Faz anos amanhã, dia 15/09, o grande amigo João Farinha Alves, mas como o técnico(!) pode não estar disponível durante o dia por razões pessoais, aqui deixo a notícia a esta hora da noite.
Com o João já passámos lindos momentos, daqueles que não esquecem. Um desses momentos ficou registado na foto, que é tão bonita que eu não vou cortar os dois cúmplices da festa.
Quem adivinha onde foi tirada?
Vá, não esqueçam de telefonar amanhã para o 961129241.
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A notícia chegou-me pela mão do António Henriques, publicada no Animus. O Luís Moreira encontrava-se internado no Lar dos Cebolais, afetado por um princípio de Alzheimer. E logo ali tomei a decisão de também o visitar. Razões não faltavam, mas fui protelando, e só meses depois o fiz.
Lembro-me do Luís desde eu-menino. Às vezes, convidava-me para o ajudar a limpar os castiçais do altar da nossa igreja-matriz (Alcains). A cera acumulada era muita e havia que a tirar com um canivete e esfregar com um pano. E não imaginam o cuidado e o esforço que colocava na tarefa de um humilde servidor do Altar. E, só quando os via brilhar, descansava. Um sorriso de alegria estampava-se-lhe no rosto e dizia: Bonito, João, não está? Eu teria para aí 8 a 9 anos e ele acabara de entrar no Seminário do Gavião. E, durante toda a sua vida, assim se manteve: humilde e discreto servidor do seu Senhor! Os frutos da sua vida sacerdotal não desmentiram as promessas da infância!
Memorizava muito bem os textos da História da Literatura e via-se o bom gosto na arrumação dos apontamentos limpos e ordenados, que me emprestava com todo o gosto. Depois, a vida seguiu o seu rumo e há muitas coisas de que não me lembro - buracos na memória, que a vida não é tecido que se costure inteirinho, inconsútil como a túnica de Cristo.
No coro do Seminário, alinhávamos na secção dos “baixos”, e era dotado de um bom ouvido para a música.
Daí em diante, de pouco ou nada me lembro, a não ser um reencontro numa festa ou romaria nos campos de Ponte Sor onde servia como coadjutor. Eu estava então em Castelo de Vide no exercício de idênticas funções. Ora se deu que havia em Castelo de Vide uma abastada lavradora, muito popular e devota, que tinha uma herdade lá para essas bandas do rio Sor. A Senhora fazia questão de organizar pelo mês de maio a festa do santo ou santa, orago da capela situada na sua propriedade. Convidava o pessoal da vila e lá íamos todos de camioneta à romaria. AS mulheres e os homens nos seus trajes típicos e cantares, era coisa linda de ver! Missa, sermão, procissão, o pipocar dos foguetes, repasto farto para todos - um bodo fantástico com um toque alentejano inconfundível. O Luís ficou ao meu lado na mesa, todo alegre e contente. Falámos muito sobre o bom povo alentejano e os seus costumes. Na despedida, com um abraço esfusiante: Eh, pá! A puxares assim dos pulmões, qualquer dia lixas-te! Mas valeu a pena! A gente cantou, rezou e dançou!
Já vêem que não podia deixar de o visitar neste momento da sua vida. Mesmo que outras razões não houvesse! Neste ANO SANTO da MISERICÓRDIA, visitar os doentes é obrigação humana e evangélica. Um dia de junho, combinei o encontro com a diretora do Lar, inteirei-me do seu estado de saúde e lá fomos.
Foi bonito de ver o Retaxo rejuvenescido, longe da imagem da nossa juventude quando estivemos acampados num ermo dos Cebolais, com meia dúzia de pinheiros, um poço e alguns escorpiões. Valeu-nos a alegria e o espírito de organização do Senhor Dr. Marcelino, que Deus haja. A terra era um centro de indústria têxtil, que depois com a crise se evaporou.
O Lar encontra-se logo à entrada dos Cebolais. Uma placa comemorativa informa-nos ter sido o P. Amândio a construí-lo de raiz, devendo-se a sua ampliação à Segurança Social. O Luís estava na capela, de modo que tive tempo para cumprimentar as pessoas internadas, uma a uma. E, a dada altura, encontro o sobrinho do saudoso P. Domingos, nosso exímio professor de Francês. E qual não foi o meu espanto quando o Senhor me disse ter em casa uma coleção de cartas do tio, dirigidas a certos Membros da Academia Francesa. Pedi-lhe autorização para as ver, mas não. Era um segredo de família, religiosamente guardado das vistas profanas!
Nisto, chega o Luís e lá tentou conduzir-nos ao seu quarto, com um ou outro engano de orientação. Vi logo por onde começara a doença, tão temida de toda a gente. De resto, a conversa correu normalmente com algumas falhas de palavras, coisa comum em quem já saltou o plinto dos 70. Falei-lhe do encontro da nossa Associação. Teve pena de não ter ido, mas não sabe porquê. Aconselhei-o a ver televisão, ler jornais, pôr-se a par da vida… Gostou imenso do livro sobre A Restauração da Diocese de Castelo Branco e, como sei que conversar faz bem aos neurónios, lá falámos de vários outros assuntos da Igreja e da nossa terra…
Percebi que não tem muita família e que as nossas visitas lhe faziam bem. A ele e a nós que vim de lá com a alma mais fresca, mais leve e atento aos gestos de cuidado, generoso e gratuito, como disse o Nosso Papa Francisco nas Jornadas da Juventude.
João Lopes
NOTA: Esta foto tem três anos. Os meus dois amigos e colegas de estudos que se sentaram à esquerda já concluiram a sua missão por aqui. O Luís, à direita, está no Lar. Isto é a vida. Para mim, é sobretudo a urgência do encontro, para ficarmos com a consciência mais leve, como diz o João Lopes. Obrigado! AH