas adultas -  e ainda pela adoção. De uma maneira geral, a família, em sentido restrito, compõe-se do pai, da mãe, dos filhos e seus descendentes; têm o mesmo sobrenome, que já vem dos ascendentes.

Sendo, como é, unidade social, compete-lhe assegurar o desenvolvimento dos seus membros, provendo à alimentação, vestuário, educação, instrução e cultura dos mesmos.

Estruturalmente, existe a família nuclear ou conjugal - composta por duas pessoas adultas, tradicionalmente, homem e mulher, mas que, agora, pode ser constituída por pessoas do mesmo sexo; a família monoparental – pais únicos, resultante de fenómenos sociais, como o divórcio, o óbito, o abandono do lar e a adoção por uma só pessoa; a família ampliada, mais abrangente, compreendendo a família nuclear, juntando os familiares diretos ou colaterais, com uma extensão das relações para avós, pais, netos, tios e sobrinhos; famílias comunitárias; e as designadas famílias arco-iris, constituídas por pessoas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais ou transgéneros) e os seus filhos.

 

A FAMÍLIA NO DIREITO CIVIL PORTUGUÊS

 

Vou apenas transcrever noções do Código Civil, muito genéricas, relacionadas com a família. Assim,

São fontes das relações jurídicas familiares o casamento, o parentesco, a afinidade e a adoção – artº 1576 do Código Civil.

---- O casamento é o contrato celebrado entre duas pessoas que pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de vida.

---- Parentesco é o vínculo que une duas pessoas, em consequência de uma delas descender da outra ou de ambas procederem de um progenitor comum.

---- Afinidade é o vínculo que liga cada um dos cônjuges aos parentes do outro.

---- Adoção é o vínculo que, à semelhança da filiação natural, mas independentemente dos laços de sangue, se estabelece legalmente entre duas pessoas, nos termos da lei.

O casamento é civil ou católico e baseia-se na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.

Os cônjuges estão reciprocamente vinculados pelos deveres de

 

RESPEITO, FIDELIDADE, COABITAÇÃO, COOPERAÇÃO E ASSISTÊNCIA.

No casamento, os cônjuges podem adoptar alguns dos seguintes regimes de bens:

comunhão geral de bens, comunhão de adquiridos e separação de bens. Atualmente, na falta de convenção antenupcial, o casamento considera-se celebrado sob o regime de comunhão de adquiridos. Anteriormente, vigorava o regime da comunhão geral de bens.

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 O casamento dissolve-se:

---- pela simples separação de pessoas e bens;

---- pela separação judicial de pessoas e bens.

---- pelo divórcio, que pode ser por mútuo consentimento ou litigioso.

Tendo-se escrito antes que a família nuclear ou conjugal é constituída por duas pessoas adultas, julgo ser oportuno mencionar, agora, o estabelecimento da filiação. Sendo certo que uma das finalidades do casamento é, regra geral, além de outras, o desejo de as pessoas que se unem quererem continuar-se na procriação, devendo, assim, falar-se de maternidade e de paternidade, resultando a filiação, na maternidade, do facto do nascimento e, na paternidade, a filiação presume-se em relação ao marido da mãe. Nos casos em que a maternidade ou a paternidade não constem do registo do nascimento, o tribunal averiguará, oficiosamente, no sentido de apurar quem é o pai, ou quem é a mãe, porquanto a noção de pai incógnito deixou de existir no nosso direito.

A filiação produz efeitos nos progenitores, ou seja, estes têm deveres, reciprocamente com os filhos, de respeito, auxílio e assistência.

Não me vou ocupar das responsabilidades parentais – do poder paternal – que findam com a maioridade ou emancipação.

Este e outros assuntos jurídicos são complexos e a minha ideia era e é a de dar só algumas noções relacionadas com o tema FAMÍLIA.

Tudo o que se disse do casamento é extensivo à união de facto.

 

DEVERES RECÍPROCOS DOS CÔNJUGES

Já enunciei os deveres recíprocos dos cônjuges: respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e assistência.

Não me vou debruçar sobre cada um destes deveres, que, por definição, se compreendem. Vou, apenas, reflectir sobre o que entendo sobre o modo como os cônjuges devem nortear a sua vivência.

Começo por dizer que não é fácil viver “a dois “. No princípio, geralmente, tudo corre às mil maravilhas. A lua de mel prolonga-se por mais ou menos tempo, dependendo da maneira de ser, da educação recebida no lar de cada cônjuge e/ou das companhias com quem se estabelecem relações. É evidente que, se o grupo de casais com quem se convive, foi bem orientado na sua preparação para o casamento, se o ideal do casal e dos seus amigos for coincidente no bom sentido, será certo que as confidências trocadas servirão para atenuar as eventuais “escaramuças”. Caso contrário, elas surgirão, incitadas, até, pelos que se dizem amigos.

Fui muitas vezes convidado para apadrinhar jovens casais. Nas palavras que, no final do copo de água, dirigia aos recém casados nunca faltava este conselho: “nunca, mas nunca – por amor de Deus e do vosso Amor - adormeçam sem se darem um beijo de boa noite”, mesmo que a zanga ou a eventual razão de queixa, que tenhais, seja séria e real.

Alguns dos meus afilhados já me agradeceram tal conselho, porque, disseram, muitas vezes o beijo terminou em reconciliação ou, pelo menos, atenuou o azedume.

Eu próprio, que estive casado durante 51 anos – 1958 a 2009 – utilizei o método algumas vezes, felizmente não muitas. Penso que a maior parte tem conhecimento que sou viúvo e que, se a minha mulher não tivesse “partido”, teríamos, agora, 58 anos de convivência.

Disse o Papa Francisco que, na convivência, “entre todas as coisas aquilo que mais pesa é a falta de amor. Pesa não receber um sorriso, não ser recebido. Pesam certos silêncios”. Noutra ocasião, disse o mesmo Papa Francisco, que, no casamento, há três palavras mágicas, que o casal teima em esquecer:” PEDIR LICENÇA, OBRIGADO E DESCULPA”.IMG_1930.JPG

“O matrimónio é uma longa viagem que dura toda a vida, necessitando da ajuda de Jesus para os cônjuges caminharem juntos com confiança, para se acolherem um ao outro todos os dias, e se perdoarem todos os dias” - Palavras de Francisco, noutra catequese. Não vou ser mais extenso. Termino, como comecei:

Desejo, a todos, um SANTO NATAL e que 2017 nos traga SAÚDE -  PAZ -  ALEGRIA DE VIVER.

Lisboa, 22 de Dezembro de 2 016

 

JOAQUIM NOGUEIRA

PARABÉNS!

23.12.16 | asal

O Facebook ajudou a saber da novidade!

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Ali para Belém, há hoje um lar em festa. A Maria Emília Antunes faz anos.

Aqui registamos a nossa alegria por mais um ano vivido em saúde e felicidade, cantando os parabéns à Milu e ao marido, assíduos frequentadores destas páginas. E que continue a gostar de viver por muitos anos. Felicidades! 

PARABÉNS!

22.12.16 | asal

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 MAIS UM ANIVERSARIANTE

 

Não consta da nossa lista, mas fui alertado para o facto de o Carlos A. Simões estar hoje a celebrar o seu 63.º aniversário. 

Aqui ficam os parabéns dos amigos, com votos de muita saúde e longa vida.

HOMENAGEM COM MUITA VIDA

21.12.16 | asal

Homenagem ao Sr. Cónego Henrique Pires Marques

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NOTA: O Mário Pissarra diz-me para eu corrigir e cortar o texto à minha vontade. Como podia eu cortar um testemunho tão cheio de vida, daqueles que nos enchem de gozo espiritual, de ânimo, de um consolo especial por termos gente desta na nossa família? Obrigado, Mário, pelas tuas palavras. 

Obrigado, Cón. Henrique Pires Marques, pela sua vida no meio de nós! AH

 

Tive a honra e o privilégio de acompanhar o Pe. Henrique no início da sua entrada na eternidade. Privilégio e honra muito difícil e dolorosa. A última vez que estivemos juntos já não pudemos fazer o que tanto gostávamos: conversar. Tive a sensação que, ao manter a minha mão apertada e o movimento dos olhos, me havia reconhecido. Após as informações que recolhi junto do médico, fiquei com muitas dúvidas e com uma ténue esperança que, como disse o médico, «talvez o consigamos agarrar».

O meu primeiro contacto com o Sr. Pe Henrique foi por ouvir dizer. Na década de 60, quando era pároco de Martinchel e Assistente Diocesano da JAC (juventude agrária católica), uma das minhas irmãs participou nos encontros preparatórios para as Jornadas europeias que iriam decorrer em Estugarda, na Alemanha Federal.

Quando frequentava o Seminário de Alcains, fui com o Joaquim Silvério servir os padres da diocese no seu retiro anual no Seminário de Portalegre. Começou aí a nossa amizade e a minha admiração. No seu jeito muito peculiar e com o seu fino humor, perguntou-me: Porque usa o imperador do Japão suspensórios amarelos? Fiquei atrapalhado com a situação, mas isso foi apenas pretexto, como era seu hábito, para iniciar a conversa e me fazer uma série de perguntas sobre mim e sobre a Idanha. No ano seguinte, foi nomeado pároco da Idanha. Para mim, nunca deixou de ser o Sr. Pe. Henrique. Mesmo depois de ser cónego, nunca deixei de o tratar como sempre o tratei: era o meu pároco e com ele convivi durante longos anos enquanto seminarista. Foi nesta situação que conheci a restante família: irmão, cunhada e sobrinhos.

Quando terminei o curso de teologia, fui colocado em Abrantes. Uma das razões oficiais para vir para Abrantes foi: o Sr. Padre Henrique conhece-te muito bem e tu também o conheces bem. Aí o convívio foi mais próximo, pois vivi na casa paroquial dois anos. Empenhei-me fortemente na celebração das suas bodas de prata sacerdotais em Abrantes e estive presente na missa das bodas de oiro sacerdotais em Rossio ao Sul do Tejo (a sua família viveu aqui e aquela igreja matriz tinha um valor simbólico para ele). Foi nesse dia, durante a homilia, que pela primeira vez me pareceu que o seu enorme potencial discursivo começava a diminuir. Atribuí o facto ao envolvimento afectivo sempre perturbador e à recente perda do seu grande amigo, Pe. José Esteves.

A sua ida para Portalegre fez com que os nossos encontros e conversas fossem diminuindo. As vezes que o visitei foram sempre motivo de alegria para ambos. Em Portalegre, como depois em Tomar, continuava a perguntar-me por cada um dos membros da minha família que conhecia. Também me perguntava por pessoas de Abrantes e da Idanha. Pessoas simples e de quem foi sempre amigo.

Na sua despedida derradeira, gostei da atitude dos três sacerdotes presentes no velório ao preparar e rezar com os presentes as vésperas; gostei da iniciativa do Sr. Cónego António Assunção ao rezar o terço antes do início das cerimónias fúnebres; sendo embora um dia difícil para os párocos, gostei da presença de um número significativo de presbíteros e, sobretudo, gostei das palavras finais do Senhor Bispo sobre a vida do Sr. Pe. Henrique. Tiveram em mim um duplo eco: se por um lado, traduziam o sentir e pensar do presbitério diocesano (homem inteligente, culto, com grande capacidade discursiva, dedicado ao seu múnus e de trato afável) e das comunidades que serviu (gozou de grande estima e apreço dos paroquianos), por outro lado, ecoaram em mim como um repor da verdade e da justiça.

O meu problema agora é: do muito que tenho para dizer e testemunhar sobre o Sr. Padre Henrique que escolher?

Era um homem de pensamento. Lia e preparava minuciosamente as suas intervenções. Nunca me esqueci quando uma vez cheguei à Idanha pela Páscoa e me contaram que havia feito umas palestras na casa do povo durante a quaresma. A pessoa que me falou era analfabeta, mas havia concluído que com aquele padre tinha percebido que a santidade era para todos e que não era assim tão difícil. Uma outra vez, um ateu confesso que assistiu à sua homilia num casamento na Sra. do Almurtão concluía: «só para ouvir este padre valeu a pena vir à Idanha», No Sr. Pe. Henrique, a dimensão doutrinária sobrepôs-se sempre à litúrgica. Todavia esta dimensão doutrinária nunca foi dogmática e foi sempre servido por um bom senso pastoral notável.

Era um homem de discurso refletido, sólido e cativante. Nem sempre é fácil ser profundo, claro e simples. O Pe. Henrique conseguia, facilmente, cativar a audiência com um vocabulário corrente, de modo direto, sem rodeios nem artifícios e sem transigir no rigor ou cair em facilitismos enganadores. Um belo dia, discutimos a noção de pessoa. Dizia-me ele: esta coisa de nascer pessoa tem que se lhe diga. Tornamo-nos pessoa! Como diz o povo: torna-te gente! Cresce e aparece! Ainda que o não formulasse, intuía-o: não podemos pensar o Deus criador do homem (ser capaz de amor e um ser de relação) a partir coisa (o Deus oleiro). Noutra ocasião, viu-me a ler um ensaio de cristologia hegeliana de Hans Küng. Era um livro volumoso com cerca de 850 páginas. Pediu-mo. Como era seu hábito, quando queria ler, refugiava-se nas escadas de acesso ao coro da Igreja de S. Vicente. Passados uns tempos, entregou-me o livro e disse: li-o quase todo. É pena no meu tempo não termos livros destes e eu não saber o suficiente de Hegel para poder aproveitar mais.

Tinha uma visão gloriosa do cristianismo. A sua pregação insistia muito mais no Cristo ressuscitado que no Cristo sofredor. O amor sobrepôs-se sempre ao castigo e à justiça. O pai misericordioso ofuscou sempre o justiceiro vingador ou o polícia guardião da moral. A sua vasta cultura, muito enriquecida sobretudo pelas leituras dos anos 60 e pelo Vaticano II, dava-lhe uma abertura de espírito excecional.

Foi um homem feliz na sua vida paroquial. Passou por Martinchel, Idanha-a-Nova e S. Vicente (Abrantes). Foi sempre estimado pelos paroquianos e deixou obra digna de registo. Sendo aparentemente um homem tímido, não deixava de ser enérgico. A sua mãe tinha o dom de perceber quando as coisas estavam a atingir o insuportável. Discretamente, a D. Paulina arrefecia os ânimos e o bom senso imperava. Ficou famosa a situação de, perante uma pessoa que passou a noite a enaltecer-se com os títulos nobiliárquicos da família, às tantas, o Sr. Pe. Henrique encerrou laconicamente a conversa: para mim, títulos nobiliárquicos e papel higiénico têm o mesmo valor!

Também o Sr. Pe. Henrique teve as suas tentações e provações, no sentido bíblico do termo. Creio que os seus tempos mais difíceis ocorreram quando foi para o Seminário de Portalegre. É um percurso invulgar e ao contrário do habitual. Normalmente começava-se pelos seminários e depois ia-se paroquiar. O Pe. Henrique é pároco durante muitos anos e depois é «encafuado» no seminário. A par de outros problemas que teve de enfrentar com o novo estilo de vida, senti que viveu o seu tempo de provação. Resistiu com estoico silêncio merecedor de admiração.

Não quero abusar da paciência dos colegas. Mas não posso deixar de estar grato pelo muito que devo ao Sr. Pe. Henrique Pires Marques. Carreou alguns materiais para a construção do homem que vou sendo. Se a construção não é de qualidade, a culpa não se deve à qualidade dos materiais que ele aportou, mas à inépcia do construtor.

Ao Pe. Henrique, o meu eterno Bem-Haja!

Mário Pissarra

ADEUS, P. LIBÂNIO

20.12.16 | asal

FALECEU O P. LIBÂNIO D. MARTINS

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Recolho do Facebook a notícia triste dada pelo Joaquim Mendeiros:

 

«Caros Amigos, soube agora pelo Zé Ventura, que faleceu o Padre Libânio Domingos Martins, nascido a 14 de novembro de 1936, na Ermida, concelho da Sertã. Faleceu esta manhã no Seminário de Alcains. Foi ordenado presbítero em 17 de junho de 1960 e foi professor no Seminário de Gavião e no Colégio Diocesano de Portalegre. Foi pároco de Marvão, São Pedro do Esteval, Cernache do Bonjardim, Nesperal, Rossio ao Sul do Tejo, Pego, Escalos de Baixo e Mata. As exéquias ocorrerão amanhã, terça-feira, na Ermida, a partir das 11 horas. A Comissão vai providenciar a entrega de uma Palma de Flores, para testemunhar a nossa presença espiritual. O Pe Libânio foi um dos professores homenageados no Encontro de Castelo Branco, deste ano, com o poema que a seguir transcrevo. Paz à sua alma.»

Libânio Domingos Martins

Nasceu em Ermida, a 14 de novembro de 1936.
Foi professor de Ciências da Natureza

"Olá, professor Libânio Martins!

As ciências naturais dizem muito de nós,
das pessoas, das plantas, dos animais
e de outros seres vivos,
conhecidos ou não, mas reais.
Seres que nos convidam à reflexão,
se damos por eles,
se os vemos e olhamos com mais atenção.
As tuas ciências eram feitas de coisas normais,
não sobrenaturais.
Eram ricas e pobres,
falavam de coisas banais
e de coisas nobres, sem heróis e aventuras.
Estudavam o ouro, o cobre, o ferro e outros minerais,
e os homens, também, nas suas texturas.
Mudaram de nome,
mas continuam concretas, físicas, visíveis,
incríveis,
por vezes, atrozes,
mutações, transformações, metamorfoses…
Mas continuam belas,
porque são da natureza…
Tratam das águas, dos campos, das flores,
e fazem-nos pensar, encantados,
quando vemos passarinhos fazendo os ninhos
nos beirais dos telhados!"

O SENTIDO DE PERTENÇA

18.12.16 | asal

Vivemos em cadeia

Há pouco tempo, dei comigo a pensar no lugar que cada um de nós ocupa nesta existência terrestre de que tanto gostamos, dizem uns, e de que outros se queixam tanto. Até se atribuem culpas a Deus pelas mais turbulentas situações, desde a miséria, a doença, o sofrimento das crianças, a morte, etc.

Sou daqueles que não sou capaz de dizer, perante uma morte, que “foi Deus que o levou”, porque eu não tenho de Deus a ideia de coveiro, de bombeiro, de facilitador do bem para uns e amaldiçoador de outros. A nossa natureza de mortais, sujeitos à condição de passagem contingente por aqui, carregados de falibilid20160908_190003 (1).jpgades, e muitas delas dependentes de nós próprios (o nosso estilo de vida, as relações sociais, os hábitos alimentares…), para mim são justificações mais reais daquilo que nos acontece.

E como me situo eu perante as adversidades? Aqui, sigo um pouco a teoria de Piaget, que fala de assimilação e acomodação no processo de crescimento da pessoa, em vista do que ele chama a equilibração. Na prática, procuro assimilar o acontecimento com alguma distância, digerir o seu valor real na minha vida, compreender o seu significado. Depois, tento acomodar-me, sempre com sofrimento ou algum sacrifício, envolvendo-me com as circunstâncias para melhorar a minha compreensão e sentido de vida. 
Se o meu conhecimento cresce, as minhas acções e opções de vida também se vão alterando. Falo de ciência? Não, falo de mais do que de ciência. Falo dum sentir interior global que me dá a percepção do mundo vasto e grandioso que nos rodeia e vive em cada um e que a ciência não consegue explicar (o amor, a energia psicológica, a beleza, a religião).

Perante a morte, há muito que sei que sou um pó, uma areia do universo, ou melhor, um elo de uma cadeia sem fim, que vem de geração em geração, não só no sentido biológico, mas também na esfera do conhecimento, do saber e sentir espiritual, que me dá a noção de pertença a uma humanidade que evolui e se enriquece. Em vez de me isolar, sinto-me unido aos outros, imaginando-me integrado num movimento ascendente de uma humanidade a caminho da perfeição no amor, na justiça, na equilibração total. Ajudar alguém a crescer, a ver melhor a situação numa aula ou num encontro dá cá um sabor interior tão luminoso!...

20160807_174554 - Cópia.jpgAté mesmo a minha fé só se explica nesta união ao grupo, à comunidade, à multidão dos que aderem a um Cristo-Deus na história, coexistindo com o mal, a ignorância, a doença, mas tentando melhorar as coisas… Posso não ser muito bom cristão, mas este sentido de pertença ao grupo dos crentes não se esvai, está cada vez mais vivo e alegra-me. Se calhar, para mim é mais fácil falar de Deus do que falar com Deus! Mas esta noção de que pertenço ao grupo já me ilumina os passos.

Teilhard du Chardin falava do sentido ascendente de todo o universo para a divinização (“Le milieu divin”), melhor dito, para a cristificação.  É por aí que eu também gosto de reflectir. 

António Henriques

 

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